Zombie World - A Evolução (Li...

By saints_bruno

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Improváveis alianças interceptam o progresso de Taylor, quando uma guerra toma diferentes lados. Daisy constr... More

Recapitulando...
Prólogo
Parte 1
Capítulo 1 - Dias de um passado esquecido
Capítulo 2 - A estranha e o monstro
Capítulo 3 - Carpe Diem
Capítulo 4 - Glaube
Capítulo 5 - O cubo
Capítulo 6 - A encruzilhada
Capítulo 7 - Isso não é um zumbi
Capítulo 8 - A incrível, fabulosa e assustadora máquina de destruir zumbis
Capítulo 9 - Inimigo?
Capítulo 10 - Feridas do passado
Capítulo 11 - A casa azul
Capítulo 12 - Filme de terror
Capítulo 13 - Sacrifício
Capítulo 15 - Espólios de uma guerra
Parte 2
Capítulo 16 - Hurt
Capítulo 17 - Santa Clara
Capítulo 18 - Ann e Alex
Capítulo 19 - A face da morte
Capítulo 20 - A garota misteriosa
Capítulo 21 - Quem é você?
Capítulo 22 - Cicatrizes
Capítulo 23 - Detroit
Capítulo 24 - Kirby Reed
Capítulo 25 - Os estranhos
Capítulo 26 - O bicho-papão
Capítulo 27 - O lobo
Capítulo 28 - O que é justiça?
Capítulo 29 - Darwin
Capítulo 30 - Esperança
Parte 3
Capítulo 31 - O esquadrão suicida
Capítulo 32 - Autoconsciência
Capítulo 33 - Porcos
Capítulo 34 - Show de horrores
Capítulo 35 - 149
Capítulo 36 - Entre nós
Capítulo 37 - Laços profundos
Capítulo 38 - O agente do caos
Capítulo 39 - A batalha de Daly City
Capítulo 40 - Sem volta para casa
Epílogo I
Epílogo II
Epílogo III
O que vem agora? Terceiro livro, spin off e remake...
Em breve

Capítulo 14 - A rainha dos corvos

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By saints_bruno

Bobby estava isolado naquela apertada sala de reuniões improvisada no antigo caixa de bilhetes da estação de metrô. Sobre a única mesa redonda colocada ali, havia uma pilha alta de papéis que Bobby ficou observando por todo aquele tempo por curiosidade. Todos papéis estavam preenchidos a mão, alguns tinham uma letra familiar, mas que Bobby não reconhecia. Em uma das folhas mais visíveis, havia algo escrito que chamou a atenção de Bobby.

HERDEIROS DA GNOS

O que poderia ser aquilo? Bobby estava bastante intrigado e queria puxar a folha para ver os possíveis nomes da lista, mas alguém bateu na porta e ele precisou se disfarçar, endireitando-se na cadeira que estava sentado. Um homem mais velho e corpulento, de cabelos grisalhos e barba comprida, empurrou a porta e parou na entrada da pequena sala.

- Ela está pronta para te receber - disse o homem em um tom de voz rouco e com o semblante sério. - Me acompanhe, por favor, garoto.

Bobby olhou por uma última vez para aquela pilha de papéis, ainda curioso pelo o que escondia naquela lista, e levantou-se para acompanhar o antipático homem. De volta ao saguão principal da estação, Bobby imaginava que já teria amanhecido, visto que o lugar estava mais lotado do que quando chegou há algumas horas. Sentia-se em uma fortaleza de Mad Max, as pessoas não sorriam, trabalhavam como robôs programados, era como o sistema de um formigueiro. Ainda assim, Bobby ficou surpreso de quão grande era o grupo dos Corvos, mesmo que ali no saguão não estivesse reunido nem um terço da colônia. Esse fator só comprovava a força deles diante as demais colônias e Bobby se preocupava com o futuro de Daly City. Os Corvos tinham dez integrantes para cada um de Daly City.

