Tratado dos Párias - Supremo...

By IsabelaAllmeida

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Celina estava lutando para se encontrar. Após anos fechada em seu próprio mundo e dependente da droga que sua... More

Vamos lá.
Prólogo
Primeiros dias
Abstinência
Retorno
Consciente
Reunião- Parte 1
Reunião- Parte 2
Reunião- parte 3
Os três irmãos
Solução
Despertar de Dimitri
Retorno Conturbado
Dimitri
Jena
Floresta Obscura
Chegada
Reencontro
Tudo Estranho
Se descobrindo...
Uma visita
Um recomeço...
O sedutor
Revivendo o chamado com tinta
O choque de Dimitri
Os lobos da Terra
Saída do Vilarejo
Ritual da Lua Sangrenta
Ritual da Lua Sangrenta- Parte 2
Primeiros dias
Dimitri
Correndo com lobos
Um sonho com fim.
Encontro inesperado.
Pria, Eu e Elas
Retorno
Uma frase e...
Laço e Âncora
Dimitri
O lago
Sem acordos
Celina
Dois braços
O juramento de Dimitri
Dimitri
Confronto
Um abraço
Conforto
Laican
Ritual

Se descobrindo

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By IsabelaAllmeida

Após dois longos dias de tentativas e desistências finalmente eu tinha conseguido atravessar a larga estrada e chegar à pracinha.

Para outros poderia ser algo comum e rotineiro, mas para mim foi necessário um enorme esforço e um soma enorme de coragem.

Tanto que quando sentei no banquinho precisei de alguns minutos para me recompor, meu coração estava disparado e minhas pernas não paravam de tremer.

A aventura me fez soltar um suspiro quase desesperado e por fim quando me dei conta do enorme passo que tinha dado, fiquei exultante, pois era uma pequena, mas significativa vitória, pois foi ali, ainda tentando controlar a agitação dentro de mim que acabei por descobrir que não existe melhor maneira de vencer os pequenos demônios, o jeito é ignorar o temor e enfrentá-los.

Foi o que acabei fazendo várias vezes, primeiro foi vencer a vontade de correr para a casa, a sensação de exposição era aterradora, então me forcei a permanecer no banco, depois foi forçar minha cabeça a levantar e olhar para os lados, e essa foi minha segunda maior vitória pois consegui enfrentar olhares curiosos em minha direção sem sucumbir a vontade de baixar os olhos, claro que eles ajudaram, pois se tivessem se aproximado não sei o que eu teria feito, talvez eu tivesse corrido para casa.

Mas depois desse primeiro dia ficou mais fácil. Já não era tão terrível atravessar a estrada e chegar à praça e para manter uma rotina passei a trazer comigo cavalete e tintas, materiais que estavam no quarto quando cheguei e que foram muito úteis para me ajudar a alienar do medo, entretanto só consegui segurar o pincel com firmeza após dois dias, pois só então minhas mãos pararam de tremer a qualquer aparição de um morador da vila.

E mesmo agora, quase uma semana depois, o excesso de pessoas passando, me observando ainda me perturba e é por isso que continuo voltando, porque sei que ficará mais fácil se eu continuar a insistir.

Porém me sinto mais forte, pois estou lutando só, compreendo as coisas a minha volta por conta própria então, embora mais lento o progresso, a certeza de que dessa vez eu vou poder viver minha vida se torna mais sólida.

Bato o pincel na paleta escolhendo a cor azul, mas antes de pincelar qualquer coisa minha mão vacila quando percebo que o insistente líder da vila está se aproximando.

Parece que ele me vê como uma missão, pois só me deu paz para curtir a pracinha sozinha no primeiro dia. No outro ele apenas esperou eu preparar tudo para pintar e então apareceu, se apresentou e me chamou pelo nome, em seguida sentou e ficou fuçando o cesto de tintas, desde então não falhou um dia em aparecer.

_ Celina.

Novamente ele começa seu ritual da amizade. Agora que chamou meu nome ele vai esticar o pescoço para ver o progresso de minha pintura, então vai sentar no banco e arrumar as mãos placidamente no colo, sei que não vai durar muito porque parece que ele não consegue ficar sem fuçar o cesto.

Finjo não ouvir seu chamado na esperança que ele desista de mim e vá embora, mas começo a achar que ele não é muito astuto com sinais sutis. Na verdade, não me importo de tê-lo por perto, é essa insistência dele em conversar que me deixa ansiosa, pois falar é um demônio que ainda não exorcizei, mesmo que eu sinta vontade de tentar, pois assim eu poderia lhe fazer perguntas sobre o povo desse vilarejo.

Se eles sempre estiveram aqui é uma coisa que eu gostaria de saber, porque então ficaria a dúvida ainda maior...

Porque esses humanos se tornaram tão diferentes dos que vivem no reino Humanis? E porque eles não seguiam o código de conduta onde todas as leis baseadas no Tratado dos Párias vigoram?

Eu não conseguia compreender essa isenção de regras, era sabido por todos que as raças sobreviventes deveriam, por lei seguir as leis do Tratado e desde sempre humanos deveriam seguir o código de conduta Humanis, e aqui... nada disso acontece, as mulheres... elas têm liberdade, até mesmo as casadas.

