Capítulo Treze

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Evan

Sinto-me estranho, uma sensação que não sei explicar, mas isto é sobre Kate e o que acabei de fazer. Não sou um homem de loucuras, penso muito no que faço, mas hoje agi por completo impulso.Não consigo deixar de pensar nas consequências do que fize em como Kate reagirá a tudo isso. Sei que ela ama aquele carro, e comprá-lo dela dessa maneira foi um pouco cruel.
Mas o que eu poderia fazer? Eu queria o carro, e era melhor para ela vender para alguém conhecido, que garantisse cuidar bem do carro.
Estou no caminho de casa, mas peço ao motorista que pare em uma concessionária de carros, porque preciso resolver algumas coisas. Não demora muito e já estou de volta, com Henry adormecido contra meu peito, e então seguimos para casa.
Saio do táxi rapidamente e entro em casa para deixar o bebê no berço, enquanto começo a planejar os próximos passos.
Preciso que Kate venha até mim para entregar o carro e os documentos. Sei que vai ser doloroso para ela, mas é a melhor forma de fazermos isso funcionar.
Não queria fazer Kate sofrer, senti a dor dela em mim enquanto negociávamos o carro e posso imaginar o que sentiu quando fechamos negócio. Por um instante, desejei consolá-la, tê-la em meus braços e sussurrar que tudo ficaria bem. Um sentimento novo e inusitado.
Pego o celular e ligo para ela, esperando que me atenda.
— Oi, Evan.
— Oi, Kate — digo ansioso. — Você pode vir aqui em casa hoje à noite, trazer o carro e os documentos?
Ela respira fundo antes de responder.
— Eu posso.
— Coloque uma roupa legal, Kate.
— Por quê? —pergunta sem entender.
Sorrio imaginando a expressão confusa dela.
— Porque sim — respondo direto.
Kate não diz mais nada, mas, quando acho que desligou, ela fala algo.
— Eu irei então — concorda.
Desligo em seguida, deixando o celular abandonado em cima do sofá.
Ela virá, comemoro esperando que meu plano dê certo, que nada saia fora do esperado.
A campainha toca e eu me lembrode que hoje a candidata à vaga de babá viria para uma conversa.
Abro a porta. Uma jovem de cabelos vermelhos está do lado de fora e sorri quando me vê.
Eu a mando entrar e indico que se sente no sofá.
— Meu nome é Elísia —diz, sorridente.
Sento-me em frente a ela, encarando-a.
— Sou Evan, tio de Henry — explico. — Você já trabalhou como babá antes?
— Já cuidei de duas crianças. Trabalhei por dois anos assim, até a família se mudar.
Isso é bom. Alguém que já trabalhou com isso antes me dá mais segurança para deixar Henry.
— Tem paciência com bebês?
Ela me olha por um tempo antes de responder.
— Tenho, sim.
Eu leio suas referências, todas muito boas. Parece que enfim encontrei a babá perfeita para cuidar de Henry quando eu não estiver em casa.
— Tudo bem, então, você começa amanhã — digo para ela, que arregala os olhos, surpresa.
— Obrigada mesmo — agradece curvando-se de um jeito estranho.
Eu a levo até a porta e me despeço da jovem, sentindo um pouco de alívio, porque agora Henry tem alguém para cuidar dele. Não vou mais precisar cancelar os compromissos por não poder levar o bebê. Agora tudo vai se ajeitar, e eu não preciso mais me preocupar com ele.
Noto que já está escurecendo, é hora de colocar o frango no forno, porque decidi cozinhar para Kate hoje. Eu sou bom na cozinha e sei preparar vários pratos diferentes. Sei também que cozinhar para uma mulher é considerado sexy. Vou cozinhar para Kate, e espero que ela note meu feito.
Já são oito horas quando Henry acorda, e eu vou trocar sua fralda, o que agora já virou um costume; fácil, embora antes fosse um verdadeiro suplício. Eu me acostumei até a isso.
Termino de trocar a fralda e vou com ele para a sala, mas, quando chegamos lá, a campainha toca de novo, e sei que é Kate.
Com Henry nos braços, abro a porta, encontrando Kate de vestido preto, curto, e de salto alto. Ela me olha de canto de olho e faço sinal para que entre.
Está linda. Usa maquiagem e o cabelo penteado para trás, preso com presilhas douradas. Nunca reparei tanto em uma mulher como estou fazendo com Kate.
— Você está linda, Kate — digo ainda surpreso, ao vê-la assim.
Henry, nos meus braços, se estica na direção dela, pedindo colo.
— Quer vir comigo? — Pega Henry, que se agita em seu colo, dando-lhe tapinhas nos braços.
Ela se senta no sofá, enquanto brinca com o bebê, segurando-o pelos bracinhos e o balançando, fazendo-o rir. Estou ao seu lado, calado, apenas observando os dois. Por um momento me pego pensando se existe algo mais perfeito que Kate brincando com Henry e eu ao lado, relaxado, apenas vendo como os dois se divertem. É uma boa visão.
— Ele está tendo febre por causa dos dentes? — Kate pergunta.
Eu franzo a testa, pensativo.
— Não. Ele está normal — respondo.
Kate sorri.
— Você é sortudo. Normalmente bebês choram e têm febre quando os dentes estão nascendo — explica ela.
— É, eu acho que tenho sorte — falo enquanto contemplo Kate.
Não consigo parar de admirá-la. E, pela primeira vez em muito tempo, morro de desejo de beijar uma mulher. Quero segurar sua cabeça em minha mãoe embalá-la, enquanto desço meus lábios sobre os dela.
Tento me concentrar, lembrar o motivo por que Kate está aqui.
— Trouxe o carro? — pergunto, tornando sua expressão desanimada no mesmo instante.
— Trouxe — ela diz e entrega a chave para mim. — Aqui estão os documentos. — Entrega também.
Seus olhos estão tristes, e tenho vontade de consolá-la.
—A comida está pronta — anuncio ao voltar da cozinha.
Ela ainda está com Henry no colo e se levanta quando me vê.
— Acho que ele está com sono.
O bebê coça os olhos, confirmando a desconfiança de Kate.
— Vá arrumando a mesa enquanto eu o faço dormir — digo para Kate, que concorda.
Preparo rapidamente uma mamadeira para Henry e o levo para o quarto. Ele me olha com os olhos arregalados, enquanto mama. Começo a chacoalhá-lo de um lado para outro, enquanto canto baixinho. Não demora para que o bebê comece a adormecer. Eu o seguro um tempo nos braços e depois o coloco no berço.
Comemoro por mais uma vez ter conseguido. Uma das coisas mais difíceis foi aprender a fazer o bebê dormir. Demorei a aprender.
Volto para a cozinha. Kate organizou toda a mesa e estamos prontos para comer.
Coloco o frango assado no centro da mesa e depois pego o vinho na geladeira.
— Sente-se — peço.
Kate se senta e eu me acomodo em frente a ela, enquanto começo a cortar o frango. Em seguida a sirvo.
— Obrigada.
— Sabe, achei que você não viria.
— Por que não?
Dou de ombros.
— Porque você me acha um idiota.
Ela evita um riso, e eu me mantenho calado.
— Não te acho um idiota sempre. Apenas às vezes.
Olho para ela, está tímida, evitando me olhar.
— Eu,às vezes, dou motivos, confesso.
Seus dentes brancos aparecem em um sorriso.
— Sou muito durona às vezes.
— Você tem que ser durona, Kate — digo chamando a atenção dela. — Por sua mãe e por você.
Ela engole em seco e concorda.
— Você está certo, talvez eu precise.
Deixo o assunto de lado, já que a deixa desconfortável.
— Estamos contando muitos segredos um ao outro, Kate.
— Na verdade — começa ela, olhando para baixo — há algo que quero contar.
— E o que é? — pergunto.
Kate solta o ar dos pulmões e me olha por um momento.
— Meu pai me abandonou quando eu tinha quatro anos. Foi embora por outra mulher, abandonou minha mãe e a mim sem nem sequer uma palavra. Deixou apenas um bilhete dizendo que eu deveria ser feliz. — Bebe um gole de vinho e respira fundo. — Eu o odeio. Tenho pesadelos com ele quase todas as noites.
— Sinto muito por isso, Kate.
— Vou ficar bem —diz de qualquer jeito.
— Cada um de nós tem suas feridas, Kate.
— Eu queria esquecer tudo e viver normalmente.
Suspiro.
— Eu também queria, meu bem. Mas não é assim, certo? — digo para ela.
— Afinal, para que me chamou aqui esta noite? — pergunta mudando de assunto.
— Eu queria te devolver isso, Kate. — Pego a chave e os documentos e ofereço a ela.
Ela pega, sem entender.
— Por quê?
Eu sorrio.
— Comprei um sedã novo enquanto voltava para casa. Não vou precisar mais do seu.
— Está me devolvendo? Eu preciso devolver o dinheiro.
— Não, Kate. Não estou pedindo o dinheiro de volta.
— Então?
Eu me levanto e vou até ela.
— Quero que fique com o carro e o dinheiro — sussurro.
O queixo de Kate cai, ela me olhando sem acreditar.
Fica de pé na minha frente, tão pequena.
— Está louco?
— Estou muito bem, Kate. Você ouviu bem, por favor, não discuta.
— Mas...
— Não, Kate.
Ela concorda, fica olhando para a chave na mão e depois olha para mim.
— Não sei como agradecer.
— Eu sei — digo sorrindo.
— Como?
Eu me curvo, passando o braço por sua cintura, e devagar desço os lábios sobre os dela.
É quente, é doce e eu não quero parar nunca mais. Quero beijar Kate pelo resto da minha vida.
Deslizo minha boca sobre a dela, sentindo-a amolecer sob meu contato. Conduzo-a devagar até o sofá, onde a faço sentar, enquanto estou por cima, beijando-a. Minha mão desliza pelas curvas do seu corpo, e eu me seguro para não a despir aqui mesmo.
Kate me afasta e se levanta com a mão na boca.
— Não deveria ter feito isso, Evan.
— Por que não?
Ela caminha até a porta. Está indo embora.
— Porque não deveríamos nos envolver desse jeito — responde, afastando-se.
— Não vá. Fique —falo quando ela leva a mão à maçaneta.
— Eu não posso, Evan. É demais.
Kate abre a porta e sai me deixando sozinho.
Bebo um pouco de vinho e tento relaxar. Mas ela ainda está em mim, e eu posso sentir seu gosto nos meus lábios.
Deito-me no sofá e fecho os olhos.
Beijei Kate. Finalmente.
E de repente uma nova realidade bate contra meu peito.
Eu preciso tê-la.

Impetuoso (Livro 4) - Série The Underwood's.Where stories live. Discover now