A Viajante.

By guiguiroseira

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[Obra registrada na Biblioteca Nacional. Plágio é crime.] Março de 2016: Após o aparecimento de estranhas luz... More

A VIAJANTE
ZERO
Parte I
UM (i)
UM (ii)
UM (iii)
DOIS (i)
DOIS (ii)
DOIS (iii)
TRÊS (i)
TRÊS (ii)
TRÊS (iii)
Parte II
QUATRO
SEIS
SETE
OITO
NOVE
DEZ (i)
DEZ (ii)
Parte III
ONZE
DOZE
Parte IV
TREZE
Parte V
CATORZE
QUINZE (i)
QUINZE (ii)
DEZESSEIS
DEZESSETE
DEZOITO
DEZENOVE (i)
DEZENOVE (ii)
Parte VI
VINTE (i)
VINTE (ii)
VINTE E UM (i)
VINTE E UM (ii)
VINTE E DOIS
Parte VII
VINTE E TRÊS
Parte VIII
VINTE E QUATRO (i)
VINTE E QUATRO (ii)
VINTE E CINCO
VINTE E SEIS
VINTE E SETE
VINTE E OITO
Parte IX
VINTE E NOVE (i)
VINTE E NOVE (ii)
Parte X
TRINTA
TRINTA E UM
Parte XI
TRINTA E DOIS
TRINTA E TRÊS
Parte XII
TRINTA E QUATRO
AVISO: Comemoração
TRINTA E CINCO
Epílogo
FINAL
Nota do Autor

CINCO

130 29 28
By guiguiroseira


Donna abriu os olhos no sábado de manhã com a sensação de que não havia dormido nada a noite inteira. Seu sono fora uma coisa inquieta, povoado por luzes e barulhos estranhos, telefones tocando e pesadelos. Em um deles, Donna despencava por um buraco negro e desabava nas trevas. Eu vou cair para sempre, ela pensava, ao mesmo tempo em que sentia algo com ela na escuridão: algo faminto, cheio de uma inteligência hostil e incompreensível. Venha me encontrar, venha me encontrar, Donna, venha me encontrar.

Ela acordou com o corpo coberto por uma camada grudenta e azeda de suor frio, desnorteada e sem saber onde estava. Demorou alguns segundos para lembrar de que adormecera no quarto de Henry. Virou a cabeça no travesseiro e não viu o filho ao seu lado. Continuou deitada, escutando os sons da manhã: os pássaros piando nas árvores lá fora, o vento matinal soprando contra o vidro da janela, crianças rindo no quintal de um dos vizinhos. Ouviu também o barulho da geladeira abrindo no andar de baixo e a estática produzida pela televisão ligada na sala.

Com um resmungo, sentindo-se como uma adolescente que é acordada pela mãe de manhã para ir à escola e chora por alguns minutos a mais de sono, Donna levantou-se e foi até seu quarto. Tirou a roupa, jogando na cama o uniforme de policial que ainda cheirava à fumaça, e tomou uma chuveirada fria. Isso serviu para ajudá-la a despertar, e, quando desceu para o primeiro andar enrolada em um roupão, Donna sequer se lembrava dos pesadelos que tivera.

Henry sentava-se no sofá da sala, de pijamas e pantufas de coelho, uma tigela cheia de leite e cereal no colo e assistindo à Hora Acme na televisão. Donna parou ao pé da escada:

- Bom dia, porquinho.

- Bom dia – ele respondeu sem tirar os olhos do desenho, onde o Coiote acendia uma banana de dinamite para montar uma armadilha para o Papa-Léguas.

- Por que você acordou tão cedo? Hoje é sábado.

- Eu sei – Henry disse. – Perdi o sono – ele virou a cabeça para olhá-la, o queixo sujo de leite. – Você se mexe muito quando tá dormindo, mãe. Me chutou a noite inteira.

- Foi, é? Bom, sinto muito – Donna disse enquanto ia à cozinha. – O que acha de eu levar você ao cinema para compensar?

Henry soltou um "eba!" e Donna riu, pegando dois ovos da geladeira. Depois pensou melhor e decidiu que estava com preguiça demais para preparar uma omelete. Encheu para si uma tigela com leite, adicionou uma porção do Sucrilhos Kellog's de Henry e voilá: o café da manhã perfeito. Voltou para a sala e sentou-se ao lado do filho no sofá.

Na televisão, a dinamite explodia no nariz do Coiote.

- Ele nunca pega o Papa-Léguas, não é? – disse Donna.

Henry franziu a testa como se Donna houvesse dito a coisa mais idiota do mundo.

- Ué. Se ele pegar, o desenho acaba.

Havia uma lógica inegável aí que Donna, uma adulta, fora idiota demais para ver. Há coisas nesse mundo que só uma criança consegue enxergar direito. Eles comeram em silêncio, assistindo ao desenho, Henry levantando-se apenas uma vez para encher a tigela com mais leite e cereal. Donna deitou a cabeça no colo do filho e estava quase caindo no sono de novo, mergulhando naquele cochilo sem hora para acordar dos fins de semana, quando o telefone começou a tocar. Ela gemeu de incômodo.

