Hot tub, nice butt

By fairiesbox

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LIVRO FÍSICO VENDIDO PELA LUO EDITORA [CONCLUÍDA] Crescer e se tornar um adulto é uma aventura. Aventura essa... More

⭒ 𝔸𝕧𝕚𝕤𝕠𝕤 ⭒
inúteu, a gente somos inúteu
meu docinho de coco, tá me deixando louco
é pior que cobra cascavel, seu veneno é cruel
superfantástico amigo, que bom estar contigo
eu tenho a minha fama de sofredor, então não conta pra ninguém
pane no sistema, alguém me desconfigurou
desde quando você se foi me pego pensando em nós dois
a amizade é muito importante e quando estamos juntos somos semelhantes
diz pra eu crescer, mas no fundo me vê como o seu neném
eu perguntava: do you wanna dance?
eu quero mais que um, mais que mil e mil e um
e se quiser saber pra onde eu vou, pra onde tenha sol, é pra lá que eu vou
você me deixa louquinho, chorando baixinho, louquinho de amor
a gente pega fogo, se entraga sem cansar
vamos aproveitar o tempo que nos resta pra gente se agarrar
queria por um dia conseguir mudar, deixar de ser errante
formamos um belo casal, somos dois namorados
se isso for verdadeiro me entrego de corpo inteiro
só ele faz minha pupila dilatar
ou fingir estar sempre bem, ver a leveza das coisas com humor
é tão particular o meu encontro quando é com você
meu sorriso se foi, minha canção também
eu não existo longe de você e a solidão é o meu pior castigo
os seus problemas são meus também e isso eu faço por você e mais ninguém
me cerco de boas intenções e amigos de nobres corações
eu gosto de você e gosto de ficar com você
pra gente se devorar na órbita do seu umbigo
quero poder jurar que essa paixão jamais será palavras, apenas palavras
até encontrar o nosso caminho neste ciclo, é o ciclo sem fim
é só isso, não tem mais jeito, acabou, boa sorte
o destino me trouxe até aqui, minha intuição me diz pra continuar
HTNB LIVRO FISICO!

deixa acontecer naturalmente

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By fairiesbox


S O O B I N

Relacionamentos sempre foram difíceis ou eu que não sei lidar com um?

Eu já estive em um relacionamento antes, mas durou tão pouco tempo que eu acho que nem conta como um namoro de fato. O cara só queria me comer, depois que conseguiu o que queria sumiu por uns quatro dias e voltou dizendo que precisávamos terminar.

Nunca mais namorei depois disso.

Não que eu e Yeonjun estejamos namorando, ninguém fez um pedido na verdade, e tem muito pouco tempo que isso está acontecendo também. De qualquer forma, eu nunca sei se estou fazendo as coisas certo ou só sendo muito grudento mesmo.

Eu gosto de passar todo o tempo que tenho com ele, então sempre que estou a toa dos afazeres da pousada ou só matando o trabalho com certeza eu vou estar com ele. Sei lá, acho que estou viciado nesse garoto.

Três dias se passaram desde que nos beijamos no galpão, e desde então minha boca nunca foi tão utilizada antes. Quero dizer... é.

Hyuka já foi embora e foi uma despedida mais melancólica do que deveria ser, parecia que ele estava indo embarcar num navio e que só voltaria depois de seis meses. Realidade: ele estava voltando para Seoul, mas voltaria para Sokcho depois que sua prova da faculdade passasse. Ele literalmente chorou horrores agarrado a mim e a Beomgyu, dizendo que morreria de saudades, mas logo depois se recompôs e disse que estava louco para tacar o terror na gente de novo. Ele vai sobreviver.

Desde que meu tio revelou saber da minha preferência por homens eu me sinto mais à vontade para demonstrações de afeto em público, embora sempre que a minha avó está por perto eu ainda evito um pouco. Vou contar a ela em breve, o pior que pode acontecer é ela quebrar o leque na minha cabeça.

Por falar no meu tio, ele tem sido um pouco mais comunicativo comigo. Não que agora a gente passe horas sentados no sofá, fazendo as unhas e fofocando, mas com certeza nos falamos mais do que antes. E ele tem desenhado mais também, já ganhei dois novos desenhos — um deles Yeonjun está ao meu lado.

Também tenho conversado bastante com a minha mãe. Inclusive, era mesmo ela ligando no dia do galpão, quase perdi os tímpanos com o tanto que ela gritou, mas depois que eu expliquei que estava com a boca ocupada ela entrou em desespero. A coitada achou que eu estava pagando um boquete pra alguém, vê se pode um negócio desses! Sou um garoto puro que não faz essas coisas... mas se o Jjuni quiser, estamos aí.

Depois que eu expliquei que eu estava beijando e não chupando o garoto, a mulher ficou radiante, chegando a chamar o meu pai para contar a novidade. A emoção dele foi a mesma que a de uma batata, mas logo depois ele disse algo sobre vir ao Éden conhecer o Yeonjun para saber quais as reais intenções dele comigo. Isso mesmo, que nem aqueles pais do século 20.

Por falar no Yuuri Katsuki da vida real.

Ele é incrível, sabe? Todo atencioso e fofo, parece até um ursinho carinhoso, embora algumas vezes se mostre alguém bem mente suja. Não sei lidar com isso, sou apenas um bebê.

Não sei por em palavras quantas vezes esse filho de uma mulher maravilhosa já me fez perder o juízo sem fazer grandes coisas. Ele se diz patinador, mas o verdadeiro esporte que ele gostava de praticar é o da provocação.

Em poucos dias o cara já aprendeu onde fica meu pouto sensível, sempre atacando lá sem misericórdia. Vergonhoso dizer, mas até gemer eu já gemi no meio de um cheiro no pescoço, e o sorriso filho da puta que ele escancarou pra mim só me deu a certeza de que ele adora fazer esse tipo de coisa. O filhote de satanás sabe onde me apertar, onde me beijar, sabe até o que falar para que eu simplesmente derreta que nem manteiga no pão quente.

Não sei se Yeonjun é um ótimo provocador ou se eu que sou muito fácil.

Ah, acho que deve ter gente curiosa para saber se ele foi testar minha cama nova comigo. Bem, infelizmente, não.

Como era a última noite do Hyuka, ele e Beomgyu quiseram fazer uma espécie de festa do pijama, onde os dois encheram meu saco para falar o que aconteceu no galpão já que, de acordo com eles, pela forma como saímos de lá era impossível que tenha sido só uns beijinhos. Eles acham mesmo que eu ia fazer esse tipo de indecência nunca lugar daqueles?

Ok, eu faria. Mas não na primeira vez! Eu ia preferir algo um pouco mais romanticozinho, pelo menos com ele. No fundo, no fundo, sou um romântico incorrigível.

E esse foi o resumo dos últimos três dias.

Agora já é noite, o que significa que logo será o quarto dia, e onde eu estou? Isso mesmo, indo até a hidro.

Parece que faz anos desde a última vez que eu estive lá e um certo alguém me viu peladão, para ser bem sincero eu nem mesmo lembro quanto tempo faz porque eu já perdi a noção há muito tempo. Pedi — quase implorei na verdade — para que meu tio deixasse eu ir até lá pouco depois da janta, que é quando os afazeres são concluídos e o funcionários liberados. No início ele não quis deixar, ficou relembrando a minha burrice de entrar pelado, mas eu dei uma choradinha e expliquei que estaria de short dessa vez, demorou um pouco, mas ele acabou deixando.

E é claro que eu não ia deixar de chamar meu patinador favorito — é o único patinador que eu conheço, mas ainda é meu favorito.

Acho que já está na hora de superar aquele dia e criar uma memória melhor na hidro. Trocar uns beijinhos também.

Vou despreocupadamente até a área onde fica a hidro e a piscina, tenho uma toalha no ombro e uso meu short com vários peixinhos — adotei o tema aquático da noite — e um moletom cinza que estava esquecido em cima da minha cama. Está meio frio, então eu devo ser bem corajoso de me enfiar numa banheira de água quente num tempo desse, correndo o risco de levar um choque término e conseguir um resfriado. Ou sou muito corajoso ou só tenho muito fogo na bunda.

Quando chego em meu objetivo ela já está ligada, borbulhando feito um panelão de sopa, apenas esperando o frango que sou para ficar pronta. Olho para todos os lados, me certificando de que não tem mais ninguém além de mim, tirando apenas o moletom quando concluo que estou mesmo sozinho.

Está frio para cacete e eu começo a pensar que não foi uma ideia muito boa, mas não é hora de amarelar. Chuto meu chinelo e deixou o moletom e a toalha sobre uma espreguiçadeira, correndo até a hidro e entrando de uma só vez. Não molho os cabelos, porque aí eu seria ainda mais burro.

E então eu esperei. E esperei. Esperei.

Legal, vou ser esquecido.

— Você não tá pelado, né? — no minuto em que escuto sua voz é como se o frio que sentia em meu rosto fosse apenas uma ilusão. Esquento mais que a água onde estou mergulhado.

