Hot tub, nice butt

By fairiesbox

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LIVRO FÍSICO VENDIDO PELA LUO EDITORA [CONCLUÍDA] Crescer e se tornar um adulto é uma aventura. Aventura essa... More

⭒ 𝔸𝕧𝕚𝕤𝕠𝕤 ⭒
inúteu, a gente somos inúteu
meu docinho de coco, tá me deixando louco
é pior que cobra cascavel, seu veneno é cruel
superfantástico amigo, que bom estar contigo
eu tenho a minha fama de sofredor, então não conta pra ninguém
pane no sistema, alguém me desconfigurou
desde quando você se foi me pego pensando em nós dois
a amizade é muito importante e quando estamos juntos somos semelhantes
diz pra eu crescer, mas no fundo me vê como o seu neném
eu perguntava: do you wanna dance?
eu quero mais que um, mais que mil e mil e um
deixa acontecer naturalmente
e se quiser saber pra onde eu vou, pra onde tenha sol, é pra lá que eu vou
você me deixa louquinho, chorando baixinho, louquinho de amor
a gente pega fogo, se entraga sem cansar
vamos aproveitar o tempo que nos resta pra gente se agarrar
queria por um dia conseguir mudar, deixar de ser errante
formamos um belo casal, somos dois namorados
se isso for verdadeiro me entrego de corpo inteiro
só ele faz minha pupila dilatar
ou fingir estar sempre bem, ver a leveza das coisas com humor
é tão particular o meu encontro quando é com você
meu sorriso se foi, minha canção também
eu não existo longe de você e a solidão é o meu pior castigo
os seus problemas são meus também e isso eu faço por você e mais ninguém
me cerco de boas intenções e amigos de nobres corações
eu gosto de você e gosto de ficar com você
pra gente se devorar na órbita do seu umbigo
quero poder jurar que essa paixão jamais será palavras, apenas palavras
é só isso, não tem mais jeito, acabou, boa sorte
o destino me trouxe até aqui, minha intuição me diz pra continuar
HTNB LIVRO FISICO!

até encontrar o nosso caminho neste ciclo, é o ciclo sem fim

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By fairiesbox


S O O B I N

Agora eu sou um homem de vinte e dois anos nas costas.

"Idade é só um número" é o que as pessoas sempre dizem, mas que atire a primeira pedra aquela pessoa que já chegou ou passou dos dezoito e nunca pensou que estava ficando velho e com zero expectativas de vida. É, meus amigos, a vida não é fácil não.

Para os curiosos de plantão, que devem estar ansiosos para saber como que foi a comemoração do meu aniversário, eu preciso já avisar que não tivemos strippers em polidance, álcool pra todo o lado e música até as tantas da madrugada, acho que vocês estão na história errada.

Passei todo o meu aniversário pacificamente em casa com a minha família e amigos, minha mãe até cogitou fazer uma festinha — bem -inha mesmo, tipo festa pra criança que fazem só pra não passar despercebido —, mas eu já fui logo cortando as asinhas dela e falando que não estava afim de comemorações muito mirabolantes, só queria paz e sossego na minha casa com as pessoas que eu gosto.

E foi assim que aconteceu.

Deve ter sido a primeira vez que eu passei meu aniversário em casa desde que eu tinha quatorze anos, sério mesmo. Quando meus pais começaram a liberar um pouco as minha saídas, eu deixei de aceitar festinhas em casa com os familiares pra ir bater perna com os amigos no shopping ou até mesmo fazer nossas próprias festinhas na casa de terceiros, acho que todo pré-adolescente passa por essa fase onde aniversários sempre são melhores fora de casa.

Só que agora, nesse ponto da minha vida, acho que eu prefiro o aconchego do lar a uma festa com gente que eu nem vou conhecer ou até mesmo a rolês aleatórios em shopping pra no final todo mundo terminar na praça de alimentação batendo palma e cantando "parabéns pra você" alto, só para humilhar o aniversariante — e se você nunca passou por isso, espere, seu dia vai chegar.

De qualquer forma, os únicos convidados para o meu aniversário foram meus pais, senhora Beomgyu, Taehyun e Kai, acho que eram as únicas pessoas que eu realmente queria ter por perto numa data tão especial. "Ain, Soobin, mas e o Yeonjun?" óbvio que eu queria que ele estivesse também, né, mas o bonito viajou pra fazer acrobacias no gelo, então não adianta eu ficar choramingando sobre isso.

Foi um dia bem divertido, para ser bem sincero, mais divertido do que quando eu saía com os "amigos" da escola pra ir bater perna por aí. Parecia o retrato da família perfeita, todos na sala jogando jogos de tabuleiro que eu nem sabia que a minha mãe tinha guardado — tudo cheiro de poeira que atacou a rinite de todo mundo —, também jogamos máfia e preciso dizer a tristeza que foi ser sempre o primeiro a morrer, assistimos uns filmes muito nada a ver com uns atores que ninguém nunca nem viu na vida.

E preciso dizer que eu nem sabia como sentia falta desse tipo de coisa.

Lá para o fim da tarde, a senhora Kim veio da cozinha com um bolo de chocolate meio amargo com morangos e uma estrelinha brilhando no meio, as luzes se apagaram e aí todo mundo começou a cantar parabéns pra mim em uníssono. Parecia muito uma festa de criança.

Yeji me ligou logo depois via FaceTime, pediu um milhão de desculpas por não poder comparecer ao minha festinha, mas não era como se fizesse muita diferença, já que ela não passava um aniversário comigo há mais de mil anos, mas eu a desculpei de qualquer forma e a fiz prometer que no ano seguinte ela daria as caras para comemos bolo juntos. Quem também resolveu dar o ar da graça foi a minha avó, me ligando já de noite.

E como você está, Soonin? — e eu sorri, porque sentia falta de ouvi-la errando meu nome. — Desce daí, seu gato gordo!

— Eu to bem, vó, e você e o tio? — do outro lado da linha eu consegui ouvir alguma coisa quebrando e logo depois minha avó falando um "filho da puta". — Tá tudo bem aí?

A porra do gato subiu no balcão da cozinha e derrubou a minha jarra de suco favorita. — eu ri de sua irritação.

— Sinto falta de vocês. — confesso. Acho que a última vez que eu disse algo do gênero pra minha avó eu tinha uns cinco anos.

Também sentimos sua falta, Soonin, volte no verão para nos ajudar. — reviro os olhos, porque nem acredito que ela só sente minha falta porque eu ajudava.

— Claro, vó, eu vou adorar. — mesmo sabendo que deve ser a pior época para se trabalhar por lá, na verdade eu não me importa de pegar um pouco no pesado.

Eu vou desligar agora antes que Sejin entre na cozinha. Fique com Deus, querido. — e antes que a ligação se encerrasse de vez eu ainda consegui ouvir mais alguma coisa quebrando que minha avó gritando um "não é possível!".

Deve ter sido a conversa mais demorada que eu já tive com a minha avó por telefone.

Esse foi um resumão do meu aniversário, nada muito importante aconteceu de fato, eu não fiquei rico ou recebi uma iluminação divina, tudo o que aconteceu foi que eu fiquei velho e uns quilos mais gordinho, porque eu comi umas três fatias daquele bolo.

Mas os dias que se seguiram, que não foram muitos, para ser bem sincero, foram bastante exaustivos. Não que eu tenha começado a frequentar a academia ou decidido começar uma vida fitness, não é esse tipo de exaustão, era aquele típico cansaço mental mesmo.

Eu já disse, tenho vinte e dois anos agora, não sou mais um moleque, e quanto mais eu penso nisso, pior eu me sinto. Cheguei nessa idade e continuo sendo bancado pelos meus pais, eu literalmente preciso pedir dinheiro pra eles caso eu queira sair pra algum lugar. Percebem o quão patético isso é?

