Parte 3 | Capítulo 24: Cássio

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Os dias que se passaram após a conversa com Marcus foram os piores da minha vida. O choque de realidade que sofri ao descobrir que nem por ele sentia mais desejo sexual somado ao fato de ainda ter sentimentos por ele, me pegou muito forte. Passei dias na cama, sem tomar banho, chorando, sofrendo, achando minha vida uma bosta e sentindo pena de mim mesmo. A única coisa que fiz foi desmarcar minha terapia, falando que não estava na cidade pelas próximas semanas. O resto dos dias passava assistindo TV, dormindo, comendo pizza e pensando em como estava fadado à tristeza.

Só saí desse círculo horrível de autocomiseração em uma tarde em que estava deitado em minha cama, ouvindo The Smiths quando o interfone tocou.

Inicialmente pensei que poderia ser o Marcus que descobrira meu endereço para me visitar e fazer companhia. Diferentemente do que ele tinha dito, descobrir que eu não sentia tesão nem por ele, não me fez superá-lo, mas ainda era muito cedo para ter essa conclusão como definitiva.

Atendi o interfone e o porteiro disse que era Chiara, fiquei surpreso e satisfeito. Meu apartamento estava uma bagunça, eu estava fechado nele há mais de três semanas, caixas de pizza se amontoavam na cozinha, toda a louça estava na pia e somente lavava o que iria usar, deixando sujo novamente.

Tive dois minutos para jogar toda a roupa suja largada no chão dentro do guarda-roupa e a campainha tocou.

— Oi – Eu disse ao abrir a porta. — Que saudades!

Nos abraçamos. Percebi um certo estranhamento dela ao me ver.

— Você tá um lixo! – Chiara disse me olhando de cima a baixo – Olha, você está precisando de um banho! Vá lá, depois podemos conversar!

— Tudo bem. – Concordei, fazendo sinal para que ela entrasse em casa. — Desculpa pela bagunça, não sabia que você viria.

— Se eu avisasse aposto que você inventaria alguma desculpa – Ela disse dando uma olhada no ambiente, com cara de nojo. — Tenho te ligado, seu telefone dá apenas na caixa postal. Sua mãe está preocupadíssima. Fiquei sabendo o que aconteceu, sei que o resultado não foi o que você esperava. E não vem chorar na minha frente! – Ela disse percebendo meus olhos marejando no momento que ela citou a mudança de sexualidade.

Obedientemente fui tomar banho. Chorei em baixo do chuveiro, talvez por alívio de ter alguém ali comigo. Devia ser o primeiro banho que tomei nos últimos cinco dias. Fui notar que estava ainda mais magro.

Só saí do banho quando ouvi um grito de Chiara vindo do lado de fora do banheiro, coloquei a toalha e corri até a sala.

— Está cheio de barata nesse lixo aqui, seu porco! – Brigou comigo enquanto segurava um saco de lixo grande nas mãos.

— Chiara, pega leve comigo – Pedi com a voz trêmula. — Você não sabe o que estou passando. – Suspirei — E pode deixar que eu mato a barata. Viu para onde ela foi?

— Ela saiu correndo, não vi onde se escondeu. – Chiara falou olhando preocupada para o chão.

Observei a sala e vi que os copos que estavam largados na mesa, no rack e na mesinha de centro não estavam mais lá e as caixas de pizza e restos de comida estavam sendo colocados dentro do saco de lixo.

— Sua casa tá imunda, Cássio – Ela disse olhando bem para mim. – E você emagreceu, hein!

— Não estou com saco para nada! – Falei evitando seus olhos.

— Mas tem que estar! – Chiara avisou enérgica. — Porque passarei uns dias com você aqui em São Paulo, então trate de me ajudar a arrumar este apartamento, porque eu não sou obrigada a ficar neste lixo.

A Pílula (versão 2.0)Where stories live. Discover now