(14) Outro obstáculo

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— Su? — Chamou-me Ana, ainda sentada na cama comigo.

— O quê?

Ela cruzou os dedos pequenos sobre o colo.

— O que acha de jogarmos?

Encarei-a.

— O que podemos jogar aqui?

— Um jogo de perguntas, eu faço uma pergunta, você responde e faz uma pergunta para mim.

— Certo. — Concordei, e arqueei uma das sobrancelhas. — Sem mentir.

Ana assentiu com a cabeça.

— Pode começar, se quiser.

Eu pensei por um instante. O que poderia perguntar a ela? Sem rodeios, perguntei a primeira coisa que me veio à mente.

— Você também é... um anjo?

E sem rodeios ela me respondeu:

— Sim. — Sorriu. — Mais precisamente, o Anjo do Medo.

Estou presa numa casa com dois anjos caídos! O que eu vou fazer?! Calma, Susana, calma... Demonstre interesse...

— Como assim?

Ela ergueu a mão.

— Minha vez. — Estreitou os olhos. — Como Jack é?

Fiquei surpresa com a pergunta, pois não esperava que ela fosse me perguntar sobre Jack. Bem, não que eu quisesse falar sobre mim.

— Ele é incrível.

— Sim, mas... Incrível tipo: "Nossa, que incrível!" — Ela falou alto. — Ou: "Ah, incrível."

Não consegui conter o riso.

— Acho que a primeira versão. — Respondi, ainda sorrindo.

— Uau! Isso é interessante!

— Agora... Como assim "Anjo do Medo"?

— Eu posso ver o medo de uma pessoa, bobinha. E, pior ainda... — Olhou-me de esguelha. — Posso usá-lo contra ela. Por exemplo, consigo saber com precisão qual o seu medo nesse exato momento.

— E qual é?

— De não conseguir sair daqui... Digo, desta casa.

Revirei os olhos.

— Isso é meio óbvio.

— Está duvidando de mim? — Ela me encarou, fingindo ressentimento. — Não consigo descobrir só o medo que a pessoa está sentindo numa determinada hora, Susana, posso saber seu medo interior também, aquele que ela carrega há muito tempo.

Meu coração acelerou.

Vamos ver, então...

— Então... qual é o meu? — Perguntei baixinho.

Ana fechou os olhos por alguns segundos. Depois de abri-los, olhou-me com pesar.

— Eu... — Sussurrou. — Eu sinto muito.

— Ana... Qual é?

Estava claro que ela realmente sabia meu medo. Meus olhos deviam estar repletos de lágrimas, mas eu não me importei.

— Tem medo de não ver sua mãe outra vez.

Na mosca.

Era um medo ridículo, pois eu jamais veria minha mãe de novo. Afinal, ela estava morta.

Feche os olhos, Anjo (livro 1)Kde žijí příběhy. Začni objevovat