O problema, entretanto, continua sendo o mesmo de sempre, eu não faço a menor ideia do que eu quero para minha vida. Estou estagnado, mais parado do que uma rocha no meio do caminho, eu já não sei mais o que fazer, porque quanto mais eu penso, menos ideias me vem a mente. Acho que eu preciso de alguma ajuda, talvez os deuses possam me lançar um raio divino que vai, literalmente, iluminar minha mente e me fazer ter uma noção de que rumo eu devo tomar na minha nada mole vida.

Acontece que se tem uma coisa que eu aprendi nesses últimos meses, é que a resposta não vai cair do céu no meu colo embrulhada para presente e com um belo laço cor de rosa. É aquilo, né, a gente tem que correr atrás, senão continua feito uma pedra no meio do caminho.

É com essa filosofia de bar que eu chego a conclusão de que talvez eu deva conversar com um profissional.

Resolvi chutar a minha vergonha lá para onde o inferno termina e me consultar com a psicóloga de Yeonjun.

Eu fui no sigilo, não contei aos meus pais e muito menos a Beomgyu, marquei uma hora quando estava sozinho no meu quarto e usei o dinheiro do meu último salário para pagar a consulta. Admito que quando cheguei lá, minhas pernas tremiam, acho que eu estava esperando que ela fosse me amarrar numa maca e me drogar com morfina, nunca tinha parado para pensar que eu tivesse medo de psicólogos.

Não sei se isso é normal, esse nervosismo, mas é que é um pouco estranho parar para pensar que você prefere se abrir com um total desconhecido à se abrir com um familiar. Eu sei que ela não vai sair por aí gritando "olha esse moleque aqui, ele é um inútil", tem todo o lance do código médico e paciente — acho que é isso — e ela mantém tudo a sete chaves bem guardado, mas quem me garante que ela não vai comentar com o marido quando chegar em casa que teve um paciente chorão que apareceu em seu consultório só para dizer que é um zero a esquerda?

Já vi numa série uma vez, vai saber se isso não acontece na vida real.

O consultório dela era tão calmo que eu senti sono assim que entrei. O aquecedor estava ligado, então pude tirar meu cardigan e deixá-lo apoiado no meu ombro, bem descolado. Era um lugar pequeno e confortável, em cores bem claras e que transmitiam muita tranquilidade, tinha um divã branco e uma poltrona que parecia ser muito macia, eu fiquei que nem um idiota olhando para os dois sem saber onde eu deveria me sentar, de frente para ambos tinha uma cadeira acolchoada e com uma estampa bem psicodélica, imaginei que ela se sentaria ali, então nem cogitei essa opção. Fiquei em pé mesmo, esperando que ela chegasse, o suor inexistente escorrendo pela minha testa e um bolo se formando em minha garganta.

Eu tinha certeza que sairia correndo assim que ela passasse pela porta.

Só que quando eu me deparei com a figura da minha psicóloga eu quase derreti de amores ali mesmo.

Era uma mulher baixinha e de cabelos cacheados sem qualquer traço asiático, um óculos redondo e com um jaleco branco que parecia duas vezes maior que ela. Eu era duas vezes maior que ela.

— Boa tarde, Choi Soobin? — até a voz dela era a coisa mais fofa que eu já tinha ouvido na minha vida. Se alguém me dissesse que ela é uma professora de maternal eu acreditaria muito fácil.

— Dra. Caitlyn? — era óbvio que era ela, mas não custava perguntar.

— Eu mesma. — ela sorriu, revelando seu aparelho dental. Cada minuto mais eu penso que estou me consultando com uma adolescente. — Pode se sentar, sinta-se a vontade.

— E onde eu me sento? — volto a encarar o divã e a poltrona, não tenho a menor ideia do que fazer.

— Escolha qualquer um deles, não se preocupe com isso. — todas as suas falas eram amáveis.

Eu acabei optando pelo divã, só para me sentir como nos filmes.

Sempre achei que psicólogos fossem pessoas frias, mas a doutora Caitlyn era completamente o oposto do que eu achei que seria.

Na verdade, a consulta em si foi o oposto do que eu pensei que fosse.

Pra começar, não tiveram perguntas que eu achei que teria. Ela não me perguntou como eu estava e nem qual era o meu problema, ela simplesmente começou a conversar comigo como se estivéssemos nos conhecendo em algum lugar sociável, foi automático me esquecer que estava em um consultório. Caitlyn conseguiu me fazer sentir tão bem ali que eu cheguei a pensar que realmente éramos apenas bons amigos trocando um papo.

Ela me ofereceu balinha, disse que eu estava muito bonito com a minha roupa e então, sem que eu me desse conta, entramos no assunto que tanto me afligia.

Não foi nem um pouco estranho ou desconfortável me abrir com ela, dizer como eu me sentia e o todas as coisas que eu pensava sobre mim mesmo, contei coisas a ela que nem mesmo minha própria mãe sabia.

Abri meu peito e deixei sair todo o peso que eu carregava sem necessidade, eu disse a ela cada uma das vezes que eu chorei a noite por me sentir um nada, contei sobre meus dias tristes — que se tornaram muito frequentes desde que eu terminei o colégio — e como isso fazia eu me afastar de tudo e de todos, quase chorei quando admiti que eu não me via sendo alguém na vida, que eu me sentia muito pressionado por mim mesmo e isso só me fazia sentir ainda pior por saber que estava decepcionando todo o mundo. Se eu não consigo alcançar nem as minhas próprias expectativas, quem dirá as dos outros.

— Soobin, eu entendo como você se sente. — eu estava deitado no divã, não conseguia mais olhar para ela, então estava olhando para o teto. — Acho que todo mundo já chegou nesse ponto onde sente que não vai conseguir alcançar coisas grandes na vida, e é aí que as pessoas sempre erram. Elas se deixam engolir por esses pensamentos negativos e vão ficando presas neles por muito tempo, sem que percebam acabam causando o próprio fracasso e esperam que outros tentem ajudá-los. Você entende que a única pessoa aqui que pode fazer com que você dê a volta por cima é você mesmo?

— E como é que eu faço isso se eu tenho medo de tentar e fracassar como sempre? Eu já começo as coisas sabendo que vão levar o mesmo fim das outras. Prefiro não tentar do que me decepcionar.

— E é aí que mora o perigo, Soobin. — ela falava com uma tranquilidade que as vezes eu achava que sua voz era fruto da minha imaginação. Tudo aquilo parecia ser fruto da minha imaginação. — Como você pode saber que vai fracassar? Como pode saber que vai se decepcionar? Esse seu medo do futuro é a sua ansiedade gritando dentro de você, só que você tem que lembrar que não é a sua ansiedade que move você, não pode se deixar ser controlado por isso. Certo, eu quero que você se sente corretamente, os pés no chão e a coluna ereta, feche os olhos, inspire e expire bem devagar.

Faço tudo exatamente do jeito que ela diz, no começo parece que meu corpo se enche com quilos e mais quilos de concreto, mas conforme o silêncio vai se expandindo e a minha respiração ficando mais calma, logo percebo que tudo o que entra é apenas ar e o leve perfume de lavanda da sala.

A voz da psicóloga se faz presente de novo e, pela primeira vez desde que começamos, ela pergunta como eu estou me sentindo, e eu respondo com a voz tranquila que estou bem. Depois ela começou a fazer perguntas bobas, como: qual a sua cor favorita? qual sua melhor lembrança? o que você mais gosta de fazer?

Eu não sabia qual era o intuito daquelas perguntas tão nada a ver com nada, mas eu respondia tudo no automático, antes mesmo dela terminar de perguntar eu já estava respondendo, era como se a resposta estivesse na ponta da minha língua e só pulasse para fora. Não parei para pensar em momento algum, apenas respondi.

— Tudo bem, pode abrir os olhos agora. — pisco algumas vezes para me acostumar com a claridade do lugar, não sei se posso voltar a me deitar, então continuo sentado. — Você gosta de estudar, Soobin?

