Fazia duas semanas que eu e Tyler tínhamos terminado.
Na noite do acontecido, após ele acertar Ryan a ponto de quebrar uma garrafa na sua cabeça, coloquei um ponto final em tudo. Depois disso, com o fim do meu relacionamento, durante a festa da vitória do jogo do Red Falcon, Noah e eu levamos Ryan até o hospital. Ele precisou dar alguns pontos no topo da cabeça e ficou o tempo inteiro se lamentando por ter me abraçado no meio da festa, ter causado toda aquela comoção e, consequentemente, o término do meu namoro.
É nesses momentos que eu gostaria de bater em Ryan e abraça-lo ao mesmo tempo, por ser tolo em se culpar pelo meu fim do namoro e inocente, ao se preocupar comigo nessa intensidade, um motivo de eu não ter me arrependido de ter entrado na briga para tentar ajuda-lo.
Ele pelo menos se sentiu melhor quando descobriu que eu já pensava em terminar com Tyler fazia um bom tempo.
No fim das contas, apesar de todo machucado, ele continuava com bom humor intacto, se oferecendo para dormir em minha casa já que Noah estaria por lá. Ele insistiu bastante, mas Noah não cedeu nem um pouco e acabou dando um abraço de consolação na despedida.
A noite foi longa, foi pesada, mas quando voltamos para casa, após levar Ryan para a sua, senti um enorme peso sair das minhas costas. Ainda me sentia mal por Tyler, por todo seu sentimento por mim, mas estava livre, sem algemas ou amarras.
Fazia duas semanas que tínhamos terminado, mas Tyler sequer desistiu. Queria provar que iria tentar mudar, propondo várias alternativas, implorando de todas as formas. Ele mandou mensagens durante todo esse tempo, me ligou, foi na minha casa para tentarmos conversar e apesar de cada falha minha em ceder, continuei firme, pensei em mim primeiro pelo menos uma vem em minha vida.
Durantes os intervalos no St. Martin eu evitava cruzar o caminho dos jogadores, parece que toda vez que eu encontrava um deles, Tyler brotava de repente para me perseguir, nem que fosse apenas com o olhar.
Quando o sinal tocou, ao invés de ir diretamente para o refeitório, resolvi passar no banheiro, feliz por minha menstruação ter descido e meu último contato íntimo com Tyler ter sido apenas uma lembrança de despedida e não uma nova paranoia sobre uma possível gravidez.
Assim que coloco os pés para fora da sala de aula, Tyler surge de repente, com a mochila no ombro, surpreso por ter dado de cara comigo.
– Tyler.. – digo seu nome com um tijolo na minha garganta.
Toda vez que Tyler vinha atrás de mim, minhas defesas caíam um pouco, seus olhos sempre estavam fundos, seu rosto abalado e bem perdido. Ele estava muito mal por causa do término, todos comentavam sobre isso e apontavam eu como a vilã, certamente.
Já ouvi até alguns boatos que Tyler estaria desenvolvendo depressão por causa de uma vadia como eu. Foi difícil de ouvir cada merda que corria solta pelos corredores do colégio, mas procurei ignorar, ou pelo menos tentar.
– Jackie. – Tyler engoliu o seco – Você não respondeu minhas mensagens.
– Tyler, eu já falei sobre isso com você... – sussurrei, cortando Tyler antes que ele tente me ludibriar com as palavras e sendo o mais direta possível – Vai ser melhor para nós dois se cortarmos o contato, tentarmos ser amigos, não vai dar certo.
– Eu... – ele tenta falar, mas desiste logo em seguida.
Soube por algumas bocas maldosas que ele andou chorando nos vestuários, virou motivo de piada entre garotos imbecis que acham que um cara não pode ter sentimentos e muito menos chorar por uma garota.
– Aliás – digo tirando uma corrente da minha bolsa, o colar que ele tinha me dado no aniversário do pai dele – eu queria devolver isso a você, estava meio sem graça, pensando em como e quando seria o momento ideal para entregar a você já que... Acabamos.
Eu entrego o colar para Tyler com pesar, ele o pega, analisa por longos segundos e antes que eu me afaste, ele puxa o meu pulso e deposita o colar de volta em minha mão. Fico sem entender, arqueando as sobrancelhas com o seu gesto.
– Ele combina com você desde o momento em que coloquei em seu pescoço. – ele coça a nuca sem graça.
– Mas e se você encontrar alguém que...
– Eu não me arrependo de ter dado o colar a você, Jackie. – Tyler reafirma, com a voz baixa e rouca, sendo o cara amável com que eu me orgulhava a estar ao lado durante nosso relacionamento, não que seja motivo para voltarmos, mas me faz ter esperanças que ele possa melhorar e encontrar alguém – Independente de estarmos juntos ou não, ele é seu.
Acabo aceitando o colar. Eu não nego que me apaixonei pela peça desde a primeira vez que eu a vi nas mãos de Tyler e ele conseguiu perceber isso, além de mostrar, mesmo que timidamente, que apesar de tudo, ele não guarda nenhuma raiva de mim.
– Eu preciso ir. – anuncio para Tyler, tentando ao máximo me aproximar e ser gentil com ele, sem que eu tenha que toca-lo para poder transmitir esses sentimentos – Tenho que falar urgentemente com Noah.
Nos despedimos com acenos de cabeça, desajeitados. Tudo era extremamente estranho após o término, a intimidade que construímos parecia ter desmoronado após a minha decisão. Não nego que pensei em tentar uma amizade com Tyler, mas pelo estado em que ele estava, era muito cedo para propor algo assim... E até cruel.
Sai em disparada assim que me afastei de Tyler, tentando ao máximo evitar de olhar para trás e conferir se ele tinha desaparecido ou se me assistia ir embora, correndo como se fosse radioativo estar no mesmo ambiente que ele, a ponto de me afastar toda vez que se aproximava.
