Tratado dos Párias - Supremo...

By IsabelaAllmeida

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Celina estava lutando para se encontrar. Após anos fechada em seu próprio mundo e dependente da droga que sua... More

Vamos lá.
Prólogo
Primeiros dias
Abstinência
Retorno
Consciente
Reunião- Parte 1
Reunião- Parte 2
Reunião- parte 3
Os três irmãos
Solução
Despertar de Dimitri
Retorno Conturbado
Dimitri
Jena
Floresta Obscura
Chegada
Reencontro
Tudo Estranho
Se descobrindo
Se descobrindo...
Uma visita
O sedutor
Revivendo o chamado com tinta
O choque de Dimitri
Os lobos da Terra
Saída do Vilarejo
Ritual da Lua Sangrenta
Ritual da Lua Sangrenta- Parte 2
Primeiros dias
Dimitri
Correndo com lobos
Um sonho com fim.
Encontro inesperado.
Pria, Eu e Elas
Retorno
Uma frase e...
Laço e Âncora
Dimitri
O lago
Sem acordos
Celina
Dois braços
O juramento de Dimitri
Dimitri
Confronto
Um abraço
Conforto
Laican
Ritual

Um recomeço...

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By IsabelaAllmeida

Já conta dois dias desde que saí pela última vez, toda aquela reflexão me fez ter uma recaída, a liberdade que no primeiro dia parecia maravilhosa, agora me lembrava de uma gaiola um pouco mais bonita que a primeira. Mas isso era a minha parte derrotada que resmungava ainda conseguindo certa influência sobre mim. Eu tinha ciência disso, e mesmo assim não tinha vontade de levantar, mas eu preciso...

Mais um pouco nessa cama e vou enlouquecer novamente, porque há o sonho que não me deixa dormir tranquila, que me fez acordar suada e ansiosa, com a sensação de que deixei alguém para trás. Nesses dois dias, tive o mesmo sonho todas as vezes que peguei no sono, e sempre começa da mesma forma, em uma floresta prateada, então ouço um lamento distante e sigo para essa direção, mas ao dar o terceiro passo a floresta se desvanece e eu desperto. É estranho, mas é como se não eu estivesse pronta para adentrar aquela floresta prateada, como se faltasse algo para me permitir andar por ela.

Eu queria que o sonho evoluísse, queria poder ver quem lamenta com tanta angústia, mas não posso mais ficar na cama esperando a conclusão de um sonho, eu preciso voltar a realidade.

Com um suspiro desanimado arrasto meu corpo para fora da cama e olho para a água que foi colocada na tina de banho. Com certeza fizeram enquanto eu dormia, penso no quanto eu devia estar frágil e a mercê de qualquer mão, porém não me fizeram nada, somente preparam tudo para quando eu acordasse. E isso pesa um pouco mais na minha consciência já abarrotada de culpa, pois pessoas que eu nem conheço estão tentando de tudo para me ver melhor e eu devo me esforçar um pouco mais.

A água ainda está limpa, e entrar nela dá uma sensação de prazer, faz muito calor aqui.

Após o banho o espelho novamente me incita a ficar de frente a ele. Não resisto e seguro o lençol com determinação, mas antes de puxá-la eu vacilo e o mantenho no lugar.

Eu já sei que é uma tolice pensar que minhas cicatrizes sumiriam com o esfregar de uma esponja, mas todas as vezes que esfrego minha pele eu teimo em repetir o processo várias vezes na esperança de que ela se gaste e volte a ficar lisa.

Resignada com minha compulsão por sofrer eu puxo o tecido e me encaro no espelho, busco a amenização dos riscos e não encontro, tudo continua como sempre. Visível e feio, fino e branco.

Como sempre, faço uma trança e ela caí pesada quando solto. Escolho um vestido simples e fresco, e finalmente saio do quarto para enfrentar mais um dia.

Rumo para o quiosque no centro da pracinha e monto o cavalete, e então começo a me animar.

Aqui fora podendo observá-los, mesmo que de longe, é melhor para conseguir recriar o que vejo.

Os corpos estão pela metade, o resto encobri com a água do lago, os cabelos encobrindo os seios, ainda é uma pintura um tanto extravagante, mas no geral, está ficando bonito.

— Muito interessante.

Tive um sobressalto com a voz repentina. Estava distraída.

— Desculpe assustá-la, mas hoje gostaria de te pedir que se sente um pouco comigo, que me dê agracie com uma conversa sem falas platônicas.

Hesito, não quero ofendê-lo, mas também não quero ser enganada por minha falta de conhecimento com os costumes do lugar. Talvez se eu mantiver a distância, não dê a entender que por causa do meu passado eu posso ser usada quando bem entenderem.

Ele parece compreender minha relutância. Aponta para o muro. — É uma vila simples, mas vê? É seguro.

Sem saber o que dizer, e ansiosa para ele saber que eu já me sinto segura aqui, assinto em concordância e seus olhos suavizam.

— Sente comigo e me dê o benefício da dúvida.