— Olha, depende muito. — mais uma pergunta aleatória que eu não fazia a menor ideia qual era a relação. — Eu odeio qualquer coisa que tenha que fazer cálculo, sabe?

— Ah, os números! Quase ninguém gosta deles. — ela ri bem humorada e mais uma vez sou levado pela onda de serenidade. Sei lá, é como se eu estivesse dopado em grande parte do tempo. — Soobin, você sabe o que é um teste vocacional?

— Sei. — balanço a cabeça em afirmação também, como se só minha palavra não fosse suficiente. — Eu fiz um no meu último ano, não deu nada do meu interesse, sinceramente.

— Entendo. — durante todo esse tempo ela esteve anotando coisas em um bloquinho amarelo. — O intuito de um teste vocacional é clarear sua mente e te ajudar a escolher um caminho, ele não vai te apontar exatamente o que você deve fazer, ele apenas vai te mostrar as melhores opções. Você lembra qual foi seu maior resultado nesse último teste?

— Deu cinema, mas sinceramente, é a última coisa que eu quero na minha vida. — suspiro. Imagina eu trabalhando a televisão, a merda que não seria.

— Ok. — e ela anota mais alguma coisa. — Você gostaria de fazer outro teste?

Para ser bem sincero, eu nunca acreditei muito nesse negócio de teste vocacional, nem sempre ele acerta. O teste do Beomgyu, eu me lembro muito bem, deu que ele seria um ótimo mecânico, o cara não sabe nada de carro e com certeza estragaria o primeiro que ele tocasse.

De qualquer forma, eu penso sobre isso e apenas concordo, não vai me matar fazer um novo teste e descobrir que minha vocação é ser fritador de hambúrguer.

— Ótimo! Então eu vou marcar esse teste pra você para daqui há dois dias, tudo bem? — aceno positivamente, estranhando não poder fazer imediatamente. — Só não marco para agora porque nosso tempo está terminando e eu tenho uma paciente logo em seguida. Você não precisa se preocupar e nem ficar ansioso, ok? É um teste sobre você, então não precisa estudar também.

— Tudo bem. — me surpreendo pelo tempo ter passado tão rápido, eu realmente achava que tinha só uns vinte minutos que eu tinha entrado na sala. — E o resultado sai no dia?

— Infelizmente, não. Você teria que voltar para buscar, mas, olhe pelo lado bom, vamos poder conversar sobre isso. — ela faz parecer que somos amigos de longa data se reencontrando pela primeira vez em anos.

— Acho que vai ser legal. — juro que tentei parecer o mais animado que eu conseguia, mas é inevitável não me sentir um pouco nervoso com isso.

— Então, nos vemos daqui há dois dias, certo? — ela deixa o bloquinho amarelo de lado e me olhando com sorriso caloroso.

— Com certeza. — e eu também sorri, não sei se foi automático ou sincero.

O importante é que eu saí daquele consultório pesando menos que uma pena, acho até que eu estava flutuando. Deixei meu retorno marcado com a secretária e voltei pra casa para refletir sobre tudo o que conversamos.

Assim que eu pus o pezinho em casa já fui logo sendo atacado por Beomgyu, que literalmente pulou em cima de mim que nem um animal selvagem atrás de comida. Eu quase caí no chão, porque fui pego de surpresa, estava tirando meus sapatos quando ele saltou em cima das minhas costas e ficou grudado em mim que nem um filhote de macaco agarrado na mãe.

— Onde você foi, brucutu? Eu fiquei sozinho com a senhora Kim, fizemos até um bolo de banana que ficou top demais. — ele continuou pendurado em meu pescoço mesmo quando eu comecei a andar em direção ao meu quarto. — Mas eu queria sair um pouco, não aguento mais ficar casa, mano.

— Fui a psicóloga. — no mesmo instante ele me largou e parou na minha frente, nos fazendo parar no meio do caminho.

— Pera, que? Você tá bem? — ele me olha como se eu tivesse acabado de dizer que fui o médico e me diagnosticaram com alguma doença terminal.

— E estamos bem de verdade? — bagunço seus cabelos e dou a volta nele, continuando meu caminho. — Mas, não precisa se preocupar, tá tudo bem, fui só clarear a mente.

— Por que tu foi escondido? — ele continuou com as perguntas.

— Eu tava nervoso pra porra, não queria contar pra ninguém pra que não me deixassem mais nervoso ainda. — entro no meu quarto acompanhado da minha sombra. — Vou voltar lá em dois dias pra fazer um teste.

— Ué, teste? Teste de que? — Beomgyu se sentou na beirada da minha cama e ficou me olhando trocar de roupa.

— Vou testar pra ver o quão trouxa eu sou. — recebo dois dedos do meio esticados não minha direção e respondo dando língua feito uma criança de cinco anos. — Teste vocacional.

— Tu foi pra um psicólogo só pra fazer um teste vocacional? Tem mil desses perdidos na internet, Soobin.

— Eu não fui lá pra isso, cabeça de bagre, eu nem sabia que dava pra fazer isso em psicólogo. — jogo minha blusa na cara dele. — Fui lá pra conversar só, aí ela me ofereceu e eu aceitei.

— Sua psicóloga passa-te a bufa, aceitas? — todos os neurônios do meu amigo saíram pra passear depois dessa. — Mas como foi? Foi legal?

— Foi! Saí de lá flutuando na nuvem do Goku de tão leve que eu me senti. — de pijama vestido me joguei ao lado dele na cama, ficando com as pernas penduradas pra fora.

— Acha que eu deveria ir a um desses também? Sabe, por causa de toda essa merda com os meus pais e tal. — e os neurônios voltaram depressa.

— Amigo, eu não acho é nada, você tem que ir porque você quer ir e não porque alguém disse que você deveria.

— Pois então eu vou! — ele dá um pulo pra fora da cama e para numa pose de super-herói no meio do quarto, mas depois ele volta a se sentar. — Ah, não tenho dinheiro pra isso.

— Eu pago pra tu, flor da minha vida. — cutuco sua costela e ele quase voa a mão na minha cara.

— Não quero que você fique gastando dinheiro comigo. — ele segura meu pulso e fica batendo na minha mão, não pra machucar.

— O dinheiro é meu e eu gasto com o que eu quiser, e eu quero gastar com você, então fica quieto e aceita. — puxo meu pulso de sua mão e depois o luxo para deitar na cama também, admirar o teto comigo. — Se preocupa com isso não, é uma coisa que vai te fazer bem e é isso que importa.

Depois da breve conversa com o meu amigo, ele resolveu assistir Como Perder Um Homem Em 10 Dias e eu, como o ótimo amigo que sou, dormi bem antes do meio do filme.

Enquanto Beomgyu se divertia assistindo Kate Hudson e Matthew McConaughey passando a perna um no outro por uma aposta, eu estava ocupado sonhando que estava diante de uma bancada enorme sendo encarado por um juiz daqueles que usa peruca branca, sendo julgado por um júri de papagaios que repetia a palavra "culpado" e tendo um cara verde como o meu advogado. Não faço a menor ideia do que tudo isso significa, mas eu me senti a própria Alice no tribunal da rainha vermelha.

Acordei no susto com Beomgyu gritando, olhei pra televisão e não era mais Como Perder um Homem em 10 Dias que estava passando, mas sim algum filme de terror. Olhei pro meu amigo sem entender de onde ele tinha tirado coragem de assistir aquilo e percebi que ele estava com o telefone na orelha.

— Por que caralhos você gosta disso, Hyunnie? — Eu juro que quase gorfei quando ele fez voz fofa pra falar o apelidinho do Taehyun. Ele nem percebeu que eu tinha acordado. — Isso é porque você deve ter um índice de psicopatia, porque não é possível alguém assistir filme de terror e achar engraçado. O brother perdeu as tripas, não sei se você reparou nisso.