Um metrô estava estacionado no saguão e Bobby teve que passar por ele para atravessar para o outro lado. Eles adaptaram um refeitório nos vagões, além de mercados e estandes de munições. Do outro lado do metrô, Bobby encontrou muitos mecânicos trabalhando em um novo protótipo de veículo, um veloster equipado com uma larga placa de aço e uma torreta, além de grades sobre o vidro e pneus de off road. Bobby já teria visto o projeto daquele veículo em algum lugar e não era na colônia dos Corvos.

Após subir as escadas laterais, Bobby seguiu o homem por um corredor estreito e mal iluminado até uma porta de metal vermelha nos fundos. O homem abriu a porta e indicou com a cabeça para que Bobby passasse por ela, deveria seguir adiante dali. Sem manifestar algo ao homem, Bobby adentrou a sala, ouvindo o estalo da porta se batendo atrás dele. Encontrou-se em um quarto improvisado maior que qualquer outro espaço naquela estação - tinha uma cama de casal aos fundos separada por uma cortina, um sofá colchoado ao canto com uma mesa de centro cheia de papéis e embalagens de salgadinhos e latas de refrigerantes vazias, um armário alto que cobria uma parede toda e uma porta aos fundos que deveria ser de um banheiro. Ainda que parecesse um clássico quarto de hotel barato, era explícito que ali dormia uma líder de colônia, mesmo que o quarto de Ador fosse bem maior e mais organizado que aquele.

Acomodou-se no sofá e empurrou todo aquele entulho que se acumulava sobre os papéis. Bobby não conseguia mais identificar a mulher que vivia naquele quarto com a que conhecia há dezesseis anos, era muito diferente da organizada e asseada professora de ciências naturais na Universidade de San Francisco. Ouviu uma descarga no banheiro ao lado e ajeitou-se no sofá antes que a porta fosse aberta. Do banheiro, saiu uma mulher mais baixa que Bobby, enrolada em uma toalha, que aparentava ter uns quarenta anos, cabelos loiros molhados e um nariz fino e comprido com um discreto curativo sobre ele. Usava uma outra toalha para enxugar seus cabelos e, diferente de seu muquifo, tinha um cheiro doce de ervas. Ela era Louise Miller, mãe de Bobby e também agora, líder da colônia dos Corvos.

- Este quarto não te representa - Bobby quebrou o silêncio em um tom sério.

- Ah, você já chegou - disse a mulher cinicamente. - Bom dia, meu filho. Como está?

- Ignorando o fato de que trai os meus amigos, eu estou bem - Bobby revirou os olhos.

- Amigos? Achei que tivesse me dito que apenas Nick se salvou de San Francisco.

- E quanto a Kitty, Zoe, senhor Polkins? Com certeza não foram os três melhores meses da minha vida, mas conheci muitas pessoas boas por lá. Mesmo que não me sinta parte daquele lugar, Daly City ainda é minha família.

- Eu sou a sua família e não se sente parte daquela colônia porque aqui é seu lar, liderando ao meu lado.

- Liderando Corvos? É isso que espera de mim. Não me obrigue a te odiar mais.

Louise parou de enxugar seu cabelo e franziu o nariz, sem olhar diretamente para Bobby. Jogou a toalha sobre a cama e forçou um sorriso ao se dirigir para seu filho.

- Ainda ousa a dizer que me odeia. Qual é o seu problema, Bobby?

- Qual é o meu problema? - Bobby levantou do sofá irritado. - Qual é o seu problema? Você fodeu com a minha cabeça. Desapareceu durante o surto, apareceu dois meses depois me sequestrando em uma farmácia e se apresenta como L, a temível e poderosa rainha dos Corvos. Daí me obrigou a roubar um chip com informações da GNOS que a Lue escondia em troca da proteção de Daly City. Você não é mais a mulher que eu conhecia, meu pai teria vergonha do que se tornou.