Mais uma imagem de Tyler destruído por minha causa, diretamente para o álbum do meu primeiro término de namoro.
Quando chego ao banheiro, fico aliviada, porque sabia que Tyler não iria aparecer tentando me convencer a começarmos do zero, para tentar dar em cima de mim e tentarmos voltarmos.
Não ia acontecer, principalmente pelo fato de ter outra pessoa na minha cabeça.
Tenho ideias mirabolantes para Tyler parar de me perseguir. Todas as ideias são péssimas, todas envolvem magoa-lo ainda mais, a ponto dele me odiar.
Melhor deixar o tempo curar a sua dor, tenho certeza que iria dar certo, só me restava ser paciente.
Quando coloco a mão na maçaneta do banheiro, a porta parece estar emperrada, mas fazendo força e virando-a do jeito certo, consigo empurra-la com força. Entro apressada ao começar imaginar minha calça toda suja de vermelho, mas paro no lugar quando encontro Sierra me olhando de volta.
Sierra está sozinha no banheiro.
Com lágrimas escorrendo dos seus olhos puxados.
Eu fico um bom tempo decidindo o que devo fazer: fechar a porta e fingir que não vi absolutamente nada, ou entrar e fingir também que não estava vendo Sierra Mitchell com os olhos sujos de rímel por causa de choro.
– O que está fazendo aqui? – Sierra pergunta irritada – Não viu o aviso do lado de fora que o banheiro está em manutenção?
Eu estava tão ocupada com ideias criativas na minha cabeça que mal prestei atenção em qualquer tipo de aviso.
– Ah...
Decido entrar no banheiro. Fecho a porta e reparo que havia uma cinta preta amarrada na maçaneta, para evitar que as pessoas que ignorassem o aviso e tentassem entrar, ao perceberem que estava trancada, eventualmente, desistiriam da ideia e iriam para outro lugar... Mas eu passei por cima dos dois.
Sierra me ignora e volta e limpar as lágrimas enquanto encara seu próprio reflexo no espelho. Fico encostada perto da porta, arrumando o cinto que eu acabei desprendendo quando fiz força para entrar.
– Precisa interditar o banheiro todo para poder chorar sozinha? – disparo por acidente, fazendo a garota se virar abruptamente para poder retrucar a minha pergunta ousada – Não é o adequado a se falar nesse momento, eu sei.
– Com certeza deve estar pensando que é uma mania de garota rica, mas eu não ligo, só esperava que qualquer pessoa normal prestasse atenção no aviso. – ela retruca bem grossa, pegando um estojo dentro da sua bolsa de marca, revelando alguns itens de maquiagens – Vá logo ao banheiro, quando sair, reforce sobre o aviso do banheiro em manutenção, alguém burra e desatenta como você deve prestar para alguma coisa além de me interromper.
É nesses momentos que eu odeio Sierra com todas as forças. Esqueço que ela me ajudou e foi compreensível quando Tyler brigou e eu fui acertada no nariz, quando estávamos na casa de Logan, nos divertindo apesar das provocações. Apesar de estar vermelha de raiva, não respondo a grosseria, poderia muito bem ter falado algo e começado uma briga, poderia até sair falando que Sierra Mitchell estava passando o intervalo chorando no banheiro feminino, mas continue calada, perto da porta.
– Por que estava chorando? – digo cruzando os braços em frente ao peito, vendo-a preparar a pele com um líquido transparente, sem nenhum resquício de rímel ou choro.
– E ela fez a famosa pergunta, é o que se espera de uma garota sem sal. – Sierra ri enquanto massageia a bochecha, ela continua focada no seu rosto e continua: – Não se preocupe, Jackie, não estou grávida, ninguém morreu, não fui rejeitada por nenhuma universidade, minhas mães não estão se divorciando, nem com alguma DST, herpes ou câncer terminal, agora que descobriu que não é nada de importante, que tal dar o fora daqui? Está me irritando e eu preciso arrumar minha cara.
Sierra fazia questão de ser malvada, devia ser um esporte, um dom incompreendido, eu realmente não entendia direito o que se passava na cabeça dela e estava longe de entender. Ela é uma caixinha de surpresas, uma garota que sabe ser a melhor pessoa de todas, simpática, engraçada e entusiasmada, como também consegue ser irritante, cruel, grossa e inconveniente... E também consegue ser uma garota que fechou o banheiro para poder liberar suas emoções, para chorar.
E após feito, ela precisa colocar a máscara de volta, ser a garota que todos desejam ter e ser e eu tinha plena consciência que ela não iria simplesmente desabafar o motivo de estar assim para mim.
– Se não contar para mim o motivo de estar chorando, eu vou contar para todo mundo sobre sua paixonite sobre Tyler e dizer que estava chorando por ele no banheiro. – digo tentando ser malvada pelo menos uma vez na vida.
E não sei como Sierra conseguia ser assim o tempo inteiro, fiz minha primeira ameaça e já me sentia como se fosse a pessoa mais horrível de todas... Mas como dizem os antigos, para tudo se tem uma primeira vez, é preciso sair da zona de conforto ás vezes.
Sierra se vira para mim com um sorriso venenoso nos lábios.
– Você não vai fazer isso, e sabe por que eu sei disso? – Sierra dá uma risada – Por que você não tem coragem, você é covarde, boazinha demais e essa sua áurea de boa moça não vai fazer isso.
Franzo o cenho, espantada com o afronte de Sierra. Estava até um pouco impressionada, porque ela conseguia ser ameaçadora quando queria, eu mesma senti sua falácia perspicaz quando os pelos do meu braço se arrepiaram com sua voz rouca disparou as ofensas.
– Você tem certeza disso? – disse para ela, descorando da parede, pronta para sair e fingir que iria espalhar uma fofoca – Você sabe como funciona a fofoca nesse colégio, não sabe? Até hoje sou uma vadia por terminar com...
Antes de dizer o nome do felizardo, consigo associar tudo.
