150 Detalhes de Você

By iaagoz

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1° Lugar na categoria LGBT - no concurso Flores de Ouro. 2° Lugar na categorias LGBT - no concurso Capuz Verm... More

Aviso.
Prêmios
Um.
Dois.
Três.
Cinco.
Seis.
Sete.
Oito.
Nove.
Dez.
Onze.
Doze.
Treze.
Quatorze.
Quinze.
Dezesseis.
Depois Do Final.

Quatro.

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By iaagoz

As semanas seguintes se passaram rápidas. Mas ao lado de Pedro Souza, tudo ficava um pouco mais divertido. Ele tinha aquele jeito brincalhão, que acho que era próprio dele. O mesmo jeito que me ganhava aos poucos. E duas semanas após ter conhecido ele, já não tinha vergonha ou medo de dizer, ele poderia está me ganhando.

Sempre que podíamos fazíamos algo juntos.
Como ir no cinema.
Comer no boteco da Ellen.
Fazíamos coisas normais. Como coisas que todos bons amigos faziam.

E independente de tudo, eramos amigos. Não passávamos de dois bons amigos. Bom, era o que eu achava. Talvez não fossemos somente bons amigos. Talvez fossemos algo um pouco a mais. E isso me dava medo. Eu precisava mergulhar no Pedro. E aos poucos eu conseguia fazer isso. Aos poucos mesmo.

Ele meio que criava uma redoma em volta de si mesmo. E eu não conseguia entrar. Era quase impossível as vezes. Não entendia porque ele fazia aquilo.

Eu queria entrar no mundo dele, mas as vezes ele me impedia.

Precisei ir visitar meus pais na minha cidade natal. Meu pai havia acabado de fazer uma cirurgia para remoção de um tumor benigno. E com isso começou a fazer chantagem para que eu fosse os visitar.

A dois anos eu havia saído de casa, e nossa, nos primeiros meses foi uma incrível tortura. Mas hoje, é o maior paraíso no mundo. Não me leve a mal, mas eu amo morar sozinho. Amo não precisar todo instante precisar falar com alguém. Amo não ter que me vestir por ter alguém em casa. Está morando sozinho não significa que estou sozinho a todo momento.

Eram quase duas horas de estrada até Alto Trevo. Uma pequena cidade, que posso dizer, havia sido congelada no tempo. Era a única explicação possível.

Até hoje não sei direito o significado do nome da cidade. Apenas, que na parte mais alta da cidade, havia um grande campo de trevos. Era uma terra inabitável, e José Teófilo, o fundador da cidade, disse que ali seria o lugar de mais sorte na fronteira da Bahia com Minas Gerais.

As casa estavam pintadas da mesma cor. O mesmo mendigo andava pela rua – o qual se dizia ser o rei da cidade. E o cheiro bom de pão de queijo saia da padaria. Eu sempre odiei pão de queijo.

Meus pais eram como todos os outros casais de pessoas mais velhas. Eram normais. Casal heterossexual.

Meu pai não parecia está tão moribundo como havia me informado. Mas mesmo assim, fiz o papel de um ótimo filho. Levei para ele o que mais gostava, pão queijo. Minha mãe estava fazendo sopa para meu pai, quando eu a surpreendi com um abraço. Eu amava eles, por mais que não falasse com todas as letras audíveis.

Era sempre perfeito está em casa. Me sentia como o Eric de dez anos. Que era o centro das atenções. Que era a preocupação de todo mundo. Aquele mesmo que recebia o carinho da mãe no cabelo.

Eu podia está fazendo qualquer coisa, mas acabava me lembrando do Pedro.
Talvez ele tivesse aproveitando a cidade sem mim.
Talvez estivesse com outra pessoa naquele exato momento.
Talvez nem ligasse para mim.
Provável que ele nem estivesse se lembrando de mim.

E na verdade, não sei qual o motivo de está pensando nessas coisas. Não tinha necessidade. As vezes os meus medos falavam mais alto. Como se um passado rondasse meus ouvidos de uma forma impulsiveis.

Eu tentava pensar em qualquer outra coisa, mas era quase impossível. Quase tudo remetia ao mesmo pensamento. Droga, eu não queria pensar nisso. Queria aproveitar o tempo com meus pais. Mas não conseguia. Infelizmente não conseguia.

Tentei dormir, mas foi uma tentativa frustrada. Era impossível me concentrar para conseguir descansar um pouco. Fiquei pensando nos meus afazeres no jornal, os quais achava que não daria conta. Em seguida, comecei a pensar se havia falado algo de errado ao Pedro. Fiquei tentando organizar essas memorias em ordem alfabética, mas era impossível. Minha cabeça doía muito ao ficar pensando. Eu não queria, mas era quase involuntário.

No outro dia, eu e minha mãe fomos a uma loja de bordados – os quais ela sempre foi apaixonada. Eu não conseguia entender a graça de ver bordados. Era a coisa mais sem graça do mundo. Ele ficou quase trinta minutos para poder escolher cores de linhas. O que eu particularmente achava um saco infinito.
Quando saímos da loja, nos deparamos com minha tia. Maria Helena. Uma quase velha caprichada com seus cabelos grisalhos. Ela vivia falando dos seus vizinhos, em todo o momento. No natal. Ano novo. Dia das crianças. Em todo momento. Era como se nada fosse o bastante para ela, o que me deixava com ampla vontade de fugir dela quando a encontrava. Mas nesse dia, não consegui.

