Zombie World - A Evolução (Li...

By saints_bruno

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Improváveis alianças interceptam o progresso de Taylor, quando uma guerra toma diferentes lados. Daisy constr... More

Recapitulando...
Prólogo
Parte 1
Capítulo 1 - Dias de um passado esquecido
Capítulo 2 - A estranha e o monstro
Capítulo 3 - Carpe Diem
Capítulo 4 - Glaube
Capítulo 5 - O cubo
Capítulo 6 - A encruzilhada
Capítulo 7 - Isso não é um zumbi
Capítulo 8 - A incrível, fabulosa e assustadora máquina de destruir zumbis
Capítulo 9 - Inimigo?
Capítulo 11 - A casa azul
Capítulo 12 - Filme de terror
Capítulo 13 - Sacrifício
Capítulo 14 - A rainha dos corvos
Capítulo 15 - Espólios de uma guerra
Parte 2
Capítulo 16 - Hurt
Capítulo 17 - Santa Clara
Capítulo 18 - Ann e Alex
Capítulo 19 - A face da morte
Capítulo 20 - A garota misteriosa
Capítulo 21 - Quem é você?
Capítulo 22 - Cicatrizes
Capítulo 23 - Detroit
Capítulo 24 - Kirby Reed
Capítulo 25 - Os estranhos
Capítulo 26 - O bicho-papão
Capítulo 27 - O lobo
Capítulo 28 - O que é justiça?
Capítulo 29 - Darwin
Capítulo 30 - Esperança
Parte 3
Capítulo 31 - O esquadrão suicida
Capítulo 32 - Autoconsciência
Capítulo 33 - Porcos
Capítulo 34 - Show de horrores
Capítulo 35 - 149
Capítulo 36 - Entre nós
Capítulo 37 - Laços profundos
Capítulo 38 - O agente do caos
Capítulo 39 - A batalha de Daly City
Capítulo 40 - Sem volta para casa
Epílogo I
Epílogo II
Epílogo III
O que vem agora? Terceiro livro, spin off e remake...
Em breve

Capítulo 10 - Feridas do passado

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By saints_bruno

Existem dias bons e dias ruins. Para Kitty, esse era o dia ruim. 

Ao acordar, sentiu-se atordoada. Estava deitada sobre uma poça de seu próprio sangue. Sua cabeça parecia ter sido atropelada, o que não estaria tão errado; indiretamente, mas ela foi atropelada. Tudo estava conturbado quando abriu os olhos, ainda que tivera que fazer uma força maior para conseguir abri-los devido ao corte profundo bem entre seus olhos. Quando tudo parecia mais normal, com muito esforço, sentou-se para nortear da situação em que foi colocada. Não devia ter quebrado nenhum osso no acidente, mas estava com o corpo todo esfolado.

Tentou-se apoiar e se levantar, mas caiu outra vez com uma dor aguda no abdômen esquerdo. Havia um pequena estaca de madeira fincada, causando um grande desconforto. Apesar de não ser a mais forte para lidar com problemas como este, era um mal necessário. Segurou com firmeza a estaca e a puxou, cobrindo a ferida aberta com a outra mão. Curiosamente, não saiu tanto sangue, talvez tivesse perdido já o suficiente durante o todo tempo em que ficou ali desacordada.

À sua frente, ouviu algo rosnando. Mesmo estando em um escuro beco, conseguiu ver o que se aproximava. Arrastando-se pelo chão, uma garotinha zumbi grunhia mais alto quanto mais próxima de Kitty estava. Além de ser uma criança, outra circunstância espavoreceu Kitty. A criança não tinha nada da cintura para baixo. Suas entranhas e a sua coluna desguarneciam de seu tronco mutilado. Seus membros inferiores poderiam ter sido devorados pelos mortos quando ainda viva ou a mesma poderia ter os perdido no atropelamento pela máquina destruidora de zumbis. Independente disso, não era uma figura simpatizante de observação.