Quando Sierra listou os possíveis motivos de choro, nenhum deles se remetia à sua vida amorosa. É claro que Sierra Mitchell não sofria por garoto algum, homem nenhum merecia as suas lágrimas... Até eu descobrir recentemente que ela tinha um calcanhar de Aquiles, mais próximo dela que ninguém iria imaginar. Que nunca a tratou como interesse, apenas como irmã.
– Está chorando por causa de Tyler? – sussurro me afastando da porta.
Quando pronuncio o nome do meu ex, Sierra fica desestabilizada. É quase imperceptível, mas consigo ver sua mão direita tremer, seus olhos ficarem vermelhos novamente e sua fala se perder no ar.
– Você não sabe do que... – Sierra começa a dar desculpas.
– Então, porque parece estar afetada tanto por causa de um nome?
– O que você quer, Jackie? – Sierra grita, o suficiente para que não fosse ouvida pelo lado de fora do banheiro, controladora como sempre – Eu sempre tratei você como um lixo, por que quer bancar a boazinha comigo? É tudo encenação, não é? Quer esfregar na minha cara que tem Tyler em suas mãos, me rebaixar? Eu conheço isso, se chama vingança, tem várias garotas dessa maldita escola que vez ou outra tenta fazer isso, tentam me diminuir só porque eu sou tudo o que elas não são, melhor que todas elas juntas!
Arregalo os olhos. Claramente, me senti ofendida, queria responder à altura, falar o quão cruel ela era, falsa, inconveniente, perturbada e venenosa. Estava tão irritada que poderia despejar várias coisas para deixa-la ainda pior, mas decidi fazer diferente. Mesmo que eu quisesse seguir meu desejo egoísta.
Então, eu falo:
– Eu não sei se você sabe, Sierra, não se fala outro assunto nessa escola a não ser sobre o meu término, ele está livre para ficar com quem quiser, se quiser tentar algo, vá em frente! Eu não ligo nem um pouco e além do mais...
– Você terminou com ele, mas ele ainda corre atrás de você como um maldito cachorro abandonado! Ainda rasteja por você! – Sierra grita e as lágrimas escapam pela sua face – Ele ainda ama você e nunca vai deixar de amar, você vai ser a única pra ele e sempre vai ser, droga!
Sierra desata a chorar, ela apoia uma mão na pia e a outra escondendo o rosto sujo de derrota e lágrimas. Ela levanta a cabeça atrás de ar, abanando o próprio rosto atrás de uma consolação.
Tento me aproximar de Sierra, mas ela me empurra quando estou chegando perto para tentar fazer com que se sinta confortada nesse momento.
– Eu não quero seu consolo, nem seu abraço, não somos amigas, então pare de agir que se importa... – ela limpa e sua mão, acidentalmente, atinge o estojo de maquiagens derrubando todos os itens caros que tinha lá dentro, ela é obrigada a agachar no chão e recolher tudo – Droga!
– Está tudo bem. – respondi calmamente e resolvi sentar no chão do banheiro enquanto ela juntava suas coisas – Eu só... Sei que é uma droga se sentir sozinha, por isso que ainda estou nesse banheiro com você, se não quiser consolo, não vou te dar, mas se precisar de algo... Estou aqui, só faço isso porque é o certo, pode me chamar de sem sal quanto quiser, vou continuar aqui.
Sierra pega a base de marca famosa e guarda no estojo, ao invés de se levantar e voltar para a maquiagem, ela continua sentada. Cruza as pernas, deixando o estojo de lado e termina de limpar as lágrimas.
– A minha primeira vez foi com Tyler, sabia disso? – Sierra diz de repente com um sorriso melancólico e meu coração sai do lugar com a declaração – Na época, Logan já tinha tido sua primeira vez com a Carla, a ex dele, você conheceu ela no Halloween. Tyler e eu estávamos eufóricos na época, conhecíamos várias pessoas que já não eram virgens, todo mundo sófalava sobre isso, Logan contando todos os detalhes e eu e Tyler queríamos isso mais que tudo. Um dia estávamos conversando sobre isso e pensamos... Por que não fazermos isso juntos? Ele tinha medo de broxar na hora, não saber o que fazer no momento mesmo tendo uma pasta cheio de pornô, ele era realista e sabia que uma adolescente não iria gemer e gozar tanto como nos vídeos, e eu, por outro lado, tinha zero confiança em meninos, não queria entregar minha primeira vez para qualquer um, e também não dava abertura para nenhum se aproximar, sabendo muito bem a intenção de um garoto cheio de espinhas naquela idade.
– Tyler nunca me disse que sua primeira vez tinha sido com você.
– Era nosso segredo, nossa ideia maluca, nem Logan sabia disso, prometemos não contar para ninguém para continuarmos sermos amigos e ninguém falar o contrário. – ela dá uma risada – Naquela época, antes de termos essa ideia, eu já tinha sentimentos por Tyler, estava ficando bonito, sempre me tratou bem, sempre foi carinhoso, então ter a minha primeira vez com ele, foi praticamente um sonho se realizando. Claro que doeu um pouco, nós éramos inexperientes, mas... Houve carinho, houve cuidado, Tyler sussurrava coisas no meu ouvido para me fazer relaxar, dizia o quanto eu era bonita, foi delicado comigo e eu nunca fui tão amada como naquele momento.
Uma lágrima desce pelo rosto perfeito de Sierra e ela limpa com tamanha velocidade que me pergunto se ela se permitia chorar um pouco, mesmo por coisas banais. Ela fazia tanto esforço, tudo para manter a imagem de garota perfeita intacta.
– Semana passada, fomos em uma festa juntos, Logan não pode ir, mas algo tinha que ser feito, Tyler estava super mal por conta do término e eu queria anima-lo, acabou que ele bebeu muito e no final da festa fomos para a casa dele, que estava vazia porque o pai estava viajando e o irmão dormindo na casa de um colega... E aconteceu. Nós transamos, meio bêbados, meio sóbrios e aproveitei da situação para sentir seu corpo novamente. – as lágrimas retornam – Foi tudo perfeito, tirando a parte em que quando fomos dormir, ele chamou pelo seu nome, repetidamente, várias e várias vezes enquanto sonhava.