- Seu pai deveria ter vergonha é do covarde que ele foi. Talvez eu não teria o abandonado naquela noite se ele me contasse o que estava acontecendo. Morte foi apenas um ato de compaixão com aquele idiota.

- Olhe para você! Virou um poço de rancor - Bobby a fitou dos pés a cabeça com desprezo.

- Quer me julgar, continue. Faça o que quiser, não vou te impedir. Talvez eu realmente esteja errada de ter o deixado tanto tempo com aqueles inúteis da colônia. Quem sabe com alguns dias aqui, aprenda com os Corvos a amar a verdadeira mulher que me tornei.

- Por que fala como uma fascista?

Louise balançou a cabeça em negação a Bobby, inconformada com o que ele insistia em julga-la.

- Se conhecesse a minha causa, não me chamaria disso. Eu faço o melhor pelo meu povo, formamos uma resistência contra a opressora GNOS. E quando a derrubarmos, uma nova era começará. 

- Uma rainha querendo derrubar um rei para tomar o seu trono. Cuidado, mamãe, para não derrubar a sua coroa antes de subir os degraus.

Quebrando o clima tenso entre os dois, o homem corpulento que trouxe Bobby até aquele quarto, bateu na porta e a abriu, indigesto, se cuidando para não olhar diretamente para Louise, que ainda estava vestida com a toalha.

- Com licença, L - pediu o homem. - Estamos prontos na sala.

- Obrigada, Bart - agradeceu Louise. - Já terminamos a nossa conversa aqui. Poderia acompanhar o meu filho até a sala, por favor. Terminarei de me vestir e os encontro em alguns minutos.

Antes de deixar o quarto, Bobby olhou com desaprovação nos olhos de Louise e caminhou quieto para a porta. Bart acenou para a sua rainha e fechou a porta para acompanhar o garoto. O perdido garoto parecia estar mais lúcido desta vez e pretendia tomar um lado nesta guerra para proteger Daly City, mesmo que isso lhe custasse uma solidão perpétua.

A nova sala para onde foi levado era a maior que conheceu na estação. Não se parecia nada com uma sala de reuniões e nem um escritório, era apenas uma sala. Algumas poltronas espalhadas, uma mesa encostada com um notebook e uma geladeira sem porta cheia de arquivos em pastas. Haviam ao menos umas dez pessoas na sala, nenhuma com um rosto empático. Quando Bobby entrou, todos ficaram em silêncio e o fitaram, nada discretos.

- Olá, eu sou o Bobby, filho da rainha louca de vocês. E só queria dizer uma coisa, vão para o inferno, seus montes de merda.

Era o que Bobby queria dizer ao encarar todas aquelas pessoas, entretanto, apenas se absteve de sua espontânea vontade de xingar os Corvos e manteve-se afastado em um canto da sala, aguardando impaciente a sua mãe. Algumas pessoas ainda cochichavam entre elas sem desviar os olhos dele, mas Bobby nem se importava mais com isso.

- L já está vindo - disse Bart se juntando àquele grupo de pessoas.

- Ele está com o chip? - perguntou uma mulher alta e magra de cabelos ruivos presos.

- É claro que sim - murmurou um homem alto e musculoso com o nariz torto. - Ele é o filho dela, não negaria isso a ela.

Após alguns longos minutos, os cochichos foram interrompidos com a chegada de Louise. Ela vestia calças jeans escuras, botas pretas e um longo sobretudo cinza. Seu cabelo estava amarrado em um coque, realçando os traços finos de seu rosto. Apesar de sua mãe estar muito bem vestida, o que causou estranheza em Bobby foi a forma como aquelas pessoas se colocaram quando ela chegou. Endireitaram suas posturas e olhavam para ela como se estivessem diante de uma celebridade.

- Já entregou o cubo para o Steve, Bobby? - indagou Louise séria.

- Ainda não firmamos um acordo - respondeu Bobby resistente.