Viro para o outro lado e me encolho feito um gatinho, só então percebendo que tem um cobertor em cima de mim. Ai, meu amigo é muito atencioso.

Durmo mais um pouco e volto a sonhar com mais pássaros, só que dessa vez eu estou no meio de um campo, literalmente plantado feito uma árvore, porque meus pés estão enraizados no chão, e muitos pássaros voam sobre mim, todos piando ao mesmo tempo, mas o som não era horrendo como no filme de Hitchcock, na verdade soava mais como os pássaros da Branca de Neve.

Quando acordo uma segunda vez não tem absolutamente ninguém comigo, a televisão está desligada e o quarto está escuro, mas só porque as cortinas foram fechadas.

Me sento na cama e coço os olhos, me espreguiçando feito um gato e emitindo um som de prazer, porque se espreguiçar sempre é muito bom. Fico em dúvida se devo levantar, penso um pouco sobre as coisas que eu sonhei, penso até em procurar no Google o que pode significar, mas apenas dou de ombros e levanto me arrastando, indo até o banheiro e lavando o rosto pra espantar o resto de sono que ainda está marcado na minha cara.

Encontro a senhora Kim tomando um cafezinho na cozinha e lendo uma de suas revistas.

— Boa tarde, querido. — ela me cumprimenta calorosa, como sempre.

— Boa tarde. — me sento ao seu lado e deito a cabeça em seu ombro. Ela é como uma segunda mãe pra mim, temos uma relação gostosinha onde eu sei que posso contar com ela pra tudo. — Sabe onde o Gyu tá?

— Ah, aquele modelo chegou aqui, os dois estão lá atrás tem um tempinho já. — levanto a cabeça na hora e encaro a porta da cozinha que dá passagem pro quintal de trás.

Levanto na mesma hora e vou até lá, abrindo a porta de vidro só um pouquinho e testando ser o mais discreto possível para espiar os dois.

Dou muita sorte que eles estão sentados de costas e parecem bem distraídos, perdidos no mundinho deles. Claro que eu não consigo ouvir o que ele estão conversando, minha audição não é biônica, infelizmente, mas imagino que não seja nada muito importante ou grave já que Beomgyu dá uma risada do nada.

Ainda é um pouco estranho saber que meu melhor amigo agora está namorando um cara, mas os dois são tão fofos juntos que fica mais fácil me acostumar com isso.

Percebo que os dois fazem movimento para se levantar, então fecho a porta e volto correndo pro lado da senhora Kim, fingindo estar lendo a revista com ela, só então percebendo que era uma revista de moda feminina.

— Acordou a donzela? — é a primeira coisa que Beomgyu diz assim que entra. — Vai trocar de roupa, vamos sair.

— Tá me chamando pra segurar vela, é isso mesmo? — olho para eles com cara de tédio. Acho fofos, porém não quero estar presente pra vê-los se pegando.

— To te chamando pra sair, se fosse pra segurar vela eu diria "troca de roupa pra ir segurar vela". Anda logo. — ele diz pra eu me arrumar, mas ele mesmo parece que ainda está de pijama.

— E pra onde nós vamos? — levanto na velocidade tartaruga, só pra irritar um pouco mesmo.

— Tomar café, roubar um banco, descobrir a cura pra aids, qualquer merda. Eu só quero sair um pouco, por favor. — ele começa a me empurrar, dificulto um pouco soltando todo o meu peso em cima dele. — Fica na moral ou eu chuto sua bunda daqui até a Flórida.

Quando será que ele vai largar o vocabulário hétero?

Acabo cedendo a vontade dele e mais uma vez coloco uma roupa para sair de casa, só que dessa vez eu não vou todo arrumadinho feito um príncipe, eu preferi ir todo largado que nem um vagabundo mesmo, só faltou o chinelo havaianas pro look estar completo, mas como eu sinto muito muito frio no pé tive que optar por um outro chinelo com meia. Estilo é para pouco.

Vou ter que incluir "tirar carteira de motorista" nessa minha nova fase da vida, porque não dá pra ficar vivendo de Uber, gente, desse jeito vou acabar ou pobre ou fazendo o Yeonjun de motorista particular, só que aí quando ele não estiver — como agora — eu vou ter que voltar pro Uber mesmo. É, vou ter que tirar carteira mesmo.

O casal sensação resolveu se enfiar naquele tipo de pet café, nunca vi tanto cachorro junto na minha vida e eu ainda quase fui derrubado por um golden retriever assim que chegamos. A moça que nos atendeu disse que poderíamos brincar com os cachorros o quanto quiséssemos, claro que eu me aproveitei e fiquei brincando com um poodle gigante, porque é tão fofinho o pompom no topo da cabeça.

Foi uma saída dela. Tão legal que acabamos repetindo por alguns dias.

No primeiro dia da competição de Yeonjun eu reuni todo mundo em casa só para apoiarmos o meu namoradinho lindo fazendo piruetas no gelo, e é claro que Hyuka era o que mais entendia o que estava acontecendo e quem tinha que nos explicar.

Primeiro foram as mulheres, não decorei o nome de ninguém, mas eu estava torcendo por uma que usou uma roupa roxa cheia de paetê e girou quem nem o próprio Yuri apresentando Ego, a música era meio chatinha, mas a apresentação foi bem bonita. Kai me falou que ela seria a primeira eliminada e eu fiquei triste, porque gostei tanto.

— Agora é o masculino, Yeonjun vai ser o terceiro a se apresentar. — como um bom acompanhador de esportes desse tipo, o Kai tinha imprimido toda a programação e passava pra gente tudo o que ia acontecer.

— Eu quero mijar, mas não vou levantar daqui enquanto não ver meu amorzinho patinando. — felizmente são apenas quatro minutos, acho que eu consigo segurar.

— O cara prefere arriscar um problema nos rins à perder a apresentação do boy. — Beomgyu era o mais desinteressando, mas eu tenho certeza que quando for o Taehyun nadando o bonito vai arrancar até o cu com a unha. Enfim, a hipocrisia.

— Pode ir, hyung, dá tempo de ir e voltar e não ter terminado nem o primeiro. — jamais vou entender como uma pessoa tão educada consegue namorar o pé no saco do Beomgyu.

Confiando na palavra do meu cunhadinho — eu passei a chamar ele assim e o menino fica todo envergonhado — me levanto as pressas e corro até o banheiro antes que eu explodisse em urina no meio de todo mundo.

Quando voltei o primeiro cara ainda estava no meio do gelo.

Nunca pensei que desse tanto nervosismo assistir a esse tipo de coisa de verdade, porque eu só tinha visto em Yuri on Ice mesmo, mas é que o segundo cara a se apresentar caiu e o meu coração chegou na ponta da minha língua e eu tive que engolir de volta, o cara levantou na hora e agiu como se nada tivesse acontecido, mas Kai deixou bem claro que ele perderia uns bons pontos por causa disso. Foi imediato pensar que aquilo poderia acontecer com Yeonjun e me sentir ainda mais nervoso, porque eu não queria que ele falhasse ou se machucasse.

Comecei a roer as unhas assim que o nome dele foi anunciado.

Eu tinha visto aquilo ao vivo, ele fez toda a coreografia na minha frente quando eu fui com ele em seu último treino, mas vê-lo todo apertado naquela roupa perolada com uns enfeites brilhosos, dando pirueta ao som de uma música que parecia ser em francês, mas que eu acho que era bem emocionante, aquilo tudo me fez ficar tão orgulhoso e ainda me senti privilegiado por saber que era o meu namorado arrasando no meio do gelo.

Ele terminou junto da música, na minha humilde opinião foi um tempo perfeito, mas isso não pareceu contar muito pros jurados já que ele não teve nota máxima.

— Que absurdo, ele foi nota mil. — esbravejo emburrado feito uma criança que não ganhou o que queria.

— Ele deu uma desequilibrada no final, mas soube manter, pelo menos tá acima do cara que caiu. — mesmo com a explicação do Kai eu ainda achava um absurdo, eu nem vi essa tão desequilibrada, pra mim foi tudo impecável.

— O amor é cego, amigo. — ele dá dois tapinhas no meu ombro, como se me consolasse.

— Amor nada, eu também acho que foi perfeito, esse cara aí que tá vendo defeito onde não tem. — felizmente Beomgyu existe para comprar a minha luta.

O importante é que no final ele conseguiu passar e isso deu uma acalmada no meu pobre coraçãozinho.

Em resumo, os meus dias foram basicamente desse jeito. Eu voltei a psicóloga para fazer o mesmo teste vocacional no dia marcado e quase saiu o resultado eu voltei lá para que conversássemos sobre ele, não tinha dado algo muito diferente do que eu já tinha visto nos testes online, mas a diferença é que eu pude conversar com alguém que iria me ajudar de verdade e a doutora Caitlyn só pode ser um anjo que veio direto do céu para iluminar o meu caminho, porque ela teve toda a paciência do mundo comigo e me ajudou muito a abrir os olhos para o que eu realmente deveria fazer.

Pesquisei que nem um condenado sobre o curso que eu conversei com ela, busquei saber mais as opções e antes que eu me desse conta já estava animado com o meu futuro. Pela primeira vez em toda a minha vida.

Parece que Choi Soobin agora é um homem de vinte e dois anos resolvido.

Também comecei a passar mais tempo com os amigos, ainda mais depois que Kai entrou de férias na escola, Beomgyu, como era uma florzinha social, queria ir pra todos os lugares possíveis só pra não ficar tanto tempo em casa, então quase sempre estávamos nos enfiando no shopping pra bater perna que nem quando éramos adolescentes, e as vezes Taehyun se juntava a nossas saídas e eu e Kai ficávamos apenas observando quando os bonitos começavam a cochichar deuses sabem lá o que, mas devia ser algo bem romanticozinho porque eles ficavam de sorrisinho um pro outro. Eu ficava só o emoji segurando o vômito.

Minha casa virou o point da patinação, Kai sempre brotava lá para nos fazer assistir um monte de gente com roupa colada patinando no gelo e fazendo acrobacias que me fazia apertar o cu de tão nervoso. Por mim eu só assistiria os dias que o Yeonjun se apresentava, mas meu amigo é muito emocionado com essas coisas e a gente não podia dar uma brecha que ele já achava que tínhamos que fazer aquilo todo dia. Ele conseguiu fazer até a senhora Kim assistir a competição com a gente, a coitada ficava que nem eu, entendendo o total de zero coisas, sempre perguntando o que era o que e o porquê de terem tirado ponto se foi tudo tão "bonito e elegante". Mas ela se sentiu adorável quando viu Yeonjun na televisão.

— Olha ali, é o seu namoradinho, querido. — foi o que ela disse quando o viu no segundo dia de apresentação. Minha cara ardeu e todo mundo riu de mim.

Quando foi a apresentação dos casais o Beomgyu disse que seria lindo se eu me apresentasse com o Yeonjun, aí eu só fiquei imaginando ele arrasando no meio do gelo e eu no canto me segurando na barra de ferro pra não cair de cara. Ia ser lindo mesmo, parecer até vídeo cassetada.

Devo admitir que até que meus dias não foram assim tão tediosos como eu imaginei que seriam, embora eu tenha ficado em casa a maior parte do tempo junto do Beomgyu só jogando ou assistindo alguma coisa, as vezes eu ficava preocupado se não íamos acabar criando teias ou raízes na minha cama.

Aos poucos os dias foram se passando, mesmo que se arrastando, e antes que eu me desse conta já estava assistindo ao último dia da competição de patinação, eu comia mais as minhas unhas do que a pipoca que sempre comíamos quando assistíamos.

— Vai acabar ficando sem dedo, filho. — minha mãe tentou tirou minha mão da minha boca, que nem fazem com bebês mesmo, mas eu continuei roendo o que já nem existia mais de unha.

— Deixa ele, querida, é o nervosismo. — meu pai, por outro lado, não se importava se meu estômago estava virando um depósito de unhas e pele de dedo.

— Ai gente, é que ele não merece nada menos que o ouro. Pra mim esse povo devia inventar uma medalha diamante e dar pra ele também. — encho o peito de orgulho. Se sentir o orgulhoso do seu amorzinho faz bem pra pele, aponta estudos feitos por mim mesmo.

— Você nunca foi tão cadelinha na vida, Soobs. — Beomgyu só sabia comer e ficar mexendo no celular, ele estava totalmente desinteressado no que acontecia. — To vendo aqui na tag da competição, tem um monte de menininha surtando por ele.

— É normal, sempre tem umas falando "seja pai dos meus filhos" e outras coisas mais... indecentes. — eu consegui sentir a vergonha na voz de Taehyun quando ele disse tal coisa. — Yeonjun não vê esses comentários, mas as vezes eu acabo dando o azar de ver.

— Ele vai ser pai dos meus filhos, onde já se viu? Abusadas. — cruzo os braços e bufo, bem maduro mesmo.

— Quer que eu diga "ele é viado, amiga" pra ver se param? — ele já está pronto para digitar mesmo.

— Tu acha que as pessoas ligam muito pro que tu fala na internet, né? — Kai dá um pescotapa no coitado. — Vão é te chamar de maluco e dizer que tu ta forçando sexualidade nele.

— E é por isso que eu odeio a internet. — ele resmunga mais para si mesmo, mas é óbvio que todo mundo escuta.

— Sabe o que eu quero mesmo, Beomgyu? — ele olha pra mim com cara de sono. El estava dormindo quando Kai chegou convocando todo mundo pra sala. — Que você largue esta merda e preste atenção. Vamos todos ver o Jjunie recebendo a medalha de ouro e chorando no pódio.

O coração a mil, todo mundo na sala calado, só o som da plateia murmurando na televisão, acho que eu ia acabar me cagando de nervoso. Se Yeojun não ficasse em primeiro lugar acho que eu chorava ali mesmo.

Quando terminaram de contar os pontos foi como estar assistindo a segunda temporada de Yuri on Ice — pausa pro choro —. Ele e o pai dele estavam na tela, o meu bichinho estava com as bochechas coradas, agarrado a um urso de pelúcia branco com uma faixa escrito "the best" e com uma coroa, dava pra perceber como ele estava nervoso e ansioso, não parava de morder a boca e mexer os dedos, acho que ele estava prestes a ter um colapso, e eu ia junto. E aí veio, finalmente, a pontuação final.

Eu juro que consegui sentir aquele abraço que pai e filho deram, Kai ficou me sacudindo como se eu fosse um joão bobo e todo mundo começou a bater palmas e eu só fiquei que nem uma estátua olhando pra televisão.

— É ouro! — Beomgyu foi o único que me fez sair do meu transe. — Vamos derreter essa porra e ficar rico!

— Você é muito idiota, sabia? — minha voz deu aquela tremida de quem vai começar a chorar e todo mundo olhou pra mim como se eu tivesse acabado de acordar de um coma de três anos.

— Você tá chorando? — por que eu sou amigo dele? Ele começou a rir da minha cara. — Emocionado demais.

— Ah, cala a boca, aposto que quando for você vendo o Taehyun ganhando uma medalha tu vai chorar que nem um cozinheiro descascando cebola. — jogo uma almofada na direção dele, mas ele desvia e eu acabo acertando o pobre príncipe. — Eita, desculpa.

— Eu não vou chorar. — diz convicto. — Eu posso surtar, soltar fogos, vou até comprar uma vuvuzela pra esse evento, mas chorar eu não vou.

— Depois eu que sou emocionado. — limpo minhas poucas lágrimas de emoção e me recomponho.

