Teoria da Sincronicidade [CON...

By _LuisaSV

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Jackie Rivera está no último ano do ensino médio e isso significa que é o último ano para conseguir alcançar... More

Sincronicidade
St. Martin
Dedicatória
Epígrafe
0. Prólogo
1. Sanders
2. Trio Infernal
3. Águas Turbulentas
4. Desavenças
5. Sexta Feira
6. Órbitas Enigmáticas
7. Benjamin Rivera
8. Vestido Dourado
9. Olho Roxo
10. Capitão
11. Ryan Willians
12. Gwen e Ben
13. Fim de Festa
14. Macbeth
15. Doces e Travessuras
16. Me Beije
17. Peixinha
18. The Cure
19. Vinte e Oito Segundos
20. Bella Notte
21. Mar em Lágrimas
22. Polaroid
23. Festa do Pijama I
24. Festa do Pijama II
25. Coração e o Corvo
26. Jaqueta Vermelha
27. Alyssa
28. Perdão
29. Banheiro Interditado
30. Doces Lembranças
32. Sábado Decisivo
33. Baile de Inverno
34. Últimos Suspiros
35. Pernas Bambas
36. Carta de Coragem
37. Jackie Rivera
38. Epílogo
Leitores
EXTRA

31. Cúmplice

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By _LuisaSV

– Droga, droga, droga.

Depois de quatro anos, nenhuma nota baixa, trabalhos impecáveis, pontualidade excepcional, postura invejável e uma boa conduta... Eu tinha me atrasado para a aula. Fico pensando nessa marca no meu currículo: uma aluna com um excelente desempenho, se atrasando? Com certeza, ficaria, pelo menos, marcado na mente dos professores.

E tudo isso tinha um culpado: Noah Harris.

Ontem à noite, após voltar para casa, ele e minha avó acabaram percebendo algo diferente na atmosfera, de acordo com Noah: eu estava feliz demais, risonha demais, como se estivesse flutuando nas nuvens, praticamente.

E Noah é bom em tirar informação dos outros e no meio da noite, conseguiu extrair o fato que eu e Logan nos beijamos na piscina do clube de natação.

Meu melhor amigo deu um grito tão alto que minha avó apareceu na porta com um taco de beisebol, achando que tinha entrado algum ladrão em nossa casa. Desfizemos o mal entendido, mas fui obrigada a dar todos os detalhes e ficamos até de madrugada conversando com meu amigo com duas gatas no colo.

Resultado: atrasada para aula por falta de um alarme decente e um Noah que não colaborava em acordar de forma alguma.

Por sorte, consegui ver a senhora Bridget entrando na sala no momento em que cheguei a aula de literatura. Ela me viu, toda sorridente e querendo desesperadamente que ela me deixasse entrar, implorando para que não fechasse a porta na minha cara.

Ela me fuzila com o olhar, mas no fim, me deixa me entrar.

Uma coisa que a professora de literatura odiava, além de conversa paralela na aula e bajuladores de plantões, é atrasos.

– Me desculpe, senhora Bridget – lamento assim que ela fechou a porta e impediu que outra garota entrasse – Eu...

– Podemos falar sobre seu atraso depois, senhorita Rivera, sente-se no seu lugar que eu tenho um comunicado importante – ela responde educadamente, mas com uma pontada de ironia.

– Tudo bem. – concordo sorridentemente, sentindo meu coração pular.

Eu estava prestes a desmaiar pela falta de fôlego, eu e Noah corremos feito malucos pelos corredores do St. Martin, caso contrário estaríamos do lado de fora de nossas salas, nos lamentando. Pelo menos, eu estaria me lamentando.

Quando me viro para ir até o meu lugar, eu quase tenho um infarto de verdade somado a minha maratona de corrida.

Logan Sanders está sentado na frente.

Ele sempre se sentava no fundo da sala, muito bem escondido, mas hoje, justamente hoje, está na segunda carteira da primeira fileira, logo atrás da carteira em que sempre sento e ninguém tem a ousadia de tomar o lugar.

– Senhorita Rivera? – a professora me encara com os olhos arregalados – Vai se sentar ou não?

Todo mundo solta uma longa gargalhada e com a cabeça abaixada, tomada pela vergonha, corro até sentar em meu lugar. Saber que Logan estava atrás de mim impedia a minha recuperação de oxigênio, no momento, parecia impossível

Ouço-o movimentar atrás de mim, os pés apoiados na minha cadeira, chegando a cadeira um pouco para frente.

Eu iria ter um infarto, bem ali, com certeza teria.

– Como vocês sabe, foi pedido um trabalho para vocês bastante minucioso sobre um clássico escolhidos por vocês mesmos e se lembram que além da nota, haveria um bônus para o melhor trabalho da sala – a professora tira dois ingressos de dentro do caderno – dois ingressos para qualquer filme que esteja passando no cinema e cinco pontos extras... – ela se coloca bem a minha frente, me entregando um dos ingressos e outro para o garoto atrás de mim – Parabéns, Jackie e Logan, vocês fizeram o melhor trabalho da sala.

Todos da sala começaram a bater palmas para nós e outros reclamando pela derrota. Pela minha parte, fiquei um bom tempo encarando o ingresso dourado que a própria professora de literatura, a mais temida de todas, colocou bem em minha mão. Pela primeira vez, eu conquistei a senhora Bridget em alguma coisa.

Acho que jamais usaria esse ingresso, iria coloca-lo em uma moldura de vidro, para ficar exposto na parede do meu quarto, para que eu acordasse e me deparasse com a minha grande vitória no Ensino Médio.

– Vocês dois. – a professora pronuncia sem sair do nosso lado, falando baixo enquanto a conversa se intensificava na sala – Fizeram um trabalho impecável e me fez ter uma grande ideia... Vocês dois irão competir entre si.

– Como é? – Logan diz exaltado – Competir entre nós...

– Juntos fizeram o melhor trabalho que eu vi, agora separados quero ver como vão se desempenhar, o quão irão longe... Para ganhar uma carta de recomendação, para a universidade que desejam se ingressar.

Eu e Logan nos entreolhamos, parecia ser bom demais para ser verdade a proposta da senhora Bridget. Uma recomendação de uma professora tão renomada, seria como um empurrão a mais que eu precisasse para a universidade de Michigan me aceitar.