Já sem saída para justificar meu silêncio eu não tenho mais o que fazer, então com passos incertos eu obedeço, ainda seguro o pincel que tinha acabado de encher de tinta azul para pincelar as nuances do céu acima do lago do lado de fora. Mas segurar algo me dá certa coragem, é como ter algo para me defender.

Com seus olhos castanhos ele olha para o pincel em minha mão e depois para meu rosto. Me encolho um pouco, pois me incomoda ser olhada de tão perto. Ele deve ter percebido, porque ao falar, foca somente em meus olhos.

— Como eu disse não precisa ter receio de mim, sou um homem que acredita no modo antigo que os humanos viviam. Sou crente no amor de Deus, mas não forço os outros a me seguir e nem ensino sobre isso, pois amor não se ensina, se pratica, então apenas sigo essa doutrina como um meio de vida, pois não é fácil amar os humanos que restam, infelizmente.

Compreendo o que ele queria dizer porque eu tinha conhecido humanos que não mereciam amor, e aqui existiam humanos diferentes, mas eu ainda não tinha sabedoria para aprender a amar meus iguais. Mas posso continuar a enfrentar meus medos, ser um pouco melhor que ontem, e para isso está na hora de deixar o silêncio de lado.

Meu coração palpita com mais força porque esse é mais um demônio que sinto a necessidade de vencer. É como um portão que preciso abrir para me livrar de mais um obstáculo.

Mordisco os lábios e respiro fundo enquanto ensaio uma pergunta, ele parece que sabe minha luta então espera com paciência. Após um tempo deixo de tentar e apenas faço.

— Como pode saber como era antes? É um conhecimento proibido, pelo menos no reino Humanis.

Fico aliviada por finalmente ter falado, e mais ainda por não ter esquecido como fazer, só que me sinto esquisita, minha garganta arranha como se tivesse enferrujada, percebo que minha voz continua a mesma e isso é algo bom, alguma coisa em mim continua imutável.

Fico quieta, aguardando sua resposta, mas por dentro emoções transbordam, mentalmente dou tapinhas em minhas costas parabenizando meu enorme feito. Estou melhor, a rigidez inicial dá lugar a uma posição confortável, pronto, faltava isso para eu fincar meus pés desse lado.

Após um momento me olhando com surpresa, ele assente. _ Finalmente falou.

Balanço a cabeça e não consigo conter um sorriso acanhado. _ Estava na hora.

— Então, voltando à sua pergunta. Aqui não há esse tipo de restrição, conhecimento é a base do crescimento, então porque proibir? A maioria das coisas que sobre antigamente foi passado de pai para filho, e tendo em vista nosso isolamento conseguimos manter muito dos costumes antigos.

Ficamos em silêncio por um tempo então ele me sonda, eu sei o que ele vai falar, ainda assim espero.

— Essas pessoas lá fora são todos lobos, inclusive Jena.

Sobre Jena eu não precisei de muito para saber já que ela não fez nenhum rodeio. Primeiro falou seu nome e em seguida contou que era a Alfa de uma grande matilha.

Estranhamente o fato de ela ser uma Lican não me preocupou de todo porque eu senti um tipo esquisito de afinidade com ela, era como se fosse natural, mais ainda porque sua voz me era familiar, cada vez que ela falava imagens aleatórias surgiam, minha mão pintando uma vassoura, o sol aquecendo meu rosto e a sensação confortável de uma mão segurando a minha. E mesmo que eu não entendesse o que essas imagens fragmentadas significavam, me lembrava momentos de tranquilidade.

Quando ela sentou ao meu lado, seu cheiro me fez lembrar outras coisas. Essas mais doloridas. Ela cheirava a sol, pele ao sol, e esse cheiro me fazia pensar em Olhos amarelos.

Meu coração batia acelerado porque essa era a primeira sensação boa com as lembranças que eu tinha, e o mais estranho era isso vir de uma raça que eu conhecia como aliados de meu pai, que negociavam mulheres nas feiras do rei.

Jena pareceu perceber meu nervosismo porque sussurrou que estava tudo bem e depois de um tempo como se buscasse o que dizer ela perguntou se eu estava bem, se precisava de algo.

Eu estava bem, melhor do que qualquer tempo que eu me lembrasse, e não precisava de nada já que lembraram de tudo, inclusive dos materiais de pintura, porém não estava pronta para falar ainda então me senti ridícula com a sequência de assentir e depois negar.

Achei que ela ficaria confusa, mas ela me sorriu sabiamente e depois perguntou se meu pulso doía.

Essa pergunta fez uma luz de entendimento surgir, e olhei para a cicatriz mais recente que eu tinha. Um formato de meia lua em vertical, cada ponta da cicatriz era mais marcada, como se os caninos fossem maiores que o resto.

Quando Jena me explicou o motivo de eu ter sido mordida, um sorriso ameaçou surgir e baixei os olhos para esconder isso.

Ela poderia pensar que eu estava rindo dela, mas não era isso, na verdade eu estava feliz, porque pelo menos uma cicatriz em mim não tinha sido feita por um cliente de meu pai. Foi para me ajudar e agora eu ficava chateada por não ter falado nada em suas visitas, eu não estava pronta para falar, mas devia ter tentado.