Horrorizada, rastejou-se para trás, desejando evitar ser o jantar da mini-meio-zumbi. Kitty estava fraca demais, seu pouco esforço naquele momento forçou a manar sangue em sua ferida exposta e, assim, um rastro de sangue era pintado no áspero chão daquele sujo beco. Sem perceber até onde ia, Kitty encostou-se em um alambrado aos fundos, este cercado de mais zumbis. Suas imundas mãos de sangue transpassavam para agarra-la. Desvencilhando-se de todas aquelas mãos, assustada, Kitty se jogou ao lado de uma caçamba de lixo. Estava apavorada, seu corpo todo doía, apoiou a cabeça sobre os joelhos e começou a chorar prostrada.

Ouviu um curto fracasso, como se fincassem uma faca numa melancia. Olhou por cima da caçamba e encontro Nick com um pé sobre a mini-meio-zumbi enquanto retirava um fino cano de ferro da cabeça dela. Próximo dele, havia um estranho homem forte e barbudo que parecia ter saído de uma fazenda do Texas. Ainda aos prantos, mas feliz por encontra-lo, Kitty tentou se levantar para ir ao seu encontro, mas caiu logo em seguida com fortes dores no abdômen.

Ao ver Kitty lamuriando caída ao chão no final do beco, Nick reagiu apenas com uma cara de horror. Correu até ela e a abraçou - não tão forte, percebeu que ela estava ferida - passou suas mãos pelo rosto dela, queria ter a certeza de que era ela e que estava bem.

- Me desculpe, me desculpe, e-eu... - repetia Nick desconcertado.

- Tá tudo bem - Kitty o acalmou. - Eu estava apenas assustada, foi tudo muito rápido. As armadilhas, a horda, o carro...

- Carro? - indagou Callum curioso aproximando-se dela.

Kitty fitou Callum e voltou a olhar para Nick. Ainda não conhecia o troncudo homem e nem sabia se era confiável. Entendendo a dúvida pairada nos olhos de Kitty, Nick o apresentou.

- Este é Callum. Por ora, pode confiar nele. Tivemos uma... simbólica discussão para chegar nesta conclusão - Nick comprimiu os olhos em sua metáfora narrativa.

Ainda desconfiada, Kitty respondeu a pergunta de Callum, mas sem olhar para ele.

- Era um carro forte e-e muito rápido. Ele tinha um pá gigante de ferro na sua frente que mutilava a horda toda que estivesse em sua frente. Possuía enormes faróis e... bem, pareciam gostar do que estavam fazendo.

- São os Corvos - disse Callum com certeza. - Merda, eu disse que eles voltariam. Precisamos dar o fora daqui o mais rápido possível.

- Não vou embora sem a Maggie. Nos separamos quando a horda nos atacou.

- Entendo sua preocupação, garota. Mas se os Corvos estão realmente no bairro, nem sua amiga, nem nós teremos a menor chance se continuarmos aqui.

- Callum - Nick o chamou rispidamente. - Nós iremos procurar por Maggie.

- Você não está entendendo a gravidade da situação, Nicholas. Esses caras são sádicos, malucos, psicopatas... O nosso sofrimento é a diversão deles.

- Não vamos sair daqui sem a Maggie - Nick tornou a dizer em um tom mais alto. - Se quiser sair da cidade, fique a vontade. Mas nós vamos atrás da nossa amiga.

- E como irá procurar com ela? - Callum apontou para Kitty. - Mal consegue se levantar, quem dirá confrontar os Corvos caso necessário.

- Callum tem razão - Nick concordou olhando para Kitty com piedade. - Eu vou procurar a Maggie e Callum fica cuidando de você.

- Não, Nick - pediu Kitty acenando discretamente para Callum. - Por favor, fique comigo.

Impaciente com a melancolia amorosa dos dois, Callum tomou uma decisão.

-Ok, já entendi. Eu vou procurar pela tal Maggie.

- Tem certeza disso? - perguntou Nick incerto. - Não precisa fazer isso, Maggie é nossa amiga. Iremos a procurar do nosso jeito. Não quero te colocar em perigo.

- Eu te disse, Nicholas. Somos aliados, improváveis aliados. Temos um inimigo em comum e se queremos sair vivos, precisamos nos ajudar. Estou contraditório, é eu sei - Callum revirou os olhos. - Mas não posso continuar me escondendo. Uma hora terei que enfrenta-los.

- E-eu não sei como agradecer...

