Passei o domingo com Hannah e o resto da semana me perguntando se Luke ia me mandar um oi ou me marcar em um meme.
Ele até foi no estúdio duas vezes, mas uma eu tava no almoço e a outra a gente se viu de longe e ele me deu um sorriso.
Não contei sobre ele à ninguém. Cheguei a pensar que aquele sábado tinha sido coisa da minha cabeça. Tudo alucinação.
Assisti um Programa de TV onde a banda foi tocar e Luke se derreteu ao falar de Sierra. Fiquei feliz por eles. Apesar dos problemas, parecia real e estável.
Me diverti rindo das piadas do outro convidado na TV.
Depois da exibição do programa, Luke me mandou um meme e eu respondi, sem me prender naquilo ou esperar resposta.
Foquei em outras coisas. Não é só porque eu tenho poucos amigos que eu preciso ficar procurando por novos. O que vier tá bom, e se não vier tá bom também.
...
Na sexta à noite, Luke estava no estúdio.
Conversamos eu, ele e Collins sobre o próximo álbum. Notei que Luke não falou da música de semana passada, mas também fiquei quieta. A música era muito boa, eu esperava que ela não ficasse na pilha das canções descartadas pela gravadora. Esperava que Luke a mostrasse pra alguém.
Quando eu estava de saída do estúdio, deixando Collins que ficaria até mais tarde, Luke perguntou discretamente se poderia passar na minha casa.
Pouco mais de uma hora mais tarde, meu pai tinha preparado uma torta de brócolis para nós três.
O celular do meu pai tocou e ele foi atender na sala.
Quando voltou, avisou que tinha um plantão de urgência na redação por conta de alguns desastres naturais no oeste do país.
- Não se preocupe, minha linda, John estará lá também, eu devo cochilar um pouco na casa dele que é mais próxima antes de ir para o meu próprio plantão habitual.
Concordei com a cabeça, pensando se aquilo não afetaria a saúde dele. Muitos plantões.
Pelo menos ele tinha John para compartilhar os problemas da redação.
Pedi para ele tomar cuidado, pois já começava a chover.
- Toma cuidado! - dei um abraço nele.
- Claro, meu amor - ele se virou pra Luke - e você, cuide da minha garota!
Luke tinha algumas mudas de roupa no carro e foi buscá-las. Eu fui tomar banho.
Enquanto assistíamos a um filme, a energia acabou. Chovia e ventava muito do lado de fora.
Eu me arrepiava a cada trovão, eu odiava tempestades. Na Austrália, qualquer garoa poderia virar uma enchente, e eu não me sentia muito bem no meio de...tanta água.
Problemas de viver na ponta do mundo, num pedaço de terra no meio do oceano.
Já era bem tarde, quando sugeri de ir me deitar. Eu não sabia se Luke pretendia dormir na minha casa, mas eu não tava preocupada com isso. A tempestade do lado de fora tinha toda a minha atenção.
- Já que estipulamos que nada disso aqui é estranho, eu vou dormir aqui, tudo bem? - ele pediu enquanto massageava o meu pé por cima da meia. Naquela altura, eu já tinha percebido que as massagens eram a forma de carinho dele. Um agradecimento.
- Claro - concordei.
Eu pulei com o trovão que se seguiu e Luke notou o medo no meu olhar.
Ele não sabia o porquê do meu medo, mas eu não ia contar meus traumas dessa forma, pouco me importava com o que ele tava achando.
Então, Luke deitou do meu lado, tomando cuidado para não encostar em mim sem a minha permissão.
Em qualquer outro momento eu teria evitado aquele movimento dele, mas o vento e a chuva faziam tanto barulho que eu só queria algo fizesse tudo isso parar.
Luke capturou meu olhar assustado.
Nos entendemos ali e ele me abraçou para me acalmar.
- Obrigada. - aconcheguei minha testa no pescoço dele, enquanto regulava a minha respiração inalando o seu perfume.
- De nada.
Ficamos em silêncio por um tempo.
Eu olhei aquela cena de fora e me perguntei mil vezes o que Luke Hemmings estava fazendo na minha casa. Na minha vida.
Por que tentar fazer uma amizade logo comigo? Eu tinha pouco pra oferecer. Não era a mais engraçada, a mais bonita, a mais magra, a mais talentosa ou algo do tipo. Eu, literalmente, não era a melhor em nada e aquilo tudo não fazia sentido.
Apesar da falta de razão da presença dele, eu agradeci ao universo por não estar sozinha naquela noite.
Então, eu entendi que eu era um passa tempo.
Uma forma mesmo de Luke sair da realidade por algum tempo. Não era a melhor das relações, mas ainda assim eu estava ok com o fato de ser uma distração, uma pausa do mundo real.
Era bom ser capaz de tirar alguém da sua realidade. Criar um mundo novo pra ela, mesmo sem esforço.
Todo precisamos de um pouco disso, certo?
- Por que você está aqui? - perguntei com a voz abafada enquanto minha respiração batia na gola da camisa dele.
Ele pensou antes de responder.
- Eu sinto que estou distante do mundo quando você está perto.
- É que eu te trato como gente, não como uma pessoa famosa - refleti.
E aquilo fazia todo sentido.
- Às vezes a gente esquece do mundo real.
Respirei fundo.
- O mundo real é um porre. Queria poder sair da realidade, viver outra vida ou ser outra pessoa de vez em quando.
Ele se afastou um pouco para me olhar nos olhos.
- Estar aqui pra mim é como ser outra pessoa - ele me fez um carinho no cabelo - Você pode tentar ser outra pessoa aqui comigo também.
Ri.
- Quem eu posso ser na minha própria casa além de mim mesma?
- Quem você quiser ser. - ele falou como se desse uma receita simples - Quem você gostaria de ser comigo?
Eu pensei sobre a pergunta dele e imaginei no fundo da minha mente qual tipo de resposta ele esperava.
Estar tendo aquela conversa com Luke também me fazia sentir desconectada do mundo, ou de quem eu achava que era.
Ele estava virando um pedacinho escondido da minha vida que ninguém sabia sobre. Eu não falaria com Hannah sobre ele, e Luke não comentaria sobre mim com Ash, não falaria das receitas do meu pai com Calum, não contaria da noite da tempestade com Michael.
Ser um segredo era... bom.
- Eu gostaria de ser sua amiga.
Luke sorriu pequeno.