- Terá a minha palavra quando terminarmos aqui. Agora... o cubo - Louise apontou para Steve, um jovem rapaz magricelo de cabelos pretos bagunçados, com óculos redondos e uma tatuagem de Blade Runner em seu antebraço esquerdo.

Ainda desconfiado, Bobby retirou o cubo contra sua vontade do bolso de sua blusa e entregou ao rapaz. Steve ergueu o cubo e o colocou próximo de uma lâmpada, olhando por todas as suas vértices. Entreolhou-se com Louise e bateu o cubo contra a parede, quebrando ele em três partes. De dentro do cubo, tirou um chip tão pequeno que podia se perder de vista. O nerd rapaz seguiu até seu notebook e colocou o chip em um adaptador redondo conectado ao computador. Todos, incluindo Bobby, mantiveram-se quietos durante todo esse tempo, observando o trabalho do rapaz. Uma janela de carregamento abriu-se na tela do notebook, seguido de uma longa decodificação. Ao atingir cem por cento, uma nova janela abriu-se com o clássico símbolo da pirataria e não manifestou alguma outra coisa que se estivessem esperando.

- É falso - apontou Steve severamente.

- O que? - indagou Bobby confuso. - Não, não pode ser. É o cubo que Lue escondia, eu já a vi manuseando ele.

- Ou ela te enganou ou você quer nos enganar.

- Mãe - Bobby dirigiu-se a Louise. - Eu tô dizendo a verdade, era o cubo que ela usava. Tenho certeza disso.

- Eu confio em você, meu filho - Louise respondeu em um tom beirando ao patético. - Ele não mentiria, garanto isso a vocês, mas Daly City se mantém a nossa frente e precisamos agir.

- Do que está falando? - Bobby interrogou irritado. - Tínhamos um acordo. Me prometeu que não atacaria Daly City.

- Sinto muito, meu filho. Mas Daly City fez a escolha deles e declaram uma guerra que não poderão vencer.

- Não pode fazer isso.

- Está feito. Em trinta e seis horas, tomaremos a fortaleza de Daly City e derrubaremos quem quer que se coloque a nossa frente. O mundo depende disso.

- Eu te impedirei. Eles são a minha família e ninguém irá machucá-los.

- Não, Bobby. Serei eu que te impedirei de que o machuquem. Eles são nossos inimigos e já dei tempo demais para eles. Se preparem para amanhã a noite - Louise deu as ordens para os demais ali presentes.

Irado e decidido a defender seus amigos, Bobby se colocou a frente dela outra vez e retirou, de um coldre preso a sua calça, a adaga que ganhou de Maggie e a apontou para sua mãe. Os Corvos se assustaram e tentaram intervir, mas Louise levantou sua mão e acenou para que parassem.

- Está vendo no que eles te tornaram - falou Louise calmamente. - O meu Bobby nunca faria isso. Agora, se acha que sou mesmo o monstro que construiu em sua cabeça, vá em frente. Me mate.

Bobby estava muito nervoso, mordia os lábios e tremia a mão em que segurava a adaga. Não cabia nele a coragem que procurava, mas não era forte o suficiente para encarar o seu monstro ainda.

- Não consegue porque ainda me ama e quer acreditar que estou certa.

- Não está - murmurou Bobby segurando as lágrimas.

- Fique tranquilo. O sangue de Daly City não está em suas mãos. Isso eu lhe garanto.

- Mãe, por favor...

- Sinto muito.

Sem chances para se defender, Bobby sentiu uma agulha fincar em seu pescoço. Sentiu-se tonto e cambaleou para perto de sua mãe, derrubando a adaga no chão. Atrás dele, viu uma silhueta feminina e jovem, mas tudo escureceu e Bobby caiu aos pés de Louise. Sentia náuseas e uma terrível dor de cabeça e, de repente, sentiu seu corpo flutuar no vácuo. Deixou-se apagar e ser levado pela escuridão.