— Não, meu tio arrancaria meu couro. — não o olho em nenhum momento, estou de costas para ele. — E também queria evitar que algum tarado visse minha bunda de novo.

— Então você não tá pelado? — nego com a cabeça. — Poxa, vou embora então.

Mesmo sabendo que ele está só zoando com a minha cara meu coração se acelera em desespero. Desculpa se sou muito emocionado.

Ele entra lentamente na hidromassagem, lá do outro lado, e mesmo que a iluminação não seja lá essas coisas eu consigo ver com perfeição seu sorriso, aquele tipo de sorriso que me dá ódio e me deixa arrepiado. Continuo imóvel, com as costas apoiadas em uma das paredes da hidro, me sentindo estranhamente ansioso quando ele começa a engatinhar na minha direção, não é muito fundo, então não tem como nadar.

Yeonjun para a centímetros de distância de mim, parecendo mais angelical do que deveria enquanto carrega um sorriso sacana em seu rosto. Antes de falar qualquer coisa o desgraçado aproxima o rosto do meu pescoço e inspira profundamente, logo depois encosta os lábios gelados em minha pele quente.

Eu sinto cada mísero pelinho o meu corpo se arrepiar com o contato.

— Oi. — ele diz, beijando minha bochecha antes de se ajeitar ao meu lado.

— Oi. — minha voz é apenas um fio, já que me sinto tão mole de repente. — Jurei que ia ser esquecido.

— Jamais esqueceria você, lindo. — sorrio meio sem graça. Ele tem me chamado assim ultimamente e eu ainda não me acostumei.

Eu queria muito dar um apelidinho meloso pra ele, mas não tenho criatividade para isso. Queria que fosse algo único e só nosso, nada daquela coisa clichê de amor, bebê, mozão, mozi, entre outros que chegar a ser vergonhosos demais. Bem, enquanto não penso em nada, uso apenas derivados de seu nome, e eu não gosto muito, parece que não somos tão próximos quanto queremos.

— Então, queria reviver nosso primeiro encontro? — dá pra perceber o divertimento em sua voz.

— Na verdade queria ficar mais tempo com você. — assumo. Acho que não tem mais porque eu tentar esconder as coisas. — E também foi uma boa desculpa pra te ver sem blusa.

— Que cara de pau. — ele põe a mão em minha coxa e a puxa para ficar sobre as suas. — Se queria me ver pelado era só pedir, seu tarado.

Estou arreganhado que nem um frango de padaria, não é uma posição muito confortável já que eu não sou tão flexível, uma perna esticada para frente e a outra sobre as pernas de Yeonjun. A dor muscular está garantida.

— Pelado não. — me ajeito até estar completamente sentado em seu colo, de frente para ele. — Eu estava era louco pra ver essa tatuagem de novo. Ela é muito bonita.

Lembram que eu disse que queria lamber o peito dele? Então, é por causa dessa cobra maravilhosa. Misericórdia, essa frase soou tão errada.

Sim, eu sou o tipo de pessoa que só falta latir por causa de uma cara tatuado, podem me julgar. Não sei se isso é algum tipo de fetiche, mas eu realmente adoro ver esses desenhos marcados na pele de alguém, é tão atraente e sexy. Uma vez eu fiquei tímido numa balada por causa de um cara que devia ter tatuagem até na bunda.

Peguei? Não. Mas eu fiquei a noite inteira babando por ele, saí daquela boate do jeito que eu entrei. Sozinho.

Enfim, Yeonjun ter uma tatuagem apenas o deixa ainda mais gostoso do que ele já é. Que os deuses tenham piedade de mim.

— Já pensou em fazer uma? — sinto suas mãos quentes segurarem minha cintura e acariciar. Estremeço.

— Eu não, morro de medo de agulha. — espalmo a mão em seu peito. — E eu gosto de ver nos outros, não em mim.

Sutilmente começo a contornar o desenho que marca o lado esquerdo de seu peito, começando com o coração com a espada e só então contornando a cobra.

— O que significa? — pergunto baixinho.

— Eu só achei bonita e fiz.

— É sério isso? — olho no fundo dos olhos dele e ele ri. Aquele riso nasal, sabem?

— Não. — sua mão segura a minha, me impedindo de continuar a contornar sua tatuagem. — Tatuei essa cobra porque uma vez eu me apresentei com um figurino que imitava a pele de uma cobra, e foi minha melhor apresentação. Aquilo foi marcante e especial pra mim, o momento que eu mais senti orgulho de mim mesmo.

— Eu acho que não vi essa. — eu só assisti uns três vídeos do Yeonjun patinando. — Na verdade, posso até ter visto, mas eu reparo mais nas piruetas malucas e em como seu corpo fica incrível nas roupas, não observo muito a roupa em si.

— Depois eu que sou o tarado. — belisco seu ombro e ele ri de mim.

— E o coração? Você foi corno? — brinco. Ele revira os olhos para mim. — Faça dos seus chifres uma coroa.

— Frase motivacional de pára-choque de caminhão. — eu achei mais legenda de tia velha no Facebook. — Representa bravura, porque meu avô uma vez disse que eu era muito corajoso por fazer todos os saltos sem hesitar.

— Então é uma arte pra sua arte. — digo sem pensar, só depois reparando como a frase soou meio doida.

— Cheio de frases de pára-choque hoje, lindo. — ele sorri doce.

Caímos no silêncio depois disso, mas nunca é algo incômodo. Eu gosto de estar com ele, não precisamos trocar mil palavras por segundo quando estamos juntos, só de estar com ele eu me sinto bem.

Eu estou mais gay que o normal ultimamente.

Deito a cabeça em seu ombro e aproveito a quietude que fica entre nós, sentindo-me cada vez mais sonolento, talvez por causa das movimentação da água ou talvez seja o fato de que Yeonjun começou a acariciar minhas costas e a cantarolar, quase como se estivesse me ninando. Estou me sentindo como quando eu tinha cinco anos e tentava dormir na piscina de plástico pra não parar de brincar de sereia.

— Isso tá me dando sono. — só está faltando eu começar a ronronar, porque mole eu já estou.

— Então temos que te manter acordado. — e antes que eu consiga raciocinar ele abraça minha cintura e se inclina pra frente, me fazendo afundar. — Melhor?

— Só não te mato aqui agora porque eu seria o principal suspeito. — jogo meus cabelos molhados trás e me arrepio pelo contato do vento frio com o meu corpo quente.

Ele fica me encarando, me avaliando até onde pode, como se estivesse tentando encontrar alguns coisa. Só espero que não seja nada ruim, senão eu entro em pânico.

Yeonjun fecha os olhos por poucos segundos antes de se inclinar na minha direção. Eu, paranoico como sou, penso que ele vai tentar me afogar de novo, então fecho os olhos com força e prendo a respiração, esperando estar embaixo d'água de novo. Mas ao invés disso eu sinto sua boca contra a minha.

Ah, ele ia me beijar.

Talvez isso seja um fato que eu demore um pouco a me acostumar, porque eu nunca pensei que aconteceria. As vezes eu realmente acho que em algum momento eu vou acordar na minha antiga cama mutante e ficar com cara de tacho quando perceber que tudo isso foi um sonho. Só que sempre que a língua dele toca a minha é como se eu entendesse que tudo isso é mais que real, eu não teria todas essas sensações se não fosse.

Envolvo os braços em seu pescoço, me aproximando mais dele — como se isso fosse possível —, o beijando na mesma intensidade em que ele me beijava.

De repente eu escuto vozes femininas, não sei se é coisa da minha cabeça, mas mesmo assim eu saio de seu colo e volto a sentar ao seu lado, ficando de costas para o caminho por onde as pessoas chegam nessa área.

— Oh, tem duas pessoas aqui. — uma diz. São mesmo duas mulheres. — Acho que não vão se importar.

Em pouco tempo eu avisto a figura das duas entrando na hidro. Elas chegaram na pousada no dia anterior, bem animadas e falantes, perguntando o tempo inteiro quais eram as atividade que o Éden realizava para os hóspedes.

As duas parecem bem jovens, na verdade até parece que saíram de algum grupo de kpop. São bonitas e tem aquele corpo padrão coreano, uma tem o cabelo um pouco acima do ombro e a outra tem o cabelo tão comprido que deve até bater na bunda dela.

— São dois caras. — vestidos, graças aos deuses. Elas se acomodam no canto, perto de nós. — Ei, você não é aquele patinador? Choi Yeonjun?

— Ah, sou sim. — aparentemente eu sou o único trouxa que não conhecia ele antes.

— Nossa, você é ainda mais bonito pessoalmente. — concordo hein. Pelos vídeos ele é lindo, ao vivo ele é maravilhoso. — Você tem namorada, oppa?