– Mas, apenas um de vocês irão conseguir – ela diz e dá um sorriso divertido – terão que me apresentar um trabalho, provando porque eu devo escolher cada um de vocês para ganhar essa carta de recomendação, o que vocês tem de tão especial para isso.

Eu continuo um pouco confusa sobre o que era o trabalho, exatamente. Ela não nos deu nenhum livro, nenhum tema, nem sequer um nome famoso, então engulo o medo, abraço a coragem e pergunto:

– E o trabalho vai ser sobre...

– O trabalho é simples: me surpreendam – ela simplesmente solta.

– Tem algo especifico que você... – Logan começa a discursar.

– Não, esse é o objetivo de vocês, me surpreender, essa é a graça. – ela comenta de braços cruzados ao peito – Por isso parece ser tão difícil, porque a recompensa será gratificante, tenho certeza.

A professora volta para o centro da sala, mandando todos calarem a boca quando arremessa a mão na mesa. Todos ficam em silêncio em imediato, enquanto eu ainda encaro o ingresso na mão e a oportunidade de ter uma carta de recomendação por uma das melhores professoras do St. Martin, mas para ganhar eu teria que...

Vencer Logan.

Essa era nova.

Metade da aula de literatura estava tão dispersa que a senhora Bridget precisou chamar meu nome três vezes para poder me tirar do transe. Bem, eu a culpava por isso, por ter feito essa armadilha para mim.

– Senhora Bridget. – ouço uma voz atrás de mim e ao me virar, Logan se levanta com rapidez e apoia uma das mãos nas costas da minha cadeira – Eu não estou me sentindo muito bem...

Logan cambaleia para o lado, passando a mão na testa como se estivesse se concentrando para não vomitar. Por instinto eu coloco a mão no seu braço, tentando segurar um homem dez vezes mais pesado que eu, que estava cambaleando e prestes a cair.

– Preciso ir a enfermaria. – ele dá um passo à frente e se segura na minha mesa – E acho que preciso de ajuda.

– Jackie. – a professora diz meu nome sem mais nem menos, sem tirar os olhos do livro que usava para lecionar a aula e automaticamente, levanto num ato, pronta para fazer continência – Ajude seu concorrente.

– Tudo bem... – olho para Logan que estava ficando meio suado, ele coloca o braço ao redor do meu ombro e saímos da sala rapidamente com passos lentos e cochichos preocupados das garotas da sala.

Ficar perto de Logan, mesmo ele não passando muito bem, ainda é algo extremamente perigoso. Sei que ele precisava da enfermaria, estava com cara de quem iria vomitar, mas eu também não estava nada bem, era novembro, o frio assombrava por toda Millstown e eu estava suando por debaixo das blusas, como se tivesse fazendo quarenta graus.

Não via a hora de deixar Logan na enfermaria, poder voltar a temperatura normal, parar de ter arrepios e sentir que estava prestes a dar a porcaria de um infarto toda vez que ele estava perto!

– Você comeu algo de estranho hoje de manhã? – pergunto para Logan, engolindo em seco.

– Talvez – reponde meio nauseado.

– Tudo bem... – digo ansiosa, arrumando a alça da minha bolsa – Vamos para a enfermaria resolver isso.

Quando chegamos na enfermaria, foi como se um peso saísse das minhas costas. Fiquei até sorridente em ver que a tremedeira e o suor em excesso iria acabar antes do que eu tinha imaginado.

Logan de repente solta a mão do meu ombro, corrige sua postura e olha para os lados, verificando o perímetro do corredor. Eu estranho sua reação, até ele pegar a minha mão e me obrigar a entrar junto com ele na enfermaria.

– O que foi isso? – cochicho pra ele ao entrarmos e ele ainda verificar mais uma vez se tinha alguém no corredor nos vendo.

Após se certificar que não havia ninguém, ele fechou a porta e jogou sua mochila em um canto.

– Não é só você que mente para poder escapar da aula. – ele diz fechando as portas da enfermaria com um sorriso capcioso.

– Você... Estava fingindo! – constato empurrando-o por me fazer pensar que ele estava prestes a vomitar no meio da sala – E quando eu menti, eu fiz por um motivo maior.

– E quem disse que eu também não tenho um motivo importante para isso? – ele responde segurando uma das minhas mãos antes que eu o acerte novamente, eu congelo e ele me empurra gentilmente até que eu bata as minhas costas na parede, me encurralando por completo.

Meu coração iria sair pela boca e seria nesse exato momento.

– Não tem graça. – digo com o nariz em pé.

– Por que acha que eu queria vir com alguém para cá? Com você, especificamente.

– E... Eu não sei. – engulo em seco, sentir o corpo inteiro entrar em chamas – O que você veio fazer aqui?

– O que você acha? – ele aproxima o rosto ao meu e a boca viaja até a minha orelha – Você vai ficar vigiando a porta enquanto eu mexo nas coisas da enfermeira.

Ele se afasta com um sorriso cafajeste e animado com a exploração na enfermaria, enquanto isso, eu tinha dado pane no sistema, me perguntando o que tinha acabado e acontecer aqui.

Estava me perguntando por que esperava ansiosamente que ele me beijasse bem ali, como na piscina.

– Como? – cobro explicações dele, que estava perto dos armários, vasculhando as gavetas.

– A enfermeira sempre sai esse horário para lanchar e fumar um cigarro, demora de quinze a vinte minutos. – Logan explica enquanto continua a fuxicar nas coisas da pobre enfermeira – E eu sei que ela esconde alguns isqueiros extras nas coisas dela. Eu perdi o meu e preciso de um reserva urgentemente enquanto não compro um novo.

Eu não sabia se ficava ofendida e decepcionada em saber que só fui chamada para participar de um suposto crime, ou se ficava alegre em saber que não era nada demais.

A balança pesava mais para o lado da decepção.

– Eu pensei que você tinha se retratado com a justiça depois de um ano na prisão. – disparo meio azeda, um pouco arrependida pelas palavras diretas e grossas.

Como esperado, Logan ri do meu comentário.

– Eu não vim furtar nada, vim apenas pegar o isqueiro emprestado e já devolvo.

– Emprestado... E como sabe de tudo isso? – arqueio a sobrancelha ainda perto da porta, olhando vez ou outra pra fresta que eu tinha deixado para poder observar o lado de fora.