– Ana, minha querida irmã, a quanto tempo não lhe vejo. E olhe só – Disse ela olhando para mim. –, como ele cresceu, está um grande homem, logo mais estará se casando e tendo filhos.
– Quem sabe um dia tia.
– Ah, mas bem diferente da filha da minha vizinha, a que resolveu sair de casa para viver um romance proibido. Dizem que ela está se envolvendo com quem não presta, que vai levar ela para a perdição.
– Ah Helena, essa juventude está confusa.
– Imagina se ela descobrisse que essa filha dela tem o distúrbio sexual?
– Tia, não existe distúrbio sexual, já foi constatado pela ciência.
– E desde quando a ciência sabe de algo? - Ela disse com um orgulho do tamanho de sua barriga. – Imagina se Joana descobrisse que a filha dela além de fugir de casa estava se envolvendo com algo horrendo assim?
– Não estamos interessados em saber da louca aventura da filha de sua vizinha. Com incensa, precisamos ir.

Mamãe me censurou ao agir daquela forma com tia Helena, mas que culpa tenho eu? Não posso suportar a ideia de alguém se apedrejado por suas escolhas. A ditadura acabou. Ela poderia escolher fazer o que quisesse, não haveriam militares para lhe prender.

Chegamos em casa, e para minha surpresa, Agnes, minha melhor amiga estava a minha espera.

Agnes eram uma garota de cabelos ondulados e longos, com uma leve tendencia a serem loiros. Mas não muito. Ela estava mais magra do que me lembrava.
Éramos amigos desde a época do colégio. Na verdade, um pouco antes do colégio. E já havíamos passado de tudo juntos. De assaltos, a manifestações.

Lembro-me do nosso último ano escolar. Resolvemos fazer uma festa do rock. Ela resolveu me maquiar para ficar parecido com os integrantes da banda KISS. Usei de sombra a batom. Mas quando chegamos na festa, não havia ninguém fantasiado. Estavam apenas usando roupas de baile. Mas aquilo não estragou nossa noite. Dançamos juntos como dois e velhos bons amigos.

Uma vez me apaixonei por ela, mas era coisa de adolescentes descobrindo o mundo – e eu ainda estava descobrindo naquele momento. Agnes sempre foi o alguém que eu contava meus segredos e medos. Ambições e frustrações. Eu amava demais ela.

Levei ela ao meu quarto. Talvez meu pais pensassem que íamos fazer sexo, mas ela namorava.

– Estava morrendo de saudade de você seu louco. Nem um telefonema você me dá.
– Desculpa, não tenho um telefone a minha disposição sempre.

Rimos.
Ela acendeu um cigarro e começou a fumar.
Agnes era a única que sabia de mim. De não ser como todos. Se ser como eu sou. E, ela me entendia sempre, por isso eu não tinha medo de contar as coisas a ela. Assim como ela contava quase tudo de sua vida a mim.

– Diga-me tudo – Disse ela se aproximando de mim. –, não me esconda nada. Quero saber dos detalhes. Das entrelinhas. Dos capítulos que passamos e nem ligamos nos livros.
– Eu conheci alguém. E, esse alguém é como eu.

Ela levantou apenas uma única sobrancelha, na ideia de tentar ler meu pensamento.

– E esse alguém é totalmente igual a você? Quer dizer, corporalmente?
– Sim, é corporalmente.
– Ele fuma também? E qual o nome? Manoel? Edgar? Thomas? Pedro?

Eu sorri.

– A meu Deus, é Pedro. Ótimo nome. - Disse ela.
– É, ótimo nome. - Respirei fundo. – Mas ele deve está aproveitando muito a cidade. Acho que eu devo ter sentido algo demais.
– Está com medo?
– Sempre estou.
– Eric, se uma vez deu tudo de errado, por que raios iria dar errado de novo? E sua primeira namorada foi uma desqualificada.

Fiquei calado.

– Beijou ele?
– Sim. - eu ri.
– Hum, ótimo. Quando vão se casar? - Falou ela sorrindo para mim
– Ah, pelos céus Agnes.

Rimos.

– Eu só quero que você viva, mesma que isso seja ao lado dele. E pelo seus olhos, Eric, você está conseguindo isso.

O tempo foi passando, e ela dormiu ali mesmo. Ao meu lado, na mesma cama. A última vez que fizemos aquilo, eramos crianças. Tínhamos doze anos, e havíamos acabado de brincar o dia todo. Agnes sempre foi a Agnes. A Agnes Leia que eu conheci. Sempre foi ótimo ficar com ela. Agnes era Agnes. Minha doce e fumante Agnes. Por um longo tempo não pensei no Pedro. E isso foi bom. É, acho que foi bom. Não pensei no que ele poderia está fazendo. Não pensei se ele estaria beijando alguém. Não pensei se ele poderia está beijando um outro alguém. Aliás, não temos nada .

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