Tudo bem que eu não gosto de honoríficos, mas isso não não significa que eu vou julgar todo mundo que usa, só que eu não consigo explicar a vergonha que eu sinto sempre que ouço uma mina chamando um cara de "oppa", e só fica pior quando forçam uma voz fofinha.

E adivinha quem fez isso? Pois é, a menina de cabelo curto. Nossa, senti vontade de me afogar de verdade.

— Hm, não. — imagina se mete a louca nele e ele diz que tem namorado. Ok, eu não sou namorado dele, viajei.

— Poxa, que pena. — consegui sentir a tristeza na voz dela. Percebam a ironia.

— Mas eu gosto de alguém e tenho planos de estar com essa pessoa em breve. — adoro um homem que não usa gêneros. — Bem meninas, se me derem licença, eu tenho que ir.

Ele se levanta e sai pela borda, e eu vou atrás, porque não tem cabimento ficar ali com aquelas duas, não as conheço. Talvez não tenha sido muito sútil da minha parte, mas sutileza foi a última coisa em que eu pensei antes de "fugir" dali.

Corro feito um míssil até minha toalha, me secando o quanto pude e vestindo meu moletom às pressas, escondendo meus cabelos molhados com o capuz e prendendo a toalha na cintura. Se foder esse frio.

Yeonjun é mais chique do que eu, ele veste um roupão azul marinho e deixa a toalha na cabeça, mesmo que ele não tenha molhado os cabelos.

Andamos quase que correndo até que estarmos longe da hidro, rindo quando chegamos em frente a casa principal. Não sei se riamos pelo mesmo motivo, mas estávamos ali, rindo como se alguém tivesse contado uma piada super engraçada.

— Então, Yeonjun oppa. — implico, ganhando um soquinho no braço. — Melhor irmos antes que a gente pegue um resfriado.

— É. — mas a gente nem se mexe. Viados. — Vamos sair amanhã? Um encontro, só eu e você, você e eu.

— Juntinhos. — completo, sorrindo em seguida e selando seus lábios brevemente. — Boa noite, Jjuni.

Beijar na boca é bom, né?

Enfim, eu sei que vocês devem estar se perguntando "caralho Soobin, por que não chamou o cara pra dormir com você?" e a resposta é uma única palavra: Beomgyu.

Ele vai dormir comigo hoje, disse que queria conversar sobre não sei o que e que precisávamos estar sozinhos. Tenho até medo do que possa ser.

Entro correndo, entrando no quarto e vendo meu amigo todo largado no colchão, mais confortável do que deveria. Ele olha pra mim, eu olho pra ele, eu pego meu pijama e vou direto pro banheiro, louco pra me enfiar embaixo das cobertas e ficar embrulhado feito um burrito.

Banho tomado, dentes escovados, cabelo secado no secador. Nada que mereça ter um espaço especial nessa história.

Volto pro quarto e me jogo na minha caminha gostosa. Ter trocado de cama foi a melhor coisa que me aconteceu... Ok, um das melhores coisas que me aconteceram.

— Solta o verbo, cuzao. — digo enquanto me cubro até a cabeça, deixando só a cara de fora. Eu disse, um burrito.

— Vou perguntar, mas não é pra me zoar. — espero que minhas suspeitas não estejam certas, senão eu vou cair dessa cama. Concordo em não zoa-lo por seja lá o que for. — Como é chupar um pau?

Juro que senti meu espírito saindo do meu corpo e indo encontrar os deuses no céu. Eu estava certo.

Respiro fundo, fecho os olhos e penso no que eu posso falar para ele. Eu já imaginava que Beomgyu me perguntaria algo do tipo em algum momento, mas eu não imaginava que me sentiria tão nervoso.

Não tenho problemas em falar sobre sexo, mas eu não precisei "ensinar" ninguém a fazer algo.

— É estranho no começo. — se está na chuva é pra se molhar. — Mas é tudo questão de prática, sabe? Não é como se a gente nascesse sabendo fazer um bola gato.

— Bola gato? — será possível que até isso eu vou ter que ensinar.

— Ball cat, jovem mancebo.

O resumo da noite foi eu tentando ensinar meu melhor amigo a pagar um boquete — não na prática, obviamente! — ao mesmo tempo em que eu tentava não explodir de vergonha. Ensinar esse tipo de coisa é pior do que só falar que eu faço.

Será que foi assim que meus pais se sentiram quando foram falar de sexo comigo pela primeira vez? Eu nunca mais quero passar por isso. Meus futuros filhos que lutem.

— E como faz pra não morder? — ele perguntar depois que eu ensino toda a técnica da língua no céu da boca. Anos de fanfic também são úteis, viu menines?

— Não existe isso de morder pau! Tu só morde se você quiser. — reviro os olhos. — Pode até raspar os dentes sem querer, mas tem cara que gosta. Aconselho não arriscar, cobre os dentes com a boca assim.

Faço a demonstração e me sinto ainda mais patético do que antes. Podem me levar, estou pronto.

Depois dessa conversa super instrutiva e vergonhosa, meu querido amigo me deu as costas e disse que ia dormir, só porque eu ia perguntar se ele estava pretendendo por em prática meus ensinamentos. Acho que ele não quer falar sobre isso, mas é só um palpite.

Como estou cansado feito um burro de carga acabo pegando no sono rápido.

Good morning, world! Today I have a date.

Bem bilíngue e com o Fisk em dia que eu começo o meu dia. Também começo com o cabelo do Beomgyu fazendo cosquinha no meu nariz e com o barulho do liquidificador na cozinha.

Não levanto logo de primeira, sinto uma preguiça e uma vontade de ficar na cama o dia inteiro, e o fato de ainda estar todo enrolado e encolhido no edredom só piora a minha situação.

— Tá acordado? — uma mão cobre a minha cara e não é minha. — Fecha a cortina, essa claridade tá atrapalhando meu soninho.

Beomgyu ainda parece estar mais dormindo do que acordado quando diz isso, e eu acho tão fofo que não tenho outra saída a não ser fazer suas vontades.

Levanto e fecho as cortinas, não resolve muito já que as cortinas não são muito grossas, mas dá uma quebrada na claridade. Jogo meu edredom em cima de Beomgyu e saio do quarto, indo até a cozinha e vendo meu tio com um pano de prato no ombro e misturando alguma coisa numa frigideira.

— Bom dia. — bebo um pouco do suco detox que ele fez e me arrependo assim que sinto o gosto. — Que isso? Vômito de bebê?

Dependendo do detox eu até que gosto, mas esse parece que trituraram um cadáver e colocaram no copo.

— Ninguém mandou você beber isso. — ele se vira para me olhar, pegando o copo e tomando um gole. — Vou encher essa merda de açúcar.

— Quer ser fitness agora? — abro a geladeira e encontro um único iogurte lá dentro. Pego e bebo.

— Só pra ter mais energia. — ele põe sua fritada num prato e começa a comer, não tocando uma vez sequer no seu detox. — Minha mãe disse que estou parecendo um inválido. Eu? O cara que faz praticamente tudo nesse lugar? Palhaçada.

— Parece um adolescente reclamando. — jogo a embalagem vazia na lixeira. Me encosto no batente da porta, de braços cruzados. — Pode me liberar hoje?

— Pra...? — finalmente ele toma um gole do negócio, fazendo careta.

— Yeonjun me chamou pra um encontro. — sorrio que nem um banana. Eu tenho um encontro la la la.

— Hm... — numa mordida de urso ele termina a fritada, largando o prato e os talheres sobre a pia e me encarando. — Tudo bem. Mas você sabe que você só tem esse privilégio porque é parente, certo? Se fosse um outro emprego você não poderia fazer isso nem nos seus sonhos.

— Eu sei que é um abuso, que eu vim aqui pra trabalhar, desculpa. — se o objetivo dele era fazer eu me sentir um merda, parabéns! Conseguiu.

— Não se preocupa com isso. Vai curtir o seu encontro, não tem muita coisa para fazer hoje. — ele passa por mim bagunçando meus cabelos.

Eu sei que isso aqui não é um emprego sério, meus pais arrumaram isso pra mim só para que eu tivesse mais responsabilidade e acho que até funcionou, mas eles não precisam de mim de fato, tem outros empregados aqui, treinados e melhores do que eu, só me dão algumas tarefas simples e acho que não precisam de mim a todo instante.

Tomo um banho depois dessa breve conversa com o meu tio e visto o mesmo moletom da noite anterior e um short verde cheio de palmeiras.

Deixo Beomgyu dormindo, porque o garoto não tem muita coisa para fazer de manhã cedo, geralmente ele só acorda para tomar café e depois volta para dormir, mas ele está tão fofo encolhido no meio da cama e embolado em dois cobertores que eu que não vou me atrever a acorda-lo.

Desço para o salão, encontrando Taehyun e Yeonjun parados na porta, ambos vestindo a típica roupa de corrida e conversando.

— Bom dia. — digo animado quando me aproximo deles.