- Você não vai atender? – perguntou Henry. – Pode ser a vovó.

E Donna, não aguentando mais ouvir telefones tocar e xingando mentalmente quem quer que tenha inventado aquelas porras, levantou-se para atender.

- Alô?

Tudo o que ouviu foi o barulho de uma tosse. A pessoa do outro lado da linha ainda tentou falar, mas sua voz se perdeu em meio a todo aquele cóf-cóf-cóf.

- O quê? – Donna disse. – Pode repetir? Não entendi nada.

- Donna? Quero falar com a Donna.

A voz era tão rouca que ela levou alguns instantes para ligá-la a um rosto.

- Xerife?

- Quero... – cóf-cóf-cóf. – Quero falar...

- Aqui é a Donna, xerife. Você está bem?

A pergunta mais idiota do século. Claro que ele não estava bem. O pai de Donna morrera quando ela era apenas uma criança da idade de Henry, e ela não tinha muitas memórias dele. Seus momentos com o pai haviam se perdido com o tempo, tornando-se coisas desbotadas como fotografias em sépia na parede de sua mente. Embora Donna guardasse algumas lembranças. Uma manhã de sol, as mãos firmes do pai em suas costas enquanto ele a ensinava a andar de bicicleta no jardim – não tenha medo, Donna, estou bem aqui para não deixar você cair. Uma tarde na churrasqueira, Donna tomando limonada e o pai, sem camisa e com um calção de banho, fumando cigarros e assando a carne. Ele na cama de hospital, respirando com dificuldade, ligado a aparelhos que pareciam saídos de um filme de ficção científica e com os pulmões tomados pelo câncer. No fim, sua voz ficara irreconhecível, um grasnar rouco que fazia Donna se encolher de medo e pena. Exatamente como a voz do xerife naquela manhã.

- Estou bem – disse o xerife, raspando a garganta. – Desculpe ligar assim, mas você está ocupada? Odeio pedir isso, sei que é sábado, só que quero voltar para a floresta e fechar um perímetro em torno daquele buraco. Sabe como é: o lugar é cheio de trilhas, e a última coisa da qual precisamos é de outro adolescente caindo naquela droga.

Donna olhou para Henry no sofá. Torceu a boca.

- Precisamos fazer isso hoje?

- Quanto antes, melhor – disse o xerife. – Prometo que será rápido. Eu pediria para outra pessoa me ajudar, juro, mas está todo mundo ocupado na delegacia ou patrulhando as ruas. Só você, Peter e Melissa estão de folga, e os dois estão doentes.

- Doentes?

- É. Liguei para eles antes de ligar para você. Os dois estão de cama. Mel nem conseguiu atender ao telefone. Parece que pegaram uma gripe que está circulando por aí – ele parou para tossir de novo. – Diabos, acho que eu peguei.

Donna achou aquilo estranho. Pete e o xerife Torrance, okay: ambos estavam ruins na noite passada, os olhos vermelhos e reclamando de dor de cabeça, tanto que Donna precisara levar Pete de volta para casa. Mas Mel? Mel estava perfeitamente bem quando Donna saíra da delegacia. Embora... Ela tossira algumas vezes, não? De um jeito disfarçado, colocando a mão sobre a boca e virando o rosto de lado?

- Terra para Donna.

- Desculpa, fiquei distraída – disse Donna. – Claro, eu ajudo. Mas você tem certeza de que está bem? Posso ir à floresta sozinha.

- Eu aguento – ele disse. – Passo aí daqui a pouco.

Ele desligou e Donna colocou o telefone de volta no gancho. Virou-se para Henry, que continuava concentrado no desenho.

- Ei, porquinho – ela parou ao lado dele no sofá. – Vou precisar sair um pouco. - Você não ia me levar ao cinema? – ele disse.

Donna sentiu uma pontada de culpa.

- Eu vou levar você ao cinema. Assim que eu voltar a gente vai, tá bem? Você consegue ficar sozinho sem causar um acidente nuclear? Posso ligar para a Bridget, se você quiser.

Henry rolou os olhos para ela.

- Não precisa, mãe. Eu já tenho seis anos, sabe.

- Ora, desculpe. Não sabia que você já era um homem crescido.

- Eu sou – e voltou a assistir ao desenho.

Donna sorriu da contradição. Bagunçou os cabelos do filho e subiu para vestir o uniforme.

***

Dez minutos depois, Torrance buzinou em frente à casa dela. Ele dirigia sua viatura, a que trazia na lateral a palavra XERIFE escrita em letras garrafais negras e o desenho do escudo dourado da polícia com a sigla J.H.P.DDepartamento de Polícia de Judie's Hallow. Não importava quantas vezes ele dissesse a Donna que estava bem e que não, não precisava ir ao médico, ela sabia que Torrance mentia. Ele tossiu praticamente o caminho inteiro até Pillowwood, cobrindo a boca com um lenço de pano, o rosto vermelho e as veias saltadas na testa e no pescoço. E tinha febre: sentar-se ao lado dele era quase como ficar perto de um forno ligado.

