(15) Primeiro voo

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— Como... — Ana começou. — Como aconteceu?

Fitei os olhos escuros do anjo, eles brilhavam como duas estrelinhas em expectativa. Eu nunca gostara de contar às pessoas sobre a morte de minha mãe e irmã, pois não me agradava recordar sobre tal acontecimento, mas, estranhamente, não me importei de contar a ela.

— Foi um acidente. Minha irmã Lisa saiu numa noite sozinha, havia tido uma tempestade poucos minutos antes dela sair... Ela estava revoltada com alguma coisa. Ficamos preocupados, então meu irmão disse que iria atrás dela, mas minha mãe não deixou... — Fechei os olhos e respirei fundo.

— E então? — Ana sussurrou e pegou minha mão.

Era uma mão pequena e delicada, mas que me dava um certo conforto.

— Minha mãe pegou o carro e saiu, depois que a encontrou, ligou para nos avisar. Depois de algum tempo, estranhamos a demora para elas voltarem, mas não saímos, pois pensamos que talvez estivessem apenas conversando. — Sequei algumas lágrimas que escorrias pelo meu rosto. — Até que o telefone da minha casa tocou, e nos avisaram sobre o que tinha acontecido. Meu irmão ficou transtornado, e eu, bem, não acreditei a princípio. — Encarei-a. — Mas... era mesmo verdade.

— Eu sinto muito.

Assenti de leve com a cabeça.

— Tudo bem. Já me conformei.

— E seu pai? O que houve com ele?

— Eu não o conheci, na verdade. Meu irmão se lembra razoavelmente dele. Pelo que minha mãe contava, ele nos abandonou.

— Você teve uma vida difícil.

— Eu já não me importo mais. — Tossi. — Coisas ruins sempre acontecem comigo. E, se quer saber, não ligo para o que Devon faça comigo. Eu só queria ver meu irmão e Scarlett outra vez.

Ana franziu a testa.

— Scartett?

— Minha dálmata.

— Dálmatas são tão lindos.

Apenas balancei a cabeça. Eu havia dito aquilo sobre Enrique para ela se comover. Não que eu me importasse muito mesmo com o que Devon pretendia fazer comigo, mas é claro que se houvesse uma chance eu fugiria sem hesitar.

E Ana poderia ser essa chance.

— Posso fazer uma pergunta? — Disse a ela.

— Sim.

— Quem Devon realmente é?

Ana se aproximou mais.

— Ele é simplesmente o anjo que destruiu Lúcifer.

— O quê?

— Isso mesmo que você ouviu. — Ela arqueou uma das sobrancelhas finas e escuras. — Devon tomou o poder de Lúcifer.

— E ele está morto?

— Acredita-se que sim.

Naquele momento, percebi, com grande pesar, que Devon era mais forte e mais poderoso do que eu havia pensado.

                                                                           ***


Narrado por Luca



Feche os olhos, Anjo (livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora