Teoria da Sincronicidade [CON...

By _LuisaSV

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Jackie Rivera está no último ano do ensino médio e isso significa que é o último ano para conseguir alcançar... More

Sincronicidade
St. Martin
Dedicatória
Epígrafe
0. Prólogo
1. Sanders
2. Trio Infernal
3. Águas Turbulentas
4. Desavenças
5. Sexta Feira
6. Órbitas Enigmáticas
7. Benjamin Rivera
8. Vestido Dourado
9. Olho Roxo
10. Capitão
11. Ryan Willians
12. Gwen e Ben
13. Fim de Festa
14. Macbeth
15. Doces e Travessuras
16. Me Beije
17. Peixinha
18. The Cure
19. Vinte e Oito Segundos
20. Bella Notte
21. Mar em Lágrimas
22. Polaroid
23. Festa do Pijama I
24. Festa do Pijama II
25. Coração e o Corvo
26. Jaqueta Vermelha
27. Alyssa
28. Perdão
29. Banheiro Interditado
31. Cúmplice
32. Sábado Decisivo
33. Baile de Inverno
34. Últimos Suspiros
35. Pernas Bambas
36. Carta de Coragem
37. Jackie Rivera
38. Epílogo
Leitores
EXTRA

30. Doces Lembranças

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By _LuisaSV




– Está errado. – devolvo o caderno de volta para Noah que bufa de raiva – A resposta é doze, raiz quadrada de dois, eu já falei, você tem que se atentar no começo, maioria dos seus erros estão no começo.

– Eu odeio matemática, com todas as forças – ele levanta a voz e quatro pessoas que estão por perto o mandam calar boca para manter o silêncio na biblioteca do St. Martin – Nem sei porque preciso dessa porcaria.

– Precisa porque vai repetir de ano se não dar um jeito nas suas notas. – sou dura e franca com ele, que solta um muxoxo em resposta – Nós vamos tirar nota boa na insistência.

– Assim espero, ou estou ferrado.

– Só precisamos ser positivos e você, prestar mais atenção. – aproximo minha cadeira a dele, pegando uma nova folha para poder explicar melhor a questão a ele – Vamos fazer a questão juntos, você vai ver que não é tão difícil quanto parece.

– Tem razão, não é tão difícil quanto parece, é simplesmente impossível!

– Sem pessimismo, você já passou por coisa pior, essa questão de matemática não é nada para você. – o incentivo e assim que copio todos os números dados no enunciado, meu celular começa a tocar no bolso.

Rapidamente o visor para saber quem era, se fosse minha avó, atenderia de imediato, tirando essa exceção, qualquer outra pessoa que me ligasse teria que esperar. Todavia, meu coração para por alguns segundos quando vejo que é um contato desconhecido e pelos números a mais, a ligação é internacional.

– Faz o seguinte Noah – levanto da cadeira sem tirar os olhos do número – faça a questão seguinte, depois voltamos para essa.

– Quem está ligando? Você parece pálida e pronta para um desmaio. – Noah diz rabiscando algum desenho na nova folha que eu tinha destacado anteriormente.

– Meus pais – declaro para ele e mais de cinco alunos me fazem um longo "shiu", me obrigando a ficar encolhida por estar aumentando o tom de voz em um lugar que segue rigidamente as regras de silêncio.

Quando volto a encarar Noah, ele está pasmo.

– Corre – ele sibila – atende isso logo.

Meu plano era sair da biblioteca para poder falar com eles sem problemas em alterar o tom de voz, mas como estava desesperada para atender, com medo que a ligação caísse ou algo do tipo, me infiltrei nas estantes de livros no fundo do espaço, normalmente, os cantos mais escuros da bibliotecas, onde tinha mais livros, eram lugares ótimos para trocar segredos e roubar alguns beijos mais ousados.

– Alô? – atendo a ligação com o coração na mão.

– Jackie! – ouço a voz animada da minha mãe, me obrigando a sorrir depois de tanto tempo sem contato com eles, sempre foi assim, toda vez que entravamos em contato, eu percebia o quanto sentia falta deles – Está tudo bem por ai? Desculpa ligar esse horário, sei que deve estar estudando.

– Ajudando Noah, pra falar a verdade – digo passando os dedos pelos livros nas prateleiras, me distraindo e lembrando da cara emburrada de Noah por não estar se acertando com a Álgebra – mas, está tudo bem, resolvermos fazer um intervalo para ele recuperar a vontade de viver, matemática e ele não são duas coisas que combinam.

– Tenho certeza, faz tanto tempo que eu não ouvia falar sobre ele, como ele está? – ela pergunta interessada e eu tenho uma história extensa para falar com ela sobre Noah, sobre tudo que aconteceu com ele nesses últimos tempos.

Entretanto, meu lado egoísta fala mais alto. Fazia um bom tempo que eu não conversava com a minha mãe, não sabia quanto tempo iria durar aquela ligação e por esses motivos eu faria o possível para que a conversa fosse sobre mim e eles.

– Ele está ótimo. – encerro o assunto sobre meu melhor amigo – E vocês? Como estão?

– Temos novidades – ela responde animadamente – em algumas semanas estaremos voltando para os Estados Unidos!

Eu abaixo o telefone e faço uma pequena comemoração silenciosa, com direito a pulinhos e alguns palavrões de felicidade. Pensei que demoraria um bom tempo para revê-los, fico grata por esse momento ter se antecipado.

– Quando virão? – pergunto avidamente e tiro um livro da prateleira, o espaço que é deixado na falta do livro me faz ter a visão de um casal se beijando selvagemente perto das estantes dos livros velhos de biologia.

– Não sabemos ao certo, estamos analisando... Seu pai sofreu um acidente e voltaremos para ele poder consultar um médico amigo dele especializado, parece que precisará de reabilitação.

Eu paro de andar de um lado para o outro.

Minha mãe começa a falar sobre o amigo do meu pai, o médico, mas eu não presto muita atenção. Meu pai tinha sofrido um acidente e minha mãe está me contando isso como se fosse a coisa mais normal de se acontecer.

