Capítulo Onze

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Evan

 
Não pensei que fosse tão difícil encontrar uma boa babá para Henry, mas nas últimas quatro semanas já entrevistei três garotas dispostas a cuidar dele e nenhuma foi boa o suficiente para isso. Uma delas fumava muito, a outra era muito agitada e ficava só no celular. Já a terceira, mal pude ouvir sua voz, de tão tímida. Talvez eu esteja sendo muito exigente e esteja colocando impedimentos para contratar a nova babá, mas realmente tenho medo de deixar Henry com qualquer pessoa.
Tinha esperanças de que Kate pudesse me ajudar, mas ela mesma se negou e me deu as costas há algumas semanas. Confesso que fiquei um pouco sem rumo depois da recusa dela.
Tenho dedicado todo o meu tempo ao bebê, todas as horas do dia, sem deixar de olhá-lo por um minuto. E isso tem me desgastado. Mal durmo à noite e os dias são agitados. Não sei até quando aguentarei viver desta maneira.
Hoje Millicent vai ficar com Henry novamente, mas dessa vez tenho um lugar importante para ir. Vou me encontrar com alguém que não vejo há três meses, e de que sinto falta.
— Vou ver sua mãe hoje, Henry — digo para ele, que brinca no meu colo.
É claro que Henry não me entende, apenas sorri, e eu percebo que há um dentinho nascendo em sua boca. É seu primeiro dente.
— Veja só, Henry, alguém tem dente agora — brinco, colocando-o sentado no sofá ao meu lado.
Queria que a mãe dele visse isso. É ela quem deveria estar vivendo isso, e não eu, que sou apenas tio de Henry. Ainda não consigo aceitar que minha irmã não esteja aqui para cuidar dele. Ela sonhou tanto com esse bebê, teve uma gravidez difícil e sofreu no parto. Todo o esforço foi dela.
Respiro fundo quando alguém bate àporta. Eu abro, é Millie.
— Olá, Evan.
— Oi, Millicent, desculpe te chamar novamente, mas eu... — Paro olhando para o bebê. — Preciso de ajuda.
— Eu entendo, Evan. Está tudo bem. Eu cuido dele para você — ela me diz quando o pega no colo, Henry adorando vê-la.
Pego minha jaqueta e saio de casa, pensando que Henry está em boas mãos e ficará bem durante esta tarde.
Subo na moto e acelero na rua; hoje vou mais longe, até a saída da cidade, onde fica a clínica em que Sarah está internada. Espero que ela esteja bem, não a vejo há três meses, desde quando ela foi internada. Sei que deveria ter ido visitá-la antes, mas havia Henry, que precisava de mim. E a verdade é que eu também não queria vê-la.
Internar Sarah foi uma das coisas mais difíceis da minha vida. Ela não queria e implorou para que não fosse internada, queria ficar livre para cuidar de Henry. Mas não tinha mais condição alguma de conviver em sociedade, quando tudo que fazia era beber descontroladamente. Nada era suficiente para ela, nada bastava para satisfazer seu desejo por bebida. Bebia durante o dia, durante a noite e se esquecia do bebê, que chorava de fome e com a fralda suja, enquanto a mãe dormia bêbada, abraçada a uma garrafa de uísque.
Ainda me lembro da conversa que tive com ela, um dia antes de interná-la, quando me prometeu mais uma vez que iria mudar. Já havia prometido isso antes, várias vezes, e não conseguiu cumprir nenhuma delas.
Era necessário colocá-la nessa clínica. É um lugar tranquilo, com espaço ao ar livre para os pacientes andarem e acompanhamento psicológico. Oferece atividades para passar o tempo, tudo de que Sarah precisava.
Passo pelo portão da clínica recebendo olhares dos funcionários e vou até o jardim esperá-la. Ela me encontrará lá.
Sento em um dos bancos de madeira debaixo de uma árvore e espero por ela, que não demora. Sarah aparece e, quando a vejo, é como se fosse outra pessoa. Está mais magra, cabelos curtos, o olhar profundo me fitando.
— Evan. —Sorri ao me ver, abrindo os braços em minha direção.
Sem jeito eu a abraço. Ela rapidamente me solta e se senta ao meu lado.
— Como você está? — pergunto ansioso.
Sarah pensa por um momento antes de responder.
— Melhor. — Pondera. — Em breve estarei bem.
Eu sorrio, isso é bom. Tinha medo de encontrá-la da mesma forma que entrou aqui.
— Fico feliz em saber que está melhorando, irmã. Henry ficará feliz também.
Os olhos dela crescem quando o menciono.
— Como ele está?
— Bem — conto. — Seu primeiro dentinho apareceu hoje.
Seus olhos ficam marejados, e ela leva a mão ao coração.
— Eu queria tanto vê-lo.
— Infelizmente não permitem crianças na clínica — explico.
Ela assente.
— Tem alguma foto dele?
Eu pego o celular no bolso e acesso as fotos, notando que há várias de Henry tiradas nos últimos tempos.
