A Pílula (versão 2.0)

By ViniciusSRocha

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Se você pudesse deixar de ser gay apenas tomando uma pílula, você o faria? A vida e o relacionamento de Cassi... More

A Pílula está de Volta - (Versão 2.0)
Prólogo
Parte 1 | Capítulo 1: Marcus
Parte 1 | Capítulo 2: Cássio
Parte 1 | Capítulo 3: Marcus
Parte 1 | Capítulo 4: Cássio
Parte 1 | Capítulo 5: Marcus
Parte 1 | Capítulo 6: Cássio
Parte 1 | Capítulo 7: Marcus
Parte 1 | Capítulo 8: Cássio
Parte 1 | Capítulo 9: Marcus
Parte 1 | Capítulo 10: Cássio
Parte 1 | Capítulo 11: Marcus
Parte 1 | Capítulo 12: Cássio
Parte 1 | Capítulo 13: Cássio
Parte 2 | Capítulo 14: Marcus
Parte 2 | Capítulo 15: Marcus
Parte 2 | Capítulo 16: Marcus
Parte 2 | Capítulo 17: Marcus
Parte 2 | Capítulo 18: Marcus
Parte 2 | Capítulo 20: Marcus
Parte 2 | Capítulo 21: Marcus
Parte 2 | Capítulo 22: Marcus
Parte 2 | Capítulo 23: Marcus
Parte 3 | Capítulo 24: Cássio
Parte 3 | Capítulo 25: Cássio
Parte 3 | Capítulo 26: Cássio
Parte 3 | Capítulo 27: Cássio
Parte 3 | Capítulo 28: Cássio
Parte 3 | Capítulo 29: Cássio
Parte 3 | Capítulo 30: Cássio
Parte 3 | Capítulo 31: Cássio
Parte 3 | Capítulo 32: Cássio (antepenúltimo)
Parte 3 | Capítulo 33: Cássio (penúltimo)
Capítulo 34: Cássio e Marcus (Último)
Agradecimentos e Curiosidades
SINOPSE próximo livro: "Os Provocadores"
Próximo livro: O Clube da Cerveja (Romance Gay e Hétero)
LEIA TAMBÉM: Depois do Final Feliz

Parte 2 | Capítulo 19: Marcus

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By ViniciusSRocha

Cheguei perdido. Meu inglês estava um pouco enferrujado, mas nada que atrapalhasse, fui de táxi para o condomínio que ficava perto de onde estudaria.

Meu apartamento era bem pequeno, mas tinha uma cama de solteiro, TV, fogão, microondas e uma geladeira. Meu pai depositaria uma quantia em dinheiro nas duas primeiras semanas que estivesse lá, mas o próprio programa em que estava inscrito me indicaria para algum emprego.

No primeiro dia não quis sair de casa, era um domingo, estava a fim de dormir e não tinha muita coragem de chegar socializando com as pessoas que faziam muito barulho pelo corredor. Imaginei quantos caras bonitos deviam ter lá, mas não consegui parar de pensar em você em meu primeiro dia. Jurei a mim mesmo que aquele seria o único dia que me permitiria fazer isso. 

No dia seguinte fui à escola onde faria o curso. Primeiro dia, apresentações e explicações sobre o programa. Fiquei a manhã inteira lá, depois conversei com um conselheiro que me ajudaria a escolher um emprego que pagava alguns dólares por hora, o suficiente para sobreviver por lá, já que meu pai continuaria pagando o aluguel.

— Para tudo! — interrompi segurando uma risada. — Você trabalhou numa cozinha de um hotel e também foi camareiro? Tenho medo de para aonde essa história vai seguir.

Enfim, trabalharia seis horas por dia, seis dias por semana, mas o esquema de 
horário e dias para trabalhar era um pouco flexível, não me senti escravizado,mas era obviamente um emprego muito ruim.

Minha rotina era a seguinte, de segunda a sexta curso na parte da manhã;de uma às sete da noite trabalhava e o resto do meu tempo era livre. Sábado trabalhava de seis da manhã ao meio dia ou de meio dia às seis da tarde. Pouco tempo desocupado para pensar em besteira e para me afastar mentalmente de você, Marcus.