Ele pegou uma das trilhas de terra que levavam para o interior de Pillowwood, a mesma pela qual Frank O'Malley dirigira com Alicia na noite anterior. No banco traseiro, um rolo de fita amarela da polícia e um martelo chacoalhavam sobre três placas triangulares laranjas e tão berrantes que doíam na vista. Em uma delas, Donna leu: Cuidado. Buraco na pista. Trânsito impedido. Ela duvidava que isso fosse manter as pessoas afastadas da floresta até que a polícia arranjasse um jeito de tampar aquele buraco, mas não custava tentar.

Torrance parou a viatura sobre as sombras dos pinheiros e espiou de olhos franzidos através do para-brisa.

- Acho que fica por aqui – ele disse. – Só um pouco adiante. Vamos descer.

Ele pulou da viatura e Donna o seguiu. Ficou parada, sentindo-se suja dentro do uniforme – que estava amarrotado e com aquele cheiro forte de fumaça, como se Donna houvesse fumado dez maços de cigarro de uma só vez. Olhou Torrance abrindo a porta traseira da viatura e puxando de lá as placas. Correção: tentando puxar as placas. Ele tossia tanto que não conseguia parar de pé, apoiando-se nos joelhos e cuspindo grandes bolas de um catarro avermelhado. Donna adiantou-se.

- Eu faço isso, xerife.

- Não precisa...

- Torrance – Donna segurou o braço dele e virou-o de frente para ela, encarando-o como fazia com Henry quando o menino a desobedecia. – Você está doente. Não devia nem ter levantado da cama – ele abriu a boca para falar, mas ela o cortou: – E nem me venha com essa balela de que você está bem e coisa e tal, porque não está. O que vai acontecer é o seguinte: eu vou pegar essas placas e essa fita amarela idiota, fechar um perímetro em torno daquele maldito buraco e, depois, vou levar você ao médico. Fui clara?

- Eu acho que...

- E você vai me esperar aqui. Sentado e quietinho. Fui clara?

Torrance estava a ponto de protestar, mas outro ataque de tosse o sacudiu da cabeça aos pés. Quando passou, ele engoliu em seco, a garganta estalando com o som de uma chave girando em uma fechadura, e disse:

- Tudo bem, mamãe. Eu me rendo aos seus cuidados – ele fez uma careta. – Droga, Donna, eu não deveria ter trazido você. E se você pegar isso também?

A ideia de pegar o vírus – se é que o problema era mesmo um vírus – que deixara Torrance doente não ocorrera a Donna até então. Bom, tarde demais. Àquela altura, a merda já batera no ventilador, como dizem.

- Não se preocupe – disse Donna. – Eu tenho um sistema imunológico forte.

- É. Clara dizia a mesma coisa.

Naquele momento, Donna entendeu que o xerife se recusava a admitir que precisava de um médico não por causa de alguma espécie de orgulho viril idiota ou por birra. Não: Torrance dizia que não estava doente porque não podia estar doente. Caso contrário, quem cuidaria de Clara?

- Vai ficar tudo bem, Torrance – disse Donna. – Agora descanse. Sério. Vou fazer o serviço e depois vamos embora.

Torrance respondeu a isso com um grunhido rouco e desabou sentado em um amontoado de raízes ali perto, tirando o chapéu e usando-o para abanar o rosto vermelho e suado. Donna pegou as tralhas no banco de trás da viatura – as placas, o martelo para fixá-las e a fita amarela da polícia – e equilibrou tudo nos braços da melhor maneira que conseguiu. Garantiu de novo ao xerife que voltaria logo e seguiu pela trilha de terra, rezando para que o buraco estivesse mesmo um pouco adiante. A última coisa da qual precisava era ficar perdida naquela floresta.

Não tinha andado nem dez metros quando ouviu os sons. Parou de caminhar, testa franzida e a cabeça inclinada um pouco para o lado, e escutou outra vez: gritinhos histéricos de garotas, gargalhadas e música. Que merda era aquela agora? Os barulhos vinham de algum ponto adiante na trilha, e Donna acelerou o passo. Os pinheiros tornaram-se mais afastados, recuando de ambos os lados, o sol da manhã inundou a floresta e Donna pisou no local onde a coisa caíra do céu na noite passada.

Ficou paralisada, sem entender direito a cena.

- Que diabos...

