Zombie World - A Evolução (Li...

By saints_bruno

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Improváveis alianças interceptam o progresso de Taylor, quando uma guerra toma diferentes lados. Daisy constr... More

Recapitulando...
Prólogo
Parte 1
Capítulo 1 - Dias de um passado esquecido
Capítulo 2 - A estranha e o monstro
Capítulo 3 - Carpe Diem
Capítulo 4 - Glaube
Capítulo 5 - O cubo
Capítulo 6 - A encruzilhada
Capítulo 7 - Isso não é um zumbi
Capítulo 8 - A incrível, fabulosa e assustadora máquina de destruir zumbis
Capítulo 9 - Inimigo?
Capítulo 10 - Feridas do passado
Capítulo 11 - A casa azul
Capítulo 13 - Sacrifício
Capítulo 14 - A rainha dos corvos
Capítulo 15 - Espólios de uma guerra
Parte 2
Capítulo 16 - Hurt
Capítulo 17 - Santa Clara
Capítulo 18 - Ann e Alex
Capítulo 19 - A face da morte
Capítulo 20 - A garota misteriosa
Capítulo 21 - Quem é você?
Capítulo 22 - Cicatrizes
Capítulo 23 - Detroit
Capítulo 24 - Kirby Reed
Capítulo 25 - Os estranhos
Capítulo 26 - O bicho-papão
Capítulo 27 - O lobo
Capítulo 28 - O que é justiça?
Capítulo 29 - Darwin
Capítulo 30 - Esperança
Parte 3
Capítulo 31 - O esquadrão suicida
Capítulo 32 - Autoconsciência
Capítulo 33 - Porcos
Capítulo 34 - Show de horrores
Capítulo 35 - 149
Capítulo 36 - Entre nós
Capítulo 37 - Laços profundos
Capítulo 38 - O agente do caos
Capítulo 39 - A batalha de Daly City
Capítulo 40 - Sem volta para casa
Epílogo I
Epílogo II
Epílogo III
O que vem agora? Terceiro livro, spin off e remake...
Em breve

Capítulo 12 - Filme de terror

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By saints_bruno

Passando por uma centenária sequoia, Martin avistou a entrada de um lugar bastante conhecido para ele, o retiro em Monte Toyon. Apesar de estar a noite, ainda era possível enxergar bem dentro de um limitado raio. Ao entrar na estrada que cruzava o lugar, sentiu-se nostálgico com as boas lembranças dali e não se absteve de apresentar aquele lugar tão especial para ele.

- Nunca pousei em uma dessas belas cabanas, mas me sinto parte deste lugar - disse Martin emocionado.

- Tenho certeza que há grandes memórias guardadas aqui - comentou Zoe tocando sua mão no ombro dele.

Martin tremeu os lábios e conteve as lágrimas forçadas pelas suas lembranças de seus filhos. Apoiou sua mão sobre a de Zoe em seu ombro e sorriu para ela, como forma de agradecimento.

- Se há alguma coisa que me recordo daqui é que pousei naquela cabana - Niels apontou para um cabana alta e grande, construída sobre um desfiladeiro à beira da estrada, escondida por alguns pinheiros.

- Bem... qualquer uma destas cabanas seriam bem-vindas, mas aquela é mais próxima do quanto minhas pernas aguentam caminhar - respondeu Martin tomando a frente novamente e dirigindo-se para a casa que Niels apontou.

No caminho havia uma íngreme escada de madeira em níveis até alcançar a cabana. Quanto mais alto subiam, maior era o campo de visão. Por alguns instantes, Martin parou sobre um degrau e repousou-se sobre o corrimão, contemplando a deslumbrante paisagem no vale abaixo iluminado pela lua. Uma revigorante brisa cortava por ali, balançando os cabelos de Zoe que se colocou ao lado de Martin. Zoe estaria preocupada que ele estivesse passando mal ou com dores em sua perna, mas muito pelo contrário, ela encontrou um brilho em seus olhos diferente do que já havia visto em qualquer momento desde que conheceram.

- Ainda não tive o tempo de lhe conhecer bem, Martin. Mas imagino que tenha tido uma grande vida para se emocionar e se fortalecer a continuar lutando.

- Eu não chamaria de grande vida, Zoe. Queria ter sido um grande pai, um grande marido, mas...

- Tentou ser - completou Zoe o consolando. - Não deixe seu passado em ferida. Há boas lembranças para isso.

- Só queria ter tido uma última chance de vê-los, de poder abraça-los e dizer o quanto os amava. Tudo foi tão rápido. É a consequência de deixar para amanhã o que eu poderia ter feito hoje.

- Ninguém pode se culpar pelo o que não fez antes do apocalipse. Eu também tive minhas consequências, ele também teve - Zoe apontou para Niels parado no topo da escadaria. - Sabe, e se nós sobreviventes formos os escolhidos para corrigir os erros do passado e recomeçar outra vez?

- Queria eu ter a nobreza de encontrar um sentido no apocalipse. Para mim, tudo se resume a lutar, sobreviver e morrer.

- Nada deve ser tão simples. Se refletir, verá que há complexidade nos detalhes. Olhe para essa paisagem maravilhosa. As pessoas esperaram o nascer do sol para contemplar a sua beleza, mas quando ele vai embora, cabe a lua continuar o seu trabalho e veja o resultado, é tudo tão belo. E não se resume apenas em um vale sob um luar. Os animais, a brisa, o balançar da copa das árvores... é como uma engrenagem que nunca para. Ficaria aqui horas contemplando tudo isso se não estivesse tão frio e com algumas criaturas nos caçando.

- E eu adoraria lhe fazer companhia, mas preciso concordar. Estou congelando.

- Me acompanhe subindo as escadas então - disse Zoe com um sorriso sincero e apoiando-se no braço de Martin, enquanto subiam as escadas.

- Eu não vejo a hora de repousar as minhas pernas em uma cama quente e confortável.

***

Quando o motor do carro roncou, ouviram-se tiros. Kitty e Maggie entreolharam-se e perceberam que vinha da casa azul em frente. Kitty abriu a porta, exasperada para reencontrar Nick, mesmo que ela não estivesse em condições de ajudar, mas Maggie a puxou pelo braço.

- Não - pediu Maggie. - Nenhum de nós está em condições de lutar. Desta vez, precisa confiar em Nick.

Maggie sentiu um chute atrás de seu banco e olhou para Callum que ali estava deitado ainda desacordado. Ele passava por uma convulsão e seu corpo tremulava sobre o banco, soltando uma espuma branca suja de sangue pela boca. Mesmo com sua perna ferida, Maggie se espremeu entre os bancos e saltou para trás, segurando a cabeça dele.

- Ele não vai aguentar. Está ardendo de febre.

- Vamos, Nick! Apareça - pedia Kitty batendo no volante.

Mais tiros e Kitty viu alguns zumbis passarem correndo pela rua em direção ao jardim da casa. Alguma coisa ali estava acontecendo e ela precisava ajudar. Engatou a primeira marcha e afundou o pé no acelerador, enfiando o carro com tudo na rua e atropelando o primeiro zumbi que se colocou a sua frente.

- O que está fazendo? - indagou Maggie.

- Alguma coisa. Não posso ficar parada e deixar que Nick corra perigo.

Apesar de não ter muita noção de direção, Kitty se esforçou para não perder aquele veículo. Subiu sobre a outra calçada para manobrar o veículo e puxou o freio de mão quando o carro recusou ao passar por uma cerca de madeira. Voltou para a rua, mas decidiu atravessar com o carro para o outro jardim, o da casa azul, e atropelar o máximo de zumbis que conseguisse.

Na porta da saída da casa, Nick assumia a frente do combate, protegendo as duas soldadas atrás dele. Kitty arregalou seus olhos confusa quando percebeu o uniforme delas e já queria uma grande explicação dele do por quê de ajudar inimigos.

O carro estacionou sobre o jardim, arrancando pedaços do gramado. Kitty colocou metade do seu corpo para fora do carro para fincar uma faca na cabeça de um dos zumbis que passava. Armado, Nick atirou nos outros que se aproximava, abrindo espaço pelo tempo necessário para que elas entrassem no carro. Margot foi primeiro, apoiando-se em uma perna de mesa para conseguir caminhar. Nick se atrasou um pouco para chegar ao carro, precisou carregar Becky, que mal conseguia se colocar de pé. Com Callum deitado no banco de trás, com a cabeça apoiada sobre o colo de Maggie, Margot sentou-se na frente e Nick precisou entrar com Becky no porta-malas. Arrancando com o carro no jardim, Kitty voltou para a rua e seguiu pelo caminho que acreditava a levar para fora da cidade.

- Espero que saiba o que está fazendo - gritou Kitty observando Nick pelo retrovisor.

- Eu também espero - murmurou Nick pressionando a sua mão onde atirou no abdômen de Becky.

Kitty afundou seu pé no acelerador outra vez, não queria poupar na velocidade sabendo que não havia tanto combustível naquele carro. Ao cruzar um viaduto, percebeu tiros cruzando o céu sobre o bairro que ficava para trás em seu retrovisor esquerdo. Talvez estivesse ocupada demais nos últimos minutos para que não percebesse aquele helicóptero da Força Armada que sobrevoava a cidade e desvencilhava na zona de guerra. Foi aí que Kitty entendeu o que acontecia, era um confronto entre os Corvos e o Exército.

O exército poderia ter o poder que quisesse, mas naquela noite, as glórias seriam dos Corvos. Quando um alto tiro que Kitty acreditava vir de uma sniper acertou a frente do helicóptero, uma sirene de emergência foi acionada na aeronave, que começou a perder altitude bruscamente e rodopiar, sem dar uma direção certa de onde iriar cair. Foi quando Kitty percebeu que a imagem do helicóptero em seu retrovisor crescia a cada instante, cortando a copa das árvores e cobrindo a rua por onde passava. Com um freio que não existia, Kitty teve que ser esperta o suficiente para desviar o carro daquilo que há alguns segundos era um helicóptero. A aeronave explodiu ao chocar-se contra o chão, poucos metros a frente do carro que Kitty dirigia. 

- Menos um - Kitty pensou alto dando uma cotovelada na soldada sem uma perna ao seu lado.

Não dando a menor importância para os sentimentos da mulher ao seu lado, Kitty acelerou mais o seu carro e deixou aquele cenário de guerra para trás, buscando o seu refúgio para salvar as tantas vidas em risco que estavam ao seu lado.

***

Haviam se passado algumas horas desde que chegaram ao retiro Monte Toyon. Zoe e Martin estavam muito cansados e estavam descansando em um quarto grande e quente no piso mais alto da cabana. Abaixo, na sala de estar, Niels se esquentava sentado em uma confortável poltrona perto de uma lareira. A cabana não havia sido saqueada e, assim, felizmente conseguiu preparar um chocolate quente para tomar. Não conseguiu dormir, as lembranças de Harry sendo brutalmente assassinado por aquelas criaturas martelevam em sua cabeça. Zoe até tentou incentiva-lo a descansar para o dia seguinte, mas o garoto preferiu ficar de guarda na entrada da cabana.

Como em todo o norte californiano, não havia energia elétrica no retiro. Entretanto, a casa era cheia de janelas grandes que tomavam paredes inteiras, permitindo toda a entrada de luz natural. A lua estava bastante clara naquela noite e contribuía bastante para isso. Ainda assim, Niels preferiu manter-se próximo da lareira pra se esquentar. Não encontraram roupas novas na cabana, apenas lençóis que utilizaram para se secarem.

Niels estava ainda muito traumatizado com tudo o passou naquela noite. Havia se recuperado há pouco tempo da morte de sua família, quando os perdeu na fuga de San Francisco em um acidente de carro, sobrevivendo apenas seu tio e ele. Entretanto, nada havia sido tão assustador para ele quanto ao ataque das aquelas criaturas estranhas naquele acampamento que culminou na morte de Harry, seu melhor amigo desde que chegou a colônia de Daly City. Sentia-se culpado por incentivar Harry a lhe acompanhar na caça, ainda que fosse ideia dele de explorar aquele maldito acampamento.

Para o pesadelo de Niels e seus novos amigos que repousavam no quarto acima, o momento de repouso estava para acabar. Outro grito estridente daquelas criaturas foi ecoado por todos os cômodos da luxuosa cabana. Com o susto, Niels não evitou que derrubasse sua caneca de chocolate quente, se despedaçando sobre o assoalho. Aterrorizado, saltou da poltrona e ficou em pé inerte fitando a porta da entrada. Uma sombra suspeita espreitava lá fora.

No quarto do piso acima, Zoe levantou-se com astúcia ao grito ecoado. Seus olhos estavam arregalados no escuro cômodo e encontraram os de Martin - também assustado e sentado aos pés da cama.

- Eles nos encontraram - concluiu Martin amedrontado.

