Parte 2 | Capítulo 17: Marcus

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— Cássio! — falei nervoso. Tentei lhe dar um abraço, ele deu a mão para eu apertá-la, parei o abraço no meio e ergui a mão para apertar a dele, na mesma hora que ele tirou a mão e tentou me abraçar, tirei a mão e fui abraçá-lo. Resultado, o abraço mais desengonçado da história. 

— Você está tomando anabolizante? — ele perguntou depois do abraço. 

— Vamos entrar primeiro. — Ele entrou. Fechei a porta e notei que minhas mãos tremiam horrorosamente. — Não. Eu virei um viciado em academia que malha de segunda a segunda, que toma suplemento, que não bebe álcool e vive de dieta. 

— E essa comida chinesa aqui faz parte da sua dieta? — Cássio perguntou apontando para o prato que deixei em cima da cama. 

— Não, na verdade eu relaxei hoje — eu disse coçando a nuca, nervoso. 

— Entendi — ele disse me olhando de cima a baixo. 

— E você, Cássio, como está? — perguntei notando sua cara abatida por trás da barba gigantesca. 

— Não sou mais gay — soltou de uma vez. 

— Como assim? — perguntei assustado me sentando em minha cama. 

— Tomei aquela pílula GHX-100 e hoje não sinto mais atração por homens — ele disse friamente. 

— E deu certo? — Eu temia pela resposta. 

— Sim. Não sou mais gay — confirmou secamente. 

Me senti ofendido, tive flashbacks daquela briga que tivemos sobre o assunto. 

— E você veio aqui em casa só para me falar isso? — Minha raiva estava crescendo. Não faria questão de segurá-la. 

— Parcialmente sim — ele disse um pouco assustado com minha reação. 

— Porque você acabou de afirmar que sou um doente — eu disse franzindo a testa. 

— Não foi isso que eu quis dizer — ele disse rapidamente.

— Indiretamente sim — repliquei com raiva. — Eu tinha até esquecido dessa desgraça de pílula. Agora você aparece para mim e fala que deixou de ser gay, para quê? Para me fazer fi car puto com você? Você deve se lembrar muito bem da briga que tivemos quando vimos essa notícia. 

— Sim, eu sei que você não iria gostar, mas... 

— Mas eu não quero saber! — o interrompi. — Você não tem ideia do que eu passei depois que terminamos, do fato de você me trair com outras mulheres, mentir para mim, me fazer de idiota. Não quero saber mais de você! 

— Você acha que depois que terminamos eu não sofri? — Ele parecia abalado

— Não quero saber do seu sofrimento. Você foi imensamente covarde! Eu quero que você suma da minha casa e não volte mais para minha vida nunca mais! 

Fui em direção a porta.

— Calma. Eu tenho que te explicar... 

— Qual a parte do suma da minha vida cê não entendeu? — Abri a porta para que ele saísse imediatamente. 

Não aguentaria isso. Eu não tinha emocional para descobrir que alguém "se curou" da homossexualidade. Ele veio me insultar. 

— Vamos, saia! — eu disse comedidamente. Cássio sentou-se na cama e começou a chorar. Não foi um choro baixo, foi um berro, um choro pesado e cheio de dor, como se uma perna tivesse sido arrancada. 

A Pílula (versão 2.0)Where stories live. Discover now