Ela sorri.
Seu sorriso é um sorriso bonito de se ver mas horrível de se sentir. Ela não está feliz, tampouco animada por me ver ali, mas mesmo assim sorri para mim. Parece um cão mostrando os dentes enquanto rosna antes de atacar.
Instintivamente envolvo o bebê mais firme em meus braços e o olhar dela desce até ele e posso sentir que o que ela mais quer no momento é que eu desapareça da face da Terra.
— Estou curiosa... Como faz isso? — Ela aponta enojada para o bebê mamando em meu colo, sua cabeça virada ligeiramente para o lado enquanto me observa — É algum tipo de medicação ou... Encenação?
— Não... — Respondo quase rosnando e ela ri, parecendo maior e mais ameaçadora que nunca.
— Então o que é, garota? — Ela sibila como uma cobra se preparando para dar o bote — O que está fazendo com o meu filho?
Sinto minhas mãos começarem a tremer e a suar. Meu coração acelerar e preciso me segurar ao máximo para não avançar em sua direção e transformar aquela cara de cachorro em picadinho. Fecho os olhos por um segundo e respiro fundo. Quando abro ela ainda está ali, esperando uma resposta.
— Você não tem direito algum de chamá-lo de filho, sua víbora nojenta! — Cuspo as palavras mas rápido do que posso raciocinar. A loira dá uma gargalhada seca e sem humor.
Ela começa a andar pelo cômodo grande, mas nunca saindo de perto de mim. Parece estar montando guarda ou algo parecido. O barulho do seu salto fino ecoa pelas paredes e incomoda meus ouvidos.
— E você vai fazer o quê? Correr para o Scottzinho e chorar nos braços dele? — Ela fez um bico, como se fosse cair no choro a qualquer momento e depois riu alto.
— Não, eu vou fazer o possível e o impossível para manter você longe de Seth! — Seu sorriso vacilou, como sempre acontece quando ela se sente atingida ou acuada — Você perdeu todos os direitos a ele quando o abandonou, quatro meses atrás. Não venha agora pagar de boa samaritana querendo pegá-lo de volta. Eu não vou deixar.
— Você não sabe do que eu sou capaz, garota! — Ela vociferou. Seu rosto estava vermelho e seus punhos cerrados ao lado do deslumbrante vestido branco — Não me subestime...
— Não estou. — Respondi, estranhamente calma e arriscando um sorriso para ela — Seth é meu filho!— Disse em alto e bom som para que ela entendesse de uma vez por todas — E não tem NADA que você possa fazer contra esse fato. NADA.
— Veremos. — Sua voz saiu firme mesmo que seu corpo demonstrasse o quão nervosa estava naquela situação. — Vocês não perdem por esperar.
Seus saltos ecoaram novamente pelo banheiro enquanto ela se dirigia para a saída.
Respirei fundo novamente, segurando as lágrimas. Ela não seria capaz de tirar Seth de nós, seria? E por que queria tanto ele se não fazia questão nenhuma de sua presença ou sequer de sua existência?
— Eu prometo, meu filho, que nunca vou deixar que ela te faça nada. — Dei um beijo em sua cabecinha e ele parou de mamar para abrir um sorriso banguela — Eu vou te proteger de toda essa maldade. Eu prometo...
(...)
— Amor, aconteceu alguma coisa no banheiro? — Scott perguntou me encarando sério.
Ele estava com o bebê no colo e acabara de voltar do fraldário. Seth parecia sonolento mas mesmo assim levantou os bracinhos na minha direção novamente. Hoje foi a primeira vez de tanta coisa dele... Hoje Seth sentou sozinho, esticou os braços para que alguém o pegasse... Para mim parecia inacreditável que ele estivesse crescendo tão rápido assim.
— Ontem ele não queria sair do meu colo, aí agora só quer você! — Ele exclamou e fingiu estar triste — Fui trocado pela mamãe.
Suspirei, relembrando do momento em que Vanessa entrara no banheiro para acabar com todo o resto da minha paciência e e boa vontade.
— O que está havendo, Claire? — Harris perguntou novamente, se abaixando para ficar na minha altura sentada e eu o encarei séria, enquanto dava leves batidinhas nas costas do bebê.
— Não é nada, amor. — Ele pareceu não acreditar, seu semblante ainda era de dúvida — Só estou cansada, é isso.
— Então vamos embora. — Ele respondeu ainda desconfiado e eu assenti.
Nos despedimos de Aria, Mitchell e os outros convidados que estavam sentados conosco e fomos em direção a saída. Senti um frio percorrer minha espinha quando avistei Vanessa me observando de longe e não pude impedir de me encolher um pouco, ainda um pouco nervosa.
Scott, que tinha o braço envolvendo minha cintura me olhou, procurando saber por quê de eu ter parado do nada mas fiz minha melhor cara de cansaço e aleguei estar sentindo dor nos pés por causa dos saltos. Ele deu de ombros e seguimos em direção ao estacionamento.
O caminho de volta para o apartamento foi feito em total silêncio. Minha mente estava tão cheia de pensamentos sobre o que acontecera hoje que nem percebi quando chegamos em casa.