Sob o teto, escutaram passos pesados correndo no telhado. Martin e Zoe acompanhavam o barulho no teto com seus olhos, tentando entender o que acontecia lá fora. Podiam estar procurando um jeito de entrar na cabana ou poderiam estar brincando com o medo deles enquanto os caçavam. De um lado para o outro, aquela coisa lá fora corria. Zoe estava com muito medo, se controlando para não entrar em pânico.

- Onde o Niels está? - sussurrou Zoe imóvel.

- Ele ficou lá embaixo - respondeu Martin sem tirar os olhos do teto. - Ele estava sem sono.

- Ele pode estar tão apavorado quanto nós.

- É-é, talvez esteja.

Uma pancada mais forte acertou a parede dos fundos do quarto, forçando que os dois dessem um pulo para trás assustados. Martin estava com os olhos arregalados e assombrado, atrás dele Zoe tampava a boca com a mão para segurar seu grito. Acima deles, aquela coisa voltou a correr e na parede dos fundos, pareciam estar arranhando a madeira. Assustados, os dois deram mais alguns passos para trás, encostando-se na parede oposta. Os dois entreolharam assustados, esperando que um deles dissessem o que fazer. Outro barulho na cabana, não tão longe do quarto que estavam, de vidro sendo estilhaçado assustou eles.

- E-eles entraram? - Martin indagou.

- Pode não ser aqui - respondeu Zoe desejando que não fosse aquilo que acreditava.

- Pode ser, mas precisamos ver. Você vai atrás do Niels e eu procuro ver se foi alguma das janelas que se quebrou.

- Tem certeza que quer fazer isso?

- Não, mas não posso ficar parado também. Ah, e Zoe! Tem uma estação de quadriciclo  ao norte do acampamento, seguindo pela estrada. Se algo der errado, me encontre lá.

Zoe assentiu e respirou fundo, buscando se manter calma. Saiu do quarto e adentrou no escuro corredor, Martin estava em seu encalço e tão atento quanto a ela. Um vento gelado cortava pelo corredor, causando arrepios em Zoe. Seu sentimento naquele momento era de estar em um filme de terror, em uma cabana abandonada e sendo caçada por um serial killer. Decidida a manter o plano de Martin, separou-se dele seguindo na direção oposta, a caminho das escadas que levavam para o piso inferior.

Cada degrau que Zoe pisava era um calafrio diferente. O cômodo abaixo não estava tão gelado quanto ao corredor acima, talvez Niels tivesse acendido a lareira ou apenas fosse Zoe prestes a ter um infarto. Próximo do fim das escadas, apoiou-se sobre o corrimão e tentou enxergar a situação na sala de estar. As cortinas das janelas não se movimentam confirmando que aquele vidro quebrado não fosse dali debaixo. Com passos silenciosos e lentos, Zoe pisava sobre aquele assoalho, tentando não causar nenhum barulho suspeito para aquelas criaturas que os caçavam lá fora. A sala estava bem iluminada pela lareira e a cozinha encontrava-se um pouco mais escura, mas não tanto quanto os quartos do andar acima. Zoe espreitou seus olhos para enxergar, mas não havia nem sinal de Niels. Ele não subiu para os quartos, tinha que estar ali, escondido em algum lugar, mas Zoe preferiu não chama-lo. 

Um agudo e incômodo barulho contínuo estremeceu aos ouvidos de Zoe. Ela espreitou os olhos e virou-se vagarosamente para a saída da cabana, de onde acreditar vir o barulho. O que viu parecia sair de um pesadelo infantil. Lá, atrás da porta de vidro, havia um humanoide esguio e sombrio, escondido pela noite com seus olhos fitando os de Zoe. Sua garra arranhava o vidro como se quisesse provocar medo nela e conseguiu. Aquela imagem assombrou Zoe que manteve-se imóvel, sem nenhuma reação, a não ser de terror.

No andar acima, Martin também caminhava lentamente, com passos cuidadosos. Suas mãos estavam frias e suor escorria por suas costas. Acima dele, aquela coisa continuava correndo de um lado para o outro, mas seu medo ainda era com o que havia quebrado a janela. Todas as portas dos quartos estavam abertas e encostadas à parede, com exceção de uma, a do último quarto. Com movimentos disfarçados, a porta balançava, ia e vinha, sem encostar no batente ou na parede. Era o único lugar de onde o vento gelado poderia vir e Martin precisava confrontar seu medo para encarar o que tinha ali.