Era como se a porra de uma festa universitária estivesse acontecendo ali. Havia jovens por todos os lados, pelo menos vinte deles, a maioria reunida em uma roda em torno de um Honda Civic vermelho. O veículo tinha o porta-malas aberto para amplificar a música que saía das caixas de som: batidas eletrônicas que você espera ouvir em uma balada. Em torno do buraco aberto no solo, garotos e garotas tinham estendido toalhas de banho e deitado nelas, tagarelando em voz alta, bebendo de garrafas de vodca e latinhas de cerveja, fumando cigarros – e, pelo cheiro, maconha. Algumas das meninas estavam sem camisa, mostrando vislumbres dos seios em sutiãs vermelhos e cor-de-rosa. Rapazes – também sem camisa e andando com os peitos estufados, exibindo-se como pavões – conversavam com copos plásticos de bebidas nas mãos. Havia até mesmo uma churrasqueira elétrica, pelo amor de Deus: um menino de dreadlocks assava carnes nela enquanto balançava a cabeça ao ritmo da música. Nos galhos de um pinheiro, pendurado como uma bandeira, estava um lençol amarelo com o desenho a tinta negra de um grande rosto oval, com fendas no lugar das narinas e dois enormes olhos escuros. Embaixo disso, alguém com um péssimo domínio da gramática escrevera: I Festa Anuau dos Extraterrestres de Judie's Hallow.

Donna olhava boquiaberta aquele alienígena desenhado tremular no lençol quando um rapaz, magro feito um espantalho e com calções de banho, se aproximou dela com um cooler cheio de gelo, tirando de lá uma garrafinha de Corona.

- Pra ficar na festa tem que beber – ele estendeu a cerveja para Donna e parou com a mão erguida no ar ao ver o uniforme de polícia que ela usava. – Ah, fodeu.

Um coro de aplausos e gritos embriagados irrompeu de algum lugar à esquerda. Donna olhou e viu os garotos e garotas batendo palmas e gritando "vai! vai! vai!" enquanto abriam caminho para um jovem com uma corda amarrada em torno da cintura e um celular na mão. Ele filmava tudo, balançando o punho direito no ar e incitando os colegas.

- Toma, Cris, segura isso – o jovem entregou o celular para uma garota morena e correu na direção do buraco, parando bem na borda e abrindo os braços como quem vai voar. Os outros gritaram ainda mais alto.

- Você não tem bolas pra fazer isso, Jackson! – gritou alguém e todo mundo riu.

- Fique olhando, Teddy! Fique olhando! – o jovem à borda do buraco virou-se para a garota morena. – Filma tudo.

Era isso. Estupidez tem limite. O jovem que estendera a Corona para Donna continuava parado abobalhado ao lado dela, e Donna empurrou para ele as placas e as outras tralhas que segurava. Cuidado!, o garoto exclamou, parecendo um malabarista enquanto tentava segurar tudo aquilo sem deixar cair o cooler com as cervejas. Donna deu um passo à frente, empurrando uma menina com um cigarro de maconha na mão.

- Ei, ei!

O jovem de pé à borda do buraco olhou para ela. O sorriso cheio de dentes brancos morreu em seu rosto assim que ele viu que Donna era uma policial. O som de algazarra, toda aquela gritaria adolescente, cessou num segundo. O único barulho que sobrou foi a batida da música eletrônica que vinha do Honda Civic. Os garotos e garotas deram um passo para trás, todos ao mesmo tempo como se tivessem ensaiado o movimento, recuando de Donna.

Donna apontou para o rapaz com a corda.

- O que é que você acha que vai fazer com essa corda?

O rapaz, agora pálido e tremendo um pouco, olhou em volta em busca de ajuda. Não conseguiu nenhuma: seus amigos de festa o haviam abandonado para enfrentar sozinho a encrenca. A garota morena com o celular correra para perto de uma roda de meninas, ainda filmando tudo.

- Aaaah... – fez o rapaz, coçando a cabeça. – Descer no buraco?

Puta merda.

- Sai daí – disse Donna.

- Escuta, dona policial, nós só estávamos...

- Sai daí – Donna apontou para uma menina perto do Honda Civic. – E desliga agora essa coisa.

Com um bico emburrado, algo tão infantil que não fazia parte nem do repertório de expressões de Henry, o jovem com a corda amarrada na cintura se afastou da beira do buraco. A menina desligara o som do Honda, e agora todos estavam em silêncio, cabeças baixas e fitando os pés. Alguns jovens jogavam longe os copos de plástico com as bebidas, outros escondiam os saquinhos de maconha. Donna colocou as mãos na cintura e olhou em volta, de rosto em rosto.

- O que, em nome de Deus, vocês estão fazendo aqui?

Ninguém respondeu.

- Qual é o seu nome? – ela perguntou para o rapaz da corda.

- Brandon – ele resmungou.

- Brandon, quer me explicar o que está acontecendo ou prefere contar tudo na delegacia?

Ele esbugalhou os olhos para ela, o pomo-de-adão subindo e descendo enquanto o jovem buscava as palavras.

- Estamos dando uma festa.

Bom, obrigada por esclarecer, Capitão Óbvio.