Eu me sinto mal por Sierra, mesmo por ter sido uma vaca comigo várias vezes, eu ainda sentia empatia. Seu choro intensificou, por mais que ela tentasse esconder, um som esganiçado e tortuoso saia do fundo da sua garganta. Ela amava Tyler, apaixonada por ele e me pergunto o quão foi doloroso para ela, amar tanto alguém e sem sequer toca-lo porque não havia reciprocidade.
E por todos esses anos, ela continuou ao seu lado, mesmo doendo no fundo do peito saber que ele não retribuía e não tinha nem ideia dos sentimentos dela. Sierra Mitchell o amava, de verdade, colocando ele em primeiro lugar, ao invés de si mesma e seus sentimentos, priorizando sua amizade com Tyler em nome do carinho que tinha por ele.
E sim, ela foi uma vadia comigo por conta da minha aproximação com ele, mas nunca tentou nos separar, nunca colocou ideias na cabeça de Tyler sobre mim, só me provocava e me tratava mal, que era a única coisa que restou para tentar amenizar a decepção em vê-lo com outra.
– Ele nunca vai me olhar da mesma forma que olha para você, Jackie, nunca – ela limpa o nariz avermelhado – hoje mais cedo, tentei conversar com ele, falar para esquecer você, conhecer uma nova garota. Nós brigamos feio, falamos coisas horríveis um para o outro, eu disse que ele era um trouxa e imbecil que estava gastando tempo com alguém que nunca amaria ele, que nunca amou ele, que vocês nunca foram um casal de verdade... E ele me disse que transar comigo no fim de semana foi um erro, que se voltasse no tempo, jamais teria o feito.
Eu não lembro de ter piscado uma única vez desde o anúncio de Sierra que sua primeira vez foi com Tyler, com a novidade dessa briga, não foi diferente, continuo estática.
– Isso foi um pouco... Intenso dos dois lados.
– Nunca brigamos desse jeito, nunca. – ela sussurrou – E eu amo Tyler, como nunca amei garoto algum, sempre tive medo de perder ele para alguma garota... E agora estou com medo de perder sua amizade, meu amigo. Perder Tyler por completo, de uma vez por todas.
Eu fico parada no meu canto quando Sierra desata a chorar. O normal seria eu me aproximar, tocar seu ombros e dar a ela algum tipo de conforto, mas pelo que conhecia da peça, não iria adiantar nada, ela não gosta de contatos inesperados, então deixei ela ter o seu momento, sozinha.
Ver Sierra fragilizada, a rainha do St. Martin, a mais desejada e invejada de todas, foi com certeza o ápice do meu ensino médio.
– Eu não entendo... – Sierra diz após terminar de limpar as lágrimas – Eu sou bonita, gostosa, minha pele é perfeita, sou popular, divertida, inteligente, eu posso ser a garota que ele quiser, posso ser tudo que ele precisa, mas mesmo assim... Ele não me enxerga, só tem olhos para... Você, garota sem sal.
– Eu vou fingir que não ouvi você me chamar de sem sal de novo – dou um meio sorriso, mas sem conseguir disfarçar o rosto corado com a impaciência – mas será que essa prepotência não te atrapalha?
– Eu... – Sierra limpa os olhos – Só queria saber por que...
– Acho que ninguém escolhe isso, Sierra... – dou nos ombros – Você poderia ter o garoto que quiser também, o mais bonito, mais inteligente, alguém muito melhor, mas... Infelizmente não tem controle sobre isso, ninguém tem e agora está chorando por causa dele, mesmo não querendo.
Sierra pisca os olhos brilhantes e se levanta de repente. Ela pega sua bolsa de maquiagem, coloca na pia e mais uma vez, limpa seu rosto, para poder passar uma máscara de maquiagem que a ajudaria a ser a garota amável que todos idolatravam.
Ela não poderia transparecer fraqueza e nem deixaria que notassem, por esse motivo eu reconheço que ela é uma garota forte, apesar de tudo que ela me fez, provocações e ofensas. A menina que se esconde sozinha quando tudo está caindo em cima da cabeça e logo está se maquiando para enfrentar o mundo com um sorriso e bom humor.
Ela só precisava melhorar um pouco a sua personalidade maquiavélica, de resto, era uma pessoa complexa e até gentil, era um diamante que precisaria de muita lapidação. Muito mesmo.
– Não está brava por eu ter falado que transei com Tyler? – ela pergunta depois que me levanto do chão e a vejo passar corretivo debaixo das olheiras.
– Estou brava, irritada em pensar que ele está correndo atrás de mim e se divertindo também, enquanto eu achava que ele estava se deteriorando e entrando em depressão toda vez que se ajoelha aos meus pés, mas... Não brava com você, eu não vejo Tyler dessa forma. Esse foi o motivo do nosso término.
– Porque gosta de Logan.
Eu quase tropeço nos meus próprios pés quando ela pronuncia as palavras com tanta naturalidade, parece que todo mundo sabe dos meus sentimentos de Logan, bem mais do que eu mesma.
– Quem contou isso a você? – sussurro baixinho, com um medo irracional de que alguém ouvisse.
– Não foi difícil de adivinhar, eu notei o jeito que você olha para ele – ela dá um sorriso triste, para de se maquiar e se vira para mim – olha para ele do mesmo jeito que eu olho para Tyler, tentando esconder seus próprios sentimentos, fingindo que não sente absolutamente nada por ele, porque sabe que pode se encrencar se alguém descobrir.