Eu não acredito que estava sendo cúmplice de um crime. Mesmo sendo o furto de um simples isqueiro.

– O clube de literatura tem os seus segredos, são invisíveis para a escola e graças a isso, são bem observadores e sabem de muita coisa que rola pelo St. Martin. – ele cruza algumas macas e vasculha por debaixo das mesmas.

– E eu não sei o que eu estou fazendo aqui. – reclamo abrindo a porta, obrigando Logan soltar um xingamento e correr até mim – Eu preciso voltar para aula, preciso manter meu currículo impecável e pensar em algo para ganhar a carta de recomendação da senhora Bridget.

– Quem diria, Jackie competidora não descansa um segundo até conseguir o que quer, isso vai ser divertido – ele dá uma piscadela com a ironia e fecha a porta atrás de mim.

– Não tem graça. – reclamo e abro a porta novamente, pronta para sair – Aliás, a senhora Bridget pode fazer algo assim? Competição entre dois alunos por uma carta de recomendação?

– Com o currículo dela, os diplomas que ela tem, é difícil falar "não" para a Bridget e essa é outra coisa interessante: o diretor nunca disse um não para a professora de literatura, é quase como se tivesse medo dela... Se ela quisesse, podia muito bem assumir a diretoria dessa escola, só acho que ela tem muita ocupações e não tem tempo para um cargo que exigiria muito.

Ele fecha a porta atrás de mim, com aquele maldito sorriso nos lábios.

– Outro motivo para eu não perder a aula dela – abro a porta de novo.

– Faça isso em nome das vezes que ajudei você e... Se você me ajudar – ele fecha a porta e abaixa um pouco a cabeça, pega no meu queixo e deixa nossos narizes a centímetros de se encostarem – eu dou qualquer coisa para você em troca... – ele passa a língua pelo lábio inferior – Qualquer coisa mesmo.

Deus.

Eu queria beijar ele.

Eu queria atacar ele.

Eu queria fazer muitas coisas com ele, que eu nem saberia como enumera-las.

Logan estava indo por um lugar sem volta ao atiçar os meus desejos mais profundos, me fazendo ter imagens pornográficas na cabeça, envolvendo a mim e a ele.

– Tudo bem – viro o rosto, extremamente vermelha – você tem só dez minutos.

– Eu sabia que ia acabar cedendo. – ele se afasta e volta a procurar o isqueiro – Se quiser já pensando no que vai querer em troca, estou curioso para saber o que vai pedir.

– Engraçadinho. – digo ainda perto da porta, encostada de braços cruzados – Então o clube de literatura dá informações confidenciais para você sobre o St. Martin, tem certeza que é verídico?

– Bom, de tudo o que disseram, não erraram uma única vez, confirmaram, então não é simples fofoca. – ele diz, procurando no porta copos da mesa da enfermeira o tão esperado isqueiro – Quer saber de alguma informação sigilosa para usar contra alguém?

– Não... Ainda. – respondo a e Logan se vira para mim, rindo com divertimento da minha resposta.

– E nós ganhamos dois ingressos para qualquer filme no cinema, se você estiver livre no domingo... Soube que esse mês o cinema dos ingressos que ganhamos está fazendo aniversário e está divulgando alguns clássicos, bem mais antigos. – Logan comenta abrindo mais gavetas e vasculhando as pastas que tinham – Se quiser, podermos ir nesse domingo.

Minha boca seca.

Iria sair... Eu e Logan, tipo em um encontro?

Sou obrigada a me sentar em uma das macas, abanando o próprio rosto, corado ao ficar imaginando várias cenas impertinentes e outras doces demais para alguém como eu.

– Não sabia que você gostava de filmes antigos. – comento para tentar me distrair, já que o próprio Logan parecia preocupado com outra coisa do que uma garota toda vermelha – Tem algum em específico? Um preferido?

– Há muitas coisas que você não sabe sobre mim, mas ainda dá tempo de pode mudar isso. – Logan diz me olhando pelo canto de olho, mas logo retorna para as pastas que vasculhava atrás do tão importante isqueiro – Eu gosto de filmes antigos de ação, principalmente com o Will Smith, eu diria que meu filme preferido é MIB, depois de Bad Boys, claro.

– Essa é nova. – comento balançando as pernas no ar – Não sabia que criminosos gostassem de ver filme.

– Ponto para você. – ele dá uma gargalhada e me encara – E você? Alguma preferência para esse domingo?

Coloco uma mecha atrás da orelha.

– Bom, gosto de comédias românticas, os mais antigos, como "Dez coisas que eu odeio em você", eu diria que é meu filme preferido, mas eu tenho uma paixão maior por sérias de comédias, como Friends, Brooklyn 99 e... Viciada em séries de culinária.

– Está ai duas coisas que eu gostaria de presenciar: você vendo programas de culinária e você em frente a um fogão, cozinhando.

– Pois seus sonhos vão acabar antes mesmo de se realizarem, porque eu sou uma péssima cozinheira e pareço uma fã histérica com programas de culinária.

– Podia me convidar qualquer dia para eu poder provar das suas habilidades – ele dá uma piscadela e por que raios tudo que ele fala eu sempre coloco duplo sentido? – Achei essa droga!

Ele dá uma gargalhada quando roda o isqueiro azul na mão, estava escondido dentro de um vaso de plantas, o que explica toda a exploração exagerada de Logan. Ele está feliz como uma criança e aproxima de mim até sentar ao meu lado na maca.

– Não acredito que eu sai de uma das aulas mais importantes com a professora mais renomada do colégio para participar de um furto. – reclamo para Logan que guarda o isqueiro no bolso da calça.

– E está tendo a sua primeira experiência infringindo as regras, vai ter algo para contar na sua roda de amigos na universidade em Michigan... – ele justifica todo o crime em uma simples frase que dá até vontade de repetir a dose – Se quiser criar mais memórias de pequenos furtos, pode me chamar, contanto que arque com todos os problemas se alguma autoridade nos ver, não estou afim de sujar ainda mais a minha ficha criminal.

Eu tento me reprimir, mas acabo rindo de Logan. Ao espia-lo, vejo que ele está me encarando enquanto eu quero esconder minhas risadas. Em questão de segundos, eu volto a ficar séria, pensando no dia anterior, na piscina e no que aconteceu lá.