- Só fiquem vivos até eu voltar. Quando os vi da primeira vez, lembro-me que ela era alta e muito bonita. Mas como posso identifica-la, sem precisar a chamar?

- Ela vai estar mancando. Antes da horda nos atacar, ela pisou em uma armadilha de urso. Sua perna esquerda que ficou machucada.

- Minhas armadilhas - Callum sem lembrou. - É, agora tenho mais do que a obrigação de salva-la. Farei o possível, até que voltemos, fiquem escondidos.

- Onde iremos nos reencontrar? - perguntou Nick.

- Tentem encontrar um carro para nos tirar daqui. O resto deixamos por conta do acaso.

Nick acenou para Callum, não como uma despedida, mas um até logo. Callum estava preocupado, poderia não ser percebido em seu rosto esfolado pelo Nick, mas estava. Possuía pouca munição e torcia para que não fosse necessário um confronto direto. Almejando deixar aquele lugar o mais rápido possível, seguiu com a parte do plano que ele se comprometeu. Poderia este ser um teste sobre sua confiança? Callum teria as diferentes respostas quando retornasse com a sua missão concluída ou fracassada.

Saindo do beco, a condição na rua não havia piorado desde então. Restavam apenas alguns zumbis que não foram atropelados dispersados pela rua. Por outro lado, era nojento caminhar por ali. Sangue, corpos mutilados e um cheiro de podridão se espalhava por todos lugares. Seria uma caminhada muito desagrádavel, mas não tanto quanto enfrentar os Corvos. Se existisse uma métafora ali seria que ele estava indo do céu para o inferno. E quem diria que os demônios fossem tão reais?

Ao fim da rua, ouviu uma algazarra não tão longe. Ouvia também muitos tiros, o suficiente para atrair os mortos-vivos locais. Atalhando-se pelos becos do bairro, Callum aproximou-se o mais perto que conseguisse do epicentro do tumulto. De trás de um porta de metal aberta dos fundos de uma lanchonete, ele observou o festim dos Corvos.

Haviam pelo menos uns trinta Corvos ali, todos vestidos de trajes pretos com acessórios punk e munidos de um arsenal opressor. Alguns embebedavam-se com garrafas de cervejas, outros atiravam nos zumbis restantes que se aproximavam. Não haviam medo em seus olhos, apenas um misto de frieza e crueldade.

No perímetro deles, esbanjava o tal carro com uma pá gigante de ferro como a garota que acabara de conhecer descreveu. Alguns Corvos dançavam sob os grandes faróis do motor home, como se alguém achasse graça naquilo. E ali, bem ao centro dos saqueadores, encontrava-se aquela que Callum procurava. Infelizmente, os Corvos haviam a encontrada primeiro.

Sendo puxada brutalmente pelo braço, Maggie foi jogada ao chão em frente ao veículo. Ela estava com as mãos amarradas e era percebível a sua dificuldade para andar quando foi quase arrastada por eles para lá. Mesmo amarrado em um rabo de cavalo, seu cabelo estava desarranjado, devia ter sido puxada pelos cabelos ao ser pega. E, ainda que impossibilitada, ela relutava contra os Corvos. Callum preferiu abaixar a cabeça para não vê-la ser esbofetada por um Corvo robusto e mais velho quando ela cuspiu em sua comprida bota preta. Ao voltar seus olhos para ela, ele apenas a encontrou caída ao chão.

- Levem ela para dentro - gritou o Corvo apontando para o motor home.

Um segundo Corvo, este mais novo e de cabelo preto comprido, agarrou o braço de Maggie e a puxou violentamente, sem dar-lhe mesmo um chance de poder se levantar. Ao entrar com ela para dentro do motor home, o mais velho entrou logo atrás e fechou a porta. Callum conhecia um daqueles Corvos - preferia não conhecer - e não queria imaginar do que seriam capaz de fazerem com ela lá dentro, portanto precisava agilizar e não havia nenhum outro meio de salva-la sem participar de um único confronto.

***

Cuidadosamente, Nick ajudou a Kitty a se sentar no banco de um Mercedes-Benz 2012 branco que encontraram escondido na garagem de uma casa próxima. Nick havia tentado fazer uma ligação direta no carro e, felizmente, o carro ligou. Alguém teria passado por ali nas últimas semanas e roubado o combustível do carro, mas ainda havia restado o necessário para deixar a cidade.

