Capítulo Seis

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Kate

Por que diabos eu vim parar aqui? Às vezes sinto vontade de ligar para Marie e pedir a ela que me interne em uma clínica psiquiátrica de uma vez.
Isso não pode ser normal!
Seguir um homem que eu detesto, que acho mais doido que eu, em plena duas horas da manhã.
Tantas farmácias para comprar a droga de um absorvente e o destino me levou à mesma em que ele entrou para comprar algo para o sobrinho.
— O que faz aqui? — ele pergunta, aparentemente confuso.
Sorrio com o pouco de dignidade que ainda me resta e ergo o indicador para cima, parecendo uma palhaça.
— Eu vim te ajudar com o bebê. — Parece que nem fui eu quem falou essas palavras.
— Você o quê? — a incredulidade em sua voz me deixa levemente irritada.
Ele é burro, ou surdo? Ou será os dois?
— Olha, pode parecer loucura, mas vi seu desespero na farmácia, então... decidi te seguir e oferecer ajuda.
— Você me seguiu? — pergunta, parece ainda mais surpreso.
Ele realmente está me irritando. Que merda de ideia eu fui ter!
— Tudo bem que eu ache que você não é muito certo da cabeça, mas ficar fazendo essas perguntas repetidamente está te deixando ainda mais ridícula.
Ele estreita os olhos esverdeados para mim.
— Entra! — diz e dá as costas, embalando o bebê. — O que você entende de bebês? Por acaso tem algum? Bem, acho que não, senão não estaria aqui a esta hora.
Paro em sua frente e cruzo os braços.
— Aposto que entendo de bebês mais do que você! — Ele sorri ironicamente. — O quê? Acha que estou mentindo e que te segui porque te acho lindo e maravilhoso? — Sinto o rosto queimar.
—Sempre desconfiei que você tinha uma quedinha por mim. — Seus lábios desenham um sorriso que eu jamais vi em minha vida; que dentes perfeitos ele tem.
—Não acredito que ouvi isso! Me dá esse bebê aqui, por favor! — pego o bebê com cuidado e o encaixo em meus braços.
— Você sabe segurar um bebê! Parabéns! — ele diz enquanto coloca a chupeta na boquinha do sobrinho.
— Para a sua informação, fui babá durante cinco anos para a minha vizinha. E ela tinha gêmeos! E detalhe: eram dois meninos muito, mas muito levados. Se consegui cuidar daqueles dois, cuido de qualquer um, isso eu garanto.
Ele parece acreditar e se diverte com a história.
— Você não tem cara de que tem muita paciência, não.
Encaro-o.
— Com bêbados chatos, não. — Sorrio com deboche. — Falando nisso, você deveria tomar um banho, cara! Seu sobrinho não merece sentir esse cheiro de álcool.
Ele fica sério e pensativo.
— Você tem razão... — diz, mas não parece confortável, e sei porquê.
— Não se preocupe, não vou sequestrar o seu sobrinho — brinco. — Você frequenta a lanchonete há anos, então... não tem porque se preocupar, eu só vim ajudar mesmo.
— Você já percebeu que ainda não sabemos nem o nome um do outro? — sua pergunta me faz rir.
— Eu sou Kate, Kate Young.
— Eu sou Evan, Evan Baker — ele me imita, fazendo-me revirar os olhos.
— Pode ir tomar banho tranquilo, enquanto cuido do seu sobrinho. Aliás, qual é o nome dele?
— Henry — responde e olha com ternura para o bebê que está em meus braços brincando com alguns fios do meu cabelo.
— Henry é um nome forte e bonito — digo com sinceridade, pois sempre gostei de nomes fortes.
— Não só o nome, ele é lindo igual ao tio aqui.
Eu me rendo e dou risada com a sua brincadeira.
— Henry, desculpa te decepcionar tão cedo, mas o seu tio é um idiota.
Evan dá risada.
— Então, se não se importa, vou tomar um banho rápido e já volto — diz e sai, assim que digo que está tudo bem.
Olho para a criança em meus braços e sinto meu coração derreter, ele é perfeito! Um dos bebês mais lindos que já vi em toda a minha vida! E, de fato, se parece muito com Evan. Mas isso ele jamais ouvirá de minha boca.
Henry começa a resmungar, então percebo que está com fome. Coloco-o confortavelmente no carrinho e vamos para a cozinha. Até que isso aqui não está muito bagunçado e não demoro muito a encontrar o leite e todos os itens para preparar a mamadeira.
Quando Evan sai do banho, já estou sentada no sofá, alimentando o pequenino. Sinto olhos me observando e, quando ergo a cabeça, Evan está parado, encostado na parede, apenas com uma toalha enrolada na cintura, olhando enquanto dou mamadeira para o seu sobrinho.
— Você precisa vestir uma roupa — sugiro tentando soar o mais séria que consigo.
— Você deve estar adorando me ver assim! — brinca.
— Ele dormiu — digo, ignorando-o. — Onde é o berço?
— Aqui...
Eu o sigo e coloco Henry deitado. Cubro-o e faço um carinho em sua cabecinha.
— Ele gostou de você — Evan diz num tom baixo, para não o acordar.
— Eu também gostei muito dele — respondo e saio do quarto, Evan vem atrás de mim.
— Você já vai?
Fico surpresa com a sua pergunta.
— Claro! Daqui a pouco o dia amanhece e não costumo dormir fora de casa, minha mãe pode ficar preocupada.
— Quantos anos você tem? — debocha.
— O suficiente para não ser irresponsável com quem eu amo.
Evan fica sério, parece que levou um soco na cara, e, pensando bem, isso foi uma bela indireta.
— Eu tinha prometido que não beberia mais, apenas pelo meu sobrinho, mas... — sua voz some por um instante. — Mas ver aquele carro hoje me trouxe más lembranças.
— Olha, eu não sei quais lembranças são essas, mas, se um dia quiser conversar, posso indicar uma psicóloga excelente.
Ele solta uma gargalhada.
— Você está brincando, não é? — pergunta, incrédulo.
— Por que acha isso? Eu mesma vou a uma psicóloga e está tudo bem — respondo calmamente.
— Eu não imaginava...
— Não é só você que carrega más lembranças, Evan. O mundo está cheio de pessoas com a cabeça fodida e o coração partido
Ele se aproxima.
— Sinto muito — limita-se a dizer.
— Está tudo bem. Agora vou embora, tenho que acordar cedo e pensar em algo para ajudar a minha mãe. A lanchonete está passando por uma crise financeira e eu nem sei porque estou contando isso a você — digo e pego a minha bolsa.
— Obrigado por me ajudar hoje. Se eu puder fazer algo em troca... — diz e eu sorrio.
— Comece colocando uma roupa. — Ele sorri. — E pare de ser um babaca, principalmente com o seu sobrinho.
— Eu durmo pelado — brinca. — Obrigado, Kate.
Sem olhar para trás, saio de sua casa e caminho até a Ruby. Após respirar fundo, entro, ligo o som e dou partida.
Ainda vou descobrir porque este carro mexe tanto com ele. Só espero que ele pare de mexer tanto comigo.

Impetuoso (Livro 4) - Série The Underwood's.Where stories live. Discover now