Jena foi algo bom, porque ela me tratou com naturalidade, parecia até acostumada a ver pessoas como eu diariamente, malucas e marcadas por cicatrizes. A verdade é que eu senti uma conexão com ela logo no primeiro momento que a vi. Foi natural confiar.

— Ela te falou sobre te transformar em Lican? — Ele perguntou de forma casual, mas percebi a tensão de seu corpo, parecia importante para ele saber.

— Sim. E eu aceitei.

— Assim, sem pensar duas vezes? — Ele parecia surpreso e ao mesmo tempo, contente.

Balancei a cabeça negando. — Eles me ajudaram sem pedir nada em troca então não vi motivos para refletir... Além do mais, perdoe-me se o ofendo, mas não acredito que eles me fariam sofrer mais do que os humanos fizeram. E se acontecer, eu não me surpreenderia, só cimentaria o pensamento de que não existem pessoas boas nesse mundo.

Ele levantou a mão para talvez colocá-la por cima da minha, mas eu inclinei o corpo para o outro lado e ele recuou. Um passo de cada vez, toque ainda era um limite que eu não conseguia transpor.

Sem parecer ofendido com minha recusa ele apontou as pessoas que trabalhavam ao longe.

— Esses humanos dessa vila são melhores que os humanos de onde você vem, posso lhe assegurar isso. E os lobos que vivem aqui também são melhores que muitos outros que vem de longe.

— Existem mais?

— Humanos ou lobos?

— Lobos. — Eu não queria saber de humanos, já tinha tido uma dose exacerbada deles para uma vida.

Ele concordou. — Muitos outros, por isso que nesses muros há flores roxas, para nos proteger dos lobos estrangeiros. — Ele apontou para a muralha. — Essa planta é um veneno para a raça Lupina.

— Mas... Jena.

Ele assentiu e sorriu. — Ela não se aproxima da muralha, o veneno é forte para ela.

— As pessoas daqui não estranham os costumes deles?

Embora eu não tivesse especificado o costume em particular ele deve ter entendido porque assentiu.

— Não mais, quer dizer, não com eles, mas entre os moradores da vila acontece discussões, principalmente entre os casais, as mulheres são as piores para implicar, mas é algo bobo, na maioria das vezes é por ciúme de seus maridos, no mais, é implicância de vizinhos.

Balanço a cabeça mostrando compreensão. Essa insegurança das mulheres era algo acredito entranhado na alma feminina, no harém era assim, elas brigavam o tempo todo, mas sempre entre elas. Porém, mulheres brigando com um homem por causa de ciúme seria uma insanidade no reino Humanis.

Com um sorriso satisfeito de quem cumpriu seu dever, ele levanta e segura minhas mãos. Sinto algo estranho com esse toque. Meu coração bate acelerado porque eu fico indecisa entre livrá-las de sua posse ou pedir para que ele se afaste, no entanto não faço nem uma coisa nem outra.

— Você passou por muita coisa. E não saberei lhe explicar como os lobos fazem as coisas, mas de uma coisa eu sei. Muitas daquelas moças lá fora ficaram aqui, na nossa vila até se sentirem prontas para passar para o lado de lá, e posso lhe garantir que depois de transformadas, vi uma drástica mudança nelas.

Ele soltou minhas mãos e as deixei cair em meu colo.

O que ele disse me deixou inquieta. Mudança drástica? O que isso significava?

O pouco que eu sabia sobre mim estava aprendendo a controlar, se acontecesse mudanças drásticas, eu voltaria a estaca zero, teria que aprender a me conhecer novamente e isso me pareceu assustador.

Sentindo um frio repentino deixo os materiais de pintura para trás e volto para casa.

Encontro um prato com biscoitos de gengibre e um copo de leite morno em cima de uma mesinha perto da janela. Sempre me pergunto quem é o meu benfeitor, porque sou tratada com tanta consideração sendo que sou uma estranha que não colabora com os afazeres da vila.

Ignoro a comida e deito na cama. Não sei o que fazer, estou perdida. Mudança... Eu tinha aceitado sem pensar, mas seria bom ou ruim para mim?

Jena havia dito que eu passaria por uma coisa chamada ritual, que teria que ser em uma noite específica, algo sobre uma lua qualquer, também me disse que eu teria mais força e os sentidos mais aguçados. Até aí eu estava apenas curiosa, porém quando ela disse que eu teria um tipo de poder para me curar eu fiquei de verdade interessada e ela percebeu. E quando me explicou melhor e perguntou se eu queria, aceitei.

Pois de tudo o que vejo no espelho, são as cicatrizes que me causam revolta, e ganhar uma chance de ter minha pele imune a mais marcas era o maior presente que eu poderia ter.

Mais força...

Outro motivo para reforçar que tomei a decisão certa, se fosse verdade, se eu ficasse mais forte, nunca mais permitiria que um homem me tomasse a força, eu o mataria antes disso.


Uééé, capítulo novo tão rápido tia Isa? 

Claaaro, vocês merecem!!

Beijooo :D

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