Se Logan me beijou, ele deve sentir alguma coisa, certo? Meu maior medo é interpretar como interesse e tudo não passar de uma simples vontade que ele teve, uma simples atração. Talvez seja auto sabotagem, mas eu não descartava nenhuma hipótese.

Viro meu rosto e então digo, olhando para as minhas próprias mãos:

– Logan, eu acho que deveríamos falar sobre...

– Na minha opinião. – ele me interrompe se aproximando, colocando a mão no meu rosto para que eu encarasse olho no olho – Eu acho que não deveríamos falar sobre nada.

E então, mais uma vez, eu sinto aqueles lábios quentes e macios contra os meus, a língua escorregando para dentro da minha boca, se encontrando com a minha. Em questões de segundos, ele acaba ficando em cima de mim, na maca, puxando meu cabelo, forte o suficiente para deixar alguns gemidos impertinentes escaparem do fundo da minha garganta.

Seus dedos ágeis chegam até os botões da minha camisa azul e não o impeço porque talvez queria que ele o fizesse, talvez eu o queria. Ele desabotoa todos os botões e suas mãos quentes apertam a minha cintura, os dedos dele tocando em minha pele febril, me fazendo envolver minhas pernas ao redor da sua cintura e ajuda-lo a tirar a camisa da cabeça.

– Logan... – sussurro seu nome, fazendo-o ele mordiscar meu lábio com mais força, revelando sua agitação, sua mão vai descendo pela minha barriga desnuda, chegando no cós da calça, o primeiro dedo adentrado o tecido, lentamente – Eu...

– Você não quer? – ele sussurra contra o meu ouvido e desce os lábios até a minha barriga, beijando cada ponto e fazendo uma trilha, os dedos descendo ainda mais – E acho que você tem razão.

Eu desperto como se tivesse tomado um choque, Logan deposita uma mordida de leve em minha barriga e volta com os lábios em meu rosto, beijando minha bochecha. Como se nada tivesse acontecido, ele abotoa a minha camisa de volta e fiquei paralisada, em silêncio, sem entender absolutamente nada.

Talvez frustração seria a palavra ideal, o que me surpreendeu bastante, de sentir tanta vontade que ele continuasse com aquilo, dentro da enfermaria.

– Eu não entendi, eu pensei que... – eu me sento assim que ele termina de abotoar e vejo-o pegando a blusa de volta, colocando-a rapidamente.

– A enfermeira vai voltar em alguns minutos e eu não quero e nem gosto de fazer as coisas na pressa – ele arruma a gola da camisa e mexe no cabelo, dando um sorriso e me dá uma piscadela – e, não quero que dure alguns minutos e nem que seja na enfermaria do St. Martin, sou um romântico incurável.

Logan se afasta, rumo a porta da enfermaria, me deixando descabelada, sem conseguir respirar e sentada na maca. Corada de raiva, eu ajeito o meu cabelo e pego a minha bolsa que eu tinha deixado por perto.

Passo por ele sem sequer olha-lo e eu tenho certeza que ele está rindo, achando graça de uma provocação injusta e cruel.

Pode ter certeza que uma hora ou outra eu iria despertar o pior de mim e dar o troco.

– Não fique brava por eu ser um cara decente – Logan se junta a mim depois de fechar a porta da enfermaria.

Viro para ele com as narinas infladas, faltava pouco para eu começar a gritar com ele. Por culpa dele eu estava sentindo uma forte pulsação de doer no local onde seus dedos quase entraram, se eu tivesse um pau, com certeza estaria batendo no queixo de tão duro.

Ele me deixa desse jeito e ainda me pergunta se eu estou brava.

– Eu estou excelente! – falo num rosnado que o faz gargalhar alto – E fale baixo que está tendo aula nas outras salas.

– Me desculpe. – ele limpa uma lágrima que cai de tanto rir – Não foi por mal.

– Claro que foi! – reclamo amarrando o cabelo num rabo de cavalo raivoso – Você tem essa áurea de maldade, deve ser porque é um homem.

– Vai falar que todos os homens são iguais agora.

– Vou – reclamo e ao invés de subirmos as escadas para a aula de literatura, Logan desvia do caminho, indo em direção ao corredor que dava para as quadras – Para aonde você vai? – cochicho para Logan, conseguindo alcança-lo ao acelerar meus passos.

– Usar o isqueiro para devolver para a enfermeira... – ele explica me mostrando o próprio – Como disse, peguei emprestado, sei o que é se desesperar ao ver que o isqueiro sumiu e eu não quero causar o mesmo terror a pobre enfermeira do St. Martin.

– Não vai para a aula?

– É... óbvio que não – ele mostra a mochila nas costas – eu sai com o intuito de não voltar, quer se arriscar? Tem um depósito de materiais e armários abandonados, logo depois da quadra de futebol, se quiser ir comigo...

A proposta é tentadora, ficaríamos sozinho, o que era algo bastante perigoso, o pensamento impuro me faz retornar para o momento na enfermaria, os dedos dele descendo, para dentro da minha calça, os lábios molhados no meu pescoço, em minha barriga.

Isso só piora a minha situação com a minha intimidade dolorida.

Penso em dizer "sim" para ele, mas algo me faz lembrar a carta de recomendação e a importância de ser escrito pela senhora Bridget, o peso que teria na vida de alguém.

– Não – digo tendo uma ideia brilhante, fico no lugar e ele continua firme na decisão de faltar aula para poder fumar – tenho que ir a um lugar antes.

– Tudo bem, sei que vai ser difícil, mas avise para a professora que fui liberado para voltar para casa, fale que é suspeita de uma doença bem grave, ou nem tanto, talvez uma pneumonia.

– Vou tentar, se ela não descobrir a farsa, já que sou uma péssima mentirosa – anuncio e ligo os pontos – como sabe que eu vou voltar para a aula?

– Eu sei mais sobre você do que se imagina, Jackie – ele diz ficando de costas para poder ir usar o isqueiro e eu agradeço por isso, se não iria me encontrar toda corada por causa disso.