— Bom dia, lindo. — Yeonjun deixa um beijo discreto em minha bochecha, que na verdade foi bem perto da minha boca. Menino ousado. — Vamos sair depois do almoço, tudo bem?

— Sem problemas. — sorrio, embora eu já sinta aquela ansiedade tomando conta de mim.

Já saímos sozinhos, mas dessa vez é realmente um encontro, é a primeira vez que saímos juntos como um casal e saber disso me faz sentir aquele quente na boca do estômago que você não sabe se são borboletas ou vontade de ir ao banheiro.

Tomamos café juntos, Taehyun me perguntou onde estava Beomgyu e eu expliquei que o coitado estava morto na cama e que não tinha previsão para que ele acordasse ainda nessa vida, o nadador fez um comentário engraçado sobre Beomgyu ser um lêmure — criatura noturna — e ele precisou me explicar, porque eu não sabia que lêmures são animais que dormem durante o dia e passam a noite acordados. Depois eles foram caminhar e como não tinha nada para eu fazer, resolvi tomar o único rumo que me sobrava.

Voltar para a cama.

Sim, eu voltei a dormir e sonhei com o meu encontro com o Yeonjun. Um sonho mais colorido que parada gay e bem clichê também. Tinha um restaurante, um cara tocando violino e um garçom trazendo um carrinho cheio de doces, e até poderia ser um sonho normal, se não fosse pelo fato de que eu e Yeonjun éramos minúsculos e que para crescer tínhamos que comer um bolo.

Alguém falou referência?

Acordei pela segunda vez com uma mão na minha cara, mas dessa vez era alguém puxando minha bochecha. Abro os olhos puto da vida, pronto para socar a cara de alguém, mas me surpreendo quando vejo Yeonjun todo sorridente sentado ao meu lado da cama.

— Já é quase hora do almoço, dorminhoco. — olho para ele confuso. Como ele entrou? E como já é quase hora do almoço se eu me deitei tem cinco minutos? — Sua avó deixou eu subir para te acordar.

Ele parece já estar pronto para sair e está chique demais para um encontro simples. Uma blusa verde em gola V que está enfiada dentro da calça branca com um cinto preto destacado e, como se ele já não parecesse rico o bastante, uma boina azul marinho na cabeça. Eu não pensei que precisasse ver Yeonjun de boina até ver Yeonjun de boina.

Enquanto eu continuo com meu look "estou indo ali na esquina comprar pão", bem derrotado mesmo.

Me levanto feito um zombie, me arrastando até o banheiro para lavar o rosto e terminar de acordar, tenho que estar bem acordado para me vestir a altura desse monumento. Digo, homem.

— Eu preciso me arrumar. — digo manhoso, voltando para o quanto ainda me arrastando. — Sai, vou trocar de roupa.

— Vai nem tomar um banho, sujismundo*? — eu o empurro para fora, fechando a porta em seguida.

— Tá frio demais e eu tomei banho de manhã cedo. — cheiro meu sovaco só para garantir, sentindo-me aliviado ao sentir o cheirinho do desodorante. — Ainda to cheirosinho.

Visto uma jeans escura, que eu só a enfiei na minha mala por insistência da minha mãe, e eu devo agradecer a ela senão eu estaria ou pondo um short ou indo caçar calças no quarto do meu tio, porque de moletom eu não ia. Enfim, também visto uma blusa preta de manga comprida e gola alta que marca meu peitoral nada malhado.

Saio do quadro e encontro Yeonjun parado na sala, ele está concentrado em seu telefone, mandando mensagem para alguém, mas logo ele percebe minha presença e guarda o aparelho no bolso do calça.

— Essa blusa é suficiente pra te esquentar? — ele pergunta apontando para a blusa que eu uso.

— Olha pro teu rabo, macaco. — quer falar da minha, mas a dele claramente não esquentaria nem um urso em época de hibernação.

— Eu estou usando duas blusas. — ele afasta a gola da blusa verde que usa apenas para me mostrar a branca que tem embaixo. Eu aproveito para reparar um pouco em sua clavícula. — Não tem nenhum casaco que te deixe bem aquecido? Hoje tá mais frio.

— Eu só tenho moletom. — eu estou a ponto de surtar por causa de sua preocupação comigo. — E nem vou tentar ver com o meu tio, qualquer roupa dele vai parecer uma túnica em mim.

— Eu devo ter algo que te sirva, vamos lá ver. — apenas concordo e volto para o quarto apenas para pegar o necessário.

Celular e carteira, tudo enfiado nada delicadamente no bolso de trás da minha calça.

Desço com Yeonjun e passamos direto pelo salão, algumas pessoas já estão lá dentro esperando que o almoço seja servido. O segundo melhor casal — porque agora eu e Yeonjun somos o primeiro — não está lá, suspeito.

Vamos direto para o quarto e, estranhamente, ele bate na porta antes de usar o cartão para destranca-la. Assim que entramos eu reparo bem em tudo a minha volta, porque estou suspeitando da porra toda agora, mas tudo parece estar em seu devido lugar, até mesmo os dois bonitos parecem super de boa sentados um do lado do outro na cama de Taehyun.

— Que isso? Desfile de moda? — Beomgyu nem se mexe direito, parece que está com a bunda colada no colchão.

— Não é porque você anda todo largado que os outros tem que andar também. — implico.

— Disse o cara que usaria short até no casamento real se fosse convidado.

— Binnie, acho que esse sobretudo ficaria bom com essa sua roupa. — Yeonjun corta nossa discussão falsa, vindo em minha direção segurando um sobretudo preto.

Mais uma vez eu com um look emo gótico e não choca ninguém.

— Casal tumblr. — Beomgyu continua implicando.

— Tumblr tá fora de moda, ursinho. — caralho, brochei tanto com essa que meu pau até sumiu. — Eles são um ulzzang couple.

— Ainda é bilíngue o meu diabinho. — puta merda, a tendência é piorar.

— Yeonjun, vamos sair daqui antes que eu vomite nesses dois. — seguro sua mão e o rasto para fora do quarto, conseguindo ouvir a risada do casal nojinho lá dentro.

Acontece que a gente nem saiu de frente da porta, ficamos esperando um tempo do lado de fora até que Taehyun e Beomgyu saíssem, o segundo rindo da minha expressão de nojo quando olhei para eles.

Fomos todos até o salão e eu me senti uma verdadeira celebridade por causa dos olhares que recebemos assim que entramos, parecia que ninguém nunca tinha visto dois caras bem vestidos antes na vida. Até as duas garotas da noite anterior ficaram nos encarando, se olhar arrancasse pedaço Yeonjun seria um queijo suíço.

— Abriram os portões da agência de modelos e vocês dois fugiram? — meu tio pergunta todo impressionado olhando para nós. — Esse encontro vai ser em Paris, por acaso?

— Até tu jaburu? Só elogia e vai embora. — tento miseravelmente empurra-lo para longe, mas é tão inútil quanto uma formiga empurrando uma geladeira.

— Nossa, Soonin, tá bonito. — até minha avó entra na brincadeira, alisando meu braço e avaliando todo o meu look. — Tá a cara do seu pai, só falta o óculos.

— Obrigado, vovó. — com ela eu não consigo ser ignorante, ela é só uma senhora de idade muito meiga e que usa azul demais pro meu gosto.

Almoçamos junto ao povo, eu bato um prato de pedreiro que daria orgulho a minha prima, Yeji, que come feito um mamute faminto, quase não tenho forças para me levantar depois de comer tanto e até chego a considerar ser carregado de volta para o meu quarto. O encontro que lute.

Ficamos um tempo sentados no salão, apenas olhando pra morte da bezerra, e só saímos de lá porque fomos expulsos pelo meu tio.

— Tenham um bom encontro. — Beomgyu diz cheio de segundas intenções na sua fala. — Usem camisinha, crianças.

— E você, cuidado pra não engasgar. — a cara do menino fica pálida quando eu digo isso e eu não poderia me sentir mais satisfeito.

Depois de escovar os dentes, porque zero condições de ir com bafo de comida, nos encontramos no estacionamento e trocamos um selinho quase tímido. Como se não tivéssemos nos agarrado horrores na noite passada.

Entramos no carro e ele nada disse, e isso só me deixava mais nervoso, porque ele nem sequer me deu uma diquinha de para onde estamos indo. Não ataque minha ansiedade auto-diagnosticada, Choi Yeonjun.

Ele começa a dirigir, saindo do Éden, e continua mudo sobre o assunto encontro, mas não poupa esforços para cantar a música que toca no rádio. O cara faz tudo bem, mano. Ele está cantando Song Cry e eu estou com vontade de chorar, porque está impecável.

— Muito lindo, mas diz logo pra onde caralhos estamos indo. — me revolto, diminuindo o volume do rádio e o ouvindo rir, claramente achando graça no meu desespero.

— É surpresa, lindo. — sua mão gentilmente toca meu joelho e acaricia por alguns segundos, logo voltando pro volante. — Não se preocupe.