— Veja. — Entrego o celular a ela.
Sarah sorri largamente, passando a ponta dos dedos pela tela do celular, como se estivesse tocando o filho.
— Ele está enorme — comenta.
— Está, não é? — confirmo.
Ela vai passando as fotos, sua reação mudando a cada imagem de Henry. Há uma em que ele está de conjunto azul e com um grande sorriso, essa a faz chorar. Fico em silêncio, apenas imaginando a dor que está sentindo.
— Queria tanto vê-lo — diz ao entregar o celular para mim. — Mas pelo que vejo você está cuidando muito bem dele.
— Estou sem babá — conto a ela. — Tenho cuidado dele todos os momentos do dia.
— Encontre uma boa babá, Evan. Você não dá conta sozinho — ela pede.
Eu rio.
— Parece que eu dou conta, sim. — Olho para ela. — Aprendi sozinho como cuidar dele. Hoje troco fralda, dou mamadeira, banho e faço dormir. Tudo sozinho.
— Isso é uma grande evolução, Evan. Lembro que entrou em desespero quando deixei Henry com você a primeira vez.
— Isso foi no começo. Agora sou um tio que sabe como cuidar do sobrinho — brinco, tirando um sorriso dela.
É bom vê-la sorrir. É bom tê-la aqui do meu lado e saber que ao menos por três meses Sarah não bebeu, não ficou tão bêbada a ponto de dormir na rua e está sóbria finalmente. Como uma pessoa normal, conversando tranquilamente comigo.
Mas ao mesmo tempo eu sei que isso só aconteceu porque ela está aqui reclusa. Se voltar agora para casa, tudo voltará a ser como antes. As noites procurando por ela na rua voltarão, minha irmã bêbada pela manhã e as brigas, como um verdadeiro inferno.
— E como está sua vida, Evan?
Eu me assusto com sua pergunta, porque estamos aqui para falar dela, e não de mim. Mas, se ela quer conversar sobre isso, tudo bem.
— Confusa — confesso. — Da noite para o dia, eu me vejo como tutor de um bebê, minha irmã é internada numa clínica e eu fico sem saber o que fazer.
— Você é durão, Evan. Deve suportar tudo —diz sorrindo.
Eu balanço os ombros.
— E há mais uma coisa. Conheci uma garota.
— É isso que eu esperava que você dissesse.
— Ela é estranha.
Sarah me fita com interesse, tentando me entender.
— Você gosta dela, isso é óbvio em sua cara — determina ela. — O que te impede de ficar com ela?
Molho os lábios, nervoso. É a primeira vez que falo sobre Kate com alguém.
— Ela é gorda — desabafo contando o grande drama.
A expressão de Sarah é incrédula.
— Eu deveria bater em você até que pare de dizer bobagens, Evan — ela me diz.
— Eu nunca me relacionei com mulheres assim. Sou um completo idiota, não é?
— Sim, você é —confirma rindo.
Até ela acha isso. Começo a pensar que estou no caminho errado em relação a Kate. E talvez ainda dê tempo de corrigir.
— Evan, eu preciso saber. Como as contas da clínica estão sendo pagas? Eu deixei dinheiro no banco, mas não sei se você teve acesso — pergunta preocupada.
—Consegui acessar sua conta, Sarah. Fique tranquila. Agradeça o dinheiro que nossos pais deixaram para nós.
Ela respira fundo, mais calma.
— Eu soube que precisarei ficar mais três meses aqui, Evan. Você terá que cuidar do meu pequeno Henry por mais esse tempo — Sarah diz quase chorando.
— Não se preocupe, irmã. Ele está bem comigo — garanto.
—Não sei como agradecer, irmão. — Ela bate no meu ombro, ainda emocionada.
— Prometo que virei visitá-la todo mês, Sarah — digo a ela.
Nós nos levantamos, prontos para nos despedirmos. Ela me abraça com força, e eu correspondo.
Logo aparece um enfermeiro para levá-la de volta, e eu fico sozinho vendo-a ir.
Foi bom vê-la, Sarah.
 

 
É noite, Henry está cochilando ao meu lado no sofá, enquanto acesso a Internet procurando por um carro.
Decidi que, agora que terei que cuidar de Henry por mais tempo, vou precisar de um carro. Não posso ficar apenas andando de táxi por aí. Tenho dinheiro guardado no banco, herança dos meus pais, e assim posso escolher um bom modelo, que seja confortável e bonito.
Num site de venda de automóveis, procuro por algum modelo que chama a atenção, quando de repente dou de cara com aquele carro. O da Kate.
Meu coração dispara.
Clico nas imagens e confirmo que é o mesmo carro. O nome do vendedor é Kate Young.
É ela!
Será que a lanchonete não foi bem durante esse mês que não nos falamos? Por que ela está vendendo o carro se não é por esse motivo?
Se eu pudesse, iria até ela agora mesmo. Mas não posso, preciso ficar com o Henry e ele está dormindo.
Amanhã irei atrás de Kate, definitivamente.

Impetuoso (Livro 4) - Série The Underwood's.Onde as histórias ganham vida. Descobre agora