Apesar disso, eu dou um sorriso. É nesses momentos que eu tenho certeza pelos sentimentos que tenho por ele, agora eu entendo o que Noah disse sobre ficar realmente apaixonada por alguém, não ser atraída apenas pelo físico ou pela necessidade de preencher algum vazio.

E é por causa desse sentimento que volto para a aula.

A senhora Bridget acaba me aceitando de volta e fico envergonhada porque ela não ficou nem um pouco contente quando eu a interrompi e ainda tive que inventar uma desculpa esfarrapada para justificar a ausência de Logan.

Quando a aula terminou, eu esperei todos saírem da sala para sentir coragem o suficiente para me levantar e ter uma conversa com a senhora Bridget. Era algo simples, mas que fazia meu estômago dar tantas voltas que eu seria capaz de vomitar em cima da mesa dela.

– Precisa de alguma coisa, senhorita Rivera? – ela pergunta ainda sentada, ajeitando os cadernos em cima da mesa.

– Eu queria falar sobre a carta de recomendação.

– As regras são simples, Jackie, quero que me surpreendam, eu não vou ajudar nenhum dos dois nisso, vocês precisam desenvolver a...

– Não é isso – respondo coçando a nuca fortemente – O que eu queria dizer sobre a carta de recomendação é... Dê ela para Logan.

Ela pisca os olhos, confusa e eu não esperava menos que isso.

– Como? – ela aperta as mãos em cima da mesa – Eu pensei que essa carta seria algo importante para você, Jackie, vive falando pelos corredores sobre suas metas, Michigan, natação, essa carta seria um salto e tanto para você.

– Eu sei que é um pedido esquisito e não nego que seria muito importante para mim essa carta de recomendação, por tudo que eu sonhei, mas... – penso em Logan sorridente na enfermaria e talvez eu soubesse o que é paixão e até além disso – Você sabe que Logan passou um ano em detenção, mesmo sendo declarado inocente.

– Sim e é um excelente aluno, apesar de faltar em algumas aulas.

– Sim – dou uma risadinha – e ele quer Stanford – minha declaração faz os olhos da professora se arregalarem – e esse ano na detenção pode acabar deixando-o para trás, mas com sua recomendação, talvez as coisas se equilibrem, sei que ele também está participando de um grupo de literatura... Então, eu creio que essa carta faria muito mais diferença para ele do que para mim.

– Realmente – ela cruza os braços – você tem um ponto forte para defender, eu posso pensar no que você disse, mas ainda quero um trabalho dos dois, mesmo com sua desistência... Quero ver o que Logan tem para apresentar para ser escolhido.

– E não conte para ele que eu desisti. – digo meio sem graça – Tudo bem?

– Manterei em segredo até onde eu me permitir.

Não nego que ouvir isso da senhora Bridget me fez ficar animada. Logan tinha uma das melhores notas da escola e com certeza não foi por pura sorte, foi por esforço, talvez por noites mal dormidas entre cadernos e copos de café.

Essa é uma decisão que eu jamais me arrependeria, independente do que acontecesse entre mim e Logan.

Bato a ponta do pé no chão, meio maquiavélica, mas como não tenho nada a perder, acabo falando:

– Então... Você irá dar uma carta de recomendação para mim também com esse meu gesto de simpatia ao próximo?

– Claro que não, você desistiu por livre espontânea vontade.

– Pelo menos eu tentei... Mas minha decisão continua firme, sobre Logan.

– Certo – ela dá um sorriso – e eu espero que você realize seus sonhos, Jackie, de verdade, eu tenho certeza que será uma ótima profissional, não terá minha recomendação, mas posso desejar você boa sorte durante o seu caminho.

– Obrigada, senhora Bridget, acho que já é o suficiente para mim.

***

– Você vai se sair bem! – Noah disse enquanto massageava as minhas costas.

– Claro, é só uma competição com universitários com uma plateia que parece que vai ser transmitida na televisão – Ryan comenta ao lado de Noah e meu amigo é obrigado a dar uma cotovelada nele por não estar ajudando muito.

Respiro fundo.

Eu estava na universidade de Millstown, Ryan não mentiu, realmente parecia um evento importante porque havia uma enorme e espaçosa arquibancada, que estavam com todos os assentos ocupados. Nós três estávamos perto da porta de entrada, esperando Barbs que tinha se atrasado por causa de Charlie que vinha com ela, de acordo com sua mensagem furiosa e cheia de carinhas raivosas.

Ela nunca mandava carinhas de fúria, então, ela realmente estava estressada.

– Não escuta o Ryan, Jackie, ele está alucinado.– Noah olha para os lados, a procura de alguém – Pensei que sua avó viria.

– Ela saiu com a minha tia-avó para um assunto urgente envolvendo homens da terceira idade na aula de jardinagem que minha tia-avó tem queda – comento – mas Barbs vai gravar para ela poder ver depois.

– Você vai se sair bem, independentemente da quantidade de pessoas assistindo você – Noah reafirma e não sei se fico mais relaxada sabendo disso – Agora...

– Jackie! – ouço uma voz familiar e vejo o irmão da Kat se aproximar, vestindo apenas uma sunga, todo molhado por ter participado do nado de revezamento com mais outros três, eu tinha o visto e fiquei impressionada com o que vi – Está preparada? Irá entrar na piscina depois do revezamento feminino em grupo.

– Bom saber. – digo apertando o roupão que eu tinha acabado de colocar no corpo – E... Tem muita gente, aqui, hein?

– Inclusive alguns estudantes como você que vão participar das nacionais, vai ser um treinamento e tanto. – ele reforça e alguns garotos o chama, fazendo-o se despedir rapidamente de mim.

– Até que foi uma boa ter nos convidado para assistir.– Noah fala lambendo os lábios, focando diretamente nos caras de sunga perto da piscina – É uma visão agraciada dos deuses e...

– Só para saber, eu estou aqui também – Ryan dá um meio sorriso amarelo para Noah que fica meio sem o que dizer para o ciúme do seu admirador não tão secreto.

– Pode olhar, Ryan, eu não fico com ciúmes. – Noah aponta rapidamente para um cara de sunga vermelha e levanta os óculos de grau no rosto para avalia-lo melhor – Quer brincar de qual você daria match e qual não daria?

Dou uma risada quando Ryan vira a cara para Noah, sem perceber que ele estava o provocando de propósito. Eu resolvo participar da brincadeira com intuito de me acalmar um pouco.