– O que aconteceu? – a interrompo sentindo a pressão cair um pouco.

– Oh... Devo ter preocupado você agora, não é? Mas pode ficar tranquila, semana retrasada ele estava avaliando um projeto de um prédio, a estrutura era um pouco velha, iriam reconstruir para um orfanato decadente na vila em que estávamos, acabou que o chão cedeu e seu pai foi junto, ele me deu um belo de um susto, quebrou uma das pernas... Fiquei agoniada porque ele deu febre e estava com suspeita de infecção, mas de uns dias para cá ele vem apresentando uma melhora.

Minha mão treme quando os milhões de pensamentos rondam minha cabeça. Meu pai tinha sofrido um acidente, fico sabendo sobre tal fato semanas depois. Fico feliz em saber que ele está bem, mas saber que enquanto eu ia para a escola, estudando pensando que estava tudo bem com eles, seguros, meu pai estava deitado numa cama cheio de dores, a cena faz meu estômago revirar.

– Além do mais, parece que estamos com alguns problemas na empresa, na sede de Nova York – minha mãe continua – parece que um dos sócios está sob suspeita de ter desviado o dinheiro, acredita nisso?

– Então... – engulo o seco, sentindo as lágrimas vierem à tona por uma coisa tola – Outro motivo para estarem vindo para cá, é por causa da empresa?

Nesse momento, eu me permito sentir raiva dos meus pais. Posso estar sendo uma filha mimada, não reconhecendo o trabalho lindo que eles fazem, mas o fato do meu pai ter quebrado a porcaria da perna, tendo ciência do fato semanas depois e eles estarem voltando para o país por causa da empresa me faz repensar e me questionar o motivo deles inventarem de terem um filho.

Odeio me sentir assim, parece ser errado e muito infantil.

– Jackie, eu... – minha mãe começa após estranhar o meu silêncio – Eu queria dizer que...

– Mãe, eu preciso desligar agora, minha bateria está acabando. – minto sentindo a lágrima cair – Tem jeito de falar com meu pai?

– Ele está dormindo agora, tem usado boa parte do tempo para descansar.

– Tudo bem, eu entendo. – minto, tirando as lágrimas do meu rosto – Fala para ele que eu mandei melhoras e eu proíbo ele de ficar se arriscando demais.

– Prometo repassar o recado para ele, – ela responde – esse trabalho que fizemos aqui foi muito importante para nós, mandaremos o...

– Diário de viagem. – comento com ela, mantendo a voz firme e animada.

Meus pais sempre gostaram de registrar cada momento, dariam ótimas celebridades e um belo roteiro para reality shows de viagens. Toda viagem que fazem, sempre trazem o diário de viagem, um pen drive, para que eu, minha avó e toda a família, amigos e até a empresa vejam mais sobre o trabalho que fazem. Vídeos e relatórios que fazem, sempre gosto de ver toda vez que trazem, para me lembrar todos os dias que eles são incríveis, valorizar o trabalho que fazem ao redor do globo e entender que a distância entre nós é necessária, um sacrifício que deve ser feito.

Só que dessa vez, não estava tão animada assim para ver o que fizeram nessa viagem.

– Vou desligar, amo vocês. – digo pela boca para fora, incerta se eu realmente queria vê-los após tanto tempo.

– Nós te amamos também, Jackie

Espremo os lábios para conter as lágrimas e desligo o celular no mesmo instante. Ao mesmo tempo que eu chorava pela falta que me faziam, pelo nosso encontro ser em nome da empresa, outra parte minha tem vergonha desses sentimentos, sinto que sou a garota mimada dos pais que precisa de um abraço e que eles venham para a minha apresentação na escola.

Continuo enfiando na minha cabeça que eles fazem um trabalho super importante, cuidando de crianças carentes, ajudando cidades pobres ou que foram atingidas pela guerra.

Lembre-se do trabalho deles, Jackie, pare de bancar a menina mimada.

Repito o meu mantra na minha cabeça, várias e várias vezes até as lágrimas secarem. Eu tenho repetido essa frase para mim mesma desde o momento que decidiram que a melhor decisão para mim seria morar com os meus avós, durante anos eu tenho lidado bem com essa falta e assim eu iria continuar.

Assim que sinto que meu rosto está limpo, volto até a mesa em que Noah está quebrando a cabeça para resolver o exercício.

– É oficial, eu desisto de matemática, simplesmente não dá! – Noah começa a reclamar me mostrando as suas contas, pego-as e analiso o que ele fez – Essa merda só... Seu nariz está vermelho.

– O quê? – viro para ele, me sentindo tola por não ter conferido minha cara na câmera do celular.

– Estava chorando? – Noah fala em voz alta e metade da biblioteca manda ele se calar – O que aconteceu? Alguma coisa com seus pais?

– Nada, é só que... – sinto meus olhos umedecerem – Estou mais sensível que o normal, eu tenho que me lembrar que eu tenho que ser uma filha boa para eles, só isso. Algo que... Eu sempre fiz a minha vida toda.

– Você precisa ser uma boa filha, mas também pode exigir que ele sejam bons pais... – Noah sussurra – Não que eles sejam maus pais, mas... Você tem o direito de ficar chateada.

– Faz anos que eu não me permito sentir nenhum sentimento negativo por eles. – sussurro de volta corrigindo sua questão – Não é agora que eu vou mudar meu jeito de ser.

Noah fica calado, talvez eu tenha soado um pouco grosseira, mas era um assunto que eu queria encerrar, fingir que não tinha nenhum problema, que eu era a Jackie de sempre.

– Vamos voltar a questão e... Temos um progresso aqui, a questão está correta.

– É sério? – Noah arregala os olhos com a minha declaração, dando um belo sorriso diante da vitória.

– Talvez, parcialmente... Tipo, vinte por cento da questão. – me aproximo dele assim que ele faz cara feia – Vou explicar melhor.