O coração de Martin parecia que iria saltar a qualquer momento da boca ou explodir em seu peito. Quando ele segurou a maçaneta da porta e a empurrou, achou que estaria tendo um derrame. Sua boca estava seca, suas pálpebras tremiam involuntariamente e sentia um nó em sua garganta. O que é que fosse ver ali dentro certamente o mataria antes mesmo de atacá-lo. Entretanto, ele não encontrou nada. O quarto estava vazio, apesar da janela quebrada ser dali. Cacos de vidro estavam espalhados por todo o quarto, do armário de roupas vazio até os pés da cama. As cortinas revoavam e encostavam-se no teto. Martin aproximou-se da janela e olhou, mesmo em distãncia, para fora, mas a vista daquela janela era da floresta que subia a montanha, tornando aquilo tudo um breu. Vultos cruzavam na escuridão de dentro da floresta e seus gritos, cada vez mais altos, ecoavam pelo vale. 

Assustado, Martin afastou-se da janela e caminhou apressadamente para sair do quanto. Passando próximo da cama, ouviu um rosnado baixo e ofegante. Instigado, Martin parou e olhou para o armário a sua frente, com uma das portas entreabertas. Engolindo em seco, ele segurou as duas portas do armário e, após um longo suspiro de coragem, as abriu e encarou o que havia lá dentro. Para seu alívio, o armário estava totalmente vazio. Entretanto, Martin não estava sozinho no quarto. Seus pés foram agarrados por asquerosas mãos, puxando-o violentamente para debaixo da cama.

Estonteado pelo tombo, sentiu garras tão afiadas quanto uma adaga fincarem em suas costas e suas pernas. Desesperado, o homem relutou contra a criatura e arrastou-se para fora da cama, mas suas pernas foram agarradas outra vez e puxado para debaixo da cama. Para se desvencilhar do novo ataque, Martin desferiu um golpe com o pé contra o rosto daquela criatura assustadora. Livre das garras, levantou-se com dificuldades e correu cambaleante para fora do quarto. Uma trilha de sangue se construía por onde pisava no corredor. Atrás dele, a criatura corria em maior velocidade, com o apoio das mãos no chão, torcendo a cabeça de forma robótica. Pelas suas condições, Martin estava em desvantagem e sabia disso. Antes que conseguisse alcançar outro quarto para escapar, Martin foi outra vez atacado, trombando contra a parede e sendo jogado de volta para trás. Temendo não haver uma nova chance de ajudar Zoe, a avisou como pôde.

- Corre, Zoe! - gritou enquanto era atacado.

Zoe queria fazer o que Martin pedia, mas ainda estava paralisada na sala. Não havia visto ainda um daqueles humanoides que conheceu naquela noite - e preferia não ter conhecido - todo esguio como aquele em frente a porta e era como uma assombração em um conto de terror. Além de serem mais ágeis e fortes, pareciam ser mais racionais que os outros mortos-vivos. Eles brincavam com suas caças e ainda sabiam abrir portas. Zoe sentiu umas palpitações quando viu a maçaneta da porta girar. Lentamente, a porta se abriu empurrada pela criatura.

Com medo, Zoe deu tímidos passos para trás, ainda fitando aqueles olhos assombrosos da criatura. Próxima da lareira, pisou em um caco de porcelanato, que acreditava ser da caneca que Niels usava. O trépido barulho do caco sendo pisoteado quebrou aquele silêncio na sala, tirando o estado de espanto em que Zoe estava. Precisava agir.

- Ei, Niels - chamou Zoe com a voz trêmula, mas ainda encarando a criatura. - Siga a estrada e vá até a estação de quadriciclo. Não nos espere. Volte para a colônia.

Agachado atrás do balcão da cozinha, Niels aceitou a ordem de Zoe, mesmo que quisesse ajuda-la. Na cozinha, havia um corredor que seguia pelos fundos da casa e chegava a uma outra porta de saída, em frente a floresta. Para não gerar suspeitas de onde estava escondido, engatinhou até o corredor, silenciosamente para alcançar a porta. 

Ao perceber Niels passando engatinhado pelo corredor ao fundo, Zoe precisou mudar sua estratégia para protege-lo ou tudo seria em vão. Há pouco mais de um metro à sua frente, a criatura estava parada, com uma respiração pesada e soltando um condensado vapor de suas tortas narinas. Zoe não entendia o que ele estava esperando para ataca-la e isso a amedrontava. 

