Capítulo Quinze

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Evan

Elísia chega cedo no dia seguinte, e eu gosto disso, que seja pontual. Mando-a entrar, e ela parece um pouco tímida.
— Henry está acordado. Vamos até o quarto. — Eu a levo até lá, e indico o berço, onde o bebê está brincando.
Ela imediatamente sorri quando vê Henry e o pega no colo, ele dando os bracinhos a ela. Penso em como ele é fácil, aceita ir no colo de qualquer um. Isso é bom.
— Oi, bebê — Elísia diz balançando o pequeno de um lado para o outro. Ele está agarrado em suas mãos. — Vou cuidar bem dele, Evan.
— Sei que vai — afirmo passando a mão pela cabeça de Henry.
Caminhamos até a sala, e eu me despeço do pequeno antes de sair.
— Se precisar de alguma coisa, ligue — digo à jovem, um pouco preocupado de que algo aconteça.
— Não se preocupe, eu sou faixa preta, Evan — ela diz piscando.
Eu assinto, um pouco sem jeito. Não esperava que ela dissesse isso.
Suspiro, porque hoje acordei pensando em Kate. No maldito beijo que dei nela e na forma como ela correu de mim. Será que exagerei? Porra, talvez não devesse tê-la beijado daquele jeito.Talvez tenha cometido um erro. Mas estava desesperado para ter os lábios dela nos meus. Fui um fraco.
Será que Kate sentiu o mesmo que eu? Sei que estou em uma situação difícil, porque meu coração disparou quando a beijei e sou experiente o suficiente para saber o que isso significa, que não é um bom sinal. Talvez ainda tenha tempo de correr e me esconder disso, fugir desesperadamente, mas realmente não quero isso. Vou ficar e encarar esse sentimento de frente, como as coisas realmente são.
Eu deveria ir atrás dela e lhe explicar melhor as coisas, mas tenho planos para hoje. Pretendo descobrir informações sobre seu pai, mas não pretendo contar a ela ainda.
Ontem à noite liguei para um velho amigo que trabalha no departamento de polícia de Seattle e que pode me ajudar. Vou encontrá-lo hoje e pretendo passar todas as informações que tenho.
Deixo a casa e vou para a moto, lembrando que preciso buscar meu carro novo. Farei isso em breve.
Acelero pelas ruas, em direção a um café que fica no Centro, local onde vamos nos encontrar. Estaciono e entro no café, vendo Sebastian sentado no canto. Ele acena quando me vê.
— Evan, há quanto tempo! —diz esticando a mão para mim.
Eu o cumprimento.
— Há muito tempo, Sebastian. Está diferente.
— Estou mesmo, envelheci. Mas continuo em forma —brinca, rindo.
Eu me sento em sua frente, e a garçonete logo aparece perguntando o que vou beber.
— Um americano, por favor — peço a ela.
A mulher sai, Sebastian e eu ficamos sozinhos de novo. Estou pronto para dizer a ele.
— Obrigado por atender a minha ligação depois de tanto tempo — começo. — Estou com um problema e acho que você pode me ajudar.
— Que tipo de problema? — pergunta me encarando.
— Uma pessoa desaparecida há alguns anos. Eu gostaria de encontrá-la — explico.
Sebastian pensa por um momento, enquanto bebe seu café. Não sei se vai poder me ajudar, eu não tinha pensado na possibilidade do não.
— Preciso do nome da pessoa.
— Eu não sei — confesso, recebendo um olhar curioso dele. — Mas sei o nome da esposa e da filha.
— Já ajuda —diz tirando papel e caneta do bolso da jaqueta. — Quais são os nomes?
— Leila e Katherine Young — digo a ele as informações.
— Em que ano ele desapareceu?
— 1999.
Sebastian anota tudo no papel e depois o deixa de lado, para voltar a conversar comigo.
— Sabe, esses casos são difíceis, de pessoas desaparecidas dessa forma. Muitas vezes a pessoa não quer ser encontrada.
— Eu entendo. Você acha que consegue informações até quando?
— Não sei, talvez até quinta-feira.
Eu assinto.
— Vou esperar você me ligar então — digo a ele, já me levantando.
— Pode deixar comigo, Evan. Vou investigar tudo.
— Obrigado, cara — agradeço, antes de me virar e sair do café.
Estou feliz, sentindo que logo terei novidades para Kate. Vou encontrar seu pai, e os dois finalmente vão poder conversar como pessoas adultas.
Subo na moto e saio rumo à lanchonete de Kate, esperando encontrá-la. Não pretendia encontrá-la hoje, mas estou ansioso para vê-la e falar com ela. Tenho algo importante a lhe dizer.
Paro em frente à lanchonete de fachada vermelha e entro, vendo que já há bastante pessoas nas mesas. Logo a vejo, de rabo de cavalo, usando um avental vermelho, indo de mesa em mesa com um sorriso no rosto.
É Kate, sempre sendo atenciosa com os clientes, uma das qualidades que mais admiro nela; a necessidade de ser gentil sempre.
Ela me vê, e seu sorriso se desfaz. Aproxima-se hesitante, caminhando devagar, e para em minha frente.
— Evan — pronuncia meu nome de uma forma exasperada.
— Kate — repito o gesto dela.
— Quer comer alguma coisa? —pergunta, pegando o bloquinho e a caneta para anotar.
— Não, não vim aqui por isso.
— Por que, então?
Sorrio fascinado com as bochechas rosadas dela e por como ela parece fofa desse jeito. Eu nunca tinha notado.
— Só vim te ver — digo e espero pela reação dela.
Os olhos de Kate se arregalam e ela parece surpresa ao ouvir isso.
— Estou cheia de serviço —diz olhando para as mesas.
— Espero você ficar com mais tempo livre, então. Uma hora vai ter que descansar.
— Em uma hora.
— Vou esperar, então — falo e me sento próximo ao balcão.
Ela dá de ombros e sai, voltando ao trabalho, enquanto espero por ela.
O tempo passa rápido enquanto a observo servir as mesas, sempre sorrindo, conversando com os clientes. Kate leva canudos coloridos a uma mesa com crianças,arrancando sorrisos dos pequenos. Como eu não via tudo isso antes? E por que agora reparo em cada detalhe dela?
Tenho medo da resposta.
Uma hora depois, Kate aparece sem avental e me diz que está livre por algum tempo. Então a convido para passear lá fora, ao ar livre.
Caminhamos lado a lado, Kate com as mãos nos bolsos e o cabelo despenteado.
— Então você veio me ver — diz ela.
— Sim.
— Bem, você está me vendo — brinca Kate, rindo.
Sorrio para ela. Nós paramos de andar e ficamos de frente um para o outro, eu bem maior que ela.
— Senti sua falta, menina — digo arrumando os fios de cabelo desgrenhados no alto de sua cabeça.
Um sorriso tímido surge nos lábios dela.
— Ficamos apenas quatro dias sem nos vermos, Evan.
Franzo a testa.
— Puxa, tudo isso? É bastante tempo.
Ouço-a rir. Kate olha para cima, para mim. Por que a acho malditamente tão linda de repente? Por que estou pensando em beijá-la de novo?
Mas desta vez eu me comporto, não a beijo.
— Sobre o que aconteceu aquele dia...
— Desculpe por isso, Kate. Fiz por impulso.
Ela desvia o olhar para o lado.
— Está tudo bem, Evan.
— Sabe, eu quis ver você hoje porque tenho algo para te dizer.
— O que é? — ela pergunta.
Eu hesito, nervoso, com medo de que ela recuse.
— Quero saber se quer sair comigo.
Silêncio. Ela não diz nada.
— Eu aceito — responde de repente.
— Isso é ótimo — digo feliz.
Voltamos a caminhar até a lanchonete, e Kate me diz que precisa voltar a trabalhar. Eu me despeço dela e volto de moto, rumo a minha casa, porque preciso saber de Henry.
Quando entro em casa, encontro Elísia sentada no sofá com o bebê nos braços, os dois brincando.
— Como estão?
— Estamos bem, Evan — responde a jovem.
— Pode ir para casa, Elísia. Eu fico com Henry — falo para ela, pegando o bebê de seus braços.
— Tudo bem, então. — Ela se levanta e caminha para a porta, animada. — Até amanhã, Henry!
Sai, e ficamos Henry e eu sozinhos, então decido que é a hora do banho dele.
 
