Quatro.

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As semanas seguintes se passaram rápidas. Mas ao lado de Pedro Souza, tudo ficava um pouco mais divertido. Ele tinha aquele jeito brincalhão, que acho que era próprio dele. O mesmo jeito que me ganhava aos poucos. E duas semanas após ter conhecido ele, já não tinha vergonha ou medo de dizer, ele poderia está me ganhando.

Sempre que podíamos fazíamos algo juntos.
Como ir no cinema.
Comer no boteco da Ellen.
Fazíamos coisas normais. Como coisas que todos bons amigos faziam.

E independente de tudo, eramos amigos. Não passávamos de dois bons amigos. Bom, era o que eu achava. Talvez não fossemos somente bons amigos. Talvez fossemos algo um pouco a mais. E isso me dava medo. Eu precisava mergulhar no Pedro. E aos poucos eu conseguia fazer isso. Aos poucos mesmo.

Ele meio que criava uma redoma em volta de si mesmo. E eu não conseguia entrar. Era quase impossível as vezes. Não entendia porque ele fazia aquilo.

Eu queria entrar no mundo dele, mas as vezes ele me impedia.

Precisei ir visitar meus pais na minha cidade natal. Meu pai havia acabado de fazer uma cirurgia para remoção de um tumor benigno. E com isso começou a fazer chantagem para que eu fosse os visitar.

A dois anos eu havia saído de casa, e nossa, nos primeiros meses foi uma incrível tortura. Mas hoje, é o maior paraíso no mundo. Não me leve a mal, mas eu amo morar sozinho. Amo não precisar todo instante precisar falar com alguém. Amo não ter que me vestir por ter alguém em casa. Está morando sozinho não significa que estou sozinho a todo momento.

Eram quase duas horas de estrada até Alto Trevo. Uma pequena cidade, que posso dizer, havia sido congelada no tempo. Era a única explicação possível.

Até hoje não sei direito o significado do nome da cidade. Apenas, que na parte mais alta da cidade, havia um grande campo de trevos. Era uma terra inabitável, e José Teófilo, o fundador da cidade, disse que ali seria o lugar de mais sorte na fronteira da Bahia com Minas Gerais.

As casa estavam pintadas da mesma cor. O mesmo mendigo andava pela rua – o qual se dizia ser o rei da cidade. E o cheiro bom de pão de queijo saia da padaria. Eu sempre odiei pão de queijo.

Meus pais eram como todos os outros casais de pessoas mais velhas. Eram normais. Casal heterossexual.

Meu pai não parecia está tão moribundo como havia me informado. Mas mesmo assim, fiz o papel de um ótimo filho. Levei para ele o que mais gostava, pão queijo. Minha mãe estava fazendo sopa para meu pai, quando eu a surpreendi com um abraço. Eu amava eles, por mais que não falasse com todas as letras audíveis.

Era sempre perfeito está em casa. Me sentia como o Eric de dez anos. Que era o centro das atenções. Que era a preocupação de todo mundo. Aquele mesmo que recebia o carinho da mãe no cabelo.

Eu podia está fazendo qualquer coisa, mas acabava me lembrando do Pedro.
Talvez ele tivesse aproveitando a cidade sem mim.
Talvez estivesse com outra pessoa naquele exato momento.
Talvez nem ligasse para mim.
Provável que ele nem estivesse se lembrando de mim.

E na verdade, não sei qual o motivo de está pensando nessas coisas. Não tinha necessidade. As vezes os meus medos falavam mais alto. Como se um passado rondasse meus ouvidos de uma forma impulsiveis.

Eu tentava pensar em qualquer outra coisa, mas era quase impossível. Quase tudo remetia ao mesmo pensamento. Droga, eu não queria pensar nisso. Queria aproveitar o tempo com meus pais. Mas não conseguia. Infelizmente não conseguia.

Tentei dormir, mas foi uma tentativa frustrada. Era impossível me concentrar para conseguir descansar um pouco. Fiquei pensando nos meus afazeres no jornal, os quais achava que não daria conta. Em seguida, comecei a pensar se havia falado algo de errado ao Pedro. Fiquei tentando organizar essas memorias em ordem alfabética, mas era impossível. Minha cabeça doía muito ao ficar pensando. Eu não queria, mas era quase involuntário.

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