Pesquisei sobre a pílula. Para tomá-la bastava chegar à clínica um dia e tomar, após isso havia um acompanhamento psicológico que durava algumas semanas.

Li depoimentos em alguns fóruns de pessoas falando que mudaram avida ao tomar a pílula e que estavam muito felizes, se casaram ou estavam namorando alguém do sexo oposto. Também tinham pessoas angustiadas que se arrependeram de fazer o tratamento, principalmente porque muitos não eram mais gays, porém ficaram assexuais. Destes alguns acabam se matando.

— Assexuados? — interrompi chocado. 

— Sim! A pílula GHX-100 não é para transformar em hétero, é para fazer deixar de ser gay — Cássio informou, comendo yakisoba.

— Não sabia disso — falei sem acreditar no absurdo que essa pílula fazia. — Sim,  propositalmente ou não, isso não é muito divulgado — Cássio explicou bufando.  

— Além disso, a propaganda é muito pesada em cima dessa pílula, vendendo um padrão de vida heteronormativo.

Havia uma guerra de opiniões na internet. Pessoas que faziam parte de um grupo chamado "freedompill" lutando pela liberação da pílula em outros estados. Também havia um grupo de gays que era muito forte chamado "WAS - WeArentSick", contra a pílula, cheio de estrelas Hollywoodianas a favor do grupo. Tinham muitos vídeos inspiradores e invejáveis de casais gays que estavam estabelecidos, vivendo juntos, adotando filhos. Outro grupo contra a pílula que  gostei muito era o "love our gay son" de mães e pais que apoiavam os filhos. Tinham muitos  outros. Eu particularmente apoiava um pouco o "freedompill", porque não tinha mudado a  minha opinião em relação às pessoas que não gostavam de ser gays e queriam ter o direito de  deixarem de ser. Além disso, o "freedompill" em momento algum tratava a homossexualidade  como uma doença. Entretanto descobri que eles foram proibidos de fazer isso e qualquer  pessoa que usasse esse argumento poderia ser acusado de homofobia.

Minha rotina na primeira semana foi louca, eu estava me adaptando ao ritmo de vida que estava levando, me acostumando a usar o inglês o tempo todo, tentando entender as pessoas que falavam muito rápido e fazendo amizades com uns Guatemaltecos e Porto Riquenhos da minha sala de aula.

Ainda não tinha saído nem me socializado e estava com muita vontade. Pesquisei sobre baladas gays e descobri uma que ficava perto e dava pra ir a pé. Foi essa que escolhi passar a noite, o nome da balada era Turning Point. Fui sozinho e seria a minha primeira vez em uma balada gay. Nunca tive vontade de ir a alguma aqui no Brasil, mas lá não tinha esse sentimento.

Quando cheguei à porta da balada fiquei de queixo caído com a quantidade de homens que estavam lá. Senti muito orgulho em ser gay naquele momento. Fiquei uns quinze minutos na fila observando os caras. Era novo na cidade e estava ansioso para conhecer pessoas e transar com muitos caras. Eu sabia do seu passado e queria também viver isso de ficar com muitos homens e ser promíscuo.

— Promíscuo é o seu cu! — interrompi jogando um pedaço de brócolis em Cássio, que deu uma risada e continuou.

Mas quando chegou a minha vez de entrar, o segurança do lado de fora não me deixou porque eu era menor de vinte e um anos. Minha expectativa murchou feito um balão. Eu estava sozinho, não conhecia ninguém e não podia entrar na balada. Teria que descobrir se dava para fazer identidades falsas como vemos nos filmes. Voltei para casa chupando o dedo naquela noite. 

Os dias se passaram, com muito trabalho e estudo. Fiz amigos, todos héteros e latinos. Saía com eles, dormia pouco e trabalhava demais. Não quis arriscar outra saída, não tinha feito identidade falsa e tinha perdido a vontade de fazê-la. Meu pai me ligava para saber como estava a fila para tomar a pílula e minha mãe chorava de saudades.

Um mês após ter me mudado para lá, teve uma festa do pessoal do meu condomínio. Eu iria com meus colegas de sala e estava a fim de ficar muito bêbado. A festa era no pátio que interligava os doze prédios do condomínio que abrigavam diversos estudantes. 

