(24) Primeira aliada

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Abri os olhos com um pouco de dificuldade, por conta da claridade que adentrava no quarto de Luma. Quando me sentei, dei de cara com Luca, ele observava suas costas no espelho. As cicatrizes que as asas arrancadas deixaram eram grandes e tinham uma cor rosada.

— Sinto muito por isso. — Disse eu, num tom baixo.

Nessa hora, percebi que estava coberta por um edredom claro.

— Não se preocupe, alguém como eu deveria contar que algo assim poderia acontecer a qualquer momento. — Respondeu ele, virando-se para mim. — Bom dia.

— Bom dia. — Sorri brevemente, embora a frase "alguém como eu" tivesse despertado um certo incômodo em mim.

Luca realmente se achava um monstro.

Ele caminhou ao redor da cama, parando do lado oposto ao que eu estava e sentou-se, empurrando uma bandeja de madeira para mim, na qual havia um pão com algo que parecia ser queijo dentro, um copo com suco de morango e uma fatia de bolo, que parecia ser de laranja. Tomara que sim. Escolhi começar meu café da manhã pelo bolo, e descobri que havia acertado em minha dedução.

— Gostou? — Luca me observou.

— Sim, está uma delícia... Quem fez?

— Eu.

— Sério?

— Sim.

— Uau...

Nessa hora, Luma entrou no quarto, e não parecia muito feliz.

— Bom dia, Susana. — Saudou-me ela enquanto se sentava na cama, também.

Fiquei com um pouco de vergonha por ela saber que eu dormira com Luca, mesmo que nada tivesse acontecido. Nada demais, pelo menos.

— Bom dia.

— Tenho que falar com uma pessoa... Volto mais tarde. — Luca nos informou, levantando-se.

Ele pegou sua camiseta que estava sobre a cama e saiu do quarto. Fiquei um pouco chateada por ele não ter sequer tocado em mim, mas, em apenas uma semana, eu já o conhecia o suficiente para saber que nunca fora do tipo que demonstra afeto em público -mesmo que esse público seja de apenas uma pessoa.

Ou um anjo, no caso.

— O bolo está ótimo, adoro bolo de laranja.

— Que bom que gostou. — Luma me encarou. — Eu quis deixá-lo pronto antes que acordasse.

Encarei-a.

— Foi você quem fez?

— Sim, por quê?

— Luca é um belo mentiroso... — Comentei, sorrindo.

Ela revirou os olhos.

— Se Luca for para minha cozinha, tenho certeza de que não a verei intacta novamente.

Eu ri um pouco com esse comentário.

— Jack ainda está dormindo?

O anjo de cabelos enrolados fez um biquinho e baixou o olhar.

— Não... ele está conversando com uma tal de Ana.

— Ana está aqui? — Indaguei, levantando-me para ir até a sala.

— Ela disse que os seguiu até aqui, ontem... E disse ainda que quer ser nossa aliada. Achei meio suspeito.

— Ah, não, Ana está do nosso lado... — Afirmei-lhe enquanto calçava minhas sapatilhas novas. — Bem, pelo menos... ela me ajudou a sair da casa de Devon.

Feche os olhos, Anjo (livro 1)Donde viven las historias. Descúbrelo ahora