Parte 1 | Capítulo 9: Marcus

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Puto! Puto, puto, puto, puto, puto! Estava muito puto com Cássio. Por que desmarcar assim do nada? Dei meia volta no carro e fui em direção à casa do Marcel. Iria sozinho para um jantar só para casais. Não acreditava que isso estava acontecendo. Por que ele esperou eu confirmar com meu amigo para depois mudar os planos? Se não quer ia ir, era só falar que não iríamos.

Eu não cometeria a falta de educação que o Cássio cometeu, se tinha combinado com Marcel e Sérgio que jantaria na casa deles, não daria para trás. 

Eu não ouvia falar naquele Carlos já tinha uns seis meses e do nada ele aparece. Aposto que Cássio o procurou só para não precisar ir à casa de Marcel. Meu namorado não era capaz de fazer um esforço sequer, para tentar ficar de boa com meu melhor amigo. 

Quando cheguei ao prédio do Marcel, estacionei o carro, mas permaneci sentado no banco por alguns minutos. Precisava me recompor, não estava nada bem e não queria demonstrar isso para os outros. Só de imaginar a cara do Marcel quando eu falasse que levei um bolo do Cássio, o desânimo de subir as escadas daquele prédio aumentava.

No momento que tive certeza que conseguiria manter uma máscara de felicidade durante todo o jantar, subi. Quando entrei no apartamento, vi outros dois casais além de Marcel e Sérgio.Menti falando que Cássio teve um problema urgente com a mãe e que não pôde vir de última hora.

Durante o jantar, senti-me extremamente solitário quando sentei à mesa sem meu namorado. A conversa estava animada. E eu estava apenas observando e me sentindo um peixe fora d'água. Ver os três casais juntos daquele jeito era o mesmo que levar vários tapas na cara de uma só vez, como se fosse uma mostra do que eu nunca teria com Cássio. 

Depois do jantar, eles começaram a assistir a um show da Madona na televisão e eu decidi ir embora. Marcel foi comigo até meu carro e viu que eu não estava bem, resolvi não contar que o Cássio desmarcou em cima da hora porque um amiguinho apareceu do nada, por não estar a fim de ouvir aquele mesmo discurso anti-Cássio de sempre.

— Estou extremamente cansado. — Forcei um sorriso. — Muita porrada no trabalho, apenas.

Ele engoliu a mentira.  

Fui para casa decepcionado por Cássio não ter me ligado em momento algum, por ter me largado daquela forma e por não se importar nem um pouco comigo. Às vezes sinto que cobro mais do que ele pode me dar, que estamos em níveis diferentes e que por isso me chateio sempre. Mas não posso evitar,queria que meu namorado fosse muito mais maduro do que é. Eu sei que isso não é, de forma alguma, o certo, eu deveria amá-lo como ele realmente é, mas os defeitos dele são pesados demais às vezes. 

Em momento algum pensei em terminar o namoro. O fantasma dos dias que ficamos separados me assombrava de maneira assustadora. E isso é ter um relacionamento, eu acho, os problemas aparecem e temos que enfrentá-los sem fugir deles. Perdão é uma das maiores formas de amor. Eu o amava demais e estava disposto a perdoá-lo, mas apenas se ele me procurasse. Não ia ligar.  

Quando fiquei sozinho em meu quarto antes de dormir, os fantasmas do passado voltaram para me assombrar. 

****

Era uma manhã de sábado, exatamente no dia que Cássio e eu comemoraríamos cinco meses de namoro. Era um dia muito especial para ambos, nunca imaginei que estaria com alguém por cinco meses. O velho Marcus pegador, que não se comprometia estava apaixonado por um cara de quase dezoito anos, muito feliz, e planejando um futuro com o namorado. 

Eu nunca tinha sido romântico antes, mas naquele dia senti que devia ser.Queria fazer algo especial para ele. Cinco meses. Quantos relacionamentos gays conseguem ter essa duração? 

A Pílula (versão 2.0)Where stories live. Discover now