Depois que tudo aquilo aconteceu, nos separamos, Alexa foi para uma direção e fui para outra. Meu coração doía quando a via ir embora... Apesar de tudo, eu sabia que, no fundo, eu não poderia protegê-la.
...
Eu estava regressando a cidade, tentando ser o mais discreto possível, tentando não mostrar minha preocupação, tentando não ficar tenso, tentando não voltar atrás e segurá-la e protegê-la em meus braços para sempre, mesmo que fosse em vão... Ficaria feliz apenas por estar ao lado dela.
Chegando próximo da entrada da minha casa e ouço uma voz masculina atrás de mim. Podia reconhecer a pessoa apenas pelo tom debochado, a pessoa que se tornaria entrega a partir daí.
- O que anda fazendo fora da cidade? John? - Perguntou ele. Virei-me para ver quem era e lá estava o mesmo garoto que jogara uma pedra em Alexa. Levara consigo uma cicatriz na mão e Alexa uma cicatriz na testa.
Lá estava ele, Spencer, um dos mais babacas e arrogantes daquele lugar.
- Você sabe as regras... Vejo algo muito diferente em você. - disse ele. Não sentia medo de suas ameaças, mas estava preocupado do que ele poderia ter visto e possivelmente denunciaria ao General Russell.
- Estou limpo. - Mantenho minha postura alçada e o tom frio em minha fala. Por mais que eu estivesse preocupado, eu não poderia em hipótese alguma demonstrar.
- Você poderia se prejudicar com isso... - falou Spencer, dando um sorriso cínico. Às vezes eu penso que se tivesse uma balança medindo o nível de mediocridade, ele com certeza pesaria muito mais que todos os outros homens juntos.
- Você também pode prejudicar-se. Há quanto tempo me observa? Se você estivesse tão limpo assim já teria me denunciado. - Falo o encarando. Mostrando que não estava com medo, embora precisasse manter minha paciência com ele, era extremamente difícil.
- Não esqueça que você é filho do General - Ele respondeu. Como sempre; sendo um idiota. Eu já estava acostumado com aquilo.
- E você não é nada, portanto, cale a boca se não quiser que eu fale o que você anda fazendo às escondidas. - Spencer se calou, mas sei que não se calaria por muito tempo. Por isso, precisaria tomar bastante cuidado com ele.
Adentrei em minha casa e o deixei sozinho ao lado de fora, ele não poderia me denunciar, eu o tinha na palma da mão também.
Segundos depois, liguei o meu bracelete. Sempre o desligo antes de ver Alexa para não correr o risco de ser localizado. No mesmo momento que liguei, vi as mensagens do General Russell me pedindo para ir ao seu laboratório.
Eu estava bem atrasado, corri para o banheiro, o mais rápido possível. Alguns minutos depois de ter terminado, peguei uma das roupas padronizadas que todos tinham; calças e camisetas de linho branco, às vezes até podia usar um blazer cinza. Coloquei o meu longo cabelo para trás e o amarrei, para não chamar tanta atenção, embora ninguém percebesse o tamanho do meu cabelo durante anos.
Sem perder muito tempo, corri para o laboratório do meu pai, vendo toda aquela cena de sempre, homens com roupas brancas e formais andando, sem olhar para os lados, sem contato visual ou qualquer outra interação entre eles.
Como eu estava dentro da cidade, sempre seguia as regras, andava para frente e sem qualquer contato. Não me fazia mal, não suportaria a ideia de que seria obrigatório falar com todos eles ao atravessar.
Ao chegar no laboratório, coloquei meu jaleco, consertei minha postura e entrei no laboratório principal, o general estava de costas, parado. Fui andando em sua direção e paro quando chego o mais próximo que posso.
- Me chamou, General Russell? - Pergunto, tentando ser o mais reverente possível perto dele.
- Chamei-o aqui sim, John. Queria falar sobre algo que está acontecendo ultimamente. - Disse o General. Fiquei calado, apenas o ouvindo. Ele fez sinal com a mão para que eu o seguisse e depois começou a andar sem olhar para trás. Chegamos perto do tanque onde estavam os óvulos artificiais; o fim de nossos problemas.
Me aproximei e olhei o feto que estava dentro do tubo grande de vidro. O feto se desenvolvia à cada minuto que se passava.
- Esses são nossos testes, por enquanto, a nossa incrível invenção vai indo perfeitamente bem... O feto tem quase três meses e se desenvolve perfeitamente bem, como um útero de verdade. Se nossos testes funcionarem, nossas vidas mudarão para sempre. As exiladas não serão mais úteis e eliminaremos todas. - Ele falou todas aquelas palavras naturalmente. Mantenho meus olhos fixos no feto, o dia em que eu mais temia estava chegando. A última frase dele me tomou de raiva, no entanto, apenas sorri como se estivesse satisfeito e feliz com aquele comunicado.
- Isso é uma ótima notícia. Trabalhamos muito para isso acontecer. - Desviei o olhar e dei um pequeno suspiro, quase imperceptível. Meu coração estava à ponto de explodir para fora do peito apenas por imaginar que algo poderia fazer mal à Alexa. Eu não podia permitir aquilo, prometi a ela que não deixaria que nada de mal acontecesse.
- Você precisa de mais alguma coisa? General Russell? - Perguntei, torcendo para que ele dissesse não. Mas eu sabia que não iria escapar de suas ordens.
- Ah! Obrigado por perguntar. Queria te pedir algo, aliás... Não é um pedido e sim um mandado. - disse o general. Minha preocupação volta à emergir. Deixo a minha coluna ereta e solto um longo suspiro, me preparando psicologicamente para o seu pedido.
- Chegou denúncias de que há mulheres velhas e doentes dentro do gueto, e como você tem quase dezoito anos e está maduro suficiente para isso, preciso que você extermine todas. - As palavras saiam da sua boca como se fosse uma coisa extremamente normal, o que era para o nosso meio social. Naquele momento eu não sabia o que responder. Eu não podia negar, mas se eu não negasse a Alexa nunca me perdoaria por algo assim.
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EXILADA | A Esperança Nunca Morre (Volume I)
Science FictionVocê quer saber como será o mundo em algumas décadas ou séculos? A terra é apenas uma pequena esfera que circula no imenso universo e gira em torno de um grande reator de fusão nuclear que em "breve" irá se expandir e engolir Mercúrio, Vênus e, poss...