Tive que esperar um bom tempo até conseguir ligar para Yeonjun, eu não sabia quando seria uma boa hora, imaginei que ele fosse comemorar com o pai e até com os outros competidores, porque devem ser todos amigos que se apoiam — ou eu vivo no mundo dos anime e acho que tudo se resolve com o poder da amizade —.

Só fui conseguir falar com ele algumas horas depois, não queria arriscar acabar ligando numa hora ruim. Já estava um pouco tarde e eu tinha corrido pro meu quarto, pra ficar sozinho e conseguir ligar na paz, porque eu tinha certeza que Beomgyu ia entrar gritando no meio e falando besteira, que nem a boa criança de doze anos que ele ainda é.

Oi, amor! — dava pra perceber que ele estava sorrindo e também que ele devia estar levemente bêbado.

— Oi, bê, só tô ligando pra te parabenizar! Você tava lindo demais e eu to muito orgulhoso. — digo todo envergonhado, só não sei muito bem o porquê. Devo estar ficando maluco.

Obrigado, meu amor! — ele diz muito animado. Certeza que está virado no álcool. — Eu disse que ia levar o ouro pra você. Eu vou voltar logo logo pra você.

— E eu vou estar aqui esperando por você, Elsa rainha do gelo. — prestando melhor atenção eu consigo ouvir uma comemoração ao fundo. A festa ainda não acabou. — Vou deixar você voltar pra festa.

Tá bem, meu amorzinho. — som de algo estourando, acho que foi rolha de champagne. — Te amooooo!

O telefone quase caiu da minha mão, a ligação foi encerrada e eu só quis enfiar a cara no travesseiro e gritar. E foi o que eu fiz.

Pela segunda vez o cara solta do nada um negócio desses e eu entro em surto, preciso me acostumar com isso, porque Yeonjun claramente é do tipo que, se puder, vai falar isso a cada minuto, não posso querer bater a cabeça na parede sempre que ouvir.

Pensei em ir fazer companhia a Beomgyu, fazer uma festa do pijama, mas eu consegui ouvir outra voz vindo do quarto e eu preferi nem bater na porta, só dei meia volta e fiquei quietinho no meu quarto, assistindo Viva - A Vida é uma Festa e xingando Ernesto de la Cruz o quanto eu podia. Dormi sozinho e no meio de um episódio de Hora de Aventura.

E mais uma vez eu sonhei com pássaros. Não sei qual é a do meu cérebro sempre me fazendo sonhar com vários pássaros voando sobre mim, mas é melhor do que sonhar com coisas aleatórias ou ter pesadelos. Dessa vez eu estava sentado num monte, observando uma gaiola gigante cheia de pássaros, de repente a gaiola se abriu e todos eles saíram voando, nenhum cantava, mas eram todos coloridos e de diferentes tamanhos, o último que passou parecia até um pokemon e era enorme.

— Porra de passarinho. — eu literalmente acordei resmungando isso e abanando as mãos sobre a cabeça, como se tentasse espantar alguma coisa.

— Que fofo, agora ele é sonâmbulo. — Beomgyu estava praticamente debruçado em cima de mim, me olhando feito um assassino pronto para cravar uma faca no meu pescoço.

— O que você tá fazendo aqui? Que horas são? — olho em volta, o quarto está claro, então já é de manhã, mas não vejo meu despertador em lugar nenhum.

— É quase meio-dia. — ele mostra que estava escondendo o despertador, desligado, atrás das costas e o coloca na cabeceira. — Eu vim te acordar, mas preferi ficar rindo de você abandonando as mãos que nem um maluco e falando "sai" o tempo todo. Vamos almoçar.

— Almoçar, já? — eu nem estava totalmente acordado ainda, juro que via pássaros pelo quarto todo. — Nem to com fome.

— É que o Tae vai embora daqui a pouco, aí eu queria almoçar com ele antes. Então acorda logo e vamos comer juntinhos. — ele dá um tapinha no meu peito e contorna a cama.

Beomgyu sai do quarto sem nem deixar eu responder alguma coisa, eu continuo deitado, olhando o teto e piscando feito um maluco, esperando que os pássaros parem de aparecer. Acho que eu deveria conversar sobre isso com a doutora Caitlyn na práxima vez que nos encontrarmos.

Como todas as manhãs, depois de acordar eu vou ao banheiro tirar água do joelho e depois lavar a cara, eu nem estava preparado para comer, meu estômago nem estava roncando de fome, eu nem sequer queria comer, mas mesmo assim eu saí do quarto em direção a cozinho, já sentindo aquele cheirinho gostoso e quase abrindo meu apetite, mas eu sabia que não conseguiria comer nem mesmo um grão de arroz.

Coisa 1 e Coisa 2 já estavam sentados a mesa, ambos arrumados e cheirosos, como se estivessem prontos para sair e eu estava com o cabelo pro alto, a cara ainda amassada e usando um pijama de carneirinhos.

— Bom dia, hyung. — Taehyun diz todo contido, se encolhendo em seu moletom gigante.

Eu só sentei e apoiei o cotovelo sobre a mesa, depois o queixo sobre a minha mão aberta, olhando para ele com sono e pensando "quem foi campeão foi o Yeonjun, mas pelo visto quem levou o prêmio foi o Taehyun". Sou burro não.

Senhora Kim não demora para terminar o almoço e nós fomos logo arrumando nossos pratos, eu coloquei pouca coisa porque não gosto de desperdício, enquanto isso Beomgyu mantou o pratão de pedreiro dele, quase o monte Everest de comida.

Eu estava presente na mesa para ser a vela do almoço romântico deles, porque eles ficaram debatendo sobre irem a um encontro mais tarde e o que fariam juntos, e eu estava sentado do outro lado da mesa, cutucando meu peito de frango e pensando se deveria voltar a dormir assim que os dois saíssem.

Juro que já estava entrando no meu mundinho mágico, idealizando a tarde da preguiça que eu ia ter, quando de repente a voz de Beomgyu me puxou de volta para o mundo real.

— Amanhã é o último dia do evento e aí o Yeonju já volta pra casa. — não sei como Beomgyu sabe disso, mas ele sabe. — Você vai receber ele no aeroporto, Soobin?

— Acho que não, provavelmente vou esperar pra ir vê-lo no dia seguinte. — coloco a comida na boca com a maior preguiça do mundo, meu preto já está quase vazio enquanto o deles ainda está na metade.

— Por que você não recebe ele em casa? Tipo, uma surpresa. — Taehyun sugere e eu olho pra ele surpreso. É uma ideia muito boa e eu me sinto muito triste por não ter pensado nisso sozinho.

— Seria muito legal, mas como eu entraria na casa dele? — volto a cutucar a comida e faço um bico chateado.

— Eu tenho a chave. Ele me deu uma cópia pra casos de emergência. — Taehyun mexe no bolso da própria calça e tira um molho de chaves de lá, não sei pra que tanta chave num chaveiro, misericórdia. — E, bem, acho que isso pode ser uma emergência amorosa, né?

— Nossa, meu namorado é muito inteligente. — Beomgyu só se joga em cima de Tehyun e enche o rosto dele de beijo. E mais uma vez o emoji segurando o vômito.

— Hmm, acho que isso pode ser interessante.

Cancelo minha tarde da preguiça depois que Taehyun me entrega a chave da casa de Yeonjun, e ele me faz jurar de pé junto que vou guardar aquilo com a minha vida, senão é o cu dele que entra na reta — claro que ele não falou desse jeito.

Já que agora eu tenho planos de receber meu namoradinho, nada melhor do que receber do jeito certo, e que jeito é melhor do que chegar com um presente de natal? Tenho certeza que ele vai amar.