Ouvi risadas e conversas aos gritos de vizinhas, isso no reino Humanis seria motivo de castigo, mas aqui ninguém se incomodou, porém o que mais me causou estranheza foi ver homens dando adeus de forma carinhosa ou acenando alegremente para suas mulheres e assentindo com um tipo estranho de devoção quando eram lembrados de trazer algo que estava faltando.

E não foi preciso muito tempo para perceber essa diferença, vi e ouvi tudo isso em apenas um dia sentada no banco, e nos seguintes essa sinfonia constante passou a ser minha música preferida.

Não ter nenhuma pista do motivo dessa discrepância é que me entristecia, pois meu mundo conhecido era tão pequeno e o mundo fora das muralhas do reino Humanis era tão vasto. Jamais imaginei que pudesse existir tamanha diferença de costumes entre os da mesma raça, mas eu gostava mais daqui, sem sombra de dúvidas essa pequena vila era melhor que o reino de meu pai.

— Como você está hoje? — O líder da vila insistiu e sem esperar resposta ele sentou ao meu lado no banco deixando uma distancia pouca entre nós, não parecia se incomodar com fato de que ao lado dele estava uma louca que tinha acabado de se curar de um vício e que ainda sequer sabia quanto tempo de sua vida tinha perdido.

O máximo que tinha lhe oferecido como resposta era um aceno aqui e ali, mas se eu evitava responder ele ficava ao meu lado observando minha mão trabalhar o giz, ou como agora o pincel.

Eu não gostava de ser avaliada, de ver que ele buscava em meus olhos a sanidade total, pois ela não mais existia.

Talvez eu fosse tola, talvez devesse tentar mais, quem sabe essas tentativas dele fosse um teste ao qual eu não estava passando e por isso continuava fechada nessa vila, observando o mundo lá fora pelas frestas do imenso portão.

Havia pessoas lá fora, eu tinha visto mulheres com um tipo esquisito de roupa, uma camisa sem botão, fácil de tirar e útil apenas para esconder parcamente seus corpos, enquanto outras sequer usavam isso, incialmente tinha sido um choque, mas logo eles se tornaram a inspiração para meu primeiro desenho.

O som de risada feminina que vinha de lá fazia com que um sorriso tímido brotasse em meus lábios, porque destoava das minhas lembranças e ao mesmo tempo evidenciava cada uma delas.

Olhar para aquelas mulheres lá longe brincando e conversando sem se preocupar com pouca roupa me fazia lembrar as minhas cicatrizes.

Mesmo enfrentando e vencendo outros temores, o espelho foi um oponente mais duro, no primeiro dia evitei olhar em sua direção, nos seguintes ficava olhando para ele sem coragem para observar meu estado.

Todavia estava começando a compreender as diferenças dessa nova Celina para a antiga, uma delas era que o medo não era mais um fator determinante, ele estava aqui o tempo todo, mas diferentemente de antes, esse era vencível.

Então, quando comecei a circular o espelho tentando buscar coragem para ver meu reflexo eu não me cobrei, porque a antiga Celina estava acostumada a querer e não agir para obter, mas essa nova estava me mostrando que agia por impulso, do nada eu me percebia fazendo algo que antes eu jamais teria coragem para sequer pensar em tentar.

E como eu tinha previsto, a coragem dessa nova Celina surgiu como lava saindo de um vulcão me fazendo puxar o tecido.

Ainda segurando o lençol mantive os olhos fechados, respirando fundo fiquei relutando em enfrentar o que veria, e para sofrer tudo de uma vez, eu devia enfrentar tudo em uma única tentativa então tirei toda a roupa e só então os abri.

Embora sentisse vontade de chorar, não o fiz, mas foi triste o que descobri, nem mais nem menos do que eu já imaginava.

Sorri com amargura sentindo uma vitória triste, gotículas de sangue brotaram porque meus lábios estavam ressequidos. Eu precisaria de mais tempo para nutrir minha pele, mas não sabia o que teria que fazer para apagar o que estava tão evidente.

As cicatrizes pululavam de várias partes, nos seios riscos brancos se cruzavam. Marcas de queimaduras em minhas coxas e nas costas as muitas marcas de chicotes, variadas em tamanho e cor mostrando o tempo de uma para a outra. E o tempo não importava agora, ele não podia mais ser um fator de reconhecimento, essa Celina estava mais velha, doente e mesmo eu não vendo o tempo passar, meu corpo tinha visto.

A magreza acentuada ajudava a deixar tudo mais feio, partes enrugavam, outras se misturavam a couros por preencher.

Não ousei fechar os olhos, eu precisava saber o que tinha restado. Usei dois dias de minha recém-liberdade para criar coragem de olhar o espelho, então não voltaria atrás, uma vez conhecendo o que os abutres do reino Humanis deixaram para mim, eu buscaria sabedoria para descobrir o que fazer com essas sobras.

Esse dia não foi de nascimento como pensei na primeira noite, foi de conhecimento, ainda era eu, mas alguém com a alma restaurada e corpo destruído.

Oiee seus maravilindoooos. Então, rsrs, mais um cap vai sair do forno, então comentem o que acharam, ou sigam lendo e comentem depois, mas quero saber opiniões, vocês do wattpad são ainda o único motivo de eu ainda estar insistindo em escrever.

Se fosse por outros fatores eu tinha abandonado a escrita há algum tempo, então me animem galera, eu preciso de vocês!!!

Pago esse apoio com mais caps :P

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