- Acho que será suficiente - torceu Nick acomodando-se no outro banco ao lado de Kitty.

- O que faremos quando sairmos da cidade? - perguntou Kitty sentindo-se mais segura ali.

- Levarei Maggie e você para Daly City.

- E quanto ao Bobby?

- Voltarei a procura-lo, assim que vocês estiverem seguras - Nick respondeu olhando fixamente para o retrovisor.

- E acha que deixarei que vá sozinho?

- Não acho, mas eu vou - Nick forçou um sorriso para Kitty. - Não posso perder mais ninguém. Tudo o que passei naquela noite de halloween em San Francisco... não consegui superar até hoje. Bruce, Helena, Lucy, todas aquelas pessoas no estádio... é um buraco que se abriu em meu coração e não se fecha jamais.

- É, eu sei como é. Mas saiba que estamos juntos nessa, não precisa assumir a responsabilidade e as dores sozinho.

- E saiba que você é a minha lua na escuridão da noite. E eu te... - Nick calou e cerrou os olhos, mudando rapidamente sua feição enquanto olhava para o outro lado da rua.

Confusa, Kitty acompanhou ele e se espreitou para perto da janela do carro para olhar o que fosse que ele viu. Havia uma luz acesa em um dos cômodos da casa azul em frente - uma luz que estava apagada há alguns instantes.

- Tem alguém lá - Nick concluiu.

- Ao menos que zumbis saibam ligar a luz, sim, tem alguém naquela casa.

- Preciso ir até lá.

- Não, já chega de bancar o herói - Kitty agarrou a mão de Nick. - Da última vez que fez isso, voltou com o rosto inchado.

- Pode ser a Maggie.

- Aquele seu amigo cowboy já está a procurando.

- No bairro todo? Ela pode estar em qualquer lugar... como naquela casa.

- Nick, por favor, não. Não me mate outra vez de preocupação.

- Disse que a Maggie estava ferida. E se for mesmo ela ali? E se estiver em perigo?

- E se não for ela? E se for algum Corvo?

- Eu preciso fazer isso - terminou Nick abrindo a porta do carro.

Kitty  mordeu os lábios e deslizou-se pelo banco irritada. Não acreditava que Nick faria tudo aquilo de novo e outra vez.

- Se eu demorar, você sabe como ligar o carro - falou Nick sem se incomodar com a negação de Kitty.

- Por que é tão teimoso? - indagou Kitty aborrecida.

- Eu te amo - Nick falou com um sorriso, batendo a porta em seguida.

- Droga, droga - Kitty murmurou socando o volante.

O sexto sentido de Kitty lhe dizia que Nick iria meter em problemas outra vez e não adiantava o que fizesse para impedi-lo, sua teimosia sempre o levaria onde quisesse ir. Restava a Kitty apenas torcer para que ele retornasse inteiro desta vez.

***

Uma buzina incessante atraiu dois Corvos que se empurravam até então parecendo dois adolescentes idiotas do ensino médio. Eles se entreolharam confusos e armaram-se antes de confrontar a possível ameaça. Caminharam em ritmo parecido, ambos atentos apenas à direção do carro que buzinava. Saindo de trás de uma árvore em que estava escondido naquele trecho escuro, Callum golpeou o primeiro Corvo com uma coronhada na cabeça e esquivou-se do ataque do segundo, lhe dando um chave de braço no pescoço, o sufocando até não demonstrar mais nenhum sinal suspeito de vida. 

Cauteloso, Callum arrastou os dois corpos para trás de uma caçamba de lixo. Deixou seu antigo rifle na caçamba e equipou-se com as duas novas armas que encontrou, uma escopeta AA-12 e uma pistola 9mm com silenciador, além de uma granada de fumaça e um adaga comprida e aparentemente bem afiada. Estava bem equipado, mas não o suficiente para enfrentar aquele mini exército de Corvos, principalmente se o reconhecessem.