***

– Vamos lá senhora Gwendoline, atenda o telefone. – pedi ansiosamente enquanto andava de um lado para o outro no vestuário feminino do clube do clube Spring Water.

Vez ou outra entrava alguém e eu disfarçava todo o meu nervosismo sentando nos bancos que tinham espalhados pelo vestuário. Assim que ficava sozinha novamente, me levantava e gastava minha energia andando quando, na verdade, deveria estar me aquecendo para entrar na água o quanto antes.

– Aposto alguns dólares que está de fones de ouvido enquanto passa o aspirador em casa. – começo a teorizar – Ou talvez...

– Alô? – ouço a voz rouca e melodiosa da minha avó e paro no meio da frase para que ela não saiba o que se passa na minha cabeça – Casa dos Riviera, Gwen Rivera falando.

– Primeira pergunta antes da pergunta mais importante: estava de fones, não estava, senhora Gwen? – digo divertida, sabendo que ela ficaria irritada do outro lado da linha por eu ficar pegando no seu pé de graça.

– Para a sua informação, estava fazendo uma torta para você enquanto tocava uma das coletâneas preferidas do seu avô do Frank Sinatra. – ela retruca um pouco brava, me fazendo rir – Mas vou rever meus conceitos e talvez levar a torta para a vizinha.

– Só quero garantir que não esteja distraída, já pensou nas inúmeras possibilidades de acidentes por causa de fones de ouvido, Gwendoline?

– Jackieline Rivera me diga onde está agora para eu dar uma lição em você, agora mesmo, cada dia que se passa, sua ousadia cresce como um monstro sendo alimentado! – ela reclama – Não está na hora do seu treino?

– Alguns minutos, Barbs está testando um novato. – explico para ela e consigo ouvir a música do Frank Sinatra, não muito longe, dou uma risada que não dura muito tempo até eu me lembrar o motivo de ter ligado para ela – Vó, você sabia que meu pai tinha sofrido um acidente?

– E outra coisa, Jackie eu... Como é? – minha avó praticamente grita no meu ouvido – Seu pai sofreu um acidente? Do que está falando?

– Minha mãe me ligou mais cedo – comento com ela, aliviada em saber que ela não sabia desse acidente tanto quanto eu – falou que estão voltando, meu pai precisa de uma reabilitação e querem tratar por aqui, com um conhecido, e estão com problemas na empresa que precisa ser resolvido pessoalmente, em Nova York, provavelmente depois disso, vão voltar para os trabalhos voluntários.

– E há quanto tempo foi esse acidente?

– Faz algumas semanas, pelo que ela disse.

– Sua mãe, Jackie... – minha avó bufa do outro lado – Sua mãe sempre teve esse defeito, queria poder voltar no tempo e dado umas surras nela para ver se tomava jeito.

– Que defeito?

– Tentar colocar panos quentes em tudo, ela sempre teve essa mania de esconder grandes problemas e esperar estarem resolvidos para poder contar tudo, sempre acha que esse caminho é bem melhor e menos desgastante. – ela comenta e deixo um sorriso escapar – No Ensino Médio, ela tinha se envolvido com uma briga feia, parece que a menina vivia importunando ela, brigaram feito, sua mãe escondeu os hematomas por semanas... Só descobrimos o que aconteceu quando seu avô viu um hematoma enorme na perna que já estava sumindo, só então ela nos contou, falando que o problema já tinha sido resolvido com uma conversa das duas com a orientadora do colégio, viraram amigas, olha isso!

Dou uma risada.

Nunca imaginaria minha mãe brigando com outra pessoa, ela é sempre calma e centrada, é difícil visualizar ela levantando a mão para alguém.

– Não sabia desse passado obscuro da minha mãe. – comento com a minha avó – Não tivemos muitas oportunidades para história do ensino médio dos meus pais.

– E para várias outras conversas, muitas e muitas conversas. – minha avó ressalta e sinto um nó na minha garganta – Vocês se parecem muito Jackie, sempre querem fazer o bem, o correto, mesmo que isso passe por cima dos seus próprios sentimentos, mesmo que isso não as façam felizes.

– É, gostaria de concordar com você, vó, mas... – coloco uma mecha de cabelo atrás da orelha – Como você mesma disse, não tivemos oportunidades para muitas e muitas conversas, inclusive para descobrir coisas em comum

Vó Gwen fica em silêncio do outro lado da linha. Talvez eu tenha sido dura demais, eu tinha que parar de pensar muito e relembrar tudo que ambos fizeram para muitas pessoas necessitadas, sempre foi assim, agora não seria diferente.

– É muito feio eu não estar preparada para recebe-los? – indago para minha avó – Depois de tantos anos, eu...

– Você o que, Jackie?

Eu não sabia exatamente o que sentir. Chateação, alivio, era uma mistura de opostos que só deixava mais difícil admitir o que eu realmente queria dizer aos meus paiss quando o vissem.

– Nada, só estou ansiosa para vê-los, só isso. – dou um meio sorriso – Eu definitivamente estou mexida com tudo que vem acontecendo, natação, término com o Tyler, universidade... Só estou pensando demais... Vou desligar agora antes que Barbs ameace jogar meu celular na piscina.

– Tudo bem... E Jackie?

– Sim?

– Eu estou do seu lado, sempre. – minha avó diz – Principalmente em relação aos seus pais, não sou de passar mão de cabeça e sei que estou do lado certo.

– Eu sei vó e é por isso que eu amo você.

– Me ama porque lavo suas roupas também.

– E faz meu jantar. – provoco, fazendo-a rir – Não se perca nos fones.

Minha avó ri, para a minha surpresa e desliga o telefone após me mandar um trilhão mais um infinito de beijos. Apesar de ainda estar mexida com a volta antecipada dos meus pais, sinto que estou mais leve do que antes, graças a minha avó. Conversar com ela sobre isso, ou só de ouvir a sua voz, já é o suficiente para saber que não importa o que aconteça, eu ainda tenho alguém para me dar colo sempre que eu precisar.

