Capítulo Três

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Evan

Esse é o primeiro passeio que faço com Henry, e eu estava um pouco inseguro quando tive a ideia de trazê-lo ao parquinho para ver as outras crianças brincando, mas depois de um tempo comecei a relaxar, considerando ser uma boa ideia. Por que não? Henry vai adorar ver outras crianças, mesmo que ainda seja um bebê.
Uso um cinto canguru para levar meu sobrinho preso ao meu corpo, deixando as mãos livres enquanto caminhamos pelo parque. Há muitas crianças brincando umas com as outras, e os pais estão conversando em um lado, enquanto espiam o que os filhos fazem.
— Daqui a algum tempo você estará brincando aqui, Henry — digo para ele, que me olha sem entender.
É claro que não me entende. Ainda é só um bebê. Não sabe nada das convenções de adultos, complicadas demais para qualquer um.
Sento-me em um banco em frente ao balanço e coloco Henry sentado no meu colo para que ele veja dois meninos brincando, um indo mais alto que o outro no balanço, soltando gritinhos de pura felicidade.
Rapidamente penso no quanto é bom ser criança, não ter nenhum tipo de preocupação e nem ter que lidar com problemas. Bufo indignado com as responsabilidades de adultos.
Uma das minhas é este pequeno ser humano em meu colo. No começo me deixou preocupado em relação aos cuidados que um bebê requer, mas agora ocupa um espaço em meu coração. Henry é doce, inocente, como eu poderia não cuidar dele?
Uma mulher se senta ao meu lado e olha para o bebê com um largo sorriso. Está encantada por ele, que dá os bracinhos a ela.
— Qual o nome dele?
— Henry — respondo.
— É seu filho? — pergunta brincando com as mãozinhas dele, que parece feliz também.
— Meu sobrinho — respondo sorrindo; mas o sentimento é o mesmo que eu teria por um filho, penso.
Henry estica os bracinhos para a mulher, e eu me vejo sem reação.
— Posso pegá-lo?
Eu assinto e lhe entrego o bebê, que fica de pé sobre os joelhos dela, enquanto resmunga alguma coisa.
— Meu filho teria o tamanho dele —a mulher começa a contar, seus olhos se tornando tristes. — Eu o perdi há alguns meses.
— Eu sinto muito — digo sem jeito, com pena dela.
— A dor de perder um filho mãe nenhuma deveria passar. Ele teve câncer e faleceu, poucos meses depois do diagnóstico, me deixando sozinha.
Tenho vontade de abraçá-la, mas não o faço, porque temo sua reação. Quero dizer que a dor vai passar e que com o tempo as coisas melhoram. Mas me mantenho calado, porque não sei como dizer isso e tenho medo de que ela me interprete mal.
Não posso imaginar a dor de uma mãe que perde um filho, mas queria poder ajudar de algum jeito,fazer algo para aliviar o sofrimento. E, se Henry no colo dessa mulher a deixa feliz, eu fico mais aliviado. Os dois brincam, e o bebê solta gargalhadas quando ela faz caretas, então eu relaxo e apenas observo.
O tempo passa e eu me dou conta de que é hora de irmos, pois ainda precisamos passar no supermercado, já que estamos sobrevivendo com o mínimo possível nos últimos dias.
— Temos que ir, Henry — digo esticando os braços para ele, que se joga em mim, ainda sorrindo.
— Até logo, Henry — a mulher se despede dele, enquanto eu o coloco novamente na cinta canguru.
Caminhamos pela rua ao lado do parque, até o supermercado que fica mais perto, enquanto começo a me perguntar se já é hora de trocar a fralda de Henry. Não sei como fazê-lo, é por isso que a babá me ajuda. Sei que é minha obrigação e que eu deveria saber como trocar a fralda do meu sobrinho, mas essa é uma falha minha que eu posso aceitar.
Entro no supermercado e pego um carrinho, ao mesmo tempo que tento pensar no que comprar para Henry, além do leite que ele toma. Talvez devesse comprar frutas para ele. Se eu as esmagar, talvez ele possa comer sem problemas. É difícil ter que pensar nisso tudo sozinho, sem nenhuma ajuda. Gostaria de ter uma companhia feminina para me ajudar, além da babá que toma conta dele quando saio.
Sou um homem solteiro, na casa dos quarenta anos, que mal sabe como sobreviver sozinho. Como posso agora cuidar de um bebê sozinho? Mas eu prometi, disse a minha irmã que tomaria conta dele como se fosse meu filho, e é isso que estou fazendo, mesmo que às vezes pequenos obstáculos apareçam e eu fique totalmente perdido.
Tenho me esforçado para ser um bom exemplo para Henry, por issoultimamente chego mais cedo durante a noite, e tenho bebido menos. Ele precisa de mim sóbrio, sempre pronto para atendê-lo.