A criatura deu nossos passos, recuando Zoe até a parede, ficando cara a cara. Zoe sentiu enojada ao olhar para o rosto daquela criatura tão de perto e sentir aquele cheiro de podridão. Mais próxima ainda dela, a criatura contraiu os músculos, apoiou suas mãos sobre o chão e rugiu tão alto que ensurdeceu Zoe. Encarando a criatura, Zoe abaixou-se a tempo antes que as garras cravassem na parede ao fundo. Se jogando sobre o tapete, Zoe deslizou-se para debaixo da mesa de centro. Feroz, a criatura levantou a mesa sem dificuldades e atirou contra a parede, desvanecendo em um monte de fragmentos de madeira.

Aos tropeços, Zoe tentou alcançar a grande janela, mas foi jogada brutalmente contra o vidro quando a criatura agarrou seus cabelos. Puxada outra vez, Zoe foi jogada para trás, com sua queda sendo amortecida sobre um sofá tombado. Não se deixando ser morta pela criatura, Zoe voltou-se a se arrastar pelo chão, sem forças para se levantar. Do outro lado da sala, a criatura saltou sobre ela, penetrando suas garras abaixo das costelas de Zoe. Ela gritou de dor, mas não tão alto quanto o grito da criatura, quando agarrou uma tição na lareira e a golpeou contra o rosto da criatura, não se importando com suas mãos queimadas ou com as brasas revoando pelo grande cômodo. Livre de um novo ataque no tempo ganho em que a criatura desesperada tirava as ardentes cinzas presas a sua pele, Zoe pressionou a ferida e se levantou, um pouco tonta. 

- Mer-da - reclamou pelas fortes dores.

Saltando degraus, subiu às pressas as escadas. Chegando ao piso superior, deparou-se com Martin caído ao chão e se esforçando para segurar as garras de uma outra criatura que o atacava. Seu corpo estava cheio de perfurações e uma poça de sangue se formava abaixo dele.

- Martin! - gritou Zoe assustada.

Atrás dela, a criatura rugiu outra vez. Espantada, Zoe virou-se e encontrou a criatura alcandorada sobre o corrimão da escada. A criatura saltou ao chão e correu com o apoio das mãos em direção a Zoe pelo corredor, mas Zoe ainda conseguiu se esquivar do ataque, lhe deixando o caminho aberto para que a criatura trombasse com a outra, se amontoando no corredor.

 Quando as duas criaturas se chocaram, Martin sentiu sua cabeça afundar no chão no atropelamento. Estonteado, Martin se levantou com a ajuda de Zoe, que demonstrou bastante preocupação com o estado dele. Zoe deslizou sua mão pelo rosto dele, limpando o sangue que escorria por toda parte e olhou em seus olhos, ele estava tão assustado quanto ela.

- Olhe para mim, Martin! - pediu balançando os ombros dele. - Como está? Consegue correr?

Martin ainda estava em estado de choque e suas palavras tremidas foram atropeladas por outro rugido tão alto quanto os outros. Zoe teve tempo apenas de empurrar Martin para dentro do quarto, quando foi acertada violentamente pelo corpo de umas das criaturas. 

- Fuja, Martin!

Perdida em tudo o que acontecia, ainda tentou se levantar, mas foi agarrada pelo pescoço e sentiu seus pés se afastarem do chão. O ar foi se perdendo e Zoe se sentiu cada vez mais distante fitando os olhos negros daquilo que a estrangulava. Segurou as mãos da criatura, balançou as pernas, tentou chutá-la, mas nada lhe dava uma chance. Entretanto, e para sua sorte ou não, a outra criatura também a caçava, saltando sobre os ombros de que lhe agarrava, a forçando solta-la. Ao cair sobre os degraus, não conseguiu se equilibrar e Zoe rolou pela escada abaixo, chegando toda debilitada ao final das escadas.

As brasas provindas do tição tirado da lareira espalharam ao redor da sala, criando pequenos focos de incêndio. O sofá que amorteceu a queda de Zoe estava sendo engolindo pelas chamas e a fumaça já sufocava quem estivesse preso naquele cômodo. Zoe precisava agir rapidamente ou teria que escolher a sua morte, ser o jantar daquelas criaturas ou ser assada num forno gigante.