Pego meus óculos e touca e, finalmente, saio do vestuário. Encontro Kiara no meio do caminho que me cumprimenta radiante, pelo que soube recentemente, ela está tendo um encontro com um garoto, até me pediu segredo, mas pelo sorriso estampado em seu rosto, vai tudo às mil maravilhas.

Sinto até uma pontada de inveja por ela, começando a imaginar como seria as coisas se eu tivesse encontrado Logan antes.

Droga.

Lá estava eu novamente, criando asas e começando a pegar voo para longe da realidade. Para alguém que sempre foi muito pé no chão, eu estava começando a ter posturas diferentes do que antes.

Não que seja ruim, pelo contrário, é novo e curioso.

– Oi!

Eu paro no lugar imediatamente quando um garoto para a minha frente, ele tem grandes olhos azuis e o cabelo molhado e escuro. Ele está apenas de sunga, completamente molhado e tremendo por causa do frio... Ou por causa de exercícios em excesso.

– Oi, meu nome é Charlie Pratt, quatorze anos, um metro e setenta e cinco e setenta quilos – o garoto fala eufórico sem ponto ou virgula na frase para uma pausa.

– Olá, eu sou a...

– Jackie – responde no mesmo tom – me desculpe, isso foi... No mínimo, esquisito, eu tinha que falar meus atributos em outra oportunidade, mas não sabia como falar com você... Até treinei mentalmente, mas...

– Você me conhece? – arqueio as sobrancelhas diante da novidade.

– Sim, já vi você nadando em algumas competições de natação em Millstown, eu assisto muito, é um hobbie ir em competições, seja feminina ou masculina – ele cruza os braços para tentar colocar mais força nos braços franzinos – gosto de prestar atenção na performance e o tempo dos nadadores e o seu é... Simplesmente incrível, sou um fã. Sei que seu avó é super famoso, assim como a treinadora, é como se tivesse sido batizada pela água sagrada dos deuses, não é à toa que é tão talentosa.

Eu continuo de olhos arregalados, estática enquanto o garoto continua a me encher de elogios. Acho que eu nunca estive em uma posição assim, claro que já ouvi muitos dizerem que eu sou boa, que tenho um futuro, mas um garoto mais novo falando com tanto entusiasmo... Como eu fui um dia com meu avô e como sou com Barbs, os olhos brilhantes enquanto me satisfaço diante de alguém que considero um grande exemplo a seguir.

– É... Eu acho que tudo bem. – declaro, ainda sem graça.

– Estou assustando você? As pessoas dizem que sou emocionado, ás vezes.

– Não. – dou uma risada – É por que é a primeira vez que alguém... Não sei... Qual a palavra...

– Admiração? – ele completa e eu sou obrigada a concordar porque a palavra se encaixa perfeitamente na situação, é meio difícil para que eu mesma acredite porque eu ainda acho que estou tão longe de ser uma nadadora de verdade, tenho muito a aprender, competições para participar e muito a mostrar – Você é incrível, é óbvio que vai ter fãs.

– Soa bem, ter fãs.

– Sei que estuda no St. Martin, certo? É uma das escolas com um dos melhores times de natação que eu já vi, tanto masculino quanto feminino. – ele comenta – Ano que vem pretendo estudar lá.

– Sério? – ele acena positivamente, pronto para ter um infarto com tanta agitação quando vê que estou gostando da conversa, é um garoto adorável – Não estou surpresa porque pensei o mesmo quando me mudei para St. Martin: uma das melhores escolas com time de natação, eu tenho que estar lá dentro.

– Exatamente. – ele dá uma risada – Vai ser meu primeiro ano no ensino médio e eu quero estar no St. Martin desde o primeiro dia, você se forma quando? Ia ser incrível se fosse minha veterana!

– Quando entrar, ela já vai ter saído. – Barbs aparece com óculos de grau na ponta do nariz enquanto escreve avidamente na sua caderneta – Está há mais de cinco minutos aqui parada, Jackie, não entendo porque não está dando voltas na piscina, se aquecendo para o treinamento.

– Foi mal. – digo com a cabeça abaixada – Então, ele é o garoto que você falou.

Charlie olha para Barbs com os olhos brilhantes, o mesmo olhar que eu dava toda vez que Barbs falava algo e eu acreditava ser lei, independente do tão tosco fosse. Um ícone a ser seguido e admirado por todos.

– Exatamente, faz dias que não sai do meu pé, dizendo que quer treinar nesse clube, exclusivamente por mim.

– E eu pago mais caro, se possível, sei que tem vários treinadores aqui, mas... – o garoto continua, insistente – Vou conseguir um emprego, sei que deve ser muito ocupada e...

– Enfim, é um garoto insistente e teimoso, deve ser por isso que a conversa entre vocês estava tão boa, possuem muitas coisas em comum. – Barbs deixa a caderneta debaixo do braço, Charlie ainda a encara como se fosse uma divindade e se ele tivesse um rabo, estaria balançando avidamente como um cachorro que encontrou o osso perdido – Charlie, não disse que tinha um compromisso agora?

– Droga, minha irmã mais nova – o garoto sai apressado até um dos bancos perto da porta e pega uma toalha, penso que ele vai embora, mas ele volta correndo, e aperta minha mão, molhado e radiante – Eu preciso cuidar da minha irmã mais nova, minha outra irmã tem aula de balé e meus pais vão viajar e eu tenho que estar lá para a caçula, mas foi um prazer conhecer você, Jackie, uma honra, espero ver mais competições suas.

– Tudo bem – rio quando ele não larga a minha mão de jeito algum – podemos nos ver no clube também, quem sabe.

– Jackie vai ter uma competição amanhã à noite na universidade de Millstown. – Barbs diz de repente e Charlie paralisa no lugar – Eu irei porque...

– Barbs é tipo a minha fada madrinha.

– Porque sou a treinadora dela e é bom eu ver o desempenho dela em situações reais. – Barbs reforça, me fuzilando com o olhar – Se quiser ir, para ver, acostumar com o clima de competições.