— Claire? Amor? — Ouvi Scott me chamar e só então percebi que já estávamos na garagem do prédio.
— Ah... Sim. — Respondi envergonhada e tirei o cinto de segurança. Abri a porta traseira e desafivelei o cinto que segurava o bebê conforto e o tirei do carro com cuidado para não acordar Seth.
Scott me abraçou pela cintura novamente e nós subimos até a cobertura. Ele destrancou a porta e finalmente pude respirar um pouco mais aliviada.
Troquei a roupa de Seth enquanto ele dormia e o coloquei no moisés ao lado da cama. Fui para o banheiro e me despi, entrando no chuveiro em seguida. Estava nervosa, estressada e preocupada e pela primeira vez na vida a água fria parecia não me ajudar a desestressar.
A porta do banheiro se abriu e fechou e alguns segundos depois Scott entrou no box. Seu corpo quente me abraçou por trás e naquela hora senti tanta vontade de chorar que foi quase impossível impedir que as lágrimas caíssem.
— Vai me dizer o que aconteceu realmente para você ficar daquele jeito no fim da festa? — Ele perguntou no pé do meu ouvido, antes de depositar um beijo perto da minha nuca. Suspirei forte, sem saber o que responder.
— Não... Não foi nada. — Respondi baixo e senti seus braços me soltarem. Virei meu rosto na direção dele e Scott levou sua mão ao meu cabelo molhado e o afastou do meu ombro.
— Esqueceu que eu te conheço desde sempre? — Ele perguntou com um sorrisinho de lado e as sobrancelhas arqueadas — Não acreditei nem por um segundo que você estava daquele jeito por cansaço, Claire.
É, ele me conhecia mesmo.
Com vergonha, desviei meu olhar para outro lado mas Harris não pareceu se importar com a minha falta de respostas. Pegou a esponja com sabão e começou a passar por minhas costas calmamente. Ele era tão atencioso que as vezes eu não conseguia acreditar que ele existia mesmo.
Saímos do banho alguns minutos depois e fui me trocar. Coloquei apenas uma calcinha e uma blusa de Scott e fui ver como estava Seth.
— Amo te ver observando ele dormir. — Scott apareceu no quarto vindo do andar de baixo. Sorri fraco para ele — Você sempre está com os olhinhos brilhando e um sorriso bobo no rosto.
Harris me puxou com delicadeza para que eu deitasse com ele e assim o fiz. Já debaixo da coberta o puxei para que ficasse mais perto de mim e afundei minha cabeça em seu peito. Suas mãos me envolveram e ele depositou um beijo no topo da minha cabeça.
— Ela quer mesmo Seth... — Disse em um fio de voz e olhei para Scott, que estava com um semblante de surpresa.
— O quê? Como?
— Ela interditou o benheiro que eu estava com Seth e... E ela... Bom, ela disse que Seth era filho dela. — Um nó começou a se formar na minha garganta. Engoli em seco e tentei continuar — Eu falei que ela não tinha direito algum sobre ele e acho que com isso cutuquei a onça com vara curta, se é que me entende.
Ele não precisou responder. Apenas pegou meu rosto com delicadeza e depositou um beijo em meus lábios.
— Ela nunca vai conseguir tirar Seth de nós, Claire. Te dou minha palavra.
— Eu confio em você.
(...)
Três dias haviam se passado desde o casamento de Vanessa e as coisas pareciam estar de volta em seu devido lugar. Viajamos amanhã para a Europa e apesar de ter checado se tudo estava em ordem, algo não parecia certo. E eu sabia o que era.
Naquela manhã visitei papai com titia e depois almoçamos juntas em um restaurante perto da minha antiga casa. Fiquei feliz em revê-la mas sabia que a saudade me mataria durante o período que não estivesse na América.
Depois disso decidi que estava na hora. Não falei a Scott aonde iria mas ele fez questão de me fazer companhia até lá. Seth era apenas uma bolinha encasacada por causa do frio mas como estava fazendo catorze graus optei apenas por um sobretudo. E dessa vez, eu dirigiria.
— Claire... — Harris me chamou ao se deparar com o nosso destino, após estacionar o carro — O que viemos fazer aqui?
— Eu... Preciso me despedir de alguém. — Respondi um tanto envergonhada e Scott me lançou um sorriso para que eu me sentisse melhor e passou o braço livre pelo meu pescoço e entramos.
Eu nunca me senti bem dentro de um cemitério. Acho que raras são as pessoas que se sentem felizes em lugares como esse, apesar de mais parecer um jardim bem grande com grama bem aparada. Mas eu sei que nunca serei esse tipo de pessoa.
Hoje seria nosso último dia aqui na Califórnia e só voltaríamos sei lá quando então senti que precisava vir aqui. Comprei algumas flores, simples mas bonitas, para ela.
Minha Julie.
Andamos por alguns minutos até chegarmos em um pequeno túmulo em meio a tantos outros. Fiquei parada alguns instantes apenas o observando um pouco de longe.