- Uma festa? – Donna ergueu as sobrancelhas.

- É – ele pigarreou, tossiu uma vez e continuou: – Andrew disse que uma nave espacial caiu aqui ontem. Ele viu da janela da casa dele. Aí eu saí pra procurar os aliens hoje cedo e encontrei esse buraco. E, bom...

- E achou que a coisa mais inteligente a fazer em seguida seria dar uma festa.

Brandon encolheu-se diante da dureza na voz de Donna. Tossiu outra vez, com mais força, e apontou para os amigos.

- O quê? Eu sou o único culpado agora? E eles?

- Vá se foder, Jackson! – alguém gritou, o que levou a mais xingamentos. Uma latinha de cerveja voou na direção de Brandon, que se agachou para desviar: ela quicou no chão uma vez e caiu dentro do buraco.

Antes que aquilo saísse do controle, Donna pegou Brandon pelo cotovelo e empurrou-o na direção dos colegas.

- Saiam daqui – ela disse. – Voltem para casa, antes que eu leve todo mundo preso. Jesus, vocês só podem estar de brincadeira com a minha cara fazendo uma coisa dessas.

Não precisou falar duas vezes: os jovens começaram a correr em alvoroço, catando as toalhas estendidas no chão, as garrafas e latinhas de bebida e desmontando às pressas a churrasqueira elétrica. O rapaz da Corona largara as placas com o martelo e a fita amarela aos pés de Donna e se apressou para guardar aquele lençol com o rosto do alienígena desenhado. Donna ficou olhando-os, balançando a cabeça, perguntando-se se era idiota como eles quando mais nova. Provavelmente sim. Se você não é idiota aos vinte anos, vai deixar para ser quando? Brandon, ainda de pé ao lado dela, tossia na mão em punho. Ele resmungou.

- O que foi? – perguntou Donna.

- Eu disse que não me sinto muito bem – ele tinha o rosto vermelho, os olhos injetados.

- Já deixei você ir embora. Não precisa fingir que está doente para eu pegar leve.

- Não, dona policial. É sério – ele tossiu com uma careta de dor. – Caramba, isso machuca. Parece que tem alguma coisa presa na minha garganta.

Ele falou mais alguma coisa, mas Donna não escutou: um barulho alto explodiu acima dela, abafando os demais sons. Um trovão? Ela ergueu o rosto para o céu e ficou cega por um clarão branco. A luz do sol refletindo-se em vidro. Forçou a vista e viu um helicóptero escuro sobrevoando sua cabeça. O barulho que escutara viera das hélices que batiam, produzindo um trúm-trúm-trúm que lembrava um liquidificador ligado.

- Você não precisava ter chamado um helicóptero! – Brandon gritou para ser ouvido acima do som das hélices. – Era só uma festa!

Mas o departamento de polícia de Judie's Hallow não tinha helicópteros. Que inferno, eles sequer tinham viaturas direito. De repente, Donna sentiu medo. Segurou o ombro de Brandon, empurrando-o para trás de si. Os outros jovens estavam paralisados, os rostos erguidos para a aeronave que desenhava círculos acima de suas cabeças como uma grande ave negra de rapina.

A porta de correr da cabine do helicóptero se abriu e uma figura surgiu. Um astronauta em um traje laranja, a cabeça coberta por um capacete redondo e translúcido que parecia um aquário de vidro. Ele ergueu um megafone e apontou-o para as pessoas lá embaixo. Sua voz rolou até eles como um trovão:

- Atenção! Vocês aí: afastem-se do buraco e depois fiquem parados! Repito: afastem-se do buraco e...

A voz dele sumiu. A figura laranja afastou o megafone, bateu nele duas vezes como se faz com um controle com as pilhas ruins, e ergueu-o novamente:

- Afastem-se d... – estática, estática, estática. – Ah, para o inferno com isso.

A figura entregou o megafone para alguém que estava atrás e gritou algo para o interior da cabine. Mesmo com o barulho das hélices golpeando seus ouvidos, Donna escutou as palavras.

Desçam. Vamos pegá-los.

Cordas foram arremessadas da cabine do helicóptero, desenrolando-se no ar como serpentinas, e aquela gente vestida com as engraçadas roupas laranja começou a descer. Alguns dos garotos e garotas gritaram, correndo para perto do Honda Civic e buscando abrigo no interior do carro. Brandon berrou na orelha de Donna:

- Eles estão armados!

Cristo. Caralho. Estavam mesmo. Traziam fuzis atravessados no peito. Donna contou sete daquelas pessoas descendo pelas cordas, e a primeira delas a chegar ao chão aterrissou bem diante de Donna. Ergueu a arma e apontou-a para sua cabeça, gritando para ela não se mexer, não se mexer, porra. Era impossível ver o rosto da figura, as feições distorcidas pelo plástico do estranho capacete que ela usava, mas a voz era de uma mulher.

- Para trás!

- Sou uma policial! – Donna ergueu as mãos para mostrar que estava desarmada. – Sou...