Em pouco tempo, Barbs chega e atrás dela, Charlie está lá, rodando a cabeça como se estivesse entrado no paraíso. Não consigo falar com eles, porque anunciam através de um megafone para todas as garotas da prova individual dos quatro estilos de nado se direcionassem para os bancos e se aprontassem.

Deixo meu roupão com Barbs e ando ao lado da piscina, colocando a touca e os óculos. Quando subo no banco, eu sentia que iria explodir, mas apesar de amedrontador a sensação, era intensa toda a adrenalina correndo pelo meu corpo.

Não muito longe, vi minha rival de competições, Kat, direcionada para uma das primeiras raias... Como também vi garotas bem mais velhas, com certeza universitárias. Resolvi ignorar as outras competidoras e me posicionei, esperando pelo sinal.

Quando o sinal foi dado, valeu a pena todo o nervosismo quando entrei na água.

Foi uma entrada perfeita, no tempo certo. Não gastei fôlego e resolvi dar tudo de mim na primeira volta. Quando cheguei na parede, para trocar os estilos, a cambalhota também foi excepcional, me dando mais confiança no meu nado, fazendo as engrenagens trabalharem como nunca.

Meus músculos estavam contraídos, mas nunca foi tão fácil nadar naquele momento, nunca me senti tão leve e tão eufórica ao mesmo tempo. Esqueci de todos que assistiam, me esqueci das outras competidoras e das minhas inseguranças. Só havia uma coisa importante para mim naquele momento: eu e o meu nado.

Nunca foi tão certo estar competindo como agora. Sonhar em ser nadadora e profissional é um desenho que estava ganhando vida ao pensar que eu estava perto de chegar lá, de realiza-lo e ver que meu esforço teve êxito, eu conseguiria.

Na última volta, eu dei o meu melhor e quando bati a mão na parede, pude ouvir toda a gritaria e perceber a multidão ao meu redor. Viro para o lado e percebi que eu tinha ficado em segundo lugar, em primeiro era uma universitária, de acordo com o desenho no seu maiô.

Sai da piscina bem ao seu lado e quando consegui respirar normalmente, a universitária estava com a mão no ar, esperando que eu apertasse.

– Eu não acredito que deixou minhas colegas para trás. – ela fala de bom humor e acabei apertando sua mão – Pelo visto precisamos treinar muito ainda.

– Obrigada. – disse orgulhosa para mim mesma.

– Não se gabe tanto, Rivera. – Kat anuncia ao longe, com o irmão ao seu lado – Fiquei logo atrás de você.

– Pelo visto, devo ficar preocupada com as nacionais.

– Deve mesmo. – ela responde no mesmo bom humor a minha provocação.

E eu nunca me senti tão bem.

Quando encontrei os meus convidados, eles não paravam de me aplaudir, principalmente Charlie que parecia encantado com toda aquela atmosfera. Noah e Ryan se vangloriavam por serem amigos de alguém como eu e... Barbs estava sorrindo.

Sabe como é difícil fazer essa mulher sorrir?

Isso com certeza era um bom sinal.

– Espera um pouco. – Noah me para antes de sairmos da universidade.

Todos os sinais de alerta dentro do meu cérebro se acionaram, não muito longe, perto da porta, havia um grupo de universitários discutindo com um cara com uma garrafa na mão... E esse cara, é Tyler.

Um dos universitários empurra Tyler com força e vi tudo acontecer de novo, uma nova briga, uma nova confusão.

– Vou ver o que está acontecendo. – Noah disse, tentando me acalmar ao perceber que minha respiração tinha ficado agitada de repente.

Aceno positivamente, sem muita opção. Noah interrompe uma possível briga, se colocando na frente de Tyler enquanto conversava com os universitários.

– Bom... – Charlie se pronuncia no meio daquele clima pesada, Barbs e Ryan estavam silenciosos porque sabiam da história toda com Tyler, inclusive Ryan – Meu uber chegou, preciso ir.

– Tudo bem, obrigada por ter vindo – aceno positivamente a ele – mande mensagem para Barbs quando chegar em casa.

– Claro, senão ela fica preocupada com o futuro prodígio do Spring Water – Charlie debocha, me arrancando algumas risadas, agradeço ele por isso, me distrair um pouco – você foi incrível, Jackie, até mais.

Charlie foi embora evitando o caminho com o grupo irritadiço em que Noah e Tyler estavam envolvidos. Fico tentada em me aproximar, mas ao mesmo tempo, meu corpo discordava do meu cérebro, querendo se afastar.

– Vou dar uma carona para vocês, vou para o carro e estarei esperando – Barbs avisa e seus olhos acolhedores recaíram sobre mim – preciso ligar para meu marido e... Vai ficar tudo bem, Jackie?

– Ryan está comigo – digo para poder tranquiliza-la, ela acena e aponta para o próprio celular, indicando que eu poderia ligar para ela a qualquer instante para que intervisse.

No fim das contas, Noah conseguiu conversar com os universitários, que desistiram de Tyler e seguiram com o próprio caminho. Noah me olhou dando nos ombros e me mandou uma rápida mensagem.

Iria levar Tyler para fora.

– Podemos ir direto para o carro da Bárbara, Jackie, você sabe – Ryan irrompe o silêncio após perceber que eu não estava muito bem com a situação, eu estava parada no lugar fazia mais de dez minutos.

– Eu sei, mas vou falar com ele – suspiro massageando a nuca tensionada.

– Você tem certeza? – Ryan arqueia as sobrancelhas – Eu nunca quis falar nada sobre seu relacionamento, porque eu não era tão íntimo, mas... Eu sei que você se sente mal pelo Tyler, mas, pense em você também, o Tyler não era uma pessoa tão saudável assim para você.

– Eu sei, Ryan, mas é que... Eu ainda me sinto mal por ele estar assim.

– Eu sei, realmente, é uma cena deprimente, mas, você tem que pensar que não precisa se sentir responsável, você terminou com ele por você, também... Que tipo de namorada precisa ficar em alerta para não irritar o namorado? Não podendo chegar perto de nenhum garoto e sempre sendo a namorada perfeita?

– Talvez, mas... – suspiro – eu acho que é porque Tyler foi o meu primeiro namorado.