Ela sorri para mim, mais calma, sem ser tão leviana como antes, tendo um gesto sincero ao ser compreensível comigo, sem querer passar a impressão que é uma garota superior, nem nada disso, naquele momento... Ela só era Sierra, uma garota comum sofrendo por um garoto enquanto passava maquiagem e desabafava com uma garota qualquer.
– Eu acho que já vou indo. – digo.
– Já estava na hora, pensei que teria que expulsa-la daqui. – Sierra fala pegando o rímel.
– Eu também.
– E essa conversa que temos, não nos faz amigas, entendeu? – ela se vira ajeitando o cabelo liso ao redor dos ombros – Não pense que só porque me viu dessa forma, ouviu coisas secretas de mim, não seremos amigas agora.
– Claro como cristal. – digo apertando as alças da bolsa e indo em direção a porta – Vê se tranca essa porta melhor, na próxima.
– Não vou falhar na próxima, tenha certeza disso. – ela sorriu, divertida – E reforçando: essa conversa não nos faz amigas, porque as minhas amigas com certeza nunca ouviriam isso vindo de mim. Amigas de verdade não fazem isso.
E cá temos uma Sierra mais maleável e acessível a aproximações, de um jeito excêntrico.
– Se precisar conversar de novo, agora que meu segredo foi revelado para você e o seu para mim... É só me procurar, para continuar com o sigilo. – digo alcançando a maçaneta – Mas isso não nos faz amigas, ok? Óbvio que não.
– Jamais. – ela concorda – Uma garota como eu? Andando com alguém como você? Impossível de acontecer.
– Idem. – dou nos ombros e abro a porta – Isso nunca vai acontecer, eu ficaria mal falada pela escola.
– Acredite, eu ficaria mais, olhe para mim, eu sou a garota mais bonita e gostosa, preciso honrar minha geração, tenho uma reputação para ser preservada que não pode ser manchada por uma garota sem sal. – ela diz e eu solto uma risada por acidente – Sem amizades, Jackie Rivera?
– Sem amizades com certeza, Sierra Mitchell.
E com esse adeus meio esquisito eu saio do banheiro, com frases esquisitas, mais um sorriso no rosto sincero nos lábios de cada uma.
Apesar do meu tempo gasto no banheiro com Sierra, consegui chegar no refeitório no tempo certo após ir em um banheiro um pouco distante da minha primeira opção. Encontro Noah em uma mesa, sozinho enquanto estava com os óculos de grau redondos na ponta do nariz enquanto escrevia freneticamente em sua agenda
A apresentação do clube do teatro iria acontecer daqui uma semana e cinco dias, contando. O espetáculo que estão ensaiando por meses: Chicago. E Noah não podia estar mais eufórico, quando me sento a nossa mesa particular, ele sequer tira a atenção de suas escrituras.
– Você demorou... – Noah diz tirando os óculos e fechando a agenda – O que aconteceu? Tyler Cornell perseguindo você novamente?
Dou uma risada e pego minha caixinha de suco de uva dentro da bolsa.
– Na verdade... – penso em Sierra, em todo aquele momento que tivemos no banheiro e finalmente falo: – Queria muito ir ao banheiro, mas o que eu iria usar está tendo problemas e tive que ir atrás de outros.
– St. Martin já foi melhor com a estrutura desse prédio antigo, precisa de uma reforma, ter anos de história não significa ficar em situações decadentes. – ele espreguiça os braços – E você não sabe o que aconteceu, ensaio surpresa hoje à tarde, estou pensando em procurar por algum podre da Senhora Bennet para ameaça-la e fazer com que cancele esse ensaio, o que acha? Estou convidando você para essa caçada, tenho palpite que ela arrasta uma asa para o professor de Álgebra...
– Você está cansado com o musical, não é? – digo colocando o canudo na boca e vendo sua agenda cheia de marcações em cores diferentes – É o que eu falo sobre pegar todas as responsabilidades para si mesmo, uma hora você ia descobrir o peso dessa escolha.
– Não fale com tanto mistério como se fosse a pior coisa do mundo... O lado positivo é que, vai ser o melhor espetáculo de toda a história do St. Martin... E você viu que já saiu a data do baile de inverno, você viu?
– Ainda não, mas todo mundo está falando desse maldito baile tanto que sou obrigada a descobrir todos os detalhes.
– Organizado por, ninguém mais, ninguém menos, que Sierra Mitchell... É bizarro o poder que ela tem nessa escola, ela organiza todas as festas e eventos, ela e as líderes de torcidas mandam no St. Martin, todo mundo pensa que são os jogadores do time de futebol, mas eles só estão preocupados em jogar, beber e transar, mas já as líderes de torcida... Com certeza são mais calculistas.
Como Noah ficaria se eu contasse que eu vi a rainha do colégio aos prantos no banheiro interditado? Com certeza correria atrás dela para comprovar a veracidade dos fatos, tiraria algumas festas e não perderia a oportunidade de zombar da cena.
– Infelizmente, tenho que concordar com você... É o século vinte e um, Noah, as mulheres que mandam, elas que estão no topo da cadeia dessa vez. – dou um sorrisinho – Amém, feminismo.
– Tenho que concordar, melhor ver elas no topo, do que aqueles jogadores babacas, amém, feminismo. – ele junta as mãos num sinal religioso – Ryan me convidou para ir ao baile de inverno.
Quase cuspo o suco quando Noah solta o anúncio.
– Ryan te convidou? E ai? – pergunto estática e até animada com a possibilidade, eu tenho visto Ryan com pouca frequência dentro da escola, mas trocamos mensagens diariamente, temos até um grupo em conjunto com Noah! Ele diz evitar me encontrar para não causar problemas com Tyler, mesmo terminados.
– Eu disse que ia pensar na possibilidade, tenho que avaliar todos os pedidos que vierem, que tenho certeza que vão vir. – Noah fala sério, voltando a abrir o caderno para escrever – Se ele me deixar escolher a cor do terno dele, eu pensaria com cuidado em sua proposta.