Passo os poucos dias seguintes apenas agilizando as coisas para que nada me atrase e estrague meus planos do presente perfeito, caso o contrário eu teria que me virar nos trinte para encontrar algo de última hora. Minha mãe, uma mulher cheia dos contatinhos profissionais, consegue me dar uma mãozinha e encontra uma amiga que pode me ajudar a fazer coisas mais rápidas e ainda com desconto, do jeito que a gente gosta mesmo.

Claro que eu fui muito julgado pela minha própria mãe, ela queria que eu desse algo bonito e cheio de fru-fru pro Yeonjun, mas eu vivo pela zoeira e não poderia deixar passar uma oportunidade de oura dessas.

Para a minha total alegria as coisas ficam prontas no dia da chegada dele, de manhã, ainda bem que ele chega a noite.

— E como eu sei que ele não vai chegar na casa junto dos pais? — minha mochila já está pronta, já estou com o presente em mão e continuo nervoso como se fosse a primeira vez que eu vou me encontrar com ele.

— Ele sempre volta pra casa depois de uma competição, se joga na cama e dorme por um dia inteiro. — Taehyun tenta me tranquilizar, mas não ajuda muito.

— Ótimo, vou atrapalhar o descanso dele. — estou pronto para por meu pijama e me esconder embaixo da minha cama pelo resto do dia. — Não vou mais, deixa quieto.

— Para de graça, garoto. — minha mãe diz já impaciente. Ela pega minha mochila e começa a me puxar para fora do quarto. — Vamos logo pro carro que até eu estou ficando ansiosa.

Eu pensei que só fosse eu e a minha mãe, mas o segundo melhor casal do mundo entrou no banco de trás também.

Minha mãe dirigiu bem daquele jeitinho tranquilo dela, quase me causou umas três paradas cardíacas e, muito provavelmente, fez minhas pernas virarem gelatina. Esse é outro motivo para tirar minha carteira de motorista: não precisar mais da minha mãe também, porque é muito arriscado.

O carro para na frente da casa de Yeonjun e eu preciso respirar profundamente antes de sair, senão eu vou sair sambando que nem a globeleza.

— Ainda tá nervoso? Para de graça, menino. — minha mãe solta o meu cinto de segurando e se debruça sobre mim pra abrir a porta. — Vai lá.

— Tô esperando minha alma voltar pro corpo, é sempre incrível passear de carro com você, mãe. — pego todas as minhas coisas e me certifico de que não está faltando nada, porque era só o que me faltava, eu deixar o presente no carro.

— De nada querido, e juízo hein. — ela grita pra mim da janela do carro e eu olho em volta para ter certeza de que não tem ninguém na rua.

— E não esquece a camisinha. — e é claro que Beomgyu iria dar o ar da graça dele também, deve ter vindo só pra isso.

Nem me dou ao trabalho de responder, apenas entro na casa e respiro fundo. O lugar tem o cheirinho dele, ai.

Não posso perder tempo pensando como o perfume dele é gostoso e está impregnado na casa toda, tenho que arrumar as coisas e me preparar psicologicamente para quando ele chegar em casa.

O céu está nublado e começou a nevar um pouco enquanto eu fazia os preparativos finais, felizmente não está tão frio no solário por causa do aquecedor, então posso ficar com meu short e blusa sem me preocupar em ficar doente ou morrer de hipotermia.

Me sinto um verdadeiro rei , sentado numa cadeira confortável, os pés vestidos em meias fofinhas e listradas apoiados na beira da hidromassagem, uma taça de vinho na mão e um gorro de natal na cabeça, pareço um maluco também, mas ainda me sinto muito chique. Tudo na casa de Yeonjun faz eu me sentir muito chique.

Coloquei umas músicas pra tocar e fiquei cantarolando, aproveitando minha solidão que eu esperava que fosse momentânea.

Não sei quanto tempo levou até que eu escutasse alguém entrando na casa, e eu já comecei a me sentir nervoso, fiquei atento a cada ruído torcendo para ouvir apenas uma pessoa entrando. Fiquei paradinho, apenas balançando os pés de um lado ao outro ao som de Blueberry Eyes, ainda cantando baixinho e segurando a taça já vazia. Bebi só duas, pra não acharem que estou bêbado.

— Papai Noel, pensei que fosse te ver só amanhã. — o coração até dança mambo quando ouço sua voz.

— Ho! Ho! Ho! — me levanto, abrindo os braços para que ele veja meu modelito. Ele ri e parece descrente que eu esteja realmente usando o presente que ele me deu. — Sou seu presente de natal.

— Tá uma gracinha com essa roupa, bebê. — me aproximo dele e o abraço pelo pescoço, dando um beijinho na ponta de seu nariz. — Sei que você deve estar cansado, então vamos apenas deitar e ficar juntinhos e aí amanhã podemos fazer o que você quiser.

— Mesmo se eu quiser passar o dia inteiro na cama sendo paparicado? — dá pra identificar o cansaço do ser humano há mil quilômetros de distância.

— Pois eu vou te paparicar muito, meu menino de ouro. — e então nos beijamos preguiçosamente, ele sorri entre o beijo, acho que sentindo o gosto de vinho na minha boca, e interrompe nosso contato com selinhos delicados. — Vamos pro quarto.

— Eu não tenho energia pra isso hoje, amor. — ele soa um pouco decepcionado e eu quase dou um soco nele.

— O que você tá pensando, seu tarado? É pra gente poder deitar na cama e ficar abraçadinhos. — me afasto dele e o pego pela mão, começando a puxá-lo em direção ao quarto. — Deixa as malas aí, amanhã a gente arruma isso.

O guio pela casa como se ela fosse minha, passando pela sala escuro e o corredor largo até chegarmos na porta fechada do quarto. O olho por cima do ombro, sorrindo um pouco nervoso, porque vai que ele não gosta da surpresa.

Abro a porta devagar e deixo que ele passe primeiro, o quarto está escuro, mas isso muda assim que acendo as luzes e a surpresa pode ser enxergada.

Yeonjun ri e olha pra mim, provavelmente não acreditando naquilo. Nunca imaginei que eu seria aquele cara dos clichês que enche um quarto de pelas de rosa e faz coração de flores na cama, mas eu queria fazer algo especial e eu nunca fui muito criativo, então roubei a ideia que várias pessoas na internet já tiveram.

Fiz um caminho de pétalas de rosa, tudo de plástico, porque eu acho crueldade usar verdadeiras, demorei uma vida pra despedaçar todas as flores de plástico, se Beomgyu e Kai não tivessem me ajudado eu ainda estaria fazendo isso, tracei o caminho desde o começo do quarto até a cama, infelizmente não sobrou o suficiente para fazer um coração completo, então fiz só o contorno e deixei o presente bem no meio dele.

— Eu não estou acreditando nisso, Choi Soobin. — Yeonjun parece meio perdido entre rir e achar fofo, então ele fica no meio termo. — E o presente é pra mim?

— Não, Yeonjun, é pro Ricardão escondido no armário. — reviro tão os olhos que consigo ver até o meu cérebro. — É o seu presente de natal.

— Então vou abrir só amanhã. — ele já estava indo pegar a caixa, mas se impediu no meio do caminho.

— Seu cu, meu anjo, pode abrir agora.

Ele ri de novo, mas dessa vez deve ser por causa do meu jeito muito delicado de dizer que eu quero que ele abra na minha frente.

Sem fazer cerimônia, ele pega a caixa e desfaz o laço que eu demorei uma vida pra fazer, e ele demorou dois segundos pra desmanchar, tira a tampa e depois o papel manteiga que eu coloquei em cima, quis fazer algo bem elaborado, como se estivesse dando um conjunto de lingerie.

— Você é vingativo é? — ele diz quando finalmente chega no presente.

— Eu sou é zoeiro, amorzinho. — me aproximo dele e pego o conjunto de dentro da caixa. — Vai lá vestir, vamos dormir de casalzinho hoje.

— Posso tomar um banho antes?