Aproximando-se mais, haviam uns dez homens que o separava do motor home. Antes de partir para um confronto direto, Callum atirou com a pistola silenciada em três Corvos mais afastados. Três tiros e três Corvos abatidos. Callum ouviu risadas e mais tiros próximos dali, os outros Corvos estavam voltando, precisava se apressar. Jogou a granada de fumaça e um deles percebeu.

- Granada de fumaça! - gritou o Corvo apontando.

Quando a granada explodiu, uma fumaça branca encobriu toda a área próxima, engolindo os Corvos presentes nela. Conhecia aquela granada e sabia que tinha menos de um minuto até que eles pudessem ver ao redor outra vez. Equipou-se com a adaga e saltou um carro, entrando no perímetro esfumaçado.

Suif suif

Um a um, Callum foi derrubando. Um Corvo teve a adaga fincada em seu peito, enquanto o outro agoniava deitado no chão com pescoço alanhado. Os Corvos não eram soldados profissionais, não sabiam se defender de ataques surpresos e Callum aproveitava dessa fraqueza deles. O medo dominou a crueldade em seus olhos. No desespero, um Corvo atirou vagamente quando encontrou um parceiro morto ao seu lado. Antes de ter uma adaga entrando em sua boca, viu outro amigo caindo baleado por ele. Havia sangue respingado no rosto de Callum e, apesar de sempre temer um confronto com eles, caçar Corvos poderia ser seu novo hobby. Callum estava gostando disso, de jogar o mesmo joguinho cruel que eles fazem.

Apesar de ligeiro, Callum só se deu conta do tempo que passara quando a fumaça começou a se dissipar. E pelas suas contas, ainda faltava um Corvo, que não estava mais no último lugar que se lembrava. O tiro que aquele Corvo desesperado deu... essa era a ruptura no plano de Callum e agora ele precisava ser ainda mais cuidadoso.

Uma outra granada de fumaça rolou pelo asfalto pairando sob a sola do sapato de Callum. A fumaça branca lhe tomou o campo de visão e desta vez, era Callum que estava sendo caçado. Passos pesados ele podia ouvir, mas não conseguia perceber de que lado.

- Ah, se não é o covarde Callum! - disse uma voz intimadora e conhecida por Callum.

Ainda que estivesse preparado, Callum não conseguiu se defender do ataque surpreso. Foi atingido por chute em sua panturrilha, o forçando a cair ajoelhado. Outro golpe, um soco à esquerda em seu maxilar, e Callum deixou sua adaga cair por descuido seu. O misterioso Corvo se colocou atrás dele e o prendeu com uma chave de braço em seu pescoço. Callum era forte o suficiente para se jogar com seu corpo para trás contra o Corvo, mas ele não parecia nem um pouco desmotivado a solta-lo, pelo contrário, o forçaria a enxergar a sua própria morte.

- É tudo o que consegue, Callum? - escarneceu o homem que o sufocava rangendo seus dentes pela força necessária para mantê-lo preso. - Músculos não são tudo, não é mesmo? Se tivesse um pouco mais de cérebro, entenderia que não deve subestimar seus inimigos, ainda mais quando estes eram seus amigos que você traiu.

A respiração de Callum estava ofegante. Seu rosto avermelhava mais a cada momento, mas não queria ceder tão fácil a um Corvo, principalmente este. Sentia a ponta de sua adaga próxima de sua mão, mas ainda não conseguia puxá-la. A escopeta havia sido atirada para longe quando foi golpeado na perna, restava então a sua única chance. A pistola silenciada.

- Vamos, Callum! É tudo isso que pode oferecer? Estúpido, além de covarde. É assim que será lembrado... - o homem tropeçou em suas palavras, escarrando sangue pela boca e soltando Callum que pôde respirar livremente.

Se colocando de pé e com a pistola em mãos, Callum fitou o Corvo estirado ao chão, com um furo abaixo das costelas esquerdas, onde Callum conseguiu atirar. Era um homem magro, mas bem forte, parecia ser uns dez anos mais velhos que Callum, apesar de ter a barba aparada. Seus olhos pretos crucificavam Callum que também não parecia com piedade dele.