E é claro que isso apenas atiçou ainda mais minha ansiedade, porque eu não conseguia parar de tremer a minha perna, tentando pensar para onde estamos indo.

Tudo passa rápido do lado de fora e eu não poderia ligar menos, estou mais preocupado em tentar adivinhar do que ficar olhando árvores e carros passando a toda velocidade do nosso lado. Tiro os olhos da janela por um minuto, encarando meu motorista particular, tentando ler sua mente, mas eu acabo é me distraindo com ele.

Não sei se eu já comentei isso, mas Yeonjun fica tão *insira alguma palavra aqui, porque eu estou sem condições* quando dirige, me arrepio todo o vendo com as mãos no volante com firmeza e todo concentrado no caminho. Eu poderia até latir nesse momento, porque acabo de perceber que sou muito cadelinha desse cara.

— Nem uma diquinha? — pergunto manhoso, tentando amolecer seu coração.

— A dica é: vai ser divertido. — ajudou muito.

Só consigo pensar em uma coisa divertida para nós dois fazermos, isso mesmo: parque de diversões.

Mas não tem isso em Sokcho, então eu já anulo isso dos meus pensamentos.

Desisto de tentar e apenas me deixo ser levado pelas músicas que tocam, cantando junto de Yeonjun. Se nada der certo podemos formar uma dupla e tentar a vida de idol, poder ter sucesso.

— Chegamos, Binnie. — ele estaciona o carro no estacionamento aberto e meio vazio.

É um parque, mas não é de diversões. É só um parque aberto, cheio de árvores e, provavelmente, devem ter bancos e brinquedos para crianças. Eu não consigo pensar em como isso pode ser divertido.

O parque não está muito cheio, com certeza por causa do clima frio, mas tem algumas famílias e casais curtindo o dia nesse lugar bonito. Não paramos de andar até que cheguemos ao final do parque e só então eu entendo qual era a "surpresa".

Uma coisa que eu nunca imaginaria era que tinha um rinque de patinação num lugar como esse. É apenas uma pista de patinação a céu aberto onde as pessoas podem pagar para aproveitar um pouco do esporte.

Yeonjun me trouxe para patinar, só tem um problema... eu não sei patinar!

Sou uma negação em tudo quanto é esporte, eu não sei nem jogar iô-iô direito, aquela merda de barbante embola e o negócio nunca volta para mim. Então, imaginem, um cara que nem consegue fazer algo simples em pé em um sapato com lâminas tentando se manter equilibrado sobre eles.

Não vai dar bom.

— Jjunie, você vai e eu fico te olhando. — eu sei que vou me ferrar nisso, sinto na minha teta esquerda.

— Ah, vamos, lindo. — ele me lança um olhar de cachorrinho abandonado e eu não consigo resistir.

— Tudo bem, mas você tem que ficar do meu lado o tempo inteiro. — e como se já estivéssemos lá eu agarro seu braço.

— Prometo.

Tivemos que pagar para entrar, é como diz aquele ditado "nada na vida é de graça", ficaríamos uma hora nessa nova forma de tortura.

Yeonjun me ajudou a calçar o patins enquanto eu ficava sentado no banco me concentrando para não desmaiar ali, meu coração batia tão rápido que parecia até que eu estava em uma situação de grande perigo.

Enquanto eu estava quase morrendo por antecipação, o meu acompanhante estava se alongando ao meu lado, eu até pensei em fazer a mesma coisa, mas capaz de eu distender um músculo numa dessas.

Tive que ser segurado para chegar até o gelo já que eu nunca conseguiria sozinho. Assim que as lâminas tocam a superfície gelada eu me sinto a própria Raven tendo uma visão. Eu consegui ter uma clara visão de eu me ferrando bonito.

— Mantenha os pés retos e firmes no chão, você não é um cachorro de meia, não precisa levantar a perna até o peito. — ele me leva até o corrimão que cerca todo o rinque.

Yeonjun exala elegância e confiança sobre os patins, deslizando sobre o gelo como se fizesse isso a vida inteira. Bem, ele praticamente faz.

Enquanto isso eu pareço uma criança dando os primeiros passos. Dois extremos, ainda bem que dizem que os opostos se atraem.

— Não cruze os joelhos, amor. — nossa, até me desequilibrei aqui. Fiquei sambando sobre o gelo, só conseguindo me manter em pé por estar agarrado ao corrimão como se minha vida dependesse disso. — Calma, não fica com medo, ok? Não tem problema cair, é bem normal.

— Até criancinhas sabem patinar. — no momento em que digo isso passam dois garoto de uns onze anos do nosso lado. — Viu?!

— Presta atenção no que você tá fazendo, ok? — ele segura o meu braço e tem toda a paciência de ficar só meu lado. Ele poderia estar mandando piruetas agora. — Flexione um pouco os joelhos. Isso.

Sinto que estou tremendo feito um pincher, mas Yeonjun está ao meu lado, me segurando e me ajudando a dar pequenos passos.

O que me acalma é saber que não sou o único que está tendo dificuldades, tem pelo menos outras três pessoas agarradas ao corrimão e se segurando para não se estabacar no chão. Eu mantenho os olhos nos meus pés, apenas os fazendo deslizar um pouquinho, quase não os movendo. Passos de formiga.

— Não fique olhando pros seus pés, só vai te deixar mais nervoso. — é fácil pra ele falar, já está acostumado. — Olhe pra frente.

— Vamos ficar uma hora aqui com você só tentando me ensinar. — olha em volta, até que o rinque não está tão cheio. — Pode ir patinar, Jjuni. Eu vou ficar aqui agarrado a esse corrimão.

— Não vou deixar você. — ele sorri para mim e eu quase desmancho.

— Mas eu queria te ver patinando, Jun. — faço charminho, fazendo um biquinho fofo.

— Tudo bem, mas eu vou só dar uma volta e já volto pra você. — antes de se afastar ele beija minha testa carinhosamente.

Seguro com ainda mais firmeza no corrimão quando ele solta meu braço e fico parado feito uma estátua para garantir que não vou cair.

Yeonjun patinando é ainda mais perfeito do que dirigindo. Ele parece tão seguro de si enquanto desliza elegantemente entre as poucas pessoas do rinque, parece que nada o abala e que todos os seus medos já não existem mais. Pensei que eu não podia ficar ainda mais atraído por ele, mas parece que eu me enganei.

Me atrevo a dar alguns poucos passos ainda grudado naquele pedaço de ferro como se fosse parte de mim, olho para meus pés mesmo Yeonjun dizendo para não o fazer, mas é que impossível não olhar, eu sinto que vou embananar todo caso não esteja vendo o que estou fazendo.

Acontece que enquanto eu olho para baixo como um tampado, um garotinho estupido vem na minha direção e me empurra. Sim, ele me empurra, e eu sei disso porque consegui sentir o impacto de suas mãozinhas em minha barriga, mas pior ainda, consegui sentir o impacto da minha bunda contra o chão duro.

Choi Soobin, vinte e um anos, sofrendo bullying de uma criança.

— Você é muito ruim tio. — o garoto diz todo atracado, rindo da minha cara de cu. — Tinha que ser que nem ele.

E ele aponta para Yeonjun. Se eu chutar essa criança, será que alguém vai ligar?

— Acontece, seu catarrento, — sim, eu vou bater boca com um moleque de dez anos. — que ele é patinador profissional e eu nunca fiz isso antes, se manca.

— Mas você é velho, meu pai diz que velho sabe tudo. — era só o que me faltava. Agora eu sou velho também. — Tem que saber patinar também.

— Seu pai tem argumentos burros. — solto sem pensar nas prováveis consequências. Torço para que o pai desse pigmeu não seja um lutador de MMA.

— Pai! — no mesmo minuto o garoto saiu correndo. Sim, correndo no gelo feito um foguete.

E eu nem consigo me manter em pé direito.

Me desespero tentando ficar em pé de novo, forçando meu corpo para cima e usando o corrimão para me dar impulso. Meus deuses queridos, eu vou apanhar de um pai de família, meu primeiro encontro com o Yeonjun vai ser estragado porque eu tenho a língua grande demais e ofendi o pai de um moleque.

No mesmo minuto que eu consigo me colocar de pé Yeonjun aparece ao meu lado mais uma vez, segurando meu braço e me olhando preocupado.

— Eu vi que você caiu. — tadinho, eu consigo sentir a culpa em sua voz. — Tá tudo bem?

— Tá sim, mas a gente precisa ir embora agora. — tento me apressar em direção à saída, mas eu perco o equilíbrio e quase caio de novo.

— Por que? Aconteceu alguma coisa? — ele franze o cenho, não está entendo coisa alguma.

— Você viu que foi uma criança que me empurrou, certo? — ele acena positivamente. Muito bom, então eu estava certo, aquele pirralho piolhento me empurrou mesmo. — Digamos que eu tenha ofendido o pai dele no calor do momento e eu posso apanhar agora.