***
 
Cinco dias mais tarde, recebo a ligação de Sebastian dizendo que eu precisava encontrá-lo com urgência no mesmo café do outro dia. Eu fui dirigindo meu novo carro, enquanto me perguntava se ele havia encontrado informações úteis sobre o desaparecimento.
Cheguei ao café pouco depois e logo o encontrei, sentado em uma das mesas laterais, com um senhor ao seu lado.
— Evan, eu precisava vê-lo — diz assim que me sento.
— Novidades?
Ele balança a cabeça concordando.
— Esse é Paul, a pessoa que você procurava.
O homem, na casa dos cinquenta anos, ergue os olhos, o rosto cheio de rugas, cansado pelo tempo. De imediato reconheço nele os olhos de Kate e entendo que aquele é o pai dela.
— Você procurou por mim? — o homem pergunta.
— Sim, eu queria encontrar o senhor. Conheci sua filha, e ela me contou que o senhor a abandonou quando pequena.
— Katherine — ele diz com a voz embargada.
— Sim, Kate. Ela precisa vê-lo, senhor.
Ele se assusta com o pedido.
— Não, não posso vê-la agora. Estou fazendo tratamento contra um câncer agressivo, e não tenho coragem de vê-la.
— Kate vai adorar encontrá-lo, não tenha medo, senhor. Ela ainda o ama muito.
Paul olha para Sebastian e depois para mim.
— Você acha que ela vai querer me ver?
— Eu acho, sim.
Após convencê-lo sobre o encontro, deixo Paul e Sebastian; vou até Kate, para falar com ela.
Quando chego à lanchonete, Kate está conversando com a mãe no balcão e sorri quando me vê. Eu a convido a passear do lado de fora, e ela me acompanha, perguntando por Henry, dizendo que está com saudade.
— Kate, eu quero te perguntar uma coisa.
— Você pode — ela diz rindo.
Demoro a dizer, ansioso com a resposta dela. Isso que estou fazendo vai mudar sua vida para sempre. As coisas não serão mais do mesmo modo. E, se ela não me perdoar por isso, por minha interferência em sua vida?
— Fala logo! Você está me assustando! — Ela me dá uma leve cotovelada, então respiro fundo.
— Você quer encontrar o seu pai?
Seus olhos crescem e tenho a impressão de que para de respirar por um momento.
Será que ela não gostou?
Droga!

Impetuoso (Livro 4) - Série The Underwood's.Onde as histórias ganham vida. Descobre agora