- Para trás! Agora!

Donna puxou Brandon para junto de si e recuou dois passos. Tudo à sua volta era um caos. Os demais sujeitos vestidos com os trajes de astronauta apontavam os fuzis para os jovens, empurrando-os para perto do Honda Civic como se fossem gado, aglutinando-os em uma massa de rostos assustados e olhos esbugalhados. Uma das garotas – a mesma menina morena a qual Brandon entregara o celular – tentou sair correndo para o meio da floresta. Deu dois passos desesperados e uma das figuras a agarrou pelos cabelos, puxando-a para trás e jogando-a de costas no chão.

- Ei! – Donna gritou, e a dor explodiu em suas costelas esquerdas. Ela curvou-se para frente, abraçando o peito e caindo de joelhos, o ar escapando de seus pulmões. A mulher a golpeara com a coronha do fuzil e agora apontava a arma para sua nuca.

- Eu mandei não se mexer.

Donna tentou ficar de pé e não conseguiu. Brandon se ajoelhara ao seu lado, segurando-a pelos ombros e perguntando se ela estava bem. Ela fez que sim com a cabeça e olhou em volta, a vista tomada por lágrimas de dor.

- Por que vocês estão fazendo isso?

A mulher no traje laranja não respondeu. Continuou apontando o fuzil para Donna. Lá em cima, o helicóptero se afastava, desaparecendo além das copas dos pinheiros. O barulho das hélices batendo tornou-se mais e mais distante até morrer. Perto do Honda, os jovens estavam encolhidos como vira-latas espancados, abraçando uns aos outros. A maioria chorava. A menina que tentara correr rastejava na direção dos amigos, e um rapaz a puxou do chão. As figuras de laranja formaram um semicírculo em torno deles, as armas erguidas. Havia latinhas de cerveja e garrafas quebradas de bebida espalhadas por todo lugar, liberando um cheiro pungente de álcool. Donna viu o lençol amarelo com o rosto do alienígena rolar pela poeira e ser erguido pelo vento, inflando como um paraquedas.

Um dos astronautas – o único sem um fuzil, reparou Donna – pegou o lençol no ar e o abriu. Passou um tempo olhando para o alienígena desenhado ali.

- Vocês escreveram anual errado – ele disse.

Com mãos cobertas por luvas amarelas de borracha, ele dobrou o lençol várias vezes e guardou-o no cinto, como se para recordação. Em seguida caminhou até Donna, parecendo mais do que nunca alguém vindo do espaço que acabou de desembarcar na Terra. Enquanto ele se aproximava, Donna percebeu que aquela roupa laranja não era um traje de astronauta de forma alguma: era um traje biológico. Ele parou diante de Donna e baixou o rosto para ela.

- Você é policial, certo?

Ela tentou responder que sim, mas a dor em suas costelas continuava excruciante e era difícil falar.

- Que coisa, Ward – disse o homem. – Você tinha mesmo que bater nela?

- Só estou fazendo o meu trabalho, senhor – respondeu a mulher que apontava o fuzil para a cabeça de Donna.

O homem suspirou fundo e estendeu a mão para Donna. Ela pensou um instante antes de aceitar a ajuda dele, e o sujeito a puxou para cima. Colocou-a de pé e deu tapinhas no uniforme de Donna para tirar a poeira.

- Desculpe pelo mau jeito – ele disse. A voz saía abafada devido ao capacete. – Mas eu não podia arriscar.

Arriscar o quê?

- Quem são vocês? – perguntou Donna.

- Não posso responder a isso. Mas garanto que estamos aqui para ajudar.

- É difícil acreditar nisso quando os seus amigos estão apontando fuzis de assalto para nós.

O homem ficou em silêncio. Era difícil enxergar com clareza a expressão dele por trás daquele capacete, mas Donna conseguia ver que o sujeito tinha olhos azuis. Duas esferas quase da cor do gelo que se destacavam em um rosto no qual as rugas já haviam começado a abrir caminho como linhas delineadas em um mapa: nas bochechas, nos cantos da boca, perto do nariz.

- Entendo o que quer dizer – ele disse e virou-se para a mulher. – Ward, vocês podem abaixar isso.

A mulher com o rifle hesitou.

- Tem certeza, senhor?

- Claro que tenho certeza. Abaixem essas coisas.

A mulher no traje biológico deu um suspiro que deixava evidente a sua reprovação à ideia, mas obedeceu: abaixou o rifle e voltou-se para os companheiros, que ainda apontavam as armas para os jovens aglomerados em torno do Honda Civic.

- Abaixem as armas – ela disse.

Eles fizeram o que ela mandou, mantendo o círculo em torno dos adolescentes. Donna não gostou nada daquilo. Aqueles garotos e garotas eram crianças – crianças que não tinham nada na cabeça, tudo bem, mas crianças – e os homens nos trajes biológicos os tratavam como uma ameaça perigosa que, se preciso, deveria ser eliminada.