– Eu acho que morreria. – o garoto fala exaltado, sem largar da minha mão um segundo sequer, ele me encara, lisonjeado – Nunca fui em competições de universidades.

– Se isso faz você se sentir melhor, eu também não.

– Vai ser incrível! Vou dar um jeito da minha outra irmã tomar conta da menor enquanto eu estiver fora, posso contratar uma babá também... Ou até levar ela.

– Não se preocupe tanto, Charlie. – digo a ele, assim que ele solta a minha mão para coçar o queixo e pensar numa solução para o seu problema.

– E ir para casa, Jackie precisa treinar. – Barbs pressiona e eu dou uma risada com a insistência de Charlie em ficar e conversar – E você precisa de um banho quente antes que pegue um resfriado, garoto.

– Pode deixar, obrigado pela preocupação, Barbs. – Charlie diz sorridente e o queixo de Barbs cai um pouco ao ver o novato já chama-la pelo apelido – Até mais Jackie, nos vemos amanhã, com certeza.

Charlie sai apressado, sorridente e tropeçando nos próprios pés por causa do chão escorregadio, quase esbarrando em duas garotas que dão risadinhas com seu modo desengonçado.

– E então? – pergunto para Barbs, levantando as sobrancelhas – O que acha dele?

– Insiste e até que promissor, falei tantos "nãos" para ele e para tanto outros, mas ele que continua vindo aqui tentando me convencer o contrário... Como você. No começo. – ela dá um sorriso fraternal – E ele nunca participou de competições sérias, apenas esses amistosos em colégio, tem pouca confiança de que pode conseguir.

– E ele é bom?

– Bastante, precisa só melhorar a confiança dele, mas tenho um pouco de medo... Atletas como ele e você é sempre oito e oitenta, ou são muito confiantes, ou desencorajados. – ela dá nos ombros.

– Só vendo pra saber se vale a pena ele ter um ego tão grande como o meu para natação.

– É... – ela me olha curiosa e depois para a piscina – E quando vai entrar na piscina para treinar de verdade?

Dou uma risada e ao invés de dar voltas pela piscina ou fazer alguns aquecimentos em forma de flexões, eu apenas pulo, fazendo Barbs reclamar ainda mais. Entretanto, no fim, eu vejo ela rir ao me ver tão bem dentro da água.

O treino foi um pouco pesado do que Barbs costumava me dar, talvez porque antes, eu estava com o emocional despreparado, à beira de um colapso nervoso por causa de ansiedade.

Nos últimos dias eu estava mais relaxada, mesmo não estando cem por cento bem com tudo, com as pressões do dia a dia. Quando terminei todas as vinte e cinco voltas de peito, que Barbs acha que é o meu ponto fraco, ela disse que eu poderia descansar um pouco e que sairia para resolver alguns telefonemas no escritório.

Fiquei dando mergulhos por um bom tempo, vendo as piscinas se esvaziarem a cada volta que eu dava. Quando vi que estava sozinha, fiquei boiando de olhos fechadas, sentindo o cheiro de cloro e lembrando de qualquer música antiga.

Eu merecia o descanso, escutando meu nome sendo repetido várias e várias vezes.

Jackie. Jackie. Jackie.

E esse tão merecido descanso, termina quando sinto uma chuva de água vindo na minha direção, me fazendo sair do meu momento terapêutico de meditação. Volto a realidade, ficando em pé na piscina e sentindo toda a minha paz ir embora.

Logan está de pé, perto da piscina com um esfregão que usou para jogar em cima de mim. Ao ver que sua missão tinha sido comprida, ele puxa o esfregão de volta e usa de apoio para as duas mãos.

– Eu me esqueci que quando você entra na água... Pronto! Tudo desaparece ao seu redor – ele diz com um sorriso capcioso no rosto, um gesto simples que faz os pelos da minha pele se enrijecerem.

E eu daria a desculpa que era apenas o frio.

– Assim como você com o cigarro. – respondo ao seu sarcasmo no mesmo nível.

– Exatamente, mas eu ainda escuto as coisas, parece que com você a coisa é mais intensa.

– Eu nado desde o momento em que estava na barriga da minha mãe, claro que é mais intenso.

Logan dá uma risada.

– Bárbara me mandou aqui para expulsar você da piscina, daqui alguns minutos vai chegar a terceira idade e você sabe que eles ocupam boa parte das raias.

– Estão animados em vir na natação a noite só para vir nadar. – digo tirando a touca da cabeça e os óculos da cabeça, mexendo nos fios negros e espalhando respingos por todos os lados – Seria uma honra chegar nessa idade com essa disposição.

– Estão treinando para as competições de terceira idade que Bárbara está arrumando, vai ser um evento beneficente, o dinheiro vai ser usado para os fundos de asilos em Millstown. – ele explica – Acontece muita coisa nesse clube que você parece estar alheia.

– Mas você precisa saber dessas coisas, não é você que trabalha por aqui? – provoco e ele usa o esfregão para jogar mais água na minha direção, me fazendo rir – Aliás, as fotos com a gravata? Deram certo?

– Ficaram, foram poucas fotos, demorou menos que quinze minutos e me obrigaram a sair para beber... Acredita que ficaram chocados quando eu disse que eu mesmo fiz a gravata? Eles me acompanharam toda a minha vida sem uma única gravata sequer ao redor do meu pescoço, estão pasmos com essa mudança radical.

– E você levou todos os créditos pelo meu trabalho.

– Até que se prove o contrário. – ele dá um sorriso fulminante – E cá entre nós, esse sempre foi e sempre será nosso pequeno segredo.

– Eu acho que você está se aproveitando de mim. – devolvo.

– Aproveitando de você? – Logan diz entre risos e eu aceno positivamente com a cabeça – Você não viu nada sobre me aproveitar de você, Jackie.

Com certeza agora eu estava sendo a coisa que mais destacava dentro da piscina. Se perguntassem o que é um pontinho vermelho no meio da piscina, eu responderia com facilidade: Uma Jackie ruborizada pelas palavras de Logan Sanders.

