Cinco.

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No outro dia me despedi dos meus pais. Me despedi de Agnes, que instantaneamente me deu um beijo na bochecha com cheiro de cigarro e disse: Aproveite a pessoa que está gostando.
Entrei no ônibus e comecei a minha viagem de volta.

Agnes não entendia, mas eu ainda não conseguia entender de fato o que passava em minha cabeça. Eu estava gostando de conversar com o Pedro. Mas não sabia de fato o que sentia por ele. Em alguns momentos, me acordava uma enorme ansiedade ao pensar nele ou em algo que me lembrava dele. Mas em outros momentos, eu não conseguia sentir nada disso.

Meus sentimentos talvez estivessem me enganando de alguma forma. Mas, com toda certeza do mundo, eles estavam mais confusos que eleitor em época de eleição.
Eu só sabia que eu deveria me aprofundar naquilo que me daria um futuro certo. No meu trabalho. No meu estudo. Investir na minha capacidade. Eu precisava disso. Precisava crescer mais, e esquecer os pensamentos líquidos sobre amor.

Amor? Amor? Uma palavra tão pequena, mas que carrega um peso grande. Amar é se doar. É se vestir em outra pele. É ter empatia capar de mover mares. Amar é mergulhar. Amar é confiar, acreditar, mas também é exortar e reclamar. Quem ama faz tudo isso, e ainda assim continua amando.

A última vez que eu amei alguém não foi tão bom assim. De forma bem resumida, o nome dela era Carol. Havíamos nos conhecido em Alto Trevo, e namoramos por apenas duas semanas. No final da segunda semana, eu flagrei ela com o estupido primo de Agnes. Eles estavam no momento mais íntimo que duas pessoas podem ter.
Agnes tentou me impedir de ver a cena, mas a raiva que tomou meu ser foi muito maior que a força da coitada. No mesmo dia, no mesmo instante que os vi, entrei no quarto, gritei o nome dela, e disse que estaria tudo acabado entre nós. Sai do quarto batendo a porta forte e bufando como um boi em final de boiada.
Depois daquele dia, nunca mais havia beijado alguém novamente.
Carol havia sido minha primeira e única namorada. Até o momento.

O caminho parecia mais longo do que eu lembrava. Mas viajar sempre me deu agonia, pois me fazia pensar demais. E, digamos que desde o momento que coloquei os pés dentro do ônibus, eu não parava de pensar. Sentia meu cérebro se desgastar de tanto pensar.

Via um casebre em uma fazenda numa colina, e pensava que seria legal levar o Pedro ali. Talvez ele nem gostasse de coisas assim. Talvez a alma dele fosse sofisticada demais para isso. Ele aparentemente conseguia passar essa imagem. Mas, uma das coisas que aprendi com a vida, é que imagem não é o produto. Imagem é algo que é construído para que o mercado consiga ter uma pequena amostra do produto. Mas, isso não é o produto. O produto geralmente surpreende mais. Seja positivamente ou negativamente.

Quando enfim cheguei novamente a cidade, fui direto para casa. Estava com uma dor de cabeça mortal. O caminho de casa também parecia longo o suficiente para me deixar asmático. Isso não deveria acontecer, mas acredito que fosse o cansaço.
Subi a ladeira e as escadas, e enfim, estava no meu apartamento novamente. Tudo estava no seu devido lugar. Tudo como eu deixei antes de sair. Não achei nenhum bilhete em baixo da minha porta, ou algo preso em minha janela. O que eu poderia esperar mesmo? Eu não devia está esperando nada.

Tomei um banho. Vesti uma cueca samba canção e me deitei na cama. Quis pegar um vinho para tentar relaxar um pouco. O senhor Silva, sempre diz que é ótimo para fazer relaxar. Mas, quis pensar que meu vinho havia acabado, minha indisposição era mais forte que minha vontade.

No outro dia, na quinta-feira, acordei mais cedo e fui para o jornal. Como de costume, cheguei antes de todos.
Peguei uma grande xícara de café, e me sentei em minha mesa. Comecei a checar os recados que haviam em cima da minha mesa.

" Eric, preciso que você vá até a mansão dos Borges. Raimundo Borges diz ter um pronunciamento sobre sua candidatura a prefeito da cidade, preciso que você escute o que ele tem a dizer, e leve o gravador."

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