- Não, Aiden - Callum quebrou o silêncio. - Você foi estúpido de me subestimar. Olhe bem para mim agora. Eu estou vivo e você morrendo. E saiba que eu faria tudo aquilo outra vez, sem me hesitar. Foi um prazer conhecer o monte de merda que você é e será também um prazer ouvir seu último suspiro. Descanse no inferno, se eles te aceitarem lá! - terminou Callum atirando três vezes no Corvo.

Por um curto momento, Callum preocupou-se que os outros Corvos escutassem os suspeitos barulhos em seu recente confronto, mas havia uma música alta de rock em algum lugar perto dali. Suas lembranças revividas no nada agradável reencontro com Aiden atormentavam sua cabeça, mas Callum precisava focar. Recuperou a escopeta e a adaga e correu sorrateiramente até o motor home. Ele era realmente grande e assustador, sua placa dianteira de ferro era tão grossa, que Callum não conseguia imaginar quanta força aquele veículo precisava para carrega-la.

Haviam vozes abafadas dentro do motor home, parecia uma discussão. Nada a perder e prevendo o que encontraria, Callum entrou no poderoso veículo, com a pistola apontada firmemente em suas mãos. O que encontrou lá dentro, além de uma completa bagunça e caixas de munições, foi Maggie sentada no chão e com as mãos para trás algemadas em um banco. Em frente a ela, o velho e robusto Corvo estava com a calça abaixada, perto de fazer algo que Callum enojava só em imaginar.

- Te darei uma única oportunidade de honra para sua morte que será vestir a calça - disse Callum em um tom sério e tenebroso.

- Callum? - indagou o homem com as mãos levantadas. - Por que estou surpreso? 

Maggie sentiu-se confusa na situação colocada, mas estava contente de ser salva do ato mais desumano que poderia passar. Ainda que estivesse ferida, atentou-se aos movimentos do velho Corvo que parecia calmo demais para quem tinha uma arma apontada para a sua cabeça.

- Por muito tempo, me recusei a acreditar que esse momento chegaria, mas aqui estou - Callum falou bastante tenso. - Não vou mais fugir, não carregarei mais este pesado fardo. Estou pronto para recomeçar, destruindo tudo o que ficou para trás.

- O passado não pode ser esquecido, Callum - respondeu o Corvo. - Ele faz parte de você, ele molda quem você é. E você não é este herói quem pensa ser.

- Cala a boca - murmurou Callum trêmulo. - Você não tem mais poder sobre mim.

- Eu nunca tive. Sempre foi o responsável por seus atos. Não fui eu quem te mandou fazer aquilo. Sabe disso, mas se recusa a carregar a culpa porque dói... eu sei que dói, porque também carrego o mesmo fardo que você. Ah, mas isso você já deve ter apagado, não é? Mas eu posso te ajudar a recordar.

- CALA-A-PORRA-DA-BOCA - berrou Callum com os olhos cheios de lágrimas e rancor. - Vista logo essa calça, e me deixe colocar um ponto final nisso.

- Eu vou vestir, se isso é tão importante para você... - falou o Corvo calmamente se agachando devagar.

Diferente do que deveria ser, o Corvo não parecia querer agarrar a calça para levanta-la, ele procurava outra coisa. A sua arma. Maggie não teve tempo suficiente para ajudar o possível aliado.

- Cuidado - Maggie gritou.

Armado, o Corvo atirou antes mesmo de se levantar. A bala acertou o peito esquerdo de Callum, que cambaleou sobre aquelas caixas e tombou como uma tora. Felizmente, a bala parecia não acertado seu coração, nem seu pulmão, mas Callum sabia que não devia comemorar. Conhecia muito bem o velho Corvo e sabia que ele estava apenas brincando com ele até que implorasse para morrer.

- Callum, Callum, como pode ser tão ingênuo - o Corvo gargalhou. - A princesa aqui é muito mais esperta do que você - apontou para Maggie.

Callum tentou atirar no Corvo, mas sua mão trêmula desperdiçou a bala. Rindo da falha tentativa de Callum, o Corvo começou a assobiar e balançar o revólver, como se estivesse gostando.

- Callum e sua fracassada redenção. Tudo conspira contra você, não percebe. Aonde quer chegar? Desista, meu filho.