Ficar dentro da piscina não parecia tão refrescante assim, estava mais para uma sauna do tanto que meu corpo esquentou.

– Então... – Longa deu nos ombros, parecendo não se importar com o efeito das suas palavras – Vai sair da piscina por livre vontade ou vou ter que chamar os reforços?

– Já vou sair. – digo brincado com a água com ambas as mãos, estava somente eu e Logan nas piscinas do Spring Water, querendo ou não, mesmo estando menos afetada, eu ainda estava pensando no episódio mais cedo com meus pais – Antes de sair, posso fazer uma pergunta?

– Para me enrolar e continuar na piscina? – ele deu nos ombros e se sentou num dos bancos perto da borda da piscina – Vá em frente. Você é boa nisso.

Dou uma risada e me aproximo dele, lentamente, ainda segurando a touca e o óculos, apertando-os como se fosse a única esperança e coragem que eu tinha.

– Você já... – dou nos ombros – Teve sentimentos proibidos, que sempre fingiu não ter para não ser considerado uma pessoa ruim?

Ele ergueu as sobrancelhas, algo na postura de Logan mudou tão drasticamente, sua postura sempre relaxada e despreocupada ficou tensa com a minha pergunta, cruzando os braços para dar mais ênfase a sua pose.

– Você está fazendo justamente essa pergunta? Para mim?

– E qual é a resposta? Não se responde uma pergunta com outra pergunta.

– Eu não sou obrigado a responder, também.

– É um simples sim ou não. – ergo a sobrancelha – Não lembro de você gostar de dificultar as coisas.

– Só dificulto as coisas quando estou fugindo de alguma coisa. – ele tira o boné do clube da cabeça – sobre sua pergunta, a resposta é sim, já fiz isso. E qual o motivo da pergunta?

– Bom... – dou nos ombros – Acho justo falar, sei como é a relação dos seus pais e não sabe muito com os meus.

– Não querendo ofender ninguém, mas parece que sua família se resume a sua avó, seus gatos e a cadela.

Dou uma risada.

– E você não está errado – dou um meio sorriso – já contei que meus pais viajam muito, fazendo serviço voluntário, ligam sempre que podem e eu sinto que é errado sentir raiva, sentir que... Me abandonaram de alguma forma, mesmo sendo por um motivo bem maior, um motivo digno, o sacrifício que fazem pelo bem maior.

– Hm... – ele levanta as sobrancelhas, analisando minhas palavras – Mas, pelo que conheço você até hoje, você não é uma máquina, sente as coisas e não há nada de errado nisso, sem falar que não parece que é raiva, ódio, é apenas...

Saudade. – falo a palavra em português.

Tal palavra que aprendi com meu pai, quando era mais nova. Na época eu já morava com meus avós e ele e minha mãe estavam fazendo uma visita, tínhamos passado o dia no parque, e no fim, estávamos tomando sorvete enquanto ele me ensinava algumas palavras na língua portuguesa, um dos idiomas que ele estava aprimorando. Eu mesma tive a iniciativa de perguntar como eles diziam que sentia falta de alguém, porque era algo que eu sentia com frequência: saudade.

Logan estranha a palavra estrangeira.

– Você por acaso está me xingando em outra língua, Jackie? Se estiver fazendo isso, eu ficarei extremamente chateado, nunca fiz nada contra você, só contra a sociedade quando fui encontrado com um pacote de cocaína dentro do carro

Saudade significa sentir falta. – explico para isso – Não sinto raiva, ódio, apenas... Sinto falta deles e não sei se quero vê-los, porque... Me acostumei com a ausência, tenho tanta coisa na cabeça que não quero outra preocupação, não quero ensaiar minhas palavras e sorrisos quando eu encontra-los. Acho que é por isso que não sei se quero vê-los, porque não quero fingir que está tudo bem quando não está.

– Não é pecado você sentir essas coisas, você sabe. – ele comenta se levantando e colocando ambas as mãos dentro da calça – Precisa parar de tentar ficar colocando máscaras para agradar os outros.

Penso por um instante nas palavras de Logan, e é até irônico, porque é algo que eu fiz a minha vida toda. Entretanto, desde o dia que terminei com Tyler, eu estou priorizando a mim mesma, mesmo que eu não agradasse todo mundo, no fim eu me sentia leveza em me libertar, é como se algo tivesse mudado e eu pudesse fazer isso mais vezes.

– Você está certo... – concordo com ele, sorrindo – Faço muito isso, assim como você sente falta do seu pai mesmo negando usando essa máscara de bad boy debochado.

Logan coloca a mão no peito, fingindo estar ofendido.

– Sinto em dizer, mas essa máscara que você tanto fala, infelizmente não existe, eu sou assim, o que resta a fazer é aceitar que existe maldade dentro de mim.

– Mas não nega que sente falta do seu pai.

– Eu fico impressionado com a mudança de assunto. – ele foge das minhas provocações – Você não tem nenhum nado a mais para treinar e me enrolar ainda mais? Eu vi alguns programas de natação, tem algumas garotas que saltam do alto, não está na hora de saltar? Fazer as acrobacias.

Rio.

– Qual é a graça? – ele exige meio recuado.

– Eu acho engraçado a facilidade que tem de fugir de assuntos sentimentais, principalmente quando se trata de outro homem. – comento – Homens também tem sentimentos, Logan, não precisa ter medo, sabia disso?

– Quer começar com esse joguinho? Joguinho de suposições sobre o outro. – ele espreme os olhos – Pode não gostar do que vai ouvir.

– Isso me parece uma ameaça.

– Talvez. – dá nos ombros – Fiquei um ano na prisão, acabei aprendendo algumas coisas com os outros detentos.

– Vou precisar toma cuidado toda vez que atravessar a rua.

– E outro conselho? Evite becos por um longo tempo.

Olho para Logan e ele está sorrindo, os dentes alinhados, os lábios meio vermelhos por causa do frio. Gosto de como sou quando converso com ele, é leve, divertido e cada palavra trocada é uma batida falha do meu coração.