— Deve, mas vai rápido. — o empurro em direção ao banheiro e volto para a cama, me sentando e pegando a caixa, a deixando em meu colo.

Yeonjun é um rapaz muito obediente, porque ele toma uma ducha super rápida e logo já sai do banheiro vestindo seu belo traje a rigor.

Mandei fazer uma blusa com vários corações coloridos e na parte de trás a minha cara bem linda e grande com os dizeres "pai dos filhos dele" e uma seta apontando pra mim, enquanto a calça eu enchi com a minha carinha linda e, assim como ele, coloquei algo escrito na bunda, só que foi um "vale" na esquerda e "ouro" na direita. Eu sei, somos muito goals.

— Como eu estou? — ele dá uma voltinha em torno de si mesmo, me mostrando como ele estava arrasando.

— Parece o amor da minha vida. —dou batidinhas no colchão, pedindo para ele se sentar ao meu lado. — Papai Noel mandou avisar que você esqueceu um presente.

Curioso como um gato, Yeonjun se senta ao meu lado e mete logo o olhão dentro da caixa, acho que ele pensou que encontraria um par de meias também, mas ao invés disso tinha outra caixa lá dentro, uma menorzinha que eu colei com fita adesiva, para que não ficasse difícil de tirar.

A mão do menino chegou a tremer quando ele foi pegar a caixa, com certeza já estava achando que era uma aliança de noivado, mas eu não sou tão emocionado assim.

Ele nem faz um suspense, já sai abrindo e vendo o que tem dentro.

Não é uma coisa muito chocante, como uma aliança mesmo, mas é uma coisa bem discreta e que, na minha opinião, também serve como algo para oficializar um relacionamento. Foi o meu pai quem me deu a ideia, por incrível que pareça, ele me disse que tinha dado algo assim pra minha mãe quando ele estava namorando ainda e eu achei uma boa ideia.

É um colar bem simples e delicado de ouro branco, tive que pedir dinheiro pra comprar, porque o que me sobrou não daria pra comprar nem um de nilon, eu pensei em não dar um pingente, mas foi mais forte que eu, achei que apenas o colar seria muito bobo, mas também foi difícil escolher algum pingente que combinasse. Primeiro eu pensei em dar um patins, porque é a profissão dele, mas não tinha, depois eu pensei em uma rosa, mas todos eram tão grande de abrutalhados, não combinavam em nada com o colar, então acabei optando por uma letra.

Juro que eu fiquei meia hora olhando pra ele na loja, pensando se aquilo não iria muito parecer uma coleira ou algo do tipo, mas meus pais disseram que não tinha nada a ver, que a letra poderia significar qualquer coisa, tanto pros outros quanto pro próprio Yeonjun, então eu acabei optando pelo S mesmo.

— Feliz Natal adiantado. —sacudo as mãos como se estivesse festejando alguma coisa e ele ri.

— É lindo, Binnie. — ele pega o colar com toda a delicadeza do mundo e fica o admirando de perto. — Pode me ajudar a colocar.

Me embanano todo até conseguir abrir o fecho, até eu estava tremendo por causa do nervosismo, mas no final eu consegui colocar e eu juro que ficou a coisa mais linda do mundo no pescocinho dele.

— Agora todo mundo vai saber que eu sou seu. — ele diz com um sorriso enorme, parece cheio de orgulho.

— Pois digo o mesmo. — abaixo um pouco a gola da blusa para que ele possa ver que eu tenho um colar igual, mas com a letra Y. Eu não ia me sentir bem se só ele usasse uma "coleira".

Ele pula em mim, me assustando e fazendo com que a gente acabe deitando sobre as pétalas falsas de rosas, e então me beija com todo a paixão que ele deve ter acumulado nos dias em que ficamos afastados, e é óbvio que eu retribuo na mesma medida.

Talvez seja apenas porque é início de namoro, mas eu sempre tenho essa vontade de estar perto dele, de ser presente na vida dele a cada minuto que eu posso, eu realmente sinto falta quando ele está longe, como se ele fizesse parte dos meus dias desde sempre. Sei lá, a gente se encaixa muito bem, tipo duas peças de quebra-cabeças que estiveram perdidas embaixo do sofá por muito tempo e finalmente se encontraram.

Vocês acreditam em almas gêmeas?

Eu nunca parei pra pensar muito nisso, mas acho que nunca acreditei muito nesse conceito e pessoas que nasceram predestinadas a pertecerem umas as outras, mas acho que esse meu pensamento mudou um pouco desde que eu conheci Yeonjun. Ele é a minha alma gêmea, meu fio vermelho.

E se não foi o Akai Ito que nos juntou, então deve ter sido alguma outra força maior, tipo, sei lá, magia.

Depois de muitos beijos trocados e carinhos românticos repletos de saudades, nos deitamos adequadamente na cama, abraçados e aquecidos sob o edredom e um mar de pétalas de plástico — eu juro que limpo tudo depois —, Yeonjun abraçado ao meu tronco, com a cabeça deitada sobre o meu peito.

— Eu trouxe um presente pra você, amanhã eu te entrego. — sua voz é tão baixa, cheia de sono.

— Depois você pensa nisso, Jjunie, agora vai dormir. — começo a fazer carinho em seus cabelos e ele se aconchega mais em mim.

Não demora muito para que eu comece a ouvi-lo ressonar baixinho e sorrio alegremente, me sentindo o homem mais feliz do mundo.

E pensar em tudo o que me aconteceu nos últimos meses, as coisas que eu aprendi e as pessoas que conheci, me sinto grato por ter tido essa oportunidade de amadurecer e ter essas pessoas ao meu lado durante a caminhada.

Não sou o mesmo Soobin de antes e agora percebo que isso está bem nítido. Eu queria agradecer aos meus pais, minha avó e meu tio, ao Beomgyu e o Kai, minha prima, Taehyun e Yeonjun, porque todos eles foram peças chave para que eu evoluísse e finalmente sentisse vontade de prosseguir.

Finalmente me encontrei e estou pronto pra trilhar meu caminho para a vida adulta. Com medo, porém ansioso para essa nova fase.

Antes de cair em meu próprio mundo dos sonhos eu olho pra Yeonjun dormindo feito um anjinho e sorrio feito o bobo apaixonado que eu sou. Penso nos momentos que tivemos juntos e como tudo foi tão especial para mim, penso em como ele conseguiu conquistar meu coração tão facilmente, acho no momento em que nossos olhos se encontraram — no caso quando eu o vi no salão do Eden, e não na hidro — já estávamos destinados a estar onde estamos hoje.

Acho que não tenho mais como esconder isso, já está nítido para qualquer um que eu realmente o amo, mas eu ainda não vou conseguir dizer isso verbalmente, então vou demonstrar em cada uma das minhas ações. Não vou ficar me torturando com isso.

Eu ainda vou ter muito tempo para dizer em todas as letras e olhando nos olhos dele: Yeonjun, eu te amo.

🍑

Música do Título:

Ciclo Sem Fim - Rei Leão

(eu não reli, deve ter muito erro kk)
Ai gente, desculpa a demora! Foi minha culpa, enrolei até o último momento kk mas o importante é que saiu hoje e... foi o "último" capítulo.

Sei que não foi exatamente o melhor capítulo, mas foi do jeitinho que eu queria, consegui colocar tudo o que eu queria.

Sobre o segundo sonho do Soobin:

Vocês perceberam que, aparentemente, o Soobin já decidiu o que quer fazer, não é? Algum palpite do que é? 👀 Não coloquei de propósito mesmo pra deixar todo mundo curioso kk sou má, mas vou revelar no próximo capítulo, juro!

HTNB está chegando ao fim real agora :( e eu já estou sentindo saudade

1

Vocês viram que eu troquei o user aqui? Gostaram?
Eu troquei no Twitter também!

Meu Twitter
beombril

Vejo vocês na próxima semana!
Será nossa última com essa fic.

Até a próxima

bye bye

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