Quando Bobby abriu os olhos, não estava mais naquela sala de reuniões. Estava deitado sobre um colchão nada confortável em um iluminado quarto com cheiro de mofo, seu corpo estava adormecido ainda e sua cabeça martelava. Esfregou seus olhos, massageou as bochechas e revirou-se no colchão.  Levantou-se e tateou seu pescoço, havia um pequeno inchaço onde lembrava ter sido injetado algo. Olhou por sua volta no quarto e não encontrou sua mochila. Seu coldre também estava vazio e Bobby sentiu-se culpado de perder um presente de Maggie tão rápido.

Bobby sentia-se um inútil, traiu seus amigos para protege-los e falhou nisso. O sangue de todos os que amava em Daly City estava em suas mãos e não poderia fazer nada para impedir isto. Correu até a porta e girou a maçaneta, mas estava trancada. Bateu na porta, chutou, esbravejou para que alguém viesse abrir para ele, mas era tudo em vão. Bobby fracassou.

Do outro lado da porta, Louise estava parada no meio do corredor observando seu filho esmurrar a porta. Não sentia piedade e nem rancor de ter sido ameaçada, mas culpada por tê-lo perdido. Por mais cruel que fosse seu ato, mantê-lo preso era a sua única chance de ainda protege-lo.

Os acontecimentos desde a última vez em que saiu de sua casa moldaram a Louise até ali. Sempre foi uma mulher militante, ativa em importantes causas, participava de uma ONG ambiental em San Francisco, foi a presidente de um conselho jovem de desenvolvimento sustentável na universidade e integrou um grupo de pesquisadores financiado pelo governo federal, este último foi o maior corresponsável pelo plot twist em sua vida. Aceitou o convite do governo quando descobriu que seu marido, Anthony Miller, um egocêntrico cientista renomado do Centro Estadual de Pesquisas da Califórnia, também participava da equipe. Entretanto, o que Louise encontrou ao ingressar na equipe não foi um trabalho comunitário de interesse do governo, mas era sobre a criação de uma nova arma biológica em guerra contra uma outra empresa de biogenética, financiada pelo grupo econômico internacional BRICS.

Esta guerra genética poderia ter ido mais longe se não existisse uma terceira organização, secular e intercontinental, a GNOS. Quando o grupo de pesquisas de Louise descobriu, era tarde demais. Um vírus contagioso e letal foi solto em escala pelo mundo, encobrindo o planeta em uma nova era obscura e apocalíptica. O governo os abandonaram em suas pesquisas, a empresa do BRICS escondeu-se após o primeiro ataque e os cientistas californianos foram obrigados a recuarem nesta guerra biológica. Para redimir de seus erros, Anthony tentou liderar uma resistência contra a GNOS, mas foi derrubado em seu primeiro fracasso. Quando Louise descobriu-se estar sozinha, já não acreditava mais ver seu filho e amigos vivos após um ataque terrorista em San Francisco por um exército financiado pela GNOS. Perdida e desolada, Louise foi abraçada por outras pessoas com vidas destruídas e seu senso de justiça foi reacendido, a colocando na liderança da maior resistência do oeste americano. Mas Louise não estava pronta para isso, perdeu-se por entre suas causas e assumiu as consequências de lutar nas sombras de um novo mundo. Tornou-se amarga, fria e inabalável. Para seu grupo de rebeldes, a coragem de Louise não moldou um monstro, mas um símbolo de resistência contra um sistema terrorista, ainda que estivessem cegos para enxergar a tênue linha que separava a moralidade da ruptura de sua índole.

Frank, o homem alto e musculoso de nariz torto, se colocou ao lado de Louise no corredor ao percebe-la ali parada e preocupada. Ele ficou quieto por um momento, observando Bobby esmurrar a porta insistentemente. O garoto poderia ter suas razões, mas Frank sabia que Louise estava certa de suas escolhas.