– Será que pode me ajudar aqui? – pergunto me aproximando da borda – Minha perna deu câimbra e não quero ficar na água até virar um maracujá humano de tão enrugada.

– Só dessa vez, lembre-se: trabalho para Bárbara, não para você.

– Vou conversar com a Barbs sobre seu comportamento com os nadadores mais prestigiados do clube. – digo a ele assim que pego sua mão seca e ele revira os olhos com minha prepotência – Seu celular está com você?

– Não, está no armário por que...

Antes que Logan se afaste e perceba o motivo da minha pergunta eu o puxo com todas ás forças para a água. Ele caí de mal jeito, mas calculei a distância para que ele não se machucassem nem nada.

Estou gargalhando e afastando em nome da minha segurança. Eu o vejo emergir com o cabelo espalhado pela testa, tentando limpar os olhos pelo golpe surpresa. Assim que seus intensos negros se abrem, vejo uma mistura de divertimento que faz seus lábios se juntarem e formarem em um sorriso.

– Você não fez isso. – ele diz em tom de ameaça.

– Eu tentei resistir, mas você estava na posição ideal. – digo me afastando e o vejo retirando a blusa, ficando apenas de calça dentro da água, fazendo meus hormônios explodirem em ver todas as tatuagens novamentes, o abdômen definido – Era uma oportunidade única.

– Oportunidade única. – ele repete as palavras, avaliando-as enquanto se movimenta rapidamente na minha direção – Você sabe que eu sou um homem que tudo se resume a olho por olho, dente por dente.

– E você sabe que eu pratico natação faz anos e eu sou boa dentro da água. – retruco.

A provocação só move Logan com mais competitividade, ele avança na minha direção rindo e eu consigo me afastar com rapidez, achando graça das suas tentativas. Ficamos nesse jogo por um bom tempo, Logan tentando me pegar e eu escapando, provocando quando finjo ser lenta e ele estar prestes a me pegar.

– Sejamos realistas, Logan. – digo esnobe e empurro água no seu rosto, fazendo-o se virar para bloquear as gotas, a mais de meio metro de distância – Você está em desvantagem na água.

– E você está cansada, eu acabei de entrar na água, refaça as contas porque hora ou outra você vai ficar lenta e eu vou ser obrigado a dar o bote. – ele responde risonho e joga água na minha direção também, devolvo a chuva de água na mesma intensidade até parar para fugir quando vejo que era uma distração para ele se aproximar.

Em dado momento, me arrisco me aproximar, quando ele mergulha na minha direção, eu flutuo, dando a volta e indo por trás dele. Quando ele sobe para respirar, eu aproveito a deixa para colocar as mãos em seus ombros e empurra-lo debaixo para a água após ele respirar por alguns segundos.

Feito com sucesso, ele afunda soltando milhões de bolhas. Quando sobe para respirar o afundo novamente, rindo, mas na segunda vez que ele emerge, tento escapar, mas Logan consegue ser rápido e esperto o suficiente para me puxar pela perna, quando estou próximo, ele dá um sorriso de tubarão e afunda minha cabeça na água.

Solto bolhas e por acidente começo a rir debaixo d'água, engolindo um pouco de água. Quando subo, já mais recuperada por estar acostumada com água entrando pelo nariz e boca, tento afoga-lo também.

Ele consegue afastar e segurar minhas mãos.

Logan parece desistir da ideia de me afogar, talvez percebendo que estou sem fôlego, tentando recuperar o ar enquanto tento parar de rir. Quando levanto meus olhos na direção dos seus, seu sorriso continua lá, intacto.

E eu fico presa em seus olhos negros, duas órbitas tão escuras que sempre conseguem a minha atenção. Meu braço vai abaixando automaticamente e a mão de Logan continua ao redor do meu pulso, sem solta-la por um segundo. Eu me aproximo, com medo do espaço que nos separa estar diminuindo cada vez mais, com medo dos seus olhos negros e o que eu seria capaz de fazer se mergulhasse neles.

Os olhos dele caem para a minha boca, a mão que segura meu pulso a aperta, talvez querendo aquilo tanto quanto eu. Sem me soltar, ele tira as mechas molhadas do meu rosto e então diz:

– Que se foda.

Antes mesmo que eu perguntasse, os lábios dele se encontram aos meus.

Sempre fantasiei como seria beijar Logan desde o dia em que fomos visitar o seu pai e eu pensei em tal situação na hora errada. Sempre imaginei algo feroz, quente como fogo e sexy o suficiente para me fazer querer partir para o próximo nível.

Entretanto, como sempre, sou surpreendida por Logan.

Seus lábios são lentos, molhados e provocativos, querendo testar o quanto eu o queria e me dando tanto quanto eu mostrava estar tão envolvida pela sua boca. Seus dentes passavam levemente pelo meus lábios, fazendo eu sentir calor em todos os cantos do corpo, sem exceção.

A primeira vez que nos beijamos, foi em uma festa e eu me esqueci por conta da bebida, fico com medo de não saber como fazer no momento devido ao nervosismo em estar tão perto assim dele, mas nossos lábios se moviam em perfeita harmonia, a familiaridade é evidente, é como se eu sempre soubesse como beija-lo.

Sem ao menos perceber, graças a água, coloco minhas pernas ao redor da sua cintura, uma das minhas mãos sobem até o seu cabelo já um pouco maior do que a vez que ele cortou e a outra passa pelo seu rosto, pela barba para fazer e o pescoço esticado.

Sua língua envolve a minha com avidez em certo momento, suas mãos que antes estavam na minha cintura, descem até a coxa a outra aperta a minha cintura, me fazendo ficar desesperada pelo seu toque.