– Sim, mas um relacionamento deveria ser simples, você ser você mesma, ter confiança mútua entre vocês, não tem segredo – ele segura meu braço – dê um crédito para você mesma, Jackie, você fez o seu melhor pelo Tyler, não precisa ficar presa a ele para sempre.

– Eu sei – digo me soltando de Ryan – mas, eu preciso fazer alguma coisa por ele, sendo meu ex ou não.

Ryan e eu saímos da universidade, vislumbro Noah sentado ao lado de Tyler no meio fio, sem a garrafa na mão. Noah manda mensagem, dizendo para procurar algo de gelado para Tyler, volto para a universidade e com ajuda de Ryan, consegui uma compressa gelada com uma garota da universidade.

Encaro Ryan uma última vez antes de me aproximar dos dois, decidimos que seria melhor ele ficar afastado, por causa do que aconteceu no passado entre os dois. Noah foi o primeiro a perceber a minha presença, Tyler continuava de cabeça abaixada e eu seguro a compressa com mais força.

– Noah, posso falar a sós com Tyler? – pergunto gentilmente e então eu chamo atenção de Tyler.

Quando o encaro, dou um passo para trás ao ver que seu olho esquerdo estava super inchado e roxo, um corte superficial no lábio e alguns outros hematomas ao redor do seu belo rosto.

– Tem certeza? – Noah se levanta e chega mais perto de mim, cochichando as palavras: – ele está super bêbado.

– Está tudo bem, só não se afaste muito – digo baixinho a ele, que concorda com meu pedido e dá o espaço necessário para nós dois.

Sento ao lado de Tyler e entrego a compressa gelada a ele, entendendo o motivo de Noah ter pedido algo gelado para ele, por causa de uma bela surra que ele tinha levado.

– O que você está fazendo aqui, Tyler? – pergunto a ele de modo sutil, sem que ele pensasse que eu estaria dando uma bronca nele.

– Eu... Queria ver você nadar. – o cheiro do álcool chega até as minhas narinas após sua declaração – Fiquei sabendo que iria ter uma competição aqui e me lembrei do dia do... Nosso término, que estava combinando um amistoso.

Evito uma resposta, tinha medo que qualquer coisa que eu falasse fosse piorar a situação. Não nego que fiquei mexida com o motivo da sua ida até aqui, continuo ao seu lado por me lembrar que, mesmo após o fim do relacionamento, havia uma amizade entre nós dois que eu tive que encerrar pelo bem do próprio

– O que aconteceu com seu rosto? – falo baixinho, mas o suficiente para que ouvisse – E está bêbado...

– Eu fui assaltado depois que sai do bar. – disse com a voz meio arrastada – Eram três contra um, não tive muita chance.

Sinto palpitações quando Tyler vira o rosto de lado e eu percebo um inchaço enorme no topo da sua cabeça.

– Acho melhor irmos para um hospital, Tyler – digo a ele um pouco preocupada – ver se está tudo bem e...

– Sem hospitais – ele diz muxoxo.

– Talvez o seu pai ou...

Ele dá uma gargalhada.

– Para o meu pai, não existe nada de importante além do trabalho dele, só o encontro nos finais de semana, isso porque moramos na mesma casa – ele responde melancólico – eu não quero ouvi-lo dizer o quão merda eu sou ao me ver nesse estado.

– Tudo bem – esquento as minhas mãos quando um vento frio atinge meu rosto – vamos ligar para algum amigo seu então? Que tal Sierra?

– Não estamos nos falando.

– Por que?

Tyler ficou quieto, tirou a compressa da cabeça e ficou brincando com ela nas mãos. Aquela demora não foi um bom sinal, principalmente depois que tive uma conversa bastante peculiar com Sierra no banheiro interditado do colégio.

– Sierra disse que me ama e não como um amigo – ele desabafa e minha pressão abaixa com a revelação – ontem, marcamos de conversar para fazer as pazes de uma briga que tivemos e acabou virando uma conversa sobre sentimentos e... Ela me disse tudo que sentia, tudo mesmo, durante todos esses anos – seus olhos se enchem de água – e eu não sabia se ficava feliz por ela me considerar tão importante assim, ou se ficava magoado pela nossa amizade ficar em risco e... Infelizmente, não pude correspondê-la, eu queria, tudo para fazer Sierra feliz, mas ela não merece mentiras, alguém que não corresponde ela de forma igual... Ela pareceu ficar bem com tudo, mas combinamos que seria melhor nos afastarmos um pouco, não por causa da briga mas... Por ela.

Eu não sabia o que dizer para Tyler, realmente não sabia o que ele precisava para se sentir melhor, porque pelo seu tom deprimido, os olhos marejando, aquilo era definitivamente o fim de uma amizade, ou ao menos, o afastamento de dois melhores amigos de anos.

Confesso que eu concordo com a decisão dos dois, concordo com o fato que o melhor para Sierra é esquecer, já que não iria ser correspondida. Ela tinha que se afastar de Tyler, se libertar pelo menos um pouco desse sentimento depois de ficar anos ao seu lado, vendo ele com outras garotas e sem saber sobre seus sentimentos.

E para Tyler, ele iria sentir um pouquinho de dor e frustração agora que a melhor amiga iria seguir por outro rumo para cuidar de si mesma. Ele parece entender que ela precisa desse tempo, mas é bem visível que ele não estava bem com isso, ver alguém com quem convivia durante anos, uma amiga que esteve com ele desde a infância, ir embora de repente.

– Eu sou um fodido, Jackie – ele fala com a voz emaranhada, ele está chorando feito uma criança, simpatizando com ele, coloco a mão nas suas costas, sentindo seus ombros sacudirem enquanto as lágrimas caem – Um grande fodido que não merece ninguém.

– Tyler... – digo tentando encontrar palavras para conforta-lo, mas não sei bem se ele lembraria no dia seguinte, ou se adiantaria de algo já que ele está completamente bêbado.

Continuei com a mão em seu ombro, em silêncio enquanto dava a ele o tempo necessário para libertar todo o sentimento que ele tanto prendia. Tyler sempre teve isso em comum com Sierra, era o garoto mais desejado, o mais invejado e fazia ao máximo para manter essa imagem.