- Acredita mesmo que ele ficará do nosso lado após declarar guerra contra seus amigos? - questionou Frank quebrando o silêncio.

- Acredito que ele deverá escolher a família acima de tudo - respondeu Louise friamente.

- Você não escolheu sua família!

- Não, eu escolhi o meu dever. Escolhi ser a resistência, derrubar um sistema e dar um novo rumo a este mundo.

- Então mostre a ele quem você realmente é, L. O garoto só conhece a Louise ainda.

Bobby já estava cansado de esmurrar a porta, suas mãos doíam. Afastou-se quando ouvir um ranger metálico atrás da porta e se preparou para atacar quem quer que fosse entrar, mas não atacou. Era Louise quem entrou e, por mais que a odiasse, ainda era a sua mãe.

- O que está fazendo aqui? - indagou Bobby irritado. - Veio prestar solidariedade a seu filho preso em cativeiro?

- Você precisa confiar mais em mim - pediu Louise ao fechar a porta. - Eu sou a sua mãe, eu lhe garanto proteção.

- Como? Derrubando as portas das pessoas que me protegeram durante todo esse tempo que ficou brincando de rainha? Eu já te disse. Fiz a minha escolha, não abandonarei meus amigos.

- Já abandonou, Bobby. Eles não confiarão mais em você.

- Nick vai. Ele me prometeu que seríamos só nós dois quando tudo isso acabasse.

Louise sentou-se em uma cadeira torta de madeira ao canto do quarto e debruçou suas pernas, arqueando suas sobrancelhas para observar o quarto. Estava mais paciente do que o normal, mas apenas porque estava lidando com o seu filho.

- Seu pai também me fez uma promessa assim, mas que incluía você. Ele não está mais aqui.

- Nunca me disse o que aconteceu com ele.

- Se assim poderei te proteger, continuarei em silêncio. 

- Já me disse que o mataram. Essa resistência que criou não é por ele, não é?

- Não. Seu pai colheu as consequências de suas próprias escolhas. A minha resistência é para derrubar um sistema opressor, um grupo bioterrorista que se acham o Deus.

- Sua luta perde o significado quando ela deixa de ser por uma causa.

- Eu ainda luto por uma causa.

- Não, mãe. Não luta. Você quer derrubar o sistema para assumir o controle do poder. E assim, virão outros líderes querendo te derrubá-la para pegar o poder. É uma roda que continuará girando enquanto é alimentada pelo ego de pessoas perdidas.

- Eu vou quebrar essa roda. Quando assumir o poder, ninguém irá me parar, serei meu reinado e eu em prol da libertação dos injustiçados.

- Injustiçados que estão lutando para sobreviver e morrendo nas mãos dos seus servos. Quando sua luta acabar, não haverá triunfo. Seu reino será apenas um castelo de cinzas e um exército de sangue. E tudo isso estará em suas mãos.

- Por que não me dá uma única chance? Olhe para o meu povo, eles confiam em mim e luto para honrá-los - Louise dramatizou uma cena para implorar a confiança de Bobby.

- Eu ainda sou jovem, mas tive tempo suficiente para conhecer líderes como você. Seus seguidores são cegos, lutam por uma causa inflada pelo ódio, derrubam quem se coloca em seus caminhos - Bobby balançou a cabeça em negação e olhou para o chão. - Me desculpe, mãe, mas já fiz a minha escolha. Se seus inimigos são os meus amigos, então você é minha inimiga.

- Guarde sua posição para depois.

- Eu não vou lutar ao seu lado.

- Vai, eu sei que vai - Louise levantou-se da cadeira e caminhou até a porta. - Porque não é a primeira pessoa que me diz isso.

Com um sorriso de confiança, Louise permitiu que a porta fosse aberta. Bobby sentiu seu coração pulsar mais forte quando viu quem o esperava atrás da porta. Engoliu em seco, esfregou seus olhos, era um misto de emoção e surpresa.

