(16) Sublime

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— Luca, me põe no chão! — Gritei.

Meu coração estava disparado pela adrenalina e pelo medo que sentia. Luca subia rapidamente em direção ao céu. Eu estava com os olhos fechados, pois sempre tivera medo de altura.

E não fazia ideia do que ele pretendia fazer.

— Diga o que quero saber que eu lhe solto.

— Ficou louco? Não quero que me solte. Quero que me coloque no chão! — Disse a ele, ainda com os olhos fechados.

De repente, nós paramos. Estávamos imóveis no céu como aves fariam. As únicas coisas em movimento deviam ser as asas dele. Ao pensar nisso, desejei quase incontrolavelmente abrir os olhos para ver as asas de Luca, mas me controlei. Eu não queria ver o quão alto nós estávamos.

— Se não falar, vou soltá-la. E não estou brincando.

— Não faria isso.

Nesse instante, Luca soltou uma das mãos, o que me fez gritar, mas ele contornou minha cintura com apenas um dos braços. Uma tempestade de granizo passou por minha barriga.

— Fale.

— Não! — Respondi, furiosa.

— Como você é teimosa! Não entende que eu quero salvá-la?

— E você não entende que não pedi sua ajuda?

Luca me virou de frente para ele. Suas mãos me seguravam com firmeza, e, de vez em quando, seus dedos esbarravam em minha barriga. Talvez fosse sem querer, mas algo me dizia que ele fazia aquilo propositalmente. Minhas mãos estavam contra o seu peito quente e acolhedor. Eu teria adorado estar ali se ele não estivéssemos há sabe-se lá quantos metros do chão.

— Olhe para mim, Susana. Creio que seja a terceira vez que lhe peço isso.

Sem pensar duas vezes, abri meus olhos. Um par de abismos negros me encaravam. Pareciam enxergar dentro de mim. Tombei um pouco a cabeça para o lado para ver o que havia atrás daquele sorriso arrebatador que havia surgido nos lábios dele naquele momento.

Estranhamente, não havia nada.

— Onde... Você não tem asas?

O sorriso sumiu.

— Sim, mas não estou deixando que você as veja.

— Vamos fazer um trato. — Arqueei uma das sobrancelhas. — Se me deixar ver suas asas, digo tudo o que vi no lugar onde estou.

Luca pareceu pensar por um momento, depois me fitou e respirou profundamente, derrotado. Ele sabia que aquele seria o único modo de obter respostas.

De repente, vi que atrás dele começava a surgir um par de asas... negras. Batiam lentamente, como duas simples plumas. Elas eram amplas, volumosas e sem brilho. Lembrou-me muito as asas de um corvo, só que mais fascinantes. Sei que meus olhos deviam estar levemente arregalados ao ver algo tão lindo. Sim, mesmo negras e assustadoras, eram estranhamente belas.

Luca continuou batendo a asa direita, só que mais rapidamente, e trouxe sua asa esquerda para mais perto de mim, tão perto que eu conseguiria tocá-la se quisesse.

E eu queria.

Lenta e delicadamente aproximei minha mão daquela nuvem de penas negras. Toquei-a primeiro com o dedo indicador, depois com os outros, um de cada vez, e, por fim, passei a mão sobre a asa mansa dele. Fitei-o, ele estava com os olhos fechados.

— É como... veludo. — Sussurrei.

Ele não abriu os olhos, apenas sorriu brevemente.

Não que eu fosse uma especialista em anjos, mas, naquele momento, percebi que mostrar as asas para alguém, ainda mais para uma humana, não devia ser um gesto muito comum entre anjos, mesmo para um anjo caído.

Feche os olhos, Anjo (livro 1)Where stories live. Discover now