Capítulo Oito

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Kate
 

A noite mal caiu e eu já tive uma surpresa. Não esperava ver Evan aqui na lanchonete, com o Henry pendurado em uma cinta canguru. Vê-lo assim me faz esquecer um pouco da raiva que estou sentindo hoje.
Descobrimos que o fornecedor do bacon e do presunto não entregou mercadoria semana passada devido a um pagamento em aberto, e não por não ter em estoque. Ver o rosto de tristeza de minha mãe ao saber a verdade me destruiu por dentro. Mas não demonstrei, pois darei um jeito em toda essa merda; vamos nos reerguer.
Já decidi, vou vender a Ruby.
— O que faz aqui a uma hora dessas? — pergunto.
— Estava com fome, então decidi vir comer hambúrguer com batatas fritas. — Dá de ombros.
— Oi, Henry! Como você está? —Seguro a sua mãozinha e ele solta um gritinho, que parece ser de alegria.
— É, acho que ele realmente gosta de você — Evan diz e sorri.
— Kate, os pedidos das mesas três e quatro estão prontos! —Josh grita lá da cozinha.
— Com licença. — Saio depressa para pegar os lanches e os levo para os clientes.
Quando retorno para anotar o pedido do Evan, uma fila enorme se forma no caixa. Sinto-me desesperada, pois hoje mamãe não veio trabalhar, pegou um resfriado terrível.
Claro que ela queria vir, tive praticamente que ameaçá-la para ficar em casa tomando seus medicamentos e muito chá quente. Após muita insistência, ela concordou em ficar e repousar. E, para me ajudar na lanchonete, chamei o Josh; um rapaz muito simpático e que faz uns bicos aqui de vez em quando. Os lanches que ele faz são tão bons quanto os de mamãe. Que ela não saiba disso.
— Está tudo bem? — Evan pergunta, quando volto para o balcão, após receber os pagamentos de alguns clientes.
— Minha mãe pegou um resfriado forte e ficou em casa. Estou enlouquecendo sem ela aqui — admito, sorrindo nervosamente.
— E aquele rapaz? Acho que já o vi antes — comenta.
— É o Josh. Às vezes ele vem dar uma mão para a gente —explico e ele fica pensativo. — Se pudéssemos o contrataríamos; nesses dias de muito movimento é cansativo trabalhar só em duas.
— Eu acho que chegou a hora de retribuir a ajuda que me deu —diz e eu não entendo.
— Como assim? — pergunto, desconfiada.
— Você fica no caixa e deixa que eu anote e entregue os pedidos. — Sua sugestão me deixa sem palavras.
— Mas e o Henry?
— Se não se importar, ele pode ficar com você lá. Basta colocar a cinta — responde parecendo animado com a ideia de me ajudar.
—Não sei se é uma boa ideia...
— Qual é! Me deixa ajudar! Não sou nenhum burro que não sabe anotar pedidos e entregá-los depois! — diz chateado.
— Está bem! Só me deixe avisar ao Josh, para ele não se assustar com você — digo e ele faz careta.
Após avisar ao Josh e apresentá-lo a Evan, eu coloco a cinta canguru e logo ajeito Henry em meu corpo. Ele parece não se incomodar, acho que gosta mesmo de mim.
Vou para o caixa e, quando estou livre, sem clientes para atender, observo o jeito como Evan trabalha. Atrapalhado. Desajeitado. Rápido. Sorridente. Evan.
Evan...
Em qual momento permiti que você entrasse em minha vida?
Percebo um grupo de mulheres lançando olhares sensuais a ele. Mas Evan está tão concentrado que não percebe. Se fosse em outros tempos, acho que já teria saído para trepar com uma delas. Ou mais de uma.
Será que ele já transou com mais de uma mulher?
Pego-me fazendo perguntas estranhas e isso não é bom. Não é nada bom. Não tenho nada a ver com a vida sexual dele. Não tenho nada a ver com a vida dele! Muito menos no que diz respeito a sexo.
— Como estou me saindo? — Evan se aproxima.
— Muito bem! Parabéns! — Ele sorri.
— Henry dormiu... — Passa a mão na cabecinha do sobrinho, que dorme contra o meu peito.
— Você tem muita sorte de tê-lo.
— Eu sei — diz olhando carinhosamente para o bebê.