- Melhor assim? – o homem sorriu e estendeu a mão enluvada para Donna. – Desculpe novamente por chegar desse jeito. Eu me chamo Russel Skies.

Hesitante, Donna apertou a mão dele.

- Oficial Donna Leto.

- Muito prazer, oficial Leto – Skies balançou a mão dela com firmeza e soltou-a. Então voltou a atenção para Brandon. – Você é o rapaz que gravou aquele vídeo, não é?

Brandon não disse nada. Tinha o rosto todo franzido e vermelho, e Donna soube que ele segurava um ataque de tosse. Skies assentiu consigo mesmo.

- É, é você – ele tornou a olhar para Donna. – Oficial Leto, eu vou lhe fazer uma pergunta agora, e é muito importante que você a responda com o máximo de sinceridade. Está entendendo?

Naquele momento, Donna estava tudo, menos entendendo alguma coisa. Sentia-se como se tivesse sido lançada em uma vida que não lhe pertencia, como se fosse uma atriz em um palco de teatro interpretando o papel de Donna Leto.

- Tudo bem – ela respondeu.

- Além de vocês, quem mais esteve aqui?

Ela piscou, perdida, tentando se concentrar nas palavras de Skies.

- Desculpe, não estou entendendo.

- Quem mais esteve aqui, oficial Leto? Nesse lugar? Perto desse buraco? Respirando desse mesmo ar que está entrando agora em seus pulmões?

Uma rápida lembrança passou pela mente de Donna com a rapidez fugidia de um relâmpago: o xerife Torrance dizendo que não deveria tê-la trazido até a floresta porque Donna podia pegar a mesma coisa que ele.

- É uma pergunta bastante simples, oficial Leto – disse Skies.

Donna pensou na noite passada. Todos eles reunidos ali e tirando a garota, Alicia, de dentro do buraco. Ela, Peter, Torrance e o namorado da menina, Frank. Olhou para aquela gente com os fuzis de assalto. Gente que não pensaria duas vezes antes de atirar se o comando fosse dado. Balançou a cabeça para Skies.

- Ninguém mais esteve aqui – ela disse.

- Tem certeza? Pense bem. Isso é importante.

- Tenho certeza.

Através da superfície translúcida do capacete, as sobrancelhas grisalhas de Skies se franziram. Ele ia dizer mais alguma coisa, mas Brandon começou a tossir nesse momento, tremendo como se estivesse sofrendo uma convulsão, uma mão espalmada contra o peito e a outra fechada num punho em frente à boca. Imediatamente, a mulher ergueu o fuzil para ele, e Donna colocou-se entre a arma e o garoto.

- Há quanto tempo você tem essa tosse? – perguntou Skies.

- Vá se ferrar, cara – disse Brandon, desatando a tossir outra vez.

Skies deu um risinho diante disso e tirou do cinto um rádio. Apertou um botão e falou ao aparelho:

- Arlo? Arlo, você está aí?

Uma descarga de estalos e estática veio do rádio, seguida por uma voz:

- Oi, Russel. Estou na escuta.

- Onde vocês estão?

- Aaaah... Pousamos o helicóptero em uma fazenda perto da floresta. Tem bastante espaço aqui. Acho que é um bom lugar para montarmos o laboratório.

Fazenda? Até onde Donna sabia, a única fazenda próxima de Pillowwood era a dos Strawberry.

- Ótimo – disse Skies. – O pessoal de Atlanta já chegou com o nosso equipamento?

- Não, ainda não. Creio que estão chegando.

- Quando eles aparecerem, envie um veículo para cá – disse Skies. – Temos que mover essa gente o mais rápido possível.

Um alarme começou a tocar na cabeça de Donna.

- Mover? – ela disse. – Vocês vão mover a gente para onde?

Skies prendeu o rádio de volta no cinto e deu para Donna um sorriso que tinha a intenção de tranquilizá-la. O efeito foi o contrário.

- Não se preocupe – ele disse. – Vocês serão bem cuidados.

- Nós não vamos a lugar nenhum até você me explicar o que está acontecendo – disse Donna. – Vocês não podem chegar assim, apontar armas para nós e depois nos mover.

Skies encarou-a. Agora seus olhos não eram apenas da cor do gelo: davam a impressão de serem feitos de gelo, cravados em Donna cheios de uma atenção fria e calculista. O tipo de atenção que um cientista em um laboratório dispensaria à colônia de bactérias em seu microscópio.

- Na verdade, oficial Leto, nós podemos.

- Senhor? – a mulher com o fuzil chamou. – Tem alguém se aproximando.

