(33) Ele pertence a Fae

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Vou para o inferno quando morrer mesmo... Mas, será mesmo que devo fazer isso só para ter o gosto de dar uma surra em Luca? Ah, pois bem...

Cessei minha hesitação e estendi a mão para apertar aquela que estava posta calmamente em minha frente, quando a toquei, cheguei a pensar que haveria um clarão ou algo assim, mas nada aconteceu, foi um aperto de mão comum.

— Feito. — Sussurrei.

Nessa hora, o portão de ferro se abriu, e estranhamente, do outro lado havia apenas a continuação do rio. Estreitei os olhos, não acreditando no que eu estava vendo.

— Não se preocupe, não é assim. — Hector me assegurou.

Caminhei e parei na frente do portão. Virei-me para o demônio, que sorria malignamente.

— Devo avisar que pactos feitos com demônios não podem ser descumpridos. Aliás, desse você não poderá escapar, é humana e morrerá. Certamente virá para cá.

— Claro... Mas pode apostar que ficará nesse emprego por muito tempo. — Debochei.

— É uma pena ser humana, Srta. Bontempo, é uma das moças mais atraentes que já conheci.

— É uma pena ser imortal, Hector... Não posso matar você e acabar com esse pacto idiota.

Hector riu. Comecei a atravessar o portão.

— Espere... — Pediu ele, segurando meu antebraço com suavidade. — Tome cuidado, meu Leãozinho.

Aproximei-me dele e fitei seus olhos.

— Eu sei me cuidar. — Respondi firmemente, na tentativa de demonstrar coragem, embora meu coração estivesse prestes a saltar pela boca.

Atravessei o portal sem olhá-lo outra vez. Do outro lado, a paisagem era outra. Era dia, o céu estava nublado e um vento frio vinha contra mim. Eu me encontrava numa rua de paralelepípedos, na qual várias pessoas caminhavam normalmente, como se não tivessem acabado de me ver aparecer ali do nada. Havia casas de madeiras, e algumas poucas de concreto, e destas últimas, todas eram pintadas com uma única cor: vermelho sangue. Todos ali à minha volta pareciam humanos.

— Então... É assim o Inferno? — Perguntei a mim mesma.

— Estranho, não é? — Disse alguém atrás de mim.

Virei-me rapidamente, e deparei-me com um garoto magro. As duas órbitas grandes e castanhas do seu rosto ganhavam um bom contraste por sua pele ser bem branquinha. Suas madeixas eram castanhas e enroladas. Ele se parecia muito com Enrique. Muito mesmo, só que era mais baixo e também um pouco mais magro.

— Quem é você?

— Meu nome é Jacó, e o seu?

Hesitei.

— Juliana...

— Não parece certa disso.

— Mas pode me chamar de Ju... — Completei, estendendo a mão para que ele a apertasse, e ele o fez com cautela.

— O que veio fazer aqui, Ju?

— Vim a passeio.

Jacó riu alto. Baixei a cabeça, envergonhada, pois todos à nossa volta nos encararam nesse instante.

— Está brincando, ninguém vem ao Inferno a passeio! Muito menos uma humana...

— O que você é?

— Sou um humano também.

— Se é humano, como sabe que também sou?

— Olhe só essa sua cara de tonta.

Feche os olhos, Anjo (livro 1)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora