Capítulo Quatorze

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Kate

Saio da casa do Evan mais rápido que The Flash. Com as mãos trêmulas, consigo pegar a chave do carro e entrar, trancando-me lá dentro.
Fico com os olhos fechados durante alguns minutos, tentando assimilar tudo o que acabou de acontecer. Meu coração bate a mil por segundo, sinto como se ele fosse saltar pela boca. Mesmo com as pernas bambas, acelero e mergulho no trânsito de Seattle.
Por algum motivo desconhecido, paro em frente ao The Underwood’s, um bar supermovimentado e cheio de pessoas que gosto de ver, observar. E de que, também, a minha tatuadora é sócia.
Entro no ambiente e é impossível não sentir a energia deste lugar. Várias pessoas vestidas com suas botas e jaquetas de couro, bebendo freneticamente e ouvindo o bom e velho rock and roll.
— Kate! É você mesma? — Eva surge em minha frente, tão bela quanto a última vez que a vi.
— Eva, você está maravilhosa com essa barriga! — brinco e ela revira os olhos após me abraçar.
— Não imaginava que uma gravidez mudasse tanto uma mulher. Já não consigo colocar meias. — Seu desespero é cômico.
— Você é demais, Eva! — digo e ela sorri.
— Que surpresa boa te ver aqui. Espero que não tenha vindo brigar comigo por desmarcar a sessão da sua nova tatuagem dias atrás — diz parecendo preocupada.
— Eu jamais faria isso.
— Sabe como é, meus movimentos estão bem limitados com essa barriga. Mas, se daqui uns meses ainda quiser, serei toda sua — brinca.
— Já sabem o sexo do bebê? — pergunto, realmente curiosa.
— É um menino — responde sorridente, enquanto alisa a barriga.
— E ele já tem um nome?
— Ainda não. É tão difícil escolher um! É algo que ele carregará pelo resto da vida.
— Tenho certeza de que escolherá o melhor nome — tento tranquilizá-la.
— Obrigada! — Ela alisa a barriga mais uma vez.
Fico em silêncio durante alguns segundos, enquanto admiro a felicidade genuína de Eva.
— Hum, você está com cara de que precisa beber uma dose de algo bem forte. Uísque? — pergunta enquanto me puxa até o balcão.
— Uma dose dupla, por favor! — Sento-me em uma das banquetas.
— Uma dose dupla saindo no capricho! — Eva me entrega o copo e eu viro tudo em um único gole.
Sinto a garganta queimar. Fazia um tempo que não bebia nada muito forte. É uma sensação de ardor e liberdade, como se eu precisasse sentir isso para tirar qualquer resquício de Evan de mim, de minha boca.
— Mais uma dose dupla — peço, batendo o copo no balcão.
— Você está bem? — Eva pergunta, enquanto me entrega a bebida.
— Estou bem. — Sorrio fracamente, virando a bebida e já sentindo tudo girar.
Meu Deus! Como sou fraca para bebidas!
— Sei que não somos amigas tão íntimas, mas já faz alguns anos que te conheço e sei um pouco da sua história, Kate. Seus olhos estão confusos, parece perdida.
A observação de Eva me atinge como um soco no estômago. É realmente assim que me sinto. Confusa e perdida. Ainda não sei porque o Evan mexe tanto comigo, e não sei se tenho forças para descobrir.
Provavelmente seja porque somos dois loucos, cheios de feridas e com passados tristes.
— Tem um cara... — sussurro quase sem coragem de me abrir para ela.
— Sua aflição é por causa de um cara? — Senta-se ao meu lado, parece realmente interessada. — Eu nunca te vi falar sobre um cara — brinca.
— Na verdade, ele é mais velho que eu, uns quinze anos, eu acho.
— E é esse o problema? A diferença de idade? — Arqueia as sobrancelhas.
— Não, nada a ver com a idade dele.
— Então? — insiste.
— Eu sempre me achei uma mulher forte, apesar de todos os traumas que carrego. Mas, quando estou perto dele, me sinto frágil, como se algo entre nós fosse capaz de me esmagar, sabe? — desabafo e ela me analisa.
— Claro que eu sei! Ethan me fazia sentir da mesma forma —responde e eu a encaro.
— E o que você fez? —pergunto, na esperança de que Eva me dê uma luz.
— Bem, o resultado está aqui. — Passa a mão na barriga, fazendo-me rir. — Olha, Kate, depois de tanto lutar e relutar, eu acabei entendendo que amava Ethan e que o sentimento que eu achava que me deixava fraca, na verdade,me tornava uma mulher ainda mais forte.
Eva pega em minha mão gentilmente e sorri.
— Isso que você está sentindo é amor, Kate. Você está apaixonada. — Sorrio nervosa.
— Minha psicóloga disse o mesmo. — Apoio a cabeça entre as mãos. — Preciso de mais uma dose.
— Kate, tem certeza? — Eva pergunta, preocupada.
— Tenho — limito-me a responder.
Como com as doses anteriores, viro tudo em um gole e sinto meu corpo relaxar. Já não me importo se estou ou não apaixonada pelo Evan.Só quero curtir este momento, onde estou fora da minha zona de conforto, sentindo-me livre por um breve momento.
— Por que fez isso comigo, Evan? — esbravejo num tom baixo.
— Evan? Esse é o nome do sortudo? — Eva volta a atenção para mim.
Merda! Acho que bebi demais e acabei falando o que não devia.
— Evan Baker — admito num fio de voz.
— Não acredito! — Eva explode em uma risada e eu não entendo o porquê. — No chá-revelação, ele comentou que é cliente da lanchonete de sua mãe.
— Comentou? — pergunto, curiosa.
— Sim, mas foi algo breve. Eu apenas comentei que tive que desmarcar a sua tatuagem e ele reconheceu o seu nome, contou que vai sempre à lanchonete — conta.
— Então vocês se conhecem? Ótimo! Que mundo pequeno esse...
— E não é? — Eva coloca a mão sobre a boca, abafando uma risadinha.
— Sempre o detestei! Eu o atendia e tinha vontade de socá-lo, porque ele sempre foi chato e mulherengo. Eu tinha nojo dele! — digo enquanto algumas memórias surgem.
— Como esse mundo é pequeno, não? — Eva repete, colocando as mãos na cintura.
— Nem me diga! — resmungo.
— Olha, o Evan pode ser chato, mulherengo e muitas vezes inconveniente, mas, no fundo, ele é uma boa pessoa. Nunca o vi desrespeitar uma mulher, ele sabe respeitar os limites.
— Ele me beijou...
— E?
— Isso me assustou, mas eu gostei. Na verdade, nunca me senti assim. Tive poucos relacionamentos e nenhum me fez sentir como Evan faz — admito, fechando os olhos com força.
— Posso te dar um conselho? — ela pede e eu balanço a cabeça positivamente. — Evan amadureceu muito depois que passou a cuidar do sobrinho; ele é outra pessoa, outro homem. Quase não vem aqui, praticamente parou de beber, dedica a vida ao Henry.
Conforme Eva vai falando, sinto meu coração se contorcer. Realmente não deve ser fácil parar a própria vida para cuidar de um bebê, ainda mais sozinho.
— Evan não tem ninguém, tirando nós, é claro. Sua única família é a irmã, que está internada, então imagine como deve se sentir. Acho que você deveria dar uma chance a ele, para conhecê-lo mais a fundo.
— Ele só deve estar vulnerável devido a esses acontecimentos. Evan parece incapaz de sentir algo por alguém. — Mesmo sabendo sobre a sua noiva falecida, é impossível imaginá-lo amando alguém.
Principalmente alguém como eu.
— Tem certeza de que não há algo a mais nisso? Por que você não aceita o fato de estar apaixonada e compartilha com ele o que sente? — ela insiste.
— Olhe para mim, Eva! Você acha que faço o tipo dele?
A expressão de Eva se suaviza e acho que agora ela compreende.
— Devo confessar que,em se tratando do Evan, fiquei surpresa. Mas uma coisa é certa: se ele te beijou, é porque viu além de sua aparência. Mas isso não é algo difícil, pois você é linda, Kate. Por dentro e por fora. — Ela sorri gentilmente e aperta a minha mão.
Instantes depois, um homem chega ao seu lado e cochicha em seu ouvido.
— Kate, esse é o Ethan — ela apresenta o companheiro.
— Prazer! — cumprimentamos juntos.
— Ethan disse que devemos ir para casa, pois estou grávida e tenho que repousar. — Ela revira os olhos, em um tom de brincadeira.
— Só quero o melhor para você e o meu filho — ele diz e beija o topo da cabeça dela.
— Você ficará bem? — Eva parece preocupada.
— Pode ir tranquila, eu estou bem — respondosem ter certeza disso.
Após um longo abraço, vejo os dois se afastarem e saírem do bar. Parecem muito felizes e isso me faz questionar se um dia terei essa sorte.
Tenho apenas vinte e cinco anos e, na verdade, nunca acreditei no amor entre um casal. Já vi muitas histórias que terminaram mal, com minha mãe foi assim.
Inevitavelmente lembro-me do homem que a abandonou quando eu ainda era muito pequena. Meu pai não foi capaz de ficar nem por mim, sua própria filha, que dirá minha mãe.
A raiva cresce dentro de mim e uma onda de sentimentos me atinge com força. Não quero passar o que a minha mãe passou. Eu não quero passar noites em claro esperando alguém voltar, enquanto a tristeza e a decepção me matam lentamente.
Eu não quero.
Eu não posso.
Mas receio que seja tarde demais, pois estou completamente apaixonada por Evan Baker.

Impetuoso (Livro 4) - Série The Underwood's.Where stories live. Discover now