Capítulo 2: Intoxicação de Festa

143 13 3
                                    


Quando chegamos ao salão, uma coisa mega chique naqueles casarões da Pampulha, eu já fiquei meio assim. Todo mundo estava vestido de gala, mas estiloso. Sabe aquele povo que combina seda com all star e echarpe de vó de um jeito bom? Pois era desse jeito. Dei uma olhada no meu vestido preto básico e fiquei sem graça. Será que eu devia ter seguido o conselho da minha mãe e comprado um vestido novo? Provavelmente.

A aniversariante era a Beattriz. Sim, com dois "t"s. Mania desses pais que acham que dobrar qualquer letra no nome do filho é sinal de elegância. Ela tinha convidado praticamente todo mundo do terceiro ano pra festa, só pra dar uma de pop. Falsiane? Possivelmente.

O salão era grande e estava decorado em verde e preto, o que deu um efeito Matrix bem legal. Lembra do Matrix, né? Tão anos 2000, com o gatíssimo Keanu Reeves. Juro que ele era gatíssimo nos anos 2000.

- Gente, olha só a boate! - exclamou Priscila.

Eu e Adriana olhamos para onde ela estava apontando, mais ao fundo, e vimos uma imensa parede de vidro com globos de luz, holofotes e o mais insano, uma pista que acende luzes no chão!

- Uau! Alguém tem bastante grana por aqui, não? - falei, dando uma risadinha torta.

- Ô se tem - concordou Adriana.

Depois de dar uma olhada no salão, fomos direto para o local onde se tem certeza se uma festa é realmente boa: o banheiro.

E ele era, como a gente imaginava, maravilhoso. Todo em mármore, com lugar para colocar bolsa, lustres dourados, espelhos gigantes... tudo perfeito. Exceto pelo cubículo de cada vaso.

- Gente, isso é vidro?

Eu me aproximei da Priscila e dei uma olhada. A porta não era de madeira ou metal como costumava ser, era de vidro. Praticamente um guichê de bilheteria.

- Como é que a gente faz xixi?

Em outro contexto a pergunta da Adriana poderia ter rendido umas boas risadas e piadas para todo sempre, mas ali, dentro daquele banheiro de gente rica, parecia um questionamento filosófico totalmente pertinente. Como é que a gente ia fazer xixi com todo mundo do lado de fora olhando pra gente?

- Alguém aí precisa usar o banheiro? - perguntou Priscila com um sorrisinho irônico.

- Não! - respondemos eu e Adriana juntas.

Nós três começamos a rir.

- Okay, vamos fazer um pacto - eu falei - se uma de nós quiser ir no banheiro, temos que fazer uma barreira na frente!

- Válido. Eu que não quero mostrar minhas lindas roupas de baixo para o público. - fez Priscila imitando a aniversariante.

Ainda rindo, saímos do banheiro para o salão. Foi quando encontramos com Théo.

A gente estava sempre junto desde a quinta-série, e ele era o meu melhor amigo. Tão melhor amigo que eu só lembrava que ele não era uma menina quando juntava aquele bando de mulher para ir no banheiro e ele ficava pra trás, emburrado.

- De que é que vocês estão rindo? - perguntou ele. Na hora, a situação era tão engraçada que eu até me esqueci de zoar o terno azul marinho dele.

- O banheiro - e a Priscila explicou o lance das portas de vidro.

- Vocês já foram no banheiro? Pelo amor de Deus, quantas vezes vocês vão no banheiro por dia? Qual o tamanho da bexiga de vocês?

Ignoramos o comentário.

- Você já viu a Beattriz? - perguntou Adriana.

- Claro que já - respondeu Théo, com aquele risinho sarcástico que só ele tinha. - A "T duplo" é aquele borrão verde ali perto da mesa principal.

Nada mais que o normalWhere stories live. Discover now