Enquanto as criaturas se gladiavam descendo as escadas, Zoe aligeirou para a cozinha e se escondeu atrás de um balcão. Sua cabeça parecia que iria explodir, seus dedos estavam esfolados e muito sangue fluía em sua ferida aberta nas costelas. Não tinha mais energias para correr outra vez, precisava de um descanso para se recompor, mas o momento não lhe permitia.

Chegando ao piso inferior, as criaturas suspenderam o confronto quando viram o sangue respingado pelo chão. Apesar de serem do mesmo tamanho, uma delas tinha mais músculos e tinha um desenho quase escondida pela pele rígida no peito, o que deveria ter sido uma tatuagem um dia e, a outra humanoide, possuía um busto maior, podendo ter sido uma mulher. Foram nessas circunstâncias que Zoe compreendeu que aqueles humanoides já foram humanos algum dia e deviam ter passado por uma maior evolução para chegarem àquela forma. Se aquelas criaturas compartilhavam do mesmo vírus que os outros mortos-vivos, essa seria uma tese para Lue pesquisar quando Zoe voltasse à colônia - se ela conseguisse voltar.

Uma das criaturas saltou sobre o balcão que Zoe estava, franzindo suas estreitas narinas para farejar o que estivesse caçando. Zoe prendeu a respiração e tapou a boca para conter seu grito. A criatura acima dela batia as garras sobre a pedra de granito, provocando uma onda de pavor em Zoe. Da boca da criatura, uma baba gelatinosa pingava em grandes doses e escorria sobre o ombro de Zoe. E aquele pesadelo estava para piorar. 

Uma sombra foi crescendo ao lado de Zoe, avançando com o outro humanoide que caminhava ao lado do balcão. Lado a lado, a criatura percebeu os pés de Zoe se comprimindo e levou seu comprido braço para agarrar o que se escondia ali atrás. Ao notar o ataque iminente, Zoe esquivou-se, mas não poupou no grito de susto. A mulher deitou ao chão outra vez e se arrastou até uma porta entreaberta do armário. Enquanto a criatura em cima do balcão a observava com rugidos e suas garras batendo contra pedra, a outra criatura ao chão a perseguiu e agarrou Zoe pela perna. Zoe desferiu um chute contra o rosto da criatura, libertando-se das garras e tentou adentrar outra vez no armário, mas foi agarrada pela gola de sua blusa pela criatura acima do balcão. Sem onde se segurar, Zoe foi atirada para cima e jogada contra uma mesa ao canto da cozinha, afundando-se naquela pilha de madeira. 

A criatura saltou sobre Zoe outra vez e lhe desferiu um golpe rápido e violento. As garras fincaram na machucada pele do rosto de Zoe e desenharam um risco grande e dolorido abaixo de seus olhos. Apesar do desconforto, Zoe ainda abriu um sorriso para a criatura quando percebeu um chiado próximo de seu ouvido. Felizmente, o golpe que teria sido fatal para Zoe lhe pegou apenas de raspão, acertando com maior força uma estreita tubulação que subia pela parede. O chiado vinha do gás expulso pela fissura aberta pela garra no tubo de ferro. Aquele ainda não era o momento de Zoe morrer.

- Vá para o inferno! - gritou Zoe desferindo outro chute contra o rosto da criatura.

Levantando-se às pressas, Zoe correu em direção a porta de vidro. Muito gás estava vazando e uma das criaturas disparava brutalmente em sua direção. Nada a perder, Zoe saltou contra a porta de vidro, arrojando-se junto aos estilhaços para fora. As criaturas, por sua vez, não alcançaram Zoe e foram engolidas e carbonizadas pela explosão. Em segundos, tudo aquilo que foi uma grande e luxuosa cabana de acampamento um dia, foi abatido pelas vorazes chamas.



***Notas do autor***

E aí survivors?

Atrasei uns dias para entregar este capítulo, mas foi porque é maior do que eu esperava. Tanto que precisou ser dividido em duas partes. Então a primeira morte fica para o próximo. Aliás, será que Zoe sobreviverá a este inferno todo?

E comecem a contagem regressiva para a parte 2, faltam três capítulos. E prometo muita, mas muita ação para a próxima parte.

Três casas em chamas! Já posso pedir música no Fantástico?

Até a próxima.


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