— Esse é o dela. — Não precisei falar muito, Harris pareceu entender. — Titia me ajudou a pagar pelas partes em mármore e a placa com o nome dela.
— É o mais bonito daqui. — Ele respondeu sincero.
Scott pegou uma das flores que eu carregava e chegou mais perto, se agachando em seguida na frente do túmulo simples. Por alguns instantes ele ficou apenas parado ali, segurando Seth em um dos braços e a flor na outra mão.
Respirei profundamente. Fazia algum tempo que eu não vinha visitá-la e mesmo que sentisse que esse lugar não me faz bem, estar perto dela de certa forma me deixa mais calma.
— "Um anjo que se foi cedo demais." — Harris leu baixo o que estava escrito na lápide e depositou a flor em cima — Prometo cuidar muito bem de sua mamãe, Juliette. Nós te amamos.
As lágrimas escorriam de meus olhos e eu não tentava contê-las. Perder um filho é de longe uma das piores coisas que se podem acontecer na vida de uma pessoa e aconteceu comigo. Eu tentava ser forte mas nada me fazia esquecer de sua presença em meus braços quando ela já não tinha mais vida. Nada.
Fui pega de surpresa quando senti os braços de meu namorado me envolverem com cuidado enquanto meus soluços aumentavam sem controle. Parecia que alguma parte de mim ainda acreditava que se eu pedisse muito, muito mesmo, minha garotinha voltaria para os meus braços. Mas a outra parte me deixava firme no chão lembrando que ela havia morrido e que aquilo não tinha mais volta. Ela não voltaria.
O que me restava era saudade.
Apenas saudade.
— Você quer ir embora? — Scott me perguntou quando meu choro cessou mas eu fiz um não com a cabeça.
Peguei sua mão e a segurei com força. Cheguei mais perto do túmulo e me abaixei como Scott havia feito momento antes e respirei fundo. Ainda segurando sua mão, coloquei o restante das flores ali em cima, beijei a ponta de meus dedos e toquei o mármore frio em seguida.
— Eu te amo tanto, querida! — Funguei e Harris apertou sua mão na minha — Espero que seja feliz aonde quer que esteja. Sinto sua falta o tempo todo... — Um soluço escapou de minha boca sem eu querer — Queria ainda tê-la em meus braços, garotinha, mas você tinha planos além daqui e eu preciso entender isso. — Sorri em meio as lágrimas e quando olhei para Scott ele também estava chorando, mas me deu um sorriso caloroso de volta — Prometo que vou ficar bem. Nós te amamos, bebê!
Sinto meu coração esquentar e se acalmar. Eu estava triste mas por culpa da saudade. É claro que se eu pudesse voltar no tempo e mudar as coisas, descobrir antes sua condição de saúde frágil, eu voltaria sem nem pensar duas vezes mas isso era algo impossível e eu preciso aprender a conviver com minha dor.
— Dê tchau para a irmãzinha, garotão! — Scott disse minutos depois pegando a mão do bebê e acenando com ela na direção do túmulo. Sorri, assim como ele.
— Vamos? — Perguntei e Harris fez que sim com a cabeça, sem falar nada.
Ele puxou meu braço e colou seu corpo no meu, me dando um beijo. O bebê em seu colo se jogou na minha direção e eu o peguei. Ele parecia mais agitado que o normal, acho que estava feliz em saber que estávamos felizes também.
— O que acha de darmos uma passadinha no shopping? Precisamos comprar mais fraldas de pano para Seth naquela loja. As que temos quase não estão cabendo mais.
— Podemos comer pizza depois? Acho que vou sentir falta dela quando estivermos fora, sabe... — Ele disse fazendo biquinho e eu ri, me aconchegando como podia em seu braço, enquanto carregava um bebê serelepe no colo.
— Claro, querido. Podemos sim.
❤️❤️❤️❤️❤️❤️❤️❤️❤️❤️❤️❤️❤️❤️
ANTES DE TUDO...
MAIS DE 50K DE VISUALIZAÇÕES, EU AMO VCS ❤️❤️❤️❤️❤️❤️❤️
AGR SIM...
VOLTEEEEEEEEEI MEU POVO E MINHA POVAAAAA
ESTÃO TOMANDO CUIDADO NESSA QUARENTENA????????? ESPERO QUE SIMMM
Bom, esse é o resto do capítulo passado que vocês estavam ansiosos pra saber oq ia acontecer. Espero que esteja a altura do que vcs esperavam. Comentem o que acharam pra eu ter uma ideia de como estou indo hahahahah
Vcs já perceberam que eu demoro a atualizar, peço desculpas desde já oq acho q é uma coisa que n consigo mudar por nada nesse mundo haha
Se tiverem gostado, curtam e comentem o que acharam ❤️
Ps.: Estava devendo pra vcs uma foto de um bebê eu imagino como sendo o Seth, então coloquei na mídia desse capítulo, espero que gostem.
Me sigam lá MaiaParaQueTeQuero ❤️
Até a próxima e não se esqueçam de usar máscaras e álcool em gel peopleeee