– Eu teria aceitado de primeira, ele é ótimo! Você mesmo sabe disso! E seria muito divertido com ele, tem senso de humor e... O normal seria ele convidar uma garota, ele estaria fazendo um avanço.
– É, eu também fiquei curioso com isso, sobre o que as pessoas pensariam em nos ver chegando juntos, ou se ele fingiria que somos apenas amigos... Mas eu já tinha um par em mente. – Noah se aproxima mais e abre o caderno com vários desenho de casais, a mulher de terno e o homem de vestido – desenhei várias opções, sempre puxando mais para o azul. Eu e você, quero que os meus últimos bailes do ensino médio eu esteja com a minha melhor amiga, nas fotos, na pista de dança e no final da festa enquanto seguro o cabelo dela para vomitar.
Eu me sinto tão preenchida com as palavras de Noah, que eu não precisaria nada no mundo além dele ao meu lado. Não respondo ao seu pedido, apenas pergunto mais sobre os desenhos de roupas que ele mesmo fez.
Noah e eu fizemos vários planos para o baile durante o almoço e principalmente, criticamos algumas decisões das líderes de torcida para a organização. Quando o sinal tocou, tivemos que despedir antes mesmo de começar a discutir sobre quem estava apto a ganhar o título de rei e rainha do baile.
Sierra, com certeza estava no topo da lista.
O restante do dia passou bem rápido, Noah me mandou uma série de fotos do clube do teatro, reclamando e pedindo urgentemente por ajuda, pensou em fingir um derrame por causa da pequena cicatriz na testa, causada pelo seu pai, mas foi tudo por água abaixo quando disse que eu não seria cumplice.
Entretanto, prometi que faríamos panquecas com muito chantilly por cima quando chegássemos em casa.
Durante meu trajeto até o clube de natação, recebi várias mensagens de Ryan, querendo marcar um dia para sairmos, dizendo que ficar muito tempo perto dos jogadores era tóxico demais para ele e que precisava de um jeito de se limpar dessa sujeira.
Dei uma risada divertida, tranquila com o pensamento de poder encontrar Ryan sem me preocupar com Tyler. Minha cabeça sempre parecia ficar em alerta com qualquer aproximação masculina quando estava com Tyler e talvez, só agora eu estaria percebendo o quão problemático isso era.
Eu acabo saindo dos meus devaneios quando ouço uma buzina logo atrás de mim, comecei a cogitar a ideia que Tyler estaria me seguindo por saber da minha rotina agora que eu não tinha a sua carona, nem a de Noah.
Quando olho para trás, meu coração dispara ao reconhecer o carro de Nancy.
Ele para ao meu lado, os vidros abaixados, o suficiente para que eu pudesse visualizar Logan Sanders com um sorriso cafajeste no rosto e uma jaqueta preta de costume no corpo.
– Essa é a parte que você me oferece uma carona? – digo sem pretensão alguma.
Seu sorriso aumenta mais e novamente sinto aquela vontade reprimida minha de beija-lo.
– E de onde tirou essa suposição? – ele fala debochado e o carro começa a andar para frente quando estou me aproximando da porta – Garotos malvados não dão carona assim de graça para garotas.
Meu coração queria sair pela boca depois dessa frase.
– Talvez, mas você não é tão malvado assim... – digo engolindo em seco – Nem por ser ex-detento, sempre tem aqueles que se arrependem e mudam de vida... E se alguma coisa acontecer comigo e eu não chegar no clube? Vai sentir uma bela culpa por não ter me dado uma carona.
– Está começando a virar uma chantagista profissional, Jackie. – Logan dá um meio sorriso e abre as portas para mim – Só porque eu estou de bom humor.
– Claro, sorte a minha por isso. – respondo entrando no carro, ouvindo um rock antigo e sentindo o cheiro de cigarro nos bancos.
Fazia um tempo que eu não conversava com Logan, depois que terminei com Tyler, acabamos nos afastando um pouco já que o meu ex era o elo que nos ligava. Ele passava mais tempo com Sierra e Tyler e era compreensível agora que o amigo precisava de um apoio.
Como meu tempo no clube diminuiu e o serviço dele aumentou, conversávamos pouco, mas ele ainda estava lá com um sorriso debochado que fazia minha pressão abaixar com qualquer gesto.
Durante até o trajeto ao clube tivemos uma conversa sobre amenidades, sobre ele ter mandado o currículo para Stanford, minha avó perguntando que dia que o veria novamente e a relação tensa entre Ryan e Tyler após o término nos vestuários após os treinos do time.
Era confortável conversar com Logan, eu sempre dava um jeito de reparar em suas sutilezas, nos detalhes em seu semblante dependendo da sua reação, a testa franzida, o sorriso largo e convidativo.
– Se você quiser – Logan diz após estacionar o carro e sair – posso marcar de encontrar sua avó.
– Está tentando seduzir a minha avó? – disparo, fazendo-o dar uma longa gargalhada.
– Você me pegou. – ele dá uma piscadela – Idade não me assusta, se quer saber.
– Você está oficialmente proibido de chegar perto da minha casa e da minha avó. – falo em meio de risadas e Logan tira atenção de mim quando confere o próprio celular, sua animação morre lentamente – Aconteceu alguma coisa?
– É... Tyler – Logan solta um longo suspiro, me encarando atrás de alguma reação por ter citado o nome do meu ex – pelo visto brigou com Sierra, quer conversar depois do meu expediente.
– Ah, claro – ajeito a franja, desconfortável com a temática da conversa – E... Como ele está? Não tive oportunidade de perguntar a nenhum dos amigos de Tyler sobre isso.
– Não vou mentir, ele está bem mal, já que foi o primeiro namoro, ele não sabe como se comportar, achando que nunca vai encontrar outra pessoa mas eu o conheço o suficiente para saber que ele vai acabar superando, disso tenho certeza. – ele desabafa após guardar o celular dentro do bolso da calça – E você?