— Não acredito, Soobin. — ele começa a rir enquanto me ajuda a chegar na saída.

Com muito dificuldade nós conseguimos sair, já quase me sinto seguro.

Infelizmente, enquanto eu tirava o patins no puro desespero e ansiava pelo meu coturno, uma sombra se faz sobre a minha cabeça e eu tenho certeza que não foi uma árvore que se moveu para vir me dar um oi.

Sinto a minha vida se esvaindo de mim lentamente. Eu só queria ter um encontro legal, sabem? Algo bem romântico e memorável, não estava nos meus planos levar um soco no olho ou perder um dente.

— Pois não? — faço a sonsa mesmo. O catarrento está atrás do homem, agarrado em sua blusa.

— Meu filho disse que você me chamou de burro. — este homem está pronto para me acertar um ganche de esquerda.

— Nem te conheço, senhor, como eu te chamaria de burro? — isso mesmo, acho que estou me saindo bem.

— Está chamando meu filho de mentiroso? — engano meu.

— Olha, cara, esse moleque aí me empurrou e veio implicar comigo só porque eu não sei patinar, depois ele ainda me chamou de velho. — estou começando a perder a paciência. — Aí ele disse que você disse que velhos sabem tudo, e eu disse que era burrice. Não gostou? Problema seu.

Me levanto na pressa, nem amarrando meus cadarços, e vou quase correndo em direção a Yeonjun, ele estava pagando pelos patins usados e conversando com a mulher todo simpático.

Assim que estou perto agarro seu braço e olho para ele desesperado, implorando silenciosamente para que a gente vá embora antes que eu leve um murro no meio da cara.

Saímos com pressa do rinque, como se estivéssemos fugindo da polícia, só desaceleramos o passo quando chegamos no parque, nos sentando num banquinho perto de um bebedouro e embaixo de uma árvore enorme.

— Estraguei nossa diversão. — digo ressentido.

— Claro que não, lindo, ainda vamos nos divertir muito hoje. — ele envolve o braço nos meus ombros e acaricia meu braço. — Não se preocupe.

Deito a cabeça em seu ombro e suspiro, ainda sinto uma dorzinha não minha bunda pela queda, mas nada muito preocupante.

— Ei! — ouço ao longe e todos os meus pelos se arrepiam. Vou começar a correr agora. — Espera.

Pai e filho vem andando em nossa direção, prontos para começar uma treta no meio do parque.

— Acho que meu filho tem algo a dizer. — ele puxa a criança para sua frente e belisca seu braço. Concelho tutelar nele. — Fala, Jiwon.

— Desculpa ter te empurrado, tio. — o tal do Jiwon não parece nada contente por ser obrigado a fazer isso. Eu estou radiante.

— Tudo bem. — me faço de ser misericordioso, mas por dentro eu estou rindo da cara dele. — E me desculpe pelo comentário, nunca foi minha intenção ofendê-lo, senhor.

Eu também sei assumir meus erros, estão vendo?

— Está tudo bem. — o pai dá um sorriso mínimo e se curva minimamente. — Desculpe mais uma vez.

Eles de afastam de nós e eu consigo sentir que aquele moleque vai levar algum castigo pelo que fez comigo, e eu não poderia estar mais radiante.

Isso é para ele aprender a respeitar os mais velhos e não sair empurrando os outros num rinque de patinação. Eu poderia ter quebrado o cóccix e não seria legal, eu ia processar toda a família dele.

Depois desse acontecido ainda ficamos um tempo no parque, visitando e conhecendo melhor as coisas bonitas que tinham. O parque é realmente enorme e tem várias árvores em volta, mas também tem um lago e uma ponte de pedra muito bonita e até romântica, e é para lá que nós vamos.

Não tem muitas pessoas por perto, na verdade só tem um outro casal e com certeza eles não estão ligando muito para nós.

Yeonjun me abraça por trás e apoia o queixo em meu ombro. Geralmente eu não sou muito a favor de demonstração de afeto em público, mas eu gosto de estar perto dele a todo instante, então acho que agora não tem problema.

— Agora que tudo foi resolvido, nós poderíamos voltar pro rinque. — ele disse baixinho, bem perto do meu ouvido.

— Nem fodendo, não entro lá de novo nem se você me implorar de joelhos. — sinto minha bunda latejar só de pensar nisso.

— Poxa, pensei que quisesse me ver patinando. — ele beija minha nuca.

— Eu quero, mas não quero estar no rinque com você, quero estar do lado de fora só olhando.

— Tudo bem, eu vou te ensinar a patinar em outro momento. — seus braços apertam minha cintura e ele beija minha nuca mais uma vez.

Eu acabo concordando em voltamos para lá, mas peço para que passássemos um pouco mais de tempo vendo aquele laguinho tão bonito e aproveitando a vista que parece uma obra de arte de tão incrível, não é sempre que temos uma visão dessas.

É tudo tão diferente quando estamos com alguém, romanticamente falando, parece que tudo muda sua volta, não sei explicar. Quando você gosta de alguém de verdade, quando estar com essa pessoa te faz bem, o mundo fica completamente diferente, quase como se todos os seus problemas tivessem sido resolvidos, claro que isso no começo, quando é tudo um mar de rosas e nuvens de algodão doce. Eu tenho total noção de que não vai ser sempre as mil maravilhas, mas acho que essa sensação de que tudo está bem contanto que ele esteja ao meu lado vai perdurar, não importa o que aconteça.

Deixamos a ponte depois que algumas famílias começaram a aparecer com seus filhos barulhentos, aquelas crianças estragaram completamente a paz e serenidade do lugar.

Voltamos para o rinque.

Não há mais ninguém patinando, nem uma viva alma, era como se todos soubessem que Yeonjun ia voltar e entraram em um arvoredo mútuo de deixar o gelo só para ele. Mais uma vez o bonito bate um papo com a moça responsável pelos patins, sorrindo simpático para ela e assinando alguma coisa num papel, talvez algum termo ou algo do tipo.

Ele não demora em calçar o patins e entrar no rinque, completamente sozinho. Eu fico sentado num banco perto, olhando-o atentamente.

Mais uma vez no dia eu fico besta com o quão perfeito ele consegue ser apenas deslizando sobre aquele gelo. Ele só está "andando", mas mesmo assim ainda existe uma elegância sem tamanho em seus movimentos, é como se ele tivesse se transformado em outra pessoa quando passou para o outro lado. Ele está sério, mas não como se estivesse puto, apenas concentrado, e sua expressão é tão... sexy. Essa palavra define bem ele.

Primeiro ele dá algumas voltas, não fazendo muito além de patinar de costas as vezes, ficando num pé só e abrindo os braços, como se fosse voar, mas não demora para que o verdadeiro show aconteça. Ele começa a pegar velocidade e, antes que eu possa prender a respiração, ele salta e rodopiar no ar, me fazendo levantar na hora, admirado e chocado e preocupado. Meu coração se acelera em desespero, tenho medo que ele caia e se machuque, mas como o bom profissional que ele é, ele pousa em segurança e continua a patinar.

Eu não tenho palavras para descrever o que foi aquilo, só consigo dizer que foi incrível.

Yeonjun continua sua performance, me monstrando em cada movimento como ele é perfeito no que faz. Cada salto, cada pirueta, cada movimento é um suspiro que me arranca. Eu me arrepio sempre que seus olhos me encontram e ele sorri, como se soubesse que eu estou hipnotizado.

Sem que eu me dê conta algumas pessoas começam a se aglomerar a nossa volta. Primeiro eu penso que são pessoas que querem entrar para patinar também, mas só então eu percebo que eles só estão lá para assistir também.

— Uma apresentação de graça. — uma menina diz animada. — Nem acredito que estou vendo isso ao vivo.

— Ele é realmente incrível. — Yeonjun dá um salto na hora e mais uma pirueta. — Com certeza renderia muitos pontos, pouso perfeito.

— Minha mãe nem vai acreditar. — um garoto filma toda a perfomance do Jun com o celular. — O cara é foda mesmo.

Ouço mais alguns comentários cativantes e eu só consigo sentir orgulho dele, me sinto genuinamente feliz por ver tanta gente admirando o talento de Yeonjun desse jeito, ele merece.

Depois do que pareceu ser uma hora inteira ele sai do rinque, não sabendo muito bem como reagir quando todas aquelas pessoas o cercam pedindo foto e o elogiando. Eu nem sabia que as pessoas surtavam tanto que atletas como surtam por idols do kpop, essa é nova para mim.

Eu me aproximo e paro ao seu lado, tentando dar algum apoio e protegê-lo caso alguém maluco tente relar a mão nele, porque nunca se sabe.

Yeonjun tenta ser legal com todo mundo, pedindo educadamente que deem espaço para ele e dizendo que vai tentar responder todo mundo. Olha, passamos muito tempo falando com aquele povo, puta merda.

