Acredite que meus olhos anseiam por tudo
Deixe você encontrar tudo no tempo
Vraell - Grain
Estava em um sono profundo quando senti um cheiro muito estranho invadindo minhas narinas, fiz um grande esforço para abrir os olhos e despertar daquele sono. Quando finalmente consegui abrir os olhos, senti o desconforto da claridade em meus olhos, eles se fechavam involuntariamente até conseguir mantê-los abertos totalmente.
Pronto para saber o motivo do cheiro estranho que invadia minhas narinas, olhei para os lados e me percebi que Alexa não estava na cama. Em um movimento de levar a mão direita para esfregar um dos meus olhos, me assustei ao vê-la ensanguentada e então me dei conta de que era aquilo que estava me causando desconforto, o cheiro de sangue ficou ainda mais forte quando aproximei a mão do meu rosto.
Minha mente estava confusa com aquela cena. Afastei o cobertor e me deparei com o líquido vermelho espalhado pela cama. Não só a cama estava manchada, mas as minhas roupas brancas também. Pensei na possibilidade de estar machucado, mas não sentia absolutamente nenhuma dor. A única causadora disso podia ser Alexa e ela não estava na cama.
A preocupação tomou conta de mim. Pingos de sangue também estavam pelo chão, como se estivessem formando uma trilha. Segui cuidadosamente, com medo de me deparar com o pior. A trilha de sangue me levara até o banheiro que estava com a porta entre aberta. Empurrei a porta levemente e entrei devagar, olhei em direção ao box e vi Alexa em posição fetal. Ela estava com medo, derramando lágrimas logo abaixo do chuveiro que se encontrava desligado. Assim que percebi suas roupas ensanguentadas, cheguei a uma conclusão óbvia do que poderia ser, como eu não havia pensado isso antes?
Um sentimento estranho me agarrou, vê-la naquela situação me deixou incomodado. Me aproximei dela com cautela e a envolvi em meus braços, tentando reconfortá-la.
— Alex, não chore... Não é nada. — Tentei tranquilizá-la, porém, ela continuava em choque. Depois de um tempo abraçando-a, enviei um comando e a água súbita do chuveiro começou a escorrer, molhando nossos corpos.
— O que está acontecendo? — Perguntou ela, evitando olhar em meus olhos.
— Você saberá, preciso que se limpe antes... — Respondo, passando a mão em seus cabelos. Ela finalmente conseguiu olhar em meus olhos, em uma expressão de aflição.
— Eu não consigo fazer isso... — disse ela, escondendo o rosto mais uma vez. A água caía em seus ombros e molhava o seu cabelo. Em passos cautelosos, comecei a levantar sua camiseta, ajudando-a a tirar as suas roupas sujas para um banho. Após ajudá-la a se despir totalmente, sai do box para dar-lhe um pouco de privacidade.
Eu sabia que ela não tinha ideia do que estava acontecendo e eu estava confuso com tudo isso. Sei que em algum período, ela iria passar por um corrimento fisiológico de sangue, era como funcionava o sistema de reprodução, mas, nunca me deparei com isso tão de perto.
Alguns cientistas do passado conseguiram uma forma de interromper o fluxo sem prejudicar o sistema de reprodução. Tinha quase certeza de que Dr.Kim poderia conseguir essa formúla.
Depois de me limpar e trocar as minhas roupas, vi Alexa sair do banheiro com uma toalha grande em volta do seu corpo. — O que eu faço agora? — Ela perguntou, sem sair de perto da porta do banheiro.
Naquele momento eu não tinha muita noção do que fazer, conhecia as causas e o motivo, mas nunca estudei como resolver, não sabia a formúla. Dr. Kim iria resolver aquilo, simplesmente porque ele sempre conhecia e lembrava de tudo.
Dei uma olhada no horário antes de sair de casa com Alexa. Esperei um pouco até dar o horário de refeição e quando tudo se encontrava sem movimento, levei-a até laboratório.
Quando Alexa conectou o bracelete identificador em seu pulso, o sinalizador começou a apitar incessantemente.
