(9) Prisão

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Abri os olhos calmamente, temendo ver aquele homem de pernas longas outra vez, mas ainda me perguntando se o que ele havia dito poderia mesmo ser verdade. Havia alguém por trás dos sonhos que eu estava tendo? E, se houvesse... seria um assassino? Como eu o faria parar?

Pernas longas e cabelo escuro como... Jack.

Um pensamento terrível passou por minha mente. E se Jack fosse o filho do qual ele falara? E se ele tivesse se tornado um... Eu não queria pensar nessa hipótese, não queria -não podia- acreditar.

Mas eles eram tão parecidos...

Levantei-me. Estava em meu quarto, o que era bom, significava que não estava presa num sonho.

— Scarlett!

Ela não apareceu.

Agachei-me ao lado da cama para ver se Scarlett estava debaixo dela e lembrei-me de que ela "dormira" o tempo todo enquanto eu falava com aquele cara. Pensei que ela poderia não estar realmente dormindo...

Calma, ela está bem...

Meus olhos já estavam cheios de lágrimas. Ergui o lençol. Não havia nada além de brinquedos de cachorro debaixo da cama. Um certo alívio inundou meu coração, mas ele trouxe consigo uma preocupação também: onde ela estava? Levantei-me e decidi ir até a sala, cuja luz ainda estava acesa. Olhei para o relógio grande e antigo que ficava no alto de uma das paredes, ele marcava 2h27min. Enrique não teria deixado as luzes acesas. Fui até o quarto dele e bati na porta.

Nada.

— Enrique, está aí? — Perguntei alto o bastante para ser ouvida mesmo se ele estivesse dormindo.

Abri a porta e, ao acender a luz, vi uma cama com lençóis perfeitamente arrumados. O pequeno cômodo estava vazio.

Talvez ele esteja no quarto que era da mamãe, ou de Lisa...

Abri a porta ao lado, onde era o antigo quarto de Lisa. Outra vez, havia apenas uma cama arrumada e um guarda-roupa, ambos para alguém que viesse nos visitar. Nem me dei ao trabalho de checar o outro quarto, era óbvio que ele não estava em casa. Mas, não acreditei que ele e Lúcia pudessem estar juntos. Fui até meu próprio quarto e peguei meu celular. Liguei para Lúcia, mas ela não me atendeu. Tentei outra vez e nada. Liguei para meu irmão e, mais uma vez, minha ligação foi ignorada.

Não se preocupe. Enrique só foi dar uma volta com Scarlett, só isso.

Era impossível não me apavorar sabendo que aquele homem poderia estar por perto, poderia ter feito alguma coisa com Enrique ou com Scarlett. Sentei-me na cama e esperei... esperei... e esperei mais... Até que ouvi um miado.

Não! Não posso estar sonhando...

Olhei para o lado, lá estava o gatinho branco sobre minha cadeira.

— Eu sei quem é você, e quero que pare com isso.

O bichano virou a cabecinha de lado e me encarou. Depois, desceu da cadeira com uma graciosidade incrível e parou em frente à porta, como se quisesse que eu o seguisse.

— Não vou fazer isso outra vez...

Ele miou e desapareceu, como se fosse feito de... fumaça. De repente, tudo começou a se desfazer, meu guarda-roupa, a cômoda, a escrivaninha. A cama. Comecei a cair, era uma escuridão alarmante, e o únicos sons eram dos meus gritos e do meu coração batendo de forma descompassada.

Subitamente, tudo parou, eu já não caía mais, mas estava no... vazio. Não havia nada, só um manto cinzento imenso ao meu redor. Minhas lágrimas, antes paralisadas nos olhos, rolaram sobre meu rosto sem nenhum impedimento. Jack não pararia com aquilo tão cedo. Ajoelhei-me e cobri o rosto com as mãos.

Feche os olhos, Anjo (livro 1)Where stories live. Discover now