– O que tem eu?
– Como está... Com tudo?
– Estou bem, quem terminou fui eu, mas já era algo que eu planejava a fazer. – digo colocando uma mecha do cabelo preto para trás, sentindo o vento ultrapassar a janela do carro e encontrar com a minha pele – É meio chato ter que ouvir as fofocas do St. Martin, pessoas me perguntando o motivo, inventando mentiras e... Fico mal por Tyler também, não queria deixa-lo triste do jeito que está, mas sinto que fiz a coisa certa.
Quando volto a olhar para Logan, ele está bem sério e me olha pelo canto de olho, fazendo os lábios curvarem para cima.
– É bom saber disso... – Logan diz e fico me perguntando se havia mais de um significado na frase como pensei ter.
Assim que chegamos ao clube, ele estacionou o carro. Sai rapidamente, mas uma força maior, me fez ficar um pouco mais. Fingi que amarrava o cadarço enquanto esperava Logan tirar a mochila do banco de trás e procurar algo.
Ele demorou cerca de cinco minutos, procurando algo que quase me fez me levantar e perguntar diretamente a ele.
– Meus cadarços. – justifico à minha espera, mentindo que era por outra coisa e obviamente nunca seria por ele, aponto o dedo para os meus tênis quando Logan dá a volta no carro e é surpreendido por eu ainda estar lá.
Logan dá um sorriso capcioso e eu posso jurar que apenas esse gesto fez uma onda de eletricidade atravessar o meu corpo inteiro, atiçando todas as partes sensíveis. Ele vira o boné do clube para trás e apoia a mão atrás das minhas costas, me fazendo suar mais que o necessário.
– Claro, seus cadarços, bem compreensível. – ele diz em um tom brincalhão que eu não gosto nem um pouco – Aliás, preciso de uma ajuda sua, podemos falar sobre na sala dos funcionários?
Pronto.
Logan acordou uma parte minha que tenta ser reprimida a todo custo, minha maldita curiosidade, obsessão em saber tudo que me fez ficar perguntando e o cutucando para saber do que se tratava, e minhas únicas respostas era ele dando risadinhas, insinuações e dicas que não me ajudavam em nada.
Sou tão curiosa que se pudesse, vendia minha alma para o próprio diabo, tudo para saber como seria meu futuro, detalhadamente, e me poupar das surpresas e frustrações no decorrer.
– Eu precisava de uma ajuda com isso aqui.
Assim que chegamos a sala dos funcionários, Logan guardou sua mochila e me mostrou uma faixa vermelha vivo. Fiquei longos minutos sem entender até ele me esclarecer tudo com aquela simples frase.
– Vou ter um casamento esse final de semana, vou ser padrinho e não tenho a mínima ideia de como arrumar isso, precisava arrumar para hoje porque vai ter uma sessão de fotos. – detalha enquanto eu reparo no brilho reluzente da futura gravata.
– Vou começar a cobrar por cada gravata. – dou uma risada e lembro de um casamento que Logan iria... Com Carla – Por acaso é o casamento da prima de Carla? Lembro dela ter comentado no Halloween.
– Isso, é a prima dela, nossas famílias são bem próximas. – ele diz tentando desviar os olhos enquanto trabalho na gravata em seu pescoço.
– E se vai ser padrinho... Seu par é...
– A Carla.
– Ah. – digo sentindo minha garganta secar, odiando essa sensação que não consigo controlar, esse ciúme que eu não tinha direito de sentir – Vocês vão dar um belo casal, vocês combinam quando estão juntos.
– Só estou indo ao casamento por causa da prima de Carla, não gosto de eventos formais, nem de casamentos. São cansativos, demorados e eu detesto ter que ficar dentro de um paletó. – Logan explica e em questão de segundos me afasto tirando a gravata do seu pescoço, já estava pronta, meio larga para ele mesmo ajustar quando colocar, precisando puxar apenas a ponta para fazê-lo.
– Pronto. – digo mostrando a ele como faria quando a vestisse – Só puxa-la por aqui, não terá erro na hora de colocar.
Entrego a gravata a ele, que está satisfeito com meu trabalho.
– Obrigado.
– Não foi nada. – dou um meio sorriso e me apresso para entrar no clube e começar a imaginar Logan e Carla juntos no casamento, eles com certeza seria um dos casais mais bonitos que entraria na cerimônia – Acho melhor entrar antes que Barbs acabe comigo.
– Ei, espera. – Logan segura meu pulso, me impedindo de ir e fazendo meu corpo inteiro entrar em convulsão com um único toque. Droga, porque ninguém me avisou que isso aconteceria quando você está extremamente caída por alguém? – Não sei se ficou sabendo, mas Sierra já começou com os preparativos para o baile de inverno e Ryan me contou que convidou Noah para irem juntos.
– Ah, eu também soube, na hora do intervalo. – dou uma risada, me lembrando do assunto mais falado no momento, assim que soube, peguei todos os detalhes possíveis do eventos após o almoço – Noah ainda está resistente, sobre se aceita ou não ir com Ryan, mas acho que vai acabar cedendo e... Ryan te contou? Estão próximos assim?
– Temos aula de biologia avançada juntos – ele explica, pigarreando – de uns tempos para cá ele resolveu ir sentar no fundo ao meu lado, a puxar conversa.
– É a cara do Ryan fazer isso.
– E... Você?
– O que tem eu? – pergunto confusa.
Logan solta uma longa risada e coloca a aba do boné do clube para frente, aproximando de mim sem nenhum tipo de cuidado. Sou obrigada a recuar, mas paro quando um banco surge atrás de mim.
– Bem, Sierra quer insistir que esse baile vai ser um daqueles que todo mundo precisa ir acompanhado, ela vai como par de Tyler porque acha que ela, como capitã das líderes de torcida, tem que ir ao lado do capitão do time... Isso se eles voltarem e fazerem as pazes. Ryan vai com Noah se tudo der certo e eu estou sem par, se você precisar de alguém para acompanha-la no baile... A não ser que já tenha sido convidada.
