Parte 1 | Capítulo 8: Cássio

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Comecei a tremer novamente, seria expulso de casa dessa vez. 

— Estava te aguardando aqui para ter uma conversa com você, filho —minha mãe disse em um tom de voz inflexível.

Imaginei as piores coisas possíveis me aguardando, ao menos meu pai não estava ali, mas ele poderia aparecer a qualquer momento, devido ao grito quedei. 

— Marcus, vá embora antes que meu pai chegue! — eu pedi tremendo.— Não vou não, Cassim — ele falou colocando a mão em meu ombro. —Vou ficar ao seu lado desta vez, não vou fugir. 

— Acho melhor você ir embora, Marcus — falou minha mãe. — Se o Hélio tiver acordado com o grito e vier saber o que aconteceu, eu não quero nem imaginar o que pode acontecer com vocês dois. — Seu tom de voz era frio, não conseguia saber o que ela estava sentindo. 

— Tudo bem então, dona Irene — Marcus disse, depois se virou para mim.— Vou aguardar e estou sempre ao seu lado, lembre-se disso — disse sorrindo,como se estivesse me desejando força e saiu pela porta dos fundos.

Minha mãe estava sentada, imóvel, o cigarro queimando entre seus dedos. 

— Sente-se aí — disse apontando uma cadeira próxima a ela. Sentei-me,nervoso, me preparando para o pior. — Você acha que trazer seu namorado para casa e ficar trancado com ele o dia inteiro no quarto, seria algo que passaria despercebido por mim?

Milhões de desculpas vieram à minha cabeça.

— Mãe eu posso explicar... — comecei em tom de súplica

— Não preciso de explicações — me interrompeu e deu um sorriso. — Não sou contra o relacionamento de vocês!

Nesse momento um imenso alívio inundou meu peito. 

— Você está falando sério? — perguntei com os olhos marejados.

— Claro que estou — respondeu com um sorriso tranquilizador —, na verdade fiquei muito triste com a maneira que descobri isso, o ataque do seu pai só agravou tudo e me magoou. Nos primeiros meses foi muito difícil aceitar que meu único filho é gay, mas você é meu filho, e eu te amo tanto. Fiquei preocupada com a sociedade, com o que minhas amigas, minhas irmãs, os irmãos do seu pai e nossos vizinhos falariam, mas vi que isso não importava, o que importa é sua felicidade. E por fim, descobri que o que mais me magoou nem foi o fato de você ser gay.

— Não foi? — perguntei surpreso. — E mãe, eu não sou gay, sou bi. 

— Gay ou bi não importa. — Fez um movimento com a mão como se estivesse afastando algo. — O que importa que após vê-los na cozinha aquele dia, eu voltei minhas lembranças e vi que fui uma mãe omissa ao não perceber isso.Você nutria visivelmente um carinho diferenciado por um amigo mais velho que surgiu do nada. Você não trazia muitas garotas aqui para casa, mesmo já estando na idade de fazer isso. Era óbvio que tinha algo e não percebi. E foi isso que me incomodou. Eu não perceber que meu próprio filho amava tanto um rapaz que o trazia escondido aqui para casa, desafiando o pai e correndo o risco de ser expulso. — Deu uma longa tragada no cigarro que mal foi fumado. — Também confesso que me incomodei por ter descoberto que você estava com o Marcus da maneira que descobrimos. Vi algo que não desejava ver em momento algum e preferiria que você tivesse se aberto comigo e me dissesse que é gay.

— Bi. — Corrigi mais uma vez. 

— Mas eu te amo muito, independente de qualquer coisa, filho — ela disse olhando no fundo dos meus olhos. — Mais do que eu possa demonstrar e do que talvez você imagine. Acredito que sempre houve uma barreira entre nós,mas é algo que eu não quero mais manter. Você está com quase dezenove anos e não sei quase nada de sua vida. Quero ser mais participativa e não serei mais omissa com a maneira que Hélio está agindo.

A Pílula (versão 2.0)Where stories live. Discover now