– Me desculpe por vir até aqui, eu realmente não sabia para onde ir. – ele suplica para mim – Eu não quis causar problemas, juro que não queria. Queria ver você, mas alguns universitários me barraram e...

– Eu sei que você não queria causar problemas, Tyler, está tudo bem. Se quiser, podemos deixar você em casa, está frio e não pode ficar a eternidade aqui... O ideal seria um hospital para verificar se está tudo bem com você.

– Eu não quero mesmo voltar para casa, é o último lugar que eu quero estar – ele declara com amargura – Sei que estou dando muito trabalho e estou sem celular porque os caras pegaram, então seria pedir muito para que ligasse para Logan? Tenho certeza que ele vai me ajudar.

– Logan?

Quando eu digo o nome, o efeito que me provoca é completamente diferente do que venho sentindo durante esses dias, do segundo que confessei a mim mesma meus sentimentos por ele. Meu estômago embrulha e eu não sei ao certo o motivo.

– É eu sei – ele fala ainda mais cabisbaixo, soltando uma risada tristonha e um pouco sarcástica – o capitão do time de futebol do St. Martin, com uma imensa família prestigiada na cidade, o brilho de toda uma geração, ter apenas uma única opção para pedir ajuda, mesmo vivendo rodeado de pessoas. No fim das contas, são muito poucas que realmente dá para contar, que dá para chamar de amigo... E quero deixar Sierra em paz para me esquecer de vez e o que me restou foi Logan... Por enquanto, ele é meu único amigo de verdade, eu nunca fiquei tão grato de termos conhecido, de saber que eu tenho uma pessoa que eu seria capaz de colocar a mão no fogo e sei que faria o mesmo por mim.

Perco a respiração.

– Irei chama-lo – digo com um sorriso que morre de repente.

Mando mensagens para Logan e ele não demora para responder, tinha acabado de chegar em casa. Quando conto que Tyler estava no amistoso, embriagado e com o rosto inchado, ele responde em questão de segundos que estava saindo de casa.

A preocupação de Logan com Tyler me atinge mais forte do que qualquer flecha. Na época que eu e Tyler namorávamos, eu via que a amizade entre os dois era completamente diferente da amizade que Tyler tinha com os garotos do time, que via praticamente todos os dias.

Não havia boa maneiras entre eles, nem limitações para as piadas, dois amigos que sabiam ser verdadeiros um com o outro e por muito tempo eu admirei essa amizade, agora eu não sabia como encara-la.

Ryan tinha razão, eu não deveria ter ido falar com Tyler, mas foi necessário.

Em questão de minutos o carro da mãe de Logan surge, Noah estava ao meu lado, conversando amenidades com Tyler para distraí-lo, enquanto Ryan tinha se afastado por causa do histórico ruim entre ele e meu ex-namorado.

Quando Logan saiu do carro, evitei qualquer tipo de contato visual com ele.

– O que aconteceu, Tyler? Você parece mais bonito da última vez que eu vi, andou indo ao salão? – Logan brinca ao se aproximar do amigo que se levantou do meio fio com dificuldade.

Tyler sorri com a piada, um sorriso sincero e talvez até mais tranquilo em ver o amigo por perto.

– Mesmo com o rosto inchado, você não vai conseguir abalar a minha auto estima, Sanders – Tyler brinca de volta e aquilo aperta o meu coração.

– Tenho certeza que não, mas não vou desistir tão cedo, vamos para casa, tudo bem? Estava vendo alguns vídeos de sutura e precisava de uma cobaia, acho que você vai ser perfeito. – Logan coloca um braço do Tyler ao redor do seu ombro ao perceber que ele mancava um pouco.

– Sua mãe está em casa? Faz tempo que não vejo ela, estou com saudades.

– Fique longe da minha mãe, Tyler – Logan o ameaça – vai dormir no chão por conta disso.

– Sua mãe não deixaria.

– Quer apostar? Coloco pra dormir na calçada de casa – diz novamente e se vira para mim – obrigado por ligar, vou cuidar dele, de preferência um banho gelado.

– Um balde de gelo – Noah ressalta – com certeza será bem melhor para ele.

– Desculpe de novo, Jackie – Tyler diz mais uma vez para mim, sendo sincero quando seus olhos claros encontram o meu – não vou fazer isso de novo, eu prometo. Vou deixar você em paz.

– Está tudo bem, só se concentre em ficar melhor.

– Obrigado.

Aceno positivamente e vejo os dois se afastarem enquanto trocam farpas. Logan consegue fazer gargalhadas escaparem de Tyler, fazer com que toda a tristeza do meu ex sumirem, porque ele sabia que não estava sozinho, ele tinha um amigo. Aquela cena faz o meu peito doer de uma forma que eu teria que fazer algo drástico para mudar o sentimento crescente em meu interior.

Ryan me chama, Barbs estava com o carro ligado e antes que eu entre dentro do carro, procuro pelo o número especifico na minha agenda. Encaro o contato na tela do celular, ainda receosa se eu realmente deveria fazer isso, esclarecer as coisas, sem mentiras daqui em diante.

Não vejo alternativas senão mandar a mensagem:

"Podemos nos ver amanhã?"

Notas da Autora :

Demorei, mas finalmente postei, espero que tenham gostado, e um capitulo bem grande pra compensar a demora hehehehehehhehehe E QUE CAPITULO MEUS AMIGOS, E AMO UM FINAL MISTERIOSOOOOOOOO.

E ESTAMOS INDO PRO FIM DE TDS, FALTANDO QUATRO CAPÍTULOS (se nenhum ficar gigante e eu precisar dividir em dois) PRA TDS ACABAR AAAAAAAAA

Já avisando que o próximo capitulo talvez demore porque, como estamos em reta final de TdS, e os capítulos não estão feitos, estou demorando um pouco, por estar indo pro final eu to com dificuldade em acumular capítulos e postar com mais frequência.

Peço a compreensão de todos <3 E doidinha pra saber o que acharam

Fiquem atentos que a próxima atualização pode vir mais cedo (se eu ver os leitores fantasminhas se pronunciando) ou mais tarde (quando o flop vier com força).

Não deixem de conferir a PLAYLIST de Tds no SPOTIFY, só digitar: TdS ou procurar pelo meu user Ella S. V.

Me sigam no INSTAGRAM, para não perderem nenhuma atualização: @iamellasv

Até breve!

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