Com muitas dificuldades, Callum se levantou. O sangue havia escorrido por toda a sua camiseta. A única força que lhe restava vinha do desejo de colocar um ponto final em seu passado. 

- Tão impertinente - continuou o Corvo. - É inútil seu esforço. Deixe-me que faça as honras de encerrar o seu ciclo. Suas últimas palavras...

Chega de teatro, imaginou Maggie. Em um ataque surpresa, Maggie abraçou com suas pernas o Corvo, o submetendo a ficar sob sua força. A dor em sua perna esquerda não era tão grande quanto o seu desejo de sobreviver e Callum era um potencial aliado. Com o Corvo preso entre suas pernas, Maggie incentivou o rapaz a terminar com aquela discussão.

- Não posso segura-lo por muito tempo. Acabe com isso, AGORA.

Callum mirou no homem e encostou o dedo no gatilho, mas havia algo que lhe importunava. Era como se estivesse em um duelo interno, entre o Callum que queria superar o passado e atirar no Corvo e o Callum que sentia-se culpado e não poderia matar o Corvo. Sua boca tremia tanto quanto suas mãos, a dor em seu peito nem lhe incomodava mais. 

Relutando para se desvencilhar, o Corvo desferiu alguns golpes contra Maggie, mas somente conseguiu se soltar quando apertou a ferida em sua perna esquerda. Livre, o Corvo arrastou-se até o seu revólver e levantou-se apontando para Maggie.

- Sua puta maldita! Teria sobrevivido se não fosse tão idiota.

O Corvo puxou o gatilho, mas sua arma recusou o tiro. Por outro lado, quem atirou foi Callum. A bala o acertou em seu tórax, espirrando sangue no rosto de Maggie. Ele trambecou em seus próprios pés e espatifou-se ao chão. Desconfortável, olhou com repulsa para Callum.

- Não importa o que faça, nada apagará o que já fez - disse o Corvo com a voz falha. - Você sabe disso, não pode esquecer.

- Não, pai - respondeu Callum fleumático. - Meu passado morre com você, estou pronto para recomeçar.

Com um sorriso malicioso, o Corvo deu seu último suspiro. Não havia mais brilho, nem sombras em seus olhos, apenas um lapso de perdição. Callum olhou para ele por alguns instantes, impassível e com desprezo. Por maior que fosse uma desonra matar o seu pai, era um peso que Callum estava disposto a carregar. Aceitaria em diante que este momento seria a ruptura entre o velho Callum e o novo Callum.

- Ei, Jesus do Texas - chamou Maggie. - Pode me tirar daqui agora?

- Sim-sim, claro - Callum correu até ela, seu peito baleado entorpeceu em uma sensação bastante desagradável, lhe causando náuseas e tontura. - Sabe onde está a chave das algemas?

- No bolso da calça de seu... pai - Maggie apontou piedosa com os olhos.

Callum afirmou com a cabeça e foi até perto do Corvo que já foi seu pai. Preferiu não olhar para o rosto dele, com aqueles olhos grandes e negros. Procurou as pressas pelos bolsos da calça até encontrar as chaves.

- Obrigada!

- Agradeça a seus amigos! São por eles que estou aqui.

- Nem você teria mais certeza disso - Maggie e Callum se entreolharam. - Olha, eu não sei qual foi o seu passado, mas sei que todos temos uma chance de se perdoar e recomeçar. Admiro as pessoas que estão prontas para isso e acredito que será forte o suficiente para encarar a construção de um novo Callum.

Callum assentiu, mas manteve-se calado. Soltou as mãos de Maggie e a ajudou a se levantar. Antes que descessem pela porta, Maggie se apoiou na batente e olhou para a cabine do motor home. Era uma oportunidade.

- Ao menos que saiba dirigir essa coisa, acho que devemos sair do perímetro o quanto antes - Callum comentou compreendendo o que ela planejava. - Os Corvos virão e não estarão nada felizes quando encontrar alguns deles mortos.

- Tem razão, vamos.

Ambos feridos, Callum e Maggie correram apoiados um ao outro para longe da área. Precisavam estar fora da cidade até que os Corvos percebessem o que aconteceu ali. Não muito longe de onde estavam, ribombava um barulho no céu que há muito tempo não se ouvia. Um helicóptero!

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