Mal cheguei e vi uma das pessoas que iria mudar minha vida para sempre. Ele era loiro, tinha os olhos castanhos, magro, pele bem clara. Me senti atraído por ele e fui tão indiscreto que ele percebeu, me olhou dando um sorriso que eu prontamente não tive coragem de responder.  Então comecei a beber, que era o melhor que tinha para fazer. O álcool faria eu me liberar e ter coragem de conversar com aquele cara.

Quando eu estava na terceira cerveja, vi novamente o rapaz. Respirei fundo e fui até ele. Me apresentei, seu nome era Klaus, ele não conseguia falar meu nome, me chamava de "Kessio". Conversamos por alguns minutos, ele estava me dando muita abertura para que eu avançasse. Quando o chamei para ir ao meu apartamento ele negou prontamente. "Não me escondo para beijar alguém, se quiser vai ter que ser aqui mesmo". Eu disse que não teria coragem e por isso ele virou as costas para mim e saiu andando. 

Eu fiquei muito sem graça e comecei a achar que não teria sorte durante minha estadia naquele país. Me juntei aos meus colegas do hotel e bebi com eles. Mais tarde, vi Klaus beijando um cara no meio de todos. Eles não estavam nem aí. Estavam dando uns beijos constrangedores de tão obscenos. Notei que algumas pessoas passavam por eles e os olhavam com animosidade.

— Corajosos — comentei impressionado. 

— Inconsequentes — Cássio respondeu.

A festa prosseguiu e continuei bebendo, algumas horas depois encontrei Klaus sozinho pegando uma cerveja. Me aproximei dele e comentei como achei legal aquela atitude de beijar em público sem se importar com os outros, porém ele me olhou com uma cara estranha e, antes que ele pudesse falar qualquer coisa, apareceu um cara idêntico a ele. Naquele momento eu fiquei confuso, porém o cara que estava pegando cerveja se apresentou, disse que se chamava Sebastian e o outro que apareceu ali se chamava Tobias e eles eram trigêmeos junto com Klaus. Os irmãos Keller. O meu céu e o meu inferno em Austin.

— Que fetiche hein? — interrompi dando uma risada sacana. — Se fosse eu daria um jeito de ir com os três para cama. 

— Tobias é hetero. Klaus e Sebastian gays — Cássio respondeu. Ele suspirou e disse — agora a história vai tomar um rumo um pouco inesperado e inacreditável, mas juro que tudo o que eu falar é verdade. Quando Cássio falou isso já fiquei com um pé atrás, pois o que quer que ele fosse contar poderia ser mentira.

Eles riram da minha reação ao saber que havia três deles. Tobias saiu para encontrar com a namorada que estava no banheiro próximo e Sebastian fi ou conversando comigo. Diferentemente de Klaus, Sebastian não tinha coragem de sair beijando outro cara em uma festa. 

Nosso assunto rendeu. Passamos boa parte da festa conversando sobre as diferenças entre os irmãos, principalmente as diferenças entre Sebastian e Klaus, que eram gays e extremamente diferentes. O papo era agradável e, assim como o irmão, Sebastian me atraiu instantaneamente. 

Quando a festa estava próxima do fim, Klaus apareceu de mãos dadas com o cara que estava beijando mais cedo e veio em nossa direção, assim que nos viu. A primeira coisa que ele disse era que o irmão dele e eu dávamos certo por sermos caretas e medrosos e que devíamos transar. O comentário gerou um certo constrangimento entre nós dois, que estávamos muito tímidos. Anthony, o cara que Klaus estava ficando, o chamou para ir embora, deixando Sebastian e eu sozinhos.

A conversa foi um pouco tímida, estávamos morrendo de vontade de ficar um com o outro, mas faltava a iniciativa de um dos dois. Quando o som foi desligado e todos começaram a ir embora, criei coragem e o chamei para minha casa.

O inevitável aconteceu e ficamos. Sexo com Sebastian era lento, carinhoso, olho no olho e de mãos dadas. Era algo bem diferente do que estava acostumado, mas era muito bom. Com ele eu era ativo na cama, foi minha primeira vez nessa posição. Ele dormiu em casa e passamos o dia seguinte juntos. Conversávamos sobre tudo, riamos sem parar e era empolgante contar minhas coisas para ele. Sebastian me ouvia, se interessava, perguntava e ria dos meus casos.