Minutos depois, o grupo de mulheres se aproxima, segurando a comanda da mesa. Enquanto recebo o pagamento, noto que uma morena de cabelos longos e corpo esbelto não para de encarar Evan.
Ela faz de tudo para chamar a sua atenção. Como se o seu vestido curtíssimo não fosse o suficiente.
Dessa vez Evan percebe as insinuações da mulher. Ele a olha dos pés à cabeça e vejo que se segura para não demonstrar que está com tesão por ela. Isso me deixa levemente irritada, então eu bato a gaveta do dinheiro com tanta força, que até Henry chega a acordar.
— Desculpe... — Sorrio ironicamente e ninguém percebe a minha irritação.
Antes de as mulheres irem embora, a morena coloca um papel no bolso da calça jeans de Evan. No bolso da frente. Da frente!
Antes mesmo de ele pensar em pegar o papel — que provavelmente tem o número dela — , entra uma família na lanchonete e ele já os recepciona,atendendo-os.
— Seu tio é um safado, Henry! — cochicho e ele me olha prestando atenção, como se estivesse entendendo o que falo. — Safado e bonito. Mas não conte a ele, tá?
Lá pelas dez e pouco da noite, Henry começa a chorar. Provavelmente está cansado e quer o seu berço. Faço sinal para Evan e ele vem rapidamente.
— Henry quer ir para casa — digo e Evan solta uma gargalhada.
— Ele te disse isso? — Que debochado!
— Ele está resmungando e choramingando. Está cansado, coitadinho. Chame um táxi e vá para casa com Henry. Agora o movimento diminuiu, está tudo bem.
— Tem certeza? — pergunta.
— Absoluta! — Sorrio.
Evan pega o celular e liga para um taxista vir buscar os dois. Em seguida, pega o Henry e o ajeita na cinta, enquanto busco a bolsa com os pertences do sobrinho dele.
Caminhamos para fora da lanchonete em silêncio, até que os seus olhos pousam na Ruby. Percebo que seu corpo enrijece e o brilho do seu olhar some.
— Quer conversar sobre isso? — pergunto cautelosamente.
— Melhor não — responde e olha para o outro lado do estacionamento.
— Se um dia quiser desabafar, saiba que estou aqui. — Dou uma batidinha em seu braço.
— Sabe, até que você é legal mesmo — diz e sorri.
— Não tão legal quanto aquela morena — deixo escapar.
Eu e minha maldita boca!
— Está com ciúmes?
— Eu? Está brincando, né? — Disfarço o máximo que posso.
— Você está com ciúmes, sim! — Gargalha.
— Vá se foder! — Sinto meu rosto ferver.
— Desculpe, estava só brincando. — Olha para a frente.
De repente, um silêncio ensurdecedor toma conta do momento. Olho para o céu e começo a contar as estrelas. Sempre faço isso quando fico mal.
— Ela me deu o número do celular dela — ele quebra o silêncio.
— Você não precisa me contar nada.
— Tem razão — limita-se a dizer.
— Mas você deveria ligar para ela, é bonita e vulgar, do jeito que você gosta.
— Como tem tanta certeza dos meus gostos para mulheres? — Vira-se para mim.
— Qual é! Sempre te vi dando em cima de mulheres como ela aqui na lanchonete.
— É, pode ser.
— O quê? — Cruzo os braços e o encaro. — Vai dizer que alguma vez ousou olhar para uma mulher gorda, fora dos padrões?
Cala a boca, Kate! Cala essa maldita boca!
Evan me olha seriamente. Será que ele pensou que eu me referi a mim mesma? Saco!
— Nunca fiquei. Nunca me atraiu. — Dá de ombros e sua sinceridade me dói por algum motivo.
— Foi o que imaginei — digo.
Quando percebemos, o táxi estaciona ao nosso lado. Evan joga a bolsa do Henry no banco de trás e, antes de entrar, me encara.
— Você não me deixou terminar de falar — diz e não entendo.
— Do que está falando? — pergunto, confusa.
— Eu nunca havia sentido atração até hoje — explica e pisca, entrando no carro.
Enquanto o táxi se afasta, fico pensando no que ele me disse. O que quis dizer com isso? Ele flertou comigo? Não, não pode ser! Evan nunca ficaria com uma mulher como eu e eu nunca ficaria com um babaca como ele.
Preciso me distanciar de Evan Baker.

Impetuoso (Livro 4) - Série The Underwood's.Onde as histórias ganham vida. Descobre agora