- Ann? - murmurou Bobby com os olhos cheios de lágrimas.

Em tímidos passos, os dois foram ao encontro e se abraçaram tão forte como se não quisessem mais se soltar. Ann soltou um sorriso de alívio e lágrimas ao repousar sua cabeça nos ombros de Bobby, era desse momento que ela esperava há tanto tempo. Seus cabelos pretos estavam mais curtos, na altura dos ombros, e tinha uma pequena cicatriz acima da sobrancelha esquerda quase imperceptível. Ainda assim, ela continuava sendo aquela linda garota de quem Bobby sempre recordava.

- Nunca esqueci de você - disse Bobby segurando o rosto de Ann. - Todas as noites eu pedia as estrelas que me dessem a oportunidade de vê-la outra vez. E você tá ainda mais linda com este novo corte de cabelo.

Ann deu uma risada mais alta, afogada nas lágrimas, e abraçou Bobby outra vez. Sentia uma alegria que não conseguia guardar, precisava deixar que extravasasse naquele momento. Atrás deles, Louise sorriu com o ar de vitória sobre seu filho, concedido pela sua carta na manga.

- Acho que vocês têm muito o que conversarem - falou Louise ajeitando seu casaco e caminhando para fora do quarto.

- Por onde esteve durante todo esse tempo, Ann? Achei que ainda estivesse sobre o controle do exército.

- Alex e eu estávamos sendo transportados em um veículo diferente, mas não sei ainda como, o veículo bateu em uma árvore e conseguimos fugir - respondeu Ann. - Foi uma longa jornada então até... sua mãe me encontrar e me dar um abrigo para se proteger.

- E ela ainda a escondeu de mim para usa-la em seu favor. Desprezível! - Bobby resmungou.

- Não fale assim dela. Sua mãe é uma grande mulher e uma grande líder. Ela está a frente da maior resistência contra a GNOS. Precisa confiar nela.

- Não, Ann. Você está enganada. Ela quer apenas assumir o poder, está pouco se fodendo para as outras resistências. Ela quer destruir os meus amigos, ela vai derrubar Daly City e precisa me ajudar a para-la.

Ann cerrou os olhos em discordância com o argumento de Bobby. Aproximou-se dele e segurou em seus ombros.

- Bobby, está lutando do lado errado. Daly City não é quem pensa que é.

- Não, Ann. Eu os conheço. São boas pessoas e nossos amigos também estão lá. Nick está lá.

- Nick? - Ann indagou irritada e fechou a cara, caminhando sem direção pelo quarto inconformada, pensando no que falar para Bobby. - Em algum momento, já lhe veio em sua cabeça me perguntar onde está o Alex?

Bobby se calou por alguns instantes tentando absorver o que Ann queria que ele entendesse.

- Onde está Alex? - perguntou Bobby incerto.

- Nick não te contou? Não teve a coragem de encarar e lhe contar a verdade?

- Do que está falando, Ann?

- Nick matou o Alex, Bobby. Ele tirou de mim o que restou da minha família e me deixou abandonada, a mercê da solidão neste vasto mundo cruel.

- Não, não, não - Bobby estava consternado e encostou a cabeça na porta. - Está errada, não faz sentido. Nick nunca faria isso.

- Parece que quem está errado desta vez é você, Bobby. Nick matou o meu irmão e eu o farei pagar muito caro por isso.

- Nick ainda é nosso amigo, Ann.

- Agora ele é meu inimigo. E quando a guerra contra Daly City chegar, eu estarei lá para o matar.



Notas do autor:

E aí survivors? Como estão? Mais perdidos que o Bobby com as revelações deste capítulo?

Próximo capítulo será o último da parte um do livro, antes de voltarmos para o dia Zero e entender o que aconteceu com todos os outros personagens, além de algumas respostas para as pontas soltas destes.

Até lá, uma boa semana a todos.



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