Minha vida mudou completamente desde que este bebê chegou, naquele dia chuvoso e frio, os olhinhos arregalados para mim. Minha irmã aos soluços, pois não sabia como conseguiria criar um filho, principalmente por ser alcóolatra.
Confesso que meu coração duro amoleceu um pouco nesse dia, e eu entendi que tinha uma missão pela frente. Desde então, há quatro meses, tenho me dedicado a cuidar de Henry, recorrendo à ajuda da babá e,às vezes, pesquisando na Internet,quando não sei o que fazer.
Nesse período, não visitei a minha irmã na clínica. Eles mesmos, os profissionais que a acompanham, me aconselharam, pois ela estava ainda mais frágil, pelo fato de ter se tornado mãe, mesmo que não quisesse isso.
Mas o dia da primeira visita se aproxima e isso me apavora, ao mesmo tempo que me alegro em vê-la. Ela é a minha irmã, minha única irmã e única família que tenho —tirando Henry, claro.Eu a amo muito e jamais a deixarei sozinha.
Balanço a cabeça e respiro profundamente, voltando a atenção para o meu sobrinho.
Ainda me lembro da primeira vez que fui colocá-lo para dormir e não sabia como fazê-lo parar de chorar. Eu tinha tentado de tudo, tinha cantado, balançado Henry e conversado com ele. Estava quase desistindo quando descobri que o garoto gostava de me ver fazendo caretas e que isso o ajudava a parar de chorar. Depois disso, todas as outras noites se tornaram fáceis e eu sabia exatamente o que fazer.
Coloco algumas papinhas prontas no carrinho, uma descoberta recente sobre como alimentar Henry. É algo de que ele gosta, e eu sempre mantenho alguns potes em casa,carrego junto quando saímos.
Henry aponta para a seção de frutas, e eu o levo até lá, deixando que escolha o que quiser. Ele mostra as maçãs, e eu pego algumas delas, esperando que coma depois.
Dessa forma, conseguimos comprar o que faltava e vamos até o caixa, onde novamente Henry chama atenção, arrancando sorrisos das atendentes.
Saímos para fora do supermercado e passamos pelo estacionamento, quando de repente algo me chama atenção.
É um carro igual ao dela. O mesmo modelo, a mesma cor... Um vermelho tão intenso quanto eram os fios dos seus cabelos.
Eu gelo com as lembranças vindo em minha mente.
Há uma jovem dirigindo, e eu logo reconheço como sendo a da lanchonete em que sempre vou.
O carro é dela?
Eu me sinto nervoso, porque é difícil esquecer o passado, deixar para trás alguém a quem você amou muito. Ver esse carro é um gatilho para tudo o que passamos juntos e, principalmente, para tudo o que aconteceu.
— Vamos para casa, Henry — falo dando uma última olhada para o carro e me sentindo mal.
O caminho para casa não é longo, em pouco tempo estamos em frente à porta e eu a abro usando apenas uma mão, devido às sacolas que estou carregando.
Deixo as compras na cozinha e coloco Henry no cercadinho, na sala, enquanto pego meu celular e ligo para a babá. Preciso sair hoje à noite, limpar minha mente do que vi, esquecer as malditas lembranças que teimam em me atormentar. A babá diz que virá logo, e eu respiro aliviado olhando para Henry.
Ele estará em boas mãos enquanto eu estiver fora. Caroline é uma boa moça.
Meia hora depois a campainha toca, e eu vou atender sabendo quem é. A babá entra na casa com uma expressão diferente, parece que tem algo a dizer.
— Aconteceu uma coisa, Evan.
— O que é?
— Estou me mudando.
Fico em choque. Não é o que eu esperava ouvir.
— E Henry?
Ela respira profundamente, parece triste.
— Terei de deixá-lo.
— Mas não tenho mais ninguém que possa me ajudar — argumento, como se fosse funcionar.
A garota olha para o bebê com tristeza.
— Hoje é a última vez que poderei ficar, sinto muito. A minha família decidiu isso do nada e eu não posso abandoná-los. Mesmo que isso signifique ficar longe de você. — Ela se aproxima e eu dou um passo para trás.
— Entendo perfeitamente, não se preocupe.
— Você nunca vai gostar de mim como gosto de você, não é? — pergunta se agarrando a um fio de esperança.
— Você é jovem demais e logo vai descobrir que eu sou um tiozão, nada mais que isso.
Ela sorri.
— Pare de falar merda e saia logo, eu cuido desse anjinho enquanto isso.
Enquanto saio, começo a me preocupar. O que farei sem a babá? Como conseguirei tomar conta de Henry sozinho?
Bem, isso é um problema que resolverei amanhã. Hoje eu só quero esquecer as lembranças que voltaram a me atormentar quando vi aquele carro.

Impetuoso (Livro 4) - Série The Underwood's.Where stories live. Discover now