Capítulo Quatro

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Kate

Hoje o movimento está maior. É início de mês e todos querem torrar os seus dólares com comida e cerveja.
Um dos nossos fornecedores não conseguiu entregar bacon e presunto; não sei se o que comprei no mercado será o suficiente.
— Graças aos bons céus, hoje está lotado — mamãe diz, com um sorriso largo nos lábios.
— Tudo vai melhorar, mãe — tento animá-la e seu sorriso some por um instante.
— Temos algumas dívidas com os fornecedores e, se o movimento não melhorar, temo pelo que pode acontecer com isso aqui.
Sei o quanto este lugar é importante para a minha mãe. É herança do meu falecido avô, assim como o carro que ele deixou para mim.  
— Ei! Hoje temos muitos clientes para atender,é isso que importa. Vamos viver um dia de cada vez e tudo dará certo. E eu já disse, qualquer coisa eu vendo a Ruby — digo, mas torço para que isso nunca aconteça, pois eu amo aquele carro mais que a mim mesma.
— Jamais permitirei isso. Ruby foi um presente do seu avô e eu nunca aceitaria um centavo caso o vendesse.
Abraço-a.
— Tudo vai melhorar, mãe. Não vamos precisar nos desfazermos de nada que o vovô Edward nos deixou. — Beijo o topo de sua cabeça e saio para o balcão, deixando-a na cozinha para fazer os lanches.
Edward foi um avô maravilhoso, o pai que nunca tive. Vovó Selena partiu quando eu ainda era muito pequena, deixando meu avô devastado. Eles tinham um amor eterno e acho que isso já vem de outras vidas.
Faz cinco anos que Edward nos deixou. Foi quando decidi ouvir os conselhos de minha mãe e procurar uma psicóloga. O fato de não ter um pai e ainda perder a única figura paterna que eu tive na vida foi um golpe muito grande para mim.
Esta lanchonete à beira da estrada e a Ruby são muito mais que uma herança. São presentes, histórias de vida que pretendo conservar para sempre. Não se trata de bem material, mas do amor que sinto ao me lembrar do meu avô.
— Detesto te ver tão pensativa...
Olho em direção de quem me fala e encontro Marie me olhando, enquanto se apoia no balcão, de frente para mim.
— Estava me lembrando do Edward — respondo.
— Ele sentiria muito orgulho da mulher que se tornou nesses cinco anos, Kate. Mas, olha, não vim como psicóloga. Hoje eu que sou sua cliente e quero muito um hambúrguer gigante com batatas fritas!
— Alguém aqui está com fome — brinco.
— Fome é pouco! — Solta uma gargalhada.
— Vou pedir à mamãe que capriche! — digo e vou para a cozinha.
Algum tempo depois, após anotar outros pedidos, limpar as mesas, receber os pagamentos e ajudar a minha mãe no que posso, sinto-me um pouco cansada. Fazia meses que a lanchonete não enchia tanto e, se continuar assim, creio que teremos que contratar um funcionário.
— Tem certeza de que não quer que eu te ajude em algo? — Marie pergunta.
— Você já ajudou muito lavando a louça, obrigada! — Sento-me em sua frente, em uma das mesas que ficam no canto da lanchonete. — Agora está tranquilo, só alguns homens bebendo e jogando.
Enquanto conversamos, sinto alguém se aproximar e parar ao nosso lado. Ergo o olhar e encontro olhos esverdeados me encarando seriamente.
É ele! Aquele idiota arrogante que se acha gostosão.
— Quer alguma coisa? — pergunto diretamente.
— Aquele carro... o carro... — ele diz, mas eu não entendo nada.
— Você está bêbado? — pergunto, pois parece que ele já chegou embriagado.
— Kate, está tudo bem? — Marie pergunta, pois não está entendendo nada também.
— Não se preocupe — respondo e fico em pé. — Vai pedir alguma coisa?
O homem me olha profundamente. Nunca alguém me olhou dessa maneira. Seus olhos estão brilhantes e apagados ao mesmo tempo. Ele parece triste e perdido, como se tivesse perdido algo ou alguém.
— Desculpe, eu... Desculpe, eu não devia ter vindo. — Ele sai a passos largos e eu o sigo, sem entender o motivo de estar fazendo isso.
— Ei, espera! — consigo alcançá-lo.
Ele para em frente a sua moto, pega o capacete e me encara. Mas agora está mais sério, parece que acordou de algum transe.
— Eu já disse que eu não devia ter vindo aqui — sua voz sai ríspida.
— Você é sempre um babaca assim? — pergunto, não conseguindo esconder a minha irritação. — De que porra de carro você estava falando?
— Nada, esquece. — Coloca o capacete e sobe na moto. — Só esquece.
Ele dá a partida e logo vai embora me deixando com cara de boba e ainda mais curiosa. Esse homem é tão esquisito e tão... sexy.
Não! Não! Não!
Ele é um idiota, um tiozão que se acha o adolescente. Quantas vezes já o vi bebendo aqui e dando em cima de várias mulheres. É um macho escroto, sem coração.
— Está tudo bem? — Marie aparece ao meu lado, com o cenho franzido.
— Sim, era só mais um bêbado — respondo.
— Então já vou indo. Qualquer coisa me liga — diz e me dá um abraço que só ela sabe dar.
Marie entra em seu carro e vai embora. Fico parada olhando o veículo se afastar e ainda me perguntando o que aquele homem queria. Eu nem sei o seu nome, onde mora, qual é a sua história. E, por mais que o ache idiota, hoje o senti frágil. Aqueles olhos... Eu conheço aquele olhar. É o mesmo que carrego a minha vida toda.

Impetuoso (Livro 4) - Série The Underwood's.Unde poveștirile trăiesc. Descoperă acum