Treze.

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Pedro não havia ido ao jornal no outro dia. Então, eu e Agnes resolvemos ir ao encontro dele em sua residência. Para Agnes, era tudo novo. Era como se fosse um mundo novo. Poderia até ser, já que ela passava o ano inteiro dentro de Alto Trevo.

Quando chegamos, fui recebido pelo irmão mais novo do Pedro. Fábio era realmente um menino esperto, como qualquer outro menino de sua idade. Eu tinha certeza de que seus olhos verdes ainda iriam render abundantes fios brancos a sua mãe.

   – Oi, campeão. - Falei.
   – Eu ainda não ganhei o torneio. - Disse ele baixinho ao meu ouvido quando me abraçou.
   – Mas já é um, porque está tentando.

Ele bateu em minha mão, e se intimidou ao falar com Agnes. Pedimos licença e entramos na casa. Pedro não estava no quarto. Estava na sala de jantar, fazendo absolutamente nada sentado numa cadeira, com um copo em mãos.

Senti que ele ficou surpreso ao perceber a presença de Agnes. Arregalou os olhos, e por um milésimo de segundo esqueci de apresentá-los.

   – Famoso Pedro. - Agnes se pós a falar.
   – Não sabia o tamanho de minha fama.

Rimos.

   – Pedro, essa é Agnes, minha quase irmã. Agnes, você já conhece o Pedro.
   – Já conheci por falar, mas agora, percebo que realmente toda ênfase dada foi necessária. - Disse Agnes.
   – Espero não lhe decepcionar, mas, sinto-me lisonjeado.

A partir daquele momento, percebi que eles seriam bons amigos. Bom, era o que eu esperava.

Seríamos um trio inseparável. Quase perfeito.
Sentamos juntos a ele a mesa, e ficamos ali, conversando. No início sentia Pedro um tanto tenso, mas aos poucos fui percebendo isso ser deixado para trás.

Era engraçado, que com o tempo, eu já havia me acostumando com o jeito dele. Com aquele jeito de menino que era tímido, mas que também era extrovertido até demais. Que as vezes falava brincando um assunto sério.

Aquele jeito de implicar comigo por não gostar de He-Man. Ou de não admitir algo, sendo que o sorriso diz tudo. Achava aquilo uma baboseira, mas o que eu poderia fazer? Era o jeito dele de ser.

Ele ainda era aquele universo que eu descobria uma nova área a cada dia. Mas, não sentia medo. Sentia vontade. Vontade de conhecê-lo.

O irmão mais novo do Pedro estava começando a me ver como um grande amigo dele. Como se eu fosse um colega que ele havia feito na escola. Pedro me dizia que ele falava sempre de mim. Que queria me levar para jogar futebol com ele. Bom, eu quase nunca me dei bem com crianças, sempre as achei chatas, mas, Fábio não era chato como todas as outras que já conheci. Era apenas uma criança que queria brincar, e só isso.

Ele apareceu de relance na sala de jantar, onde estávamos. Se aninhou em meu ombro, e quando me dei por mim, ele já estava sentado em meu joelho debruçado em meu peito.

   – Fabinho, você não acha melhor deixar os adultos conversarem e ir assistir algo?
   – Não.
   – Tudo bem, então, acho que posso contar a todos de sua namorada.
   – Está na hora de passar meu desenho favorito mesmo. - Ele desceu do meu colo e saiu pela porta.
   – Namorada? - Perguntei.
   – A família sempre arranja uma maneira de criar birra com crianças. É uma longa história.

Pedro usava uma camisa regata vermelha, a qual deixava aparente seus braços magros. Digamos que ele não era como o He-Man. Ele era apenas um cara um pouco franzino. Menos que eu, que seria capaz de ser levado por um vendaval. Ele era um franzino meio termo. Se é que isso possa existir de fato.

Ele ainda usava o gesso no braço e agora um curativo próximo a sobrancelha, e por milagre, havia prendido o cabelo. Achei ficar um tanto bonito. Quer dizer, sempre quando ele prendia o cabelo eu achava ficar bonito, mesmo ele dizendo que ficava com uma testa grande. Ele sempre falava que odiava sua testa e seu nariz. Constando que os dois eram proporcionais ao seu rosto. Talvez nem tanto, mas se ajudavam.

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