As menininhas não paravam de perguntar se ele queria casar com elas — só se ele quiser ir preso por pedofilia. Se manca minha filha —, os garotos pediam dicas e algumas mães não paravam de dizer que ele seria um genro maravilhoso, e eu só pensando "pois é, minha diz concorda".

— Eu preciso ir agora, mas muito obrigado a todos pelo carinho. — ele diz todo educado, mas posso sentir que ele está é doidinho pra sair correndo desse povo.

As pessoas se dispersam, graças ao bom senso, e a gente consegue sair do parque na paz. Imagina se fosse que nem aquele filme do Justin Bieber que as fãs doidas correm atrás dele? Eu não ia durar dois minutos de corrida, ia cair e ser pisoteado.

Eu nem percebi que passamos tanto tempo no parque, o tempo voa quando estamos sendo boiolas por alguém.

Voltamos para o carro e nos trancamos lá dentro.

— E para onde vamos agora? — pergunto animado.

— Pensei em irmos comer algum lugar. São quase seis horas, acho que é cedo demais.

— Nunca se é cedo demais para comida, meu bem. — sinto meu estômago roncar. Nos exercitamos bastante, então já tem um buraco dentro de mim precisando ser preenchido.

"Nos exercitamos" foi ótimo mesmo. Eu só fiquei me cagando no rinque enquanto ele arrasava, acho que o máximo de exercício que eu fiz foi correr do pai e seu filho.

— Vamos procurar algum restaurante então. — ele diz sorrindo.

E voltamos para estrada, só que dessa vez eu não preciso ficar arrancando meus cabelos internos pensando para onde vamos, estou mais preocupado em imaginar um rango supimpa e ficar com ainda mais fome.

Sabem uma coisa incrível que eu acabo de perceber? Que Sokcho tem muitos restaurantes considerados "chiques". E sabem outra coisa incrível também? A porra das filas para entrar nessas restaurantes. Eu juro, até o lugar onde eu e ele comemos duas vezes tem fila na entrada, eu nem imagina que tinha tanta gente assim nessa cidade, parece que alguém jogou água num formigueiro e todas as formigas vieram para a superfície em busca de ajuda, misericórdia.

O único lugar "aceitável" que está aberto e não tão cheio é, pasmem, o McDonalds. Rodamos por mais de meia hora para achar um restaurante decente para um encontro romântico, mas parece que todos os casais existentes na Coreia do Sul resolveram sair para um encontro em Sokcho e lotar os melhores restaurantes possíveis, parece até sacanagem.

— Um quarteirão e milkshake de morango, não é muito romântico. — Yeonjun murmura, ele parece chateado até.

— Não precisa se preocupa com isso, Jjuni, o importante é estarmos juntos. — enfio batatas na boca e toma meu milkshake depois. — A gente pode tornar qualquer coisa romântica.

Também não estamos comendo do lado de dentro, porque tinha muita criança e eu já bati minha cota de pirralhos para um dia, então pedimos no drive-thru e ficamos no carro, estacionados em frente à praia.

Não é porque estamos comendo um lanche nada saudável que isso precise ser maçante, podemos ter uma visão bonita pelo menos.

— Olha, temos uma vista bonita, uma música legal e a companhia um do outro, acho que não tem nada mais romântico que isso. — me inclino todo pra conseguir dar um beijinho em seu rosto e ele melhora sua carranca.

— Tudo bem, mas eu juro que vou te levar num encontro romântico de verdade. — ele faz um bico infantil antes de tomar um grande gole do seu refrigerante.

Tudo bem que nosso encontro foi meio diferente do que as pessoas idealizam, não teve muita fofura ou chameguinho, mas eu admito que foi melhor assim do que eu jamais poderia imaginar. Eu me diverti, ele se divertiu, eu passei todo o tempo do lado dele e nada mais importa.

Sei lá, Yeonjun poderia me levar pra uma biblioteca e ficar sentado em silêncio do meu lado que eu ia achar perfeito de qualquer jeito, porque eu sou muito boiola por ele e nem disfarço isso.

Depois de terminarmos nossos lanches saímos para dar uma volta na praia, nem tirando nossos sapatos para andar pela areia. Como já está meio escuro e frio para um caralho não tem uma viva alma além de nós dois, então podemos andar de mãos dadas feito um casal de verdade. E isso é incrível.

Eu nunca andei de mãos dadas com ninguém antes.

Não ligo nem um ponto pro vento frio batendo na minha cara ou pra areia grudando no meu cabelo, só ligo pro fato de estar juntos e podermos agir feito um casal em público nem nos preocupamos com algum doido aparecendo e dizendo coisas ruins para nós.

— Pelo menos conseguimos fazer alguma coisa que eu planejei. — ele parece um pouco menos chateado. Me incomoda ele estar assim, admito.

— Acho mais legal quando fazemos as coisas sem precisar planejar, deixar acontecer naturalmente. — paro de andar e puxo sua mão, o trazendo para ficar de frente para mim. — Vamos, não fica chateado, eu realmente me diverti muito hoje.

— Desculpe por estar sendo chato, mas eu imaginei tudo bem diferente.

Beijo seus lábios com delicadeza e sorrio para ele, recebendo um sorriso de volta.

Trocamos um beijo de verdade logo depois, sem nos preocuparmos com qualquer um que pudesse brotar do chão e tentar nos bater. Uns sonham em beijar na chuva, mas eu duvido que alguém já tivesse sonhado em beijar na praia, em pleno inverno, enquanto vento e areia bate na sua cara.

O beijo fica com gosto de mar, como se tivéssemos tomado litros e mais litros de água do mar, salgado como se tivéssemos passado sal na boca e com gostinho de milkshake, porque precisa ter aquele docinho pra dar uma quebrada.

O abraço pela cintura e paro o beijo com vários selinhos, o vendo com um grande e bibi sorriso, o que talvez possa significar que ele já aceitou que nem tudo vai acontecer conforme planejamos e que está tudo bem.

— Ei, que tal dormir comigo hoje? — pergunto animado. Nenhuma segunda intenção, eu juro.

— Beomgyu vai dormir no meio de nós dois, que nem um casal e um filho com medo do monstro embaixo da cama. — ele ri e me beija mais uma vez, bem rápido.

— Eu expulso ele, foda-se. — não tenho segundas intenções, mas eu também não quero meu melhor amigo dividindo cama comigo e com Yeonjun.

— Tá doidinho pra me ter deitado numa cama e nem disfarça.

— Malicia tudo, eu só quero dormir agarradinho com você, será que é pedir muito? — o aperto contra meu peito em um abraço, o ouvindo reclamar de estar apertado demais. — Desculpa.

— Tudo bem. — nos afastamos apenas para darmos as mãos e voltas a andar. — Melhor voltarmos, tá ficando frio demais e escuro.

Concordo com ele, sem contar que eu vou ter que lavar o cabelo de novo por causa da areia e do sal da praia.

A volta foi cheia de música e uma pausa para ele jogar as coisas do McDonalds fora numa lixeira da rua, já que o carro estava com cheio de quarteirão e batata frita.

Quando chegamos no Éden eu tive a maior surpresa da minha vida, tinha carro pra cacete, mais do que tinha quando saímos. Desço do carro completamente confuso, vendo meu tio junto de outro cara ajudando um casal com as malas.

— Que isso? Tão dando doce aqui? — faço menção em ajudar, mas meu tio nega.

— Não faço a menor ideia, do nada apareceu uma galera querendo se hospedar aqui. — ele coloca uma bolsa no ombro e puxa uma mala de rodinha. — Tive que chamar toda a equipe de volta.

— Justo hoje que eu pedir uma folga pra sair. — bateu um arrependimento básico. — Desculpa.

— Não se preocupa, garoto. Já demos conta de todo mundo, a correria tá é pra fazer o check-in la dentro. — e ele me deixou para continuar seu trabalho. Trabalho esse que eu deveria estar fazendo também.

Volto para perto de Yeonjun, sentindo vontade de abraçá-lo, mas me segurando porque eu já entendi que ele mais conhecido do que eu imaginava e a última coisa que eu quero que alguém nos veja muito afetuosos e acabe pondo na internet. Eu nem sei se ele é assumido, mas presumo que não.

Ele me olha como se entendesse o que eu estou pensando e apenas dá dois tapinhas em meu ombro, é o único contato que podemos ter assim enquanto estivermos em público.

— Eu vou tomar um banho e já encontro você lá em cima, pode ser? — ele diz. Seu sorriso é tranquilizador.

— Pra mim tá perfeito. — sorrio também, embora agora esteja preocupado com a movimentação da pousada.

Ele me acompanha até a porta da casa e se despede com um mini aceno, indo embora logo em seguida.

Meu tio estava certo, a situação lá dentro estava pior. Três mulheres estavam atrás do balcão atendendo as pessoas que faziam check-in naquele momento, elas sorriam, mas eu sabia que estavam desesperada. Minha avó apareceu do salão, mostrava o lugar para um grupo grande de pessoas, sorrindo feito o gato de Cheshire, certamente feliz com a bufunfa que vai entrar em sua conta com esse tanto de gente que chegou de última hora.