As semanas se passaram e Sebastian e eu nos encontrávamos quase todos os dias à noite. Ele e os irmãos moravam sozinhos em um apartamento no mesmo condomínio que eu. Os três estudavam em Austin e eram de uma cidade pequena há uns 200 quilômetros de lá.

Às vezes eu passava a noite na casa de Sebastian junto com irmãos e os agregados destes. Tobias namorava uma moça chamada Ashley e Klaus estava namorando Anthony. Klaus e Anthony eram loucos, estavam sempre andando de mãos dadas pela rua, se beijando em público e não se importavam com as consequências. 

Ficamos nessa rotina por uns três meses. Sempre nos reuníamos no apartamento dos trigêmeos e nós seis assistíamos realities shows, comíamos, conversávamos, jogávamos jogos de tabuleiro e enchíamos a cara com cerveja barata. Essa foi a melhor época do tempo que passei nos Estados Unidos.

— Esse é um daqueles momentos de calmaria antes da tempestade? — perguntei o interrompendo.

— Sim! É sim — Cássio respondeu com um suspiro triste. — Depois desses três meses veio muita merda em minha vida. — Você se importa de me contar enquanto lavo as louças? — perguntei me levantando.

— Claro que não — ele respondeu se levantando também.

Em uma noite de sexta, fui para o apartamento dos trigêmeos logo depois do trabalho. Eu tinha recebido uma mensagem urgente do Sebastian, pedindo que fosse para lá assim que pudesse. Fiquei muito preocupado, imaginando as piores coisas possíveis devido ao tom de urgência da mensagem. 

Quando cheguei bati à porta e ouvi um "entre" abafado. Entrei no apartamento e vi uma mesa com velas, dois pratos, uma música romântica tocando ao fundo. Não pude evitar e me lembrei do nosso aniversário de um ano, Marcus.

— Malditos flashbacks que veem de repente — comentei rindo, enquanto lavava as louças. 

— Malditos — ele confirmou, escorado na parede da cozinha enquanto me observava.

Sebastian cozinhava muito bem e o jantar estava divino. Comemos, rimos e conversamos. Quando terminamos, ele me pediu em namoro e por um impulso aceitei. Eu não amava Sebastian, mas aprendi a gostar muito dele durante os três meses que estávamos juntos. Namorá-lo poderia ser um meio de te esquecer, Marcus, porque ainda era terrivelmente apaixonado por você. 

Eu não sabia aonde os irmãos dele tinham ido, mas deu para saber que teríamos o apartamento só para nós dois. Por isso, quando alguém entrou no apartamento fazendo muito barulho, Sebastian ficou muito irritado. Tobias entrou no quarto do irmão, sem bater à porta, nos encontrando deitados na cama apenas de cueca. Antes que Sebastian brigasse com o irmão por este ter descumprido o combinado de deixar o apartamento só para nós dois, vimos que Tobias chorava desesperado.

Alguma merda muito feia tinha acontecido e o que ele disse a nós dois naquele momento mudou nossa vida para sempre. Com uma expressão de dor, com o rosto lavado por lágrimas falou: "Klaus estava andando de mãos dadas com Anthony na rua, uns caras apareceram e o mataram a pauladas"

— Como assim? O cara morreu do nada! — perguntei chocado. 

— O Klaus era louco, tava na cara que isso poderia acontecer — Cássio falou tentando segurar o choro em vão. — Foi um crime homofóbico, alguém devia estar de olho nele e em Anthony por algum tempo e aproveitou o momento certo.

— Mas e aí? O que aconteceu depois disso? — perguntei interessado. Antes que Cássio prosseguisse, a campainha tocou.

— Quem pode ser? — ele perguntou. 

— Acho que o cara que eu tô ficando — respondi, secando as mãos no pano de prato, indo em direção a porta. Olhei pelo olho mágico e era Raphael mesmo. Abri a porta. 

— Oi, a fim de tomar um sorvete antes de dormir? — Raphael disse todo simpático segurando uma sacola com um pote de sorvete.

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