– Não. – solto desesperada.
– Não quer ir comigo? – Logan se afasta, surpreso com a resposta – Foi mal pelo convite desajeitado, só achei que seria uma boa porque...
– Não, não! – corrijo eufórica enquanto rio de nervoso ao ver que ele tinha entendido errado – O "não" é para o: ninguém me convidou para o baile.
– E sobre a minha proposta...
– Bem... – falo ficando com ódio das nacionais de uma hora para a outra – O baile vai ser um dia antes das preliminares para as nacionais de natação, vai ser em Atlanta, a data, local e horário já foram confirmados e eu estava pensando em não ir ao baile, ir um dia antes para Atlanta para não correr o perigo de nada dar errado durante a viagem.
– Ah, claro, as nacionais! – Logan parece entender, mesmo eu sentindo uma pontada de decepção – Tudo bem, eu acho que consigo ir sozinho para esse baile, ou quem sabe, formar um trisal com Noah e Ryan.
– Noah iria adorar, de verdade – respondo dando a risada e então, olho para os meus próprios pés quando sinto a vergonha esquentar o meu rosto – E ele quer muito que eu vá, está insistindo, então, talvez eu vá, ainda não decidi.
Sinto dedos gelados em meu queixo, Logan levanta o meu rosto, para eu poder encara-lo e eu sinto que vou explodir com esse simples contato.
– Combinado. – ele responde sorridente e solta os dedos, desfazendo o contato e afastando o seu toque em minha pele – Se resolver ir, estarei à sua porta, caso contrário, também estarei à sua porta para buscar Noah.
– E eu vim buscar você. – a voz de Barbs surge de repente, fazendo com que tanto eu quanto Logan demos um pulo de susto – Vi você entrar e nunca vi tanta enrolação para ir para as piscinas... E pelo visto, nem trocou de roupa.
– Faço isso em dois segundos, desculpe, Barbs. – digo saindo apressada da sala dos funcionários, sem ter tempo de despedir de Logan direito.
O treino hoje foi pesado por conta do meu atraso e eu tinha a certeza que meus números abaixaram porque eu não parava de pensar um segundo sequer em Logan. Ele tinha me chamado para ir ao baile de inverno, tocou inocentemente na minha pele e fez um vulcão entrar em erupção.
– Encerraremos por hoje. – Barbs declarou quando alcancei a parede da piscina, tirei a touca em um ato e abaixei os óculos até caírem ao redor do meu pescoço – Próximo treino, preciso de você mais focada. E essa semana faremos um reajuste no seu horário, virá um pouco mais tarde, tenho um novo aluno que implorou de joelhos pelo seu horário para uma semana de teste, está com algumas problemas e não pode ficar muito tarde em casa, parece que é babá da irmã mais nova... É o segundo atleta mais insistente que eu já tive a infelicidade de encontrar.
– E quem é o primeiro? – a desafiei assim que sai da piscina com o cloro impregnado na minha pele.
– Claramente, você.
– Sem problemas, posso mudar meu horário já que não tenho nenhum trabalho por agora. – dou nos ombros
– E você vai não rejeitar o convite.
Barbs está com os olhos tão atentos, que minha pressão abaixa a ponto de eu ficar com medo de desmaiar e voltar para a água. Ela não estava falando do convite de Logan... Certo?
– Que convite, Bárbara? – falo exaltada a ponto de não falar seu apelido, como de costume, olho para os lados me certificando que Logan não estava por perto e seus lábios grossos se curvam em um sorriso.
– Do Logan, obviamente.
– Você ouviu nossa conversa? – pergunto desesperada – A conversa toda?
– Claro que não, Logan comentou comigo quando perguntei sobre as aulas dele, turnos extras que ele poderia fazer... E ele disse sobre o baile e sobre convidar você, sabendo que a festa é um dia antes das preliminares das nacionais... E você vai aceitar o convite e ir ao baile com Logan.
– Como?
– Isso mesmo que você ouviu – ela impõe – um dia antes da competição e você precisa descansar, você merece ir a esse baile por todo se esforço durante o ano. E Logan é um bom rapaz, é o acompanhante correto.
– Mas e a viagem?
– Após o seu baile, partiremos pela manhã, você pode ir dormir durante a viagem, só não chegue muito tarde em casa, você sabe que descanso é essencial.
Se eu estava nervosa com o convite de Logan de ir ao baile com ele, pode ter certeza que após essa declaração de Barbs, os níveis de nervosismo dispararam para o alto. Comecei a pensar em vestidos, sapatos, comecei a imaginar Logan arrumado para ir ao baile, imaginar sua mão mais próxima da minha do que antes.
Concentrei em meio de milhões de pensamentos acelerados, fechei os olhos, respirei fundo e apenas respondi:
– Eu vou pensar.
Notas da Autora :
Maior. Capitulo. De. Todos.
Deus é mais, até pensei em dividir, mas creio que esse capitulo foi feito pra ser um só, e talvez esse tanto de palavras seja como um pedido de desculpas por demorar hihihi
Espero que tenham gostado, para mim, a estrela da vez foi: Sierra Mitchell, o personagem que a gente odeia e ama ao mesmo tempo, impossível definir sentimentos por essa garota.
Votem por favorzinho, se gostaram, comentem o que acharam, quais são as suas expectativas depois do anúncio do baile, a estranha "inimizade" da Sierra e da Jackie (EU SHIPPO ESSA AMIZADE SIMMMM)! (faz essa caridade, pufavo)
Fiquem atentos que a próxima atualização pode vir mais cedo (se eu ver os leitores fantasminhas se pronunciando) ou mais tarde (quando o flop vier com força).
Não deixem de conferir a PLAYLIST de Tds no SPOTIFY, só digitar: TdS ou procurar pelo meu user Ella S. V.
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Até breve!