Os lábios deixam os meus e vai descendo pelo meu pescoço, dando mordiscadas que fazia minha pele arrepiar, fazendo-o perceber o efeito que causava em mim. Quando chegou na alça do meu maiô, ele fez questão de descê-lo com os dentes, me fazendo esconder minha boca perto da sua orelha, mordiscando para segurar palavras presas a minha garganta que queriam sair em forma de pedidos, implorando que ele me tocasse em todos os lugares, que eu queria dizer o nome dele várias e várias vezes.

Aperto as pernas ao redor dele e sinto um volume um pouco abaixo.

Não há tempo, ele mordisca meu ombro e volta para minha boca, dessa vez mais apressado, urgente e desesperado pelo meus lábios entre seus lábios mornos.

Somos obrigados a nos separar para recuperar o fôlego, eu parecia estar sem ar, como se tivesse dado duzentas braçadas ao redor da piscina. Olho para os lábios de Logan, tão vermelhos que fiquei meio envergonhada por eu ser a causa.

Tento desviar os olhos, tento me soltar, porque não sabia como reagir, mas Logan continuou me segurando, com uma das mãos livres, ele segurou o meu queixo e me fez encara-lo. Seus olhos viajavam por todo o meu rosto, seus dedos passou pelos meus lábios, subiu até as minhas sardas.

Ele deu um sorriso e fui obrigada a fazer o mesmo, era impossível não fazê-lo diante de Logan Sanders.

Seus dedos ágeis viajaram até o meu cabelo, agarrando-os forte o suficiente para me fazer suspirar, aproximando nossos rostos, para poder certificar mais uma vez que conhecia os meus lábios.

– Com licença. – a voz rouca e fina obriga a Logan a me soltar e afastar de imediato. Era uma senhora, bem magrinha e o cabelo roxo vivo – É aqui mesmo que vai ser a aula de natação para as competições da terceira idade?

Eu e Logan trocamos olhares confusos e eu subo a alça que tinha "caído".

– Sim. – Logan acaba dizendo.

– Que susto, o lugar estava tão abandonado que pensei que teriam cancelado a aula e eu não tinha sido avisada – ela dá uma risadinha enquanto ajeita a grande mochila preta nas costas, me pergunto onde ela tinha forças para carregar uma bolsa daquele tamanho – Cheguei um pouco cedo demais?

– Ah... Sim – Logan diz sem graça, procurando sua camisa que boiava não muito longe, aproveito para mergulhar e pego meu óculos e touca que estão no fundo da piscina, com certeza vermelha depois... De tudo.

Consigo chegar a beirada da piscina primeiro que Logan, saindo como se precisasse fugir de alguma coisa. Talvez porque tinha sido pega em um momento até que íntimo com Logan com uma senhora que tinha a idade da minha avó.

– Ainda não me acostumei com o clube, meus netos dizem que sou um pouco distraída demais. – a velhinha ri enquanto eu pego minha toalha em um canto e vejo Logan sair da piscina com a blusa na mão.

– Já estão começando a chegar todo mundo? – ouço uma segunda voz, de outra senhora, dessa vez um pouco mais cheinha, com o cabelo bem branco preso num rabo de cavalo – Alguém pode me falar como vai funcionar as competições? Me inscrevi, mas não sei ao menos o dia que vai acontecer.

– Não se preocupem, eu posso ajuda-las, fui instruído sobre isso. – Logan disse para elas, seus olhos sendo procurando o meu, me fazendo esconder o riso com a toalha.

– Qual o seu nome, rapaz? – a senhora do cabelo roxo disse, olhando de cima embaixo para ele, de jeito malicioso – Trabalha por aqui? Nunca o vi.

– Trabalho, meu nome é Logan. – ele responde dando um passo para trás.

– Você sabe se tem algum prêmio no dia da competição? – a outra senhora se aproxima deles, interessada na competição em si, enquanto a outra parecia estar avaliando cada célula de Logan.

– Acho melhor eu ir, preciso de um banho. – digo aproximando dos três e deixando minha toalha nos ombros de Logan, para ele se secar, já que foi minha culpa ele estar todo molhado... Mas que valeu a pena.

Afastei um pouco, vendo mais dois idosos adentrarem no espaço. Olho para trás, trocando olhares com Logan. Ele tenta ir atrás de mim várias vezes, mas a senhora de cabelo roxo parecia muito interessada nas suas tatuagens, enrolando um cacho e alisando o seu braço de cima embaixo enquanto ele respondia a pergunta da outra mulher e tinha que ir respondendo outras perguntas dos outros idosos que chegavam.

Não nego que acompanhei toda a cena, dando cada risadinha que o próprio Logan acabou gargalhando toda vez que tentava ir atrás de mim, mas alguém que participaria da aula noturna dos idosos o interrompia com algum questionamento.

Antes de sair das piscinas dou uma última olhada em Logan, ele está divertindo com os velhos e quando me encara, ao longe, dou uma piscadela antes de desaparecer, com o desejo de voltar no tempo milhares e milhares de vezes e reviver aquele momento na piscina.

Notas da Autora :

Capitulo ficou enorme sim pra compensar a demora em postar hihihihi E EU QUERO SABER O QUE ACHARAM DESSE CAPITULO, EU DISSE QUE IA SER BOMBA ATRÁS DE BOMBA AGORA EM DIANTE RSRS

Obs.: fiquem atentos no nome Charlie Pratt

Já avisando que o próximo capitulo talvez demore porque, como estamos em reta final de TdS, e os capítulos não estão feitos, estou demorando um pouco, por estar indo pro final eu to com dificuldade em acumular capítulos e postar com mais frequência.

Peço a compreensão de todos <3 E doidinha pra saber o que acharam

(Capítulo dedicado a todos que fizeram ENEM hoje e precisam de uma distração para descansar a cabeça <3)

Fiquem atentos que a próxima atualização pode vir mais cedo (se eu ver os leitores fantasminhas se pronunciando) ou mais tarde (quando o flop vier com força).

Não deixem de conferir a PLAYLIST de Tds no SPOTIFY, só digitar: TdS ou procurar pelo meu user Ella S. V.

Me sigam no INSTAGRAM, para não perderem nenhuma atualização: @iamellasv

Até breve!

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