— O que é isso? — Confusa, ela perguntou.
— Você está perdendo sangue e seu bracelete está tentando conseguir uma forma de pedir reforços. Felizmente seu bracelete não está sincronizado com centro de reforços. Eu sou o seu reforço. — Ao dizer aquilo, me posicionei em frente ao leitor de retina e entrei no laboratório assim que a porta se abriu.
— Dr. Kim, Alexa está sangrando. — Pensei em abordar de uma maneira mais calma, mas também estava desesperado. Dr. Kim olhou para mim, um pouco confuso, mas ciente do que estava acontecendo. Ele parou de fazer o que estava fazendo e se aproximou de Alexa.
— Esqueci de modificar o bracelete para eventos como esse — Ele segurou o braço de Alexa e desativou o bracelete, tirando-o de seu braço.
— Kim... Não sabemos como controlar isso... Alexa está aflita! — Supliquei para que ele ajudasse. Com passos lentos, ele se afastou e se aproximou de algumas gavetas, retirando uma injetora eletrônica de uma delas.
— O fluxo de sangue faz parte do sistema de reprodução. O soro removerá o corrimento, mas o ciclo reprodutivo e o período de fertilidade continuará ocorrendo. — Explicou ele, se aproximando de Alexa e injetando o soro em sua veia.
— Alexa, quero que me responda qual foi a última vez que isso aconteceu com você. — Perguntou ele.
— Não muito tempo, antes de vir para cá... — Alexa suspirou, pressionando a área do braço em que tomou o soro.
— Faz um tempinho então... — Disse ele, tirando as luvas e colocando a seringa em cima do balcão.
— Posso falar com você, John? — Sem esperar minha resposta, ele sai do laboratório para sua sala. Sem fazer perguntas, acompanhei ele até a sua sala e deixei Alexa esperando.
— As coisas estão ficando cada vez mais difíceis. Já pensou no que vai fazer? Não pode mantê-la aqui para sempre. — Ele falava em um tom preocupado, fixando os olhos em mim.
— Eu não sei o que fazer... Por isso preciso que me ajude a tirá-la daqui, me ajude a protegê-la — Dei um longo suspiro e olhei para baixo, esperando uma resposta.
— John, mesmo que eu te ajude a tirá-la daqui, não faz diferença, o mundo inteiro está contra ela. — Dr. Kim gostava de testar a inteligência das pessoas. Até onde iria a imaginação de alguém.
— Eu sei que você sabe demais, doutor. Sei que há uns 400 anos isso não seria tão possível de acontecer, mas, sei que você sabe um lugar onde Alexa ficará salva disso, e não estou falando daqui. — Terminando a frase, dr. Kim me olhou atentamente. Ele sabia exatamente do que eu estava falando.
— Como pode ter tanta certeza de que sei de algo? — Dr. Kim manteve seu olhar em mim, despertando uma grande curiosidade em mim, que estava adormecida há algum tempo.
— Seu pescoço... — Mencionei, olhando para ele.
— O quê? — Perguntou, confuso... Ou pelo menos fingindo.
— Há algum tempo eu percebi que todos os homens têm uma marca escura na nuca, inclusive eu. — Suspirei e desviei o olhar — Mas o interessante é que não existe essa marca em você, por quê? — Dr. Kim me olhou, impressionado com o que eu acabara de dizer.
— Então você percebeu? — Perguntou ele, era como se estivesse fazendo um teste comigo. — Pensei que tivesse passado despercebido por você.
— Por que eu não perceberia algo tão evidente? — Pergunto, esperando uma resposta.
— Sua espécie não se atenta aos detalhes... — Suas palavras me assustaram, naquele momento eu já não sabia o que eu era. Por que ele estava falando como se tudo aquilo estivesse programado para acontecer?
— Que tipo de espécie eu sou? O que há de tão divergente entre nós dois? — Dr. Kim continuou olhando para mim, como se estivesse disposto a revelar não só o que aconteceu comigo, mas com todo o resto.