Ela me vê, acena toda feliz e continua sua tour.

Sem ter muito o que fazer e parecendo bem inútil, eu sigo meu caminho em direção as escadas, subindo até a casa e me enfiando de uma vez no banheiro, não me preocupando em pegar roupa ou toalha.

Acho que agora eu vou ter mais coisas para fazer, caso meu tio me dê mais coisas, então isso pode significar menos tempo para passar com Yeonjun e os meninos, e só de pensar nisso eu já me sinto meio em pânico. Eu já me acostumei a passar todo o tempo com ele, se isso diminuir vai ser estranho, como é você tivesse um hábito toda a sua vida e do nada esse hábito sumisse.

Saio pelado e molhado do banheiro, indo para o quarto e pegando a toalha que fica pendurada atrás da porta, nem ligando se era minha ou do Beomgyu, acho que ele não ligaria. Me seco, me visto, até escovo os dentes depois, e então me deito na cama, sem absolutamente nada para fazer.

O Éden pegando fogo lá embaixo e eu largado sozinho na cama, olhando pro teto e esperando.

— Soobin? — ouço a voz de Yeonjun do lado de fora e imediatamente eu me levanto.

Eu saí da cama como se tivesse levado um choque.

O dito cujo está parado no meio da sala, olhando as coisas em volta. Ele usa um pijama basico, uma blusa de uma banda qualquer e uma calça de flanela cinza, pronto para deitar e dormir, que nem eu.

— Desculpa sair entrando, sua avó disse que eu podia. — ele levanta um saco plástico branco. — Ela também mandou te entregar isso.

Dentro do saco tem um pote, dentro do pote tem um pedaço de bolo de chocolate com morangos. Devem ter servido no café, mas como eu não estava aqui para comer vovó deve ter guardado um pedaço para mim. Um amor.

Guardo na geladeira, porque aquele lanche do McDonalds me abasteceu o bastante para eu não precisar mais comer nada por um dia inteiro. Não sei se acontece com vocês, mas eu sempre me sinto cheio depois de comer um hambúrguer do Mac.

— Vamos pro quarto fazer altos nada. – seguro sua mão e o puxo para o quarto, logo o empurrando para deitar na cama e deitando ao seu lado. — Olha como ela é macia.

— Mais macia que a outra. — ele se movimenta para comprovar seu ponto, fazendo todo o colchão de balançar.

— E olha. — passo a mão no meio do colchão. — Nada de buraco para cair.

— Nada de buraco. — ficamos deitados um de frente para o outro, bem perto, sem fazer nada.

É uma situação bem estranha. Somos dois caras que tem mais fogo que o próprio inferno, sozinho em um quarto, sozinhos em uma casa, deitados lado a lado e claramente loucos para que alguma coisa aconteça. Mas não movemos um músculo, apenas ficamos sorrindo feito dois palermas.

Não sei o que acontece, mas eu não consigo me mover nem um centímetro a mais, quase como se tivesse medo de invadir o espaço dele. Ele, por outro lado, parece bem disposto a invadir o meu. E eu quero que ele invada.

— Acho que eu pensei em alguma coisa que a gente pode fazer. — ele sussurra, olhando descaradamente para a minha boca.

— O que? — pergunto, mesmo que talvez já saiba sua resposta.

— Por que falar quando eu posso mostrar? — e é o fim do espaço entre nós.

Seus lábios encostam nos meus e ele começa a distribuir selinhos que, aos poucos, vão se demorando cada vez mais até que estejamos de fato nos beijando. Antes que eu perceba seu corpo já está sobre o meu, suas mãos e joelhos apoiados sobre o colchão, o impedindo de deitar-se inteiramente sobre mim.

Rapidamente sou tomado por todo aquele clima que sem querer criamos dentro do quarto pequeno, arfando quando ele apartou o beijo, produzindo um estalo que soou mais excitante do que deveria aos meus ouvidos.

— Desculpa. — ele está um pouco esbaforido, sem fôlego.

— Por que pede desculpas do nada? — meus olhos se abrem e acabo capturando os dele fixos em meu rosto. Toco sua cintura sobre a blusa e ele suspira.

— Nosso encontro foi uma porcaria. — ele ainda não se deu por vencido. A ponta de seu nariz encosta na minha e ele me dá mais um beijo de esquimó.

Yeonjun gosta de beijinhos de esquimó. Isso é fofo.

— Eu me diverti, mesmo que nada tenha ido como você planejou. — levanto meu pescoço para conseguir selar seus lábios mais uma vez. — E você não precisa se preocupar, teremos muitos outros encontros para fazermos tudo certo.

— Uau. — agora é ele quem arfa, parecendo mesmo surpreso e até admirado com o que eu disse. Grande filósofo eu seria. — Você sempre foi galanteador assim?

— Você vai ter muito tempo para descobrir. — sussurro.

Minha outra mão segura sua nuca e eu puxo seu rosto para perto, desejando loucamente que voltemos a nos beijar.

Todo o meu corpo se acende, como se alguém tivesse jogado álcool e ateado fogo em mim. Me sinto desejado quase tanto quanto eu o desejo nesse momento, e acho que não importa se estamos indo rápido demais, parece que estamos em sintonia desde o início.

Enquanto me concentro em manter o beijo num ritmo lento, não querendo parecer muito desesperado e afobado, infiltro a mão em sua blusa, suspirando junto a ele quando sinto sua pele quente e macia na ponta dos meus dedos.

Céus, eu consigo sentir ele se arrepiar por causa do meu toque. Acho que vou enlouquecer essa noite.

Aperto sua cintura e o puxo para baixo, finalmente tendo seu corpo colocado ao meu, entre minhas pernas. Eu consigo senti-lo perfeitamente e ele se encontra no mesmo estado que eu.

Passamos a nos beijar com mais afinco, usando mais os dentes para causar aquela sensação inexplicável de quando alguém morde nossos lábios, viramos uma bagunça completa de suspiros e estalos molhados, ele se esfrega em mim sem pudor algum, e mais despudorado ainda eu me permito gemer entre o beijo ao sentir seu pau, já duro e ainda coberto pelas camadas de roupa, roçar contra o meu.

Deslizo minha mão para cima, erguendo sua blusa e expondo mais da metade de suas costas. Eu quero tirar toda a roupa dele e também quero que ele tire a minha. Yeonjun pode tirar tudo de mim essa noite, principalmente a sanidade.

De repente, em meio a nossa pegação, um barulho nos chama a atenção, algo que não deveria estar ali.

Um pigarro.

Mais rápido que o Papa-léguas eu empurro Yeonjun de cima de mim, fazendo o coitado cair para trás e despencar da cama, ficando vergonhosamente com as pernas para cima em uma posição nada confortável, já que o espaço entre o pé da cama e a parede não é muito grande.

Eu olho desesperado para a porta, me sentando apressado sobre a cama e pegando o travesseiro para cobrir minha ereção, que estava bem evidente dentro do meu short de pijama. Em ponto de bala, como diria Beomgyu.

— Eu vim ver se você queria alguma coisa para comer, mas acho que cheguei em má hora. — meu tio tem um ar meio "vou te matar" e "seus danadinhos", mas de qualquer forma, eu só quero que os anjos venham me buscar nesse momento.

O que eu devo responder exatamente?

Meu tio acaba de me pegar numa situação complicada, num amaço mais quente que o inferno, eu quero enterrar minha cara num vaso de planta e Yeonjun ainda está com as pernas para cima. Isso deve ser um sinal do universo.

Um sinal de que você não deve fazer saliências na casa de um parente.

🍑

Música do Título:
Deixa Acontecer - Grupo Revelação

PUTA QUE PARIU! EU CONSEGUI!

Ai gente, desculpa mesmo pelo atraso. Eu passei a semana inteira o que faria nesse capítulo, porque eu estava sem ideia nenhuma, só tinha escrito o início o fim, mas o meio tava ???? Aí, enquanto jogava com a minha amiga, eu, inexplicavelmente, tive uma luz e pensei no que fazer. Acho que ficou do jeito que eu queria, espero que vocês tenham gostado desse primeiro encontro deles, de verdade.

Devem ter erros aí no meio, mas sem condições de fazer revisões agora, mil perdoes kkkkkk

*Momento curiosidade inútil: sujismundo foi um personagem animado criado para filmes publicitários em 1970. Era um boneco que, literalmente, só fazia sujeita. Ele foi criado com o intuito de ensinar/melhorar os hábitos de limpeza e higiene do povo da época. Não ajudou muito, não é mesmo? kk

Caso não tenha ficado muito claro, essa foi a roupa que o Yeonjun usou no encontro.

E essa foi a roupa que o Soobin usou.

Bem opostos mesmo kkkkkk

Então, foi isso! Não tenho muito o que dizer, só pedir desculpas pela demora :(

Twitter:
beombril

bye bye.

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