Ela apontou para um ponto entre as árvores. Donna e Skies olharam e viram ao mesmo tempo o xerife Torrance cambalear para fora dos pinheiros. Ah, Deus, pensou Donna. O homem que se arrastava na direção deles estava a quilômetros de distância do sujeito que a pegara em sua casa menos de uma hora atrás. Era como se, durante o pouco tempo em que Donna e Torrance estiveram separados, o corpo dele houvesse decidido entrar em decomposição espontânea. A cabeça careca era uma massa cheia de feridas pulsantes e abertas como crateras vermelhas, das quais sangue escorria misturado a um líquido amarelo. E o rosto de Torrance estava tomado por uma mortalha de veias negras, como se uma aranha saída de um pesadelo tivesse tecido suas teias nas faces dele. Torrance tossia, tossia e tossia, expelindo bolas de catarro escarlate. Um muco esverdeado se acumulava em seus lábios e em seu queixo, pingando em tiras grudentas no chão.

- Torrance – Donna deu um passo na direção dele, mas Skies a agarrou pelo cotovelo. Ela tentou se desvencilhar, e o homem apenas segurou com mais força. – Qual é a porra do seu problema? Ele precisa de ajuda.

- Ele já está morto – disse Skies.

Torrance chamava por ela. Donna, Donna, cadê você, Donna? E isso era o pior de tudo. Donna sentiu as lágrimas queimando seus olhos e puxou o braço do aperto de Skies, mas ele continuou segurando-a. Torrance, cambaleando como um bêbado que tenta achar o caminho de casa, apoiou-se em um pinheiro, curvou-se à frente e vomitou: um jato escuro como piche que formou uma piscina negra aos pés dele, o líquido soltando fumaça.

- Donna, acho que preciso de um médico – ele disse, erguendo para Donna olhos que não passavam de duas lagoas de sangue.

- Torrance – Donna disse. – Torrance, me escute: vai ficar tudo bem. Vou levar você ao médico e você vai ficar bom.

- Clara... – Torrance balbuciou. – Clara, Clara precisa de mim...

Ele girou nos calcanhares e arrastou-se pelo caminho de onde viera, tossindo e tossindo. A mulher com o rifle apontou a arma para as costas de Torrance e disse:

- Senhor?

- Elimine – disse Skies.

Elimine? Como assim elimine?

- Não – Donna conseguiu dizer. – Vocês não... Torrance! Torrance, corra! – ela se chacoalhava para se libertar dos dedos de Skies, mas o aperto era como uma armadilha de urso fechada em seu braço. – Me larga, porra!

Foi Brandon quem veio ao seu socorro. Ele pulou sobre Skies – era quarterback do time de futebol e sabia o que estava fazendo. Atingiu o homem com o ombro, com força suficiente para mandá-lo ao chão como se Skies fosse um pino de boliche. Ele caiu esparramado, e Brandon tropeçou e desabou em cima dele. A essa altura, Donna já corria até Torrance, gritando o nome dele.

Sua voz se perdeu em meio ao som do disparo.

Donna estancou como se tivesse colidido com uma parede invisível. A bala passara tão rente à sua cabeça que ela sentira o deslocamento de ar em sua orelha esquerda. No segundo seguinte, Torrance caiu, a cabeça desaparecendo em uma nebulosa vermelha.

- Alvo abatido – disse a mulher.

Não. Não, ele não estava abatido. Ele tropeçara, só isso. Caíra e logo iria se levantar. Não iria? Fique de pé, Torrance. Por favor, fique de pé. Uma poça vermelha se formava sob o corpo de Torrance. Os pinheiros próximos dele estavam borrifados de sangue e pedaços de outras coisas. Coisas biológicas: tecido, ossos, miolos. Donna tinha desabado sobre os joelhos e nem notara. Ela escutava gritos – os jovens no Honda Civic, mas o som era distante, chegando a Donna como se viesse de debaixo d'água. Uma mão caiu no ombro dela.

- Você mentiu para mim, oficial Leto – disse Skies. – Disse que ninguém mais esteve aqui além de vocês.

Donna ergueu o rosto molhado de lágrimas para ele.

- Vocês não precisavam ter feito isso – as palavras saíam com dificuldade em meio às lágrimas. – Ele tinha uma esposa em casa. Uma esposa doente. E vocês... Vocês...

- Nós fizemos o que era preciso – disse Skies. – Não é um trabalho bonito, eu sei. Ah, não, não – Donna havia levado a mão à calibre .40 no coldre em seu cinto, e Skies segurou-lhe o punho. – Não vamos piorar as coisas, oficial Leto.

Ele tirou a arma do coldre de Donna e enfiou-a em seu próprio cinto. Então puxou Donna pelas axilas, colocando-a de pé e dando tapinhas no ombro dela como se fosse um velho amigo tentando consolá-la.

- Nós vamos cuidar de vocês – ele disse.

- Não – Donna balançou a cabeça e limpou as lágrimas das bochechas com as costas das mãos. – Vocês vão matar a gente. É por isso que estão aqui.

Skies piscou para ela. Seus olhos azuis estavam limpos. Era a primeira vez, Donna percebeu, que o homem falava a verdade para ela:

- Vamos torcer para que não chegue a isso.

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