Parte 2 | Capítulo 14: Marcus

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Quando penso em como agi depois que fiquei sabendo da traição, percebo que estava totalmente fora de mim, não pensei direito. O baque foi tão grande que eu precisava fazê-lo sentir a mesma dor a qual eu estava sentindo, ou algo muito perto disso. 

Eu estava no fundo do poço e queria puxá-lo comigo, jamais queria vê-lo novamente e precisava me vingar. Após a briga que tivemos na porta do bar, saí bufando de ódio e sem ter consciência do que estava fazendo, o efeito do álcool desapareceu do meu corpo. Voltei para Campinas rasgando a rodovia, sem nem ao menos ver onde estava.

Nunca mais queria vê-lo, ouvi-lo, senti-lo, respirar o mesmo ar que Cássio. Meu ex-namorado acabou de morrer para mim, a partir daquele instante, não aguentaria ser traído de novo. Já em casa, a raiva deu lugar à dor e chorei. Enquanto lágrimas desciam pelo meu rosto, jurei que aquele seria o único momento que choraria por ele, eu poderia sofrer, mas não derramaria mais lágrimas. 

Senti que não fazia mais sentido viver sozinho em uma casa daquele tamanho. Ali seria o lugar ideal para viver junto com Cássio, mas agora sem ele, aquele lugar era angustiantemente muito grande só para mim. Foi como se toda a motivação que tinha para ficar naquela casa tivesse acabado. Decidi me mudar para São Paulo o mais rápido possível.

No dia seguinte vivenciei uma mistura de emoções muito variadas, senti ódio, tristeza, angústia, alívio. Estes sentimentos iam a vinham. Não quis ficar em casa remoendo minhas dores, então fui atrás de companhia.

— Marcus! 

Disse Sérgio surpreso ao abrir a porta de seu apartamento. 

— Oi. — Cumprimentei com um beijo no rosto. — Seu marido onde está? 

— Aqui. Como está amigo? — disse Marcel se aproximando. 

— Tranquilo. 

— E o namorado?— Perguntou olhando atrás de mim para ver se Cássio estava ali. 

— Terminei.

E contei toda a história para os dois. 

— Que barraco. Espero que alguém tenha filmado e colocado na internet. — Brincou Marcel. — Mas como você está?

— Não estou pulando de alegria, mas estou muito melhor do que da última vez. — Fui sincero. 

— E agora? — Sérgio perguntou. 

— Vamos ao shopping comer, cinema, distrair que tal? — pedi olhando com expectativa para os dois. 

— Vamos sim, quer ir Sérgio? — Marcel perguntou ao marido. 

Fomos os três para o shopping, conversamos amenidades, assistimos a um filme no cinema e comemos em um restaurante. Eu estava me sentindo realmente bem, a companhia dos dois me distraiu. 

Quando acordei segunda de manhã para trabalhar, senti que passaria por momentos complicados e de difícil concentração no trabalho. Só de imaginar as horas que passaria em frente a uma planilha, conversando com fornecedor chato, vi que o trabalho seria uma tortura enquanto não estivesse resolvida minha situação. 

Na empresa foram necessários muitos cafés e muita força de vontade para não sucumbir a um sentimento negativo, me esforcei muito para não demonstrar minha tristeza. Bethânia agia comigo normalmente, como se eu estivesse bem, então presumi que estava conseguindo disfarçar bem meus sentimentos. 

Quase no fi m do expediente notei que um funcionário do RH entrou na sala da minha gerente. Logo depois ela ligou em meu ramal me chamando para conversar. Meu coração disparou e fiquei muito ansioso. Eu não podia ser demitido dois dias depois de terminar um namoro. Caminhei para a sala de minha gerente tentando não demonstrar meu nervosismo. Tinha certeza que se me mandassem embora choraria na frente de todos. 

— Me chamou? — disse com um sorriso nervoso ao entrar na pequena sala de minha chefe. Ela e o funcionário do RH estavam sentados em uma pequena mesa de quatro lugares. Sentei-me de frente aos dois. — Fiz algo errado? 

— Não! Pelo contrário — disse Gisele, minha chefe. — Você foi muito bem avaliado. A empresa está crescendo muito e surgiu uma vaga para supervisor. Eu não tenho dúvidas que no atual momento, você é uma das melhores pessoas em nosso departamento para assumir esta vaga. 

— O que? — Fiquei surpreso. 

— Acontece que o Departamento de Compras vai contratar mais três assistentes e precisamos de alguém que os supervisione. — Continuou minha chefe. — Você é essa pessoa. A não ser que não se sinta preparado. Vai ser um desafio e tanto, mas vejo muito potencial em você. Claro que haverá mais trabalho, mais cobrança e mais responsabilidade, porém seu salário vai aumentar e você vai ganhar experiência.

— Você tem até sexta para decidir — informou o funcionário do RH. 

— Não tem como eu deixar passar uma oportunidade dessas. — Sorri para os dois, estava feliz. 

— Não vai precisar pensar? — ele perguntou satisfeito ao ver minha reação. 

— Não! Aceito o desafio — disse sem hesitar. 

Conversamos mais uns vinte minutos, acertando novo salário, além de analisar os candidatos que estavam pleiteando uma vaga para trabalhar como meus subordinados. 

Não imaginava que ocorreria uma mudança tão grande assim em minha vida. Eu estava muito empolgado com essa novidade. Tão empolgado que Cássio foi varrido da minha mente por algumas horas. 

Quando cheguei em Campinas, liguei para meus melhores amigos, Marília, Marcel e Juliano para brindar minha nova conquista. Nunca imaginaria que em menos de quarenta e oito horas depois do término de um namoro tão intenso, já estaria em um pub, num happy hour, comemorando minha promoção. 

— Qual a boa notícia? — perguntou Juliano que chegou ao bar de terno, com a gravata frouxa no pescoço, sentando-se à mesa comigo que até então só tinha eu. 

— Terminei meu namoro — eu disse tomando um gole do chope. 

— E isso é bom? Da outra vez você estava muito mal, pelo que me lembro — constatou Juliano, olhando preocupado para mim. 

— A parte boa é que fui promovido, e o Cássio não me interessa mais. — Dei mais um gole no chope. 

Marcel e Marília chegaram pouco depois de Juliano. Nós quatro ficamos quase duas horas bebendo e comemorando minha promoção. A conversa foi boa e eu estava sentindo que em breve poderia ficar muito feliz. Eu precisava apenas deixar o tempo passar.

A Pílula (versão 2.0)Onde histórias criam vida. Descubra agora