Luísa:
Fiz o check-in no hotel, peguei um dos quartos do penúltimo andar e informei o nome de Fernanda Marinho, que iriam procurar por ela e que me ligassem. Me identifiquei como delegada federal e informei que era sobre um caso e que era sigiloso. O gerente assentiu com cara de nervoso.
O quarto era grande, tinha um banheiro enorme com jacuzzi e vários produtos para usar. No quarto tinha uma cama enorme, TV e era espelhado. No frigobar haviam cervejas, refrigerantes e outras bebidas, também tinha algumas comidas industrializadas em uma mesa e um balde com champanhe e duas taças.
- Será que invadi um quarto de lua-de-mel? Jesus. - Olhei a marca cara do champanhe. - Porra, espero que não aumente na conta.
Coloquei minhas coisas na mesa, junto com o envelope amarelo e sentei em uma poltrona. Liguei a TV e fiquei olhando, mas não assistindo, estava voando em pensamentos e ansiosa para a sua chegada.
***
Ana:
Estacionei o carro na lateral do hotel e fui andando até entrar no saguão. Uma mulher simpática sorriu quando me aproximei do balcão.
- Fernanda Marinho, ela está me esperando. Me chamo Ana, advogada que ela espera.
- Vou ligar para o quarto, aguarde um minuto,
por favor. - Assenti.
Ela ligou e informou que eu estava lá embaixo. A mulher falou algo e me liberou.
- Pode subir, é o 13º andar, o último quarto do corredor.
- Deus, fique comigo. - Suspirei e a mulher franziu o cenho. - Algum problema?
- A mulher que subiu para esse quarto é bem bonita, acho que não precisa ficar com medo. Bem, eu não conversei com ela.
- Pode me informar como ela é? Tipo, se estava assustada?
- Parecia nervosa e olhava para os lados, subiu com um envelope e tudo. A senhora precisa de algo?
- Não, está tudo bem... Sei me virar. Obrigada.
Coloquei a mão nas costas e verifiquei se a arma continuava ali. Caminhei até o elevador e subi com mais duas mulheres. Apertei o 13º, enquanto elas ficaram no 6º andar.
Parei de frente para a porta e encarei a madeira escura, com 1301. Respirei fundo, ajeitei a arma na cintura e bati porta. A porta abriu sozinha, entrei devagar e a porta fechou da mesma forma, sozinha.
Andei pelo quarto e vi que era bem luxuoso, verifiquei alguns envelopes sobre uma mesa e uma bolsa parecida com uma antiga que eu usava e Luísa estava usando. Meu coração acelerou e imaginei que Maya estivesse ali.
Coloquei minhas coisas sobre a mesma mesa e fiquei olhando para o quarto. A TV estava passando um filme clássico, acho que Bonequinho de Luxo.
Senti mãos ao meu redor e dei um pulo, puxando a arma e apontando para a pessoa. Era Luísa com braços erguidos.
- O que você está fazendo?! - Ela perguntou de olhos arregalados.
- O que você está fazendo?! - Rebati.
Abaixei a arma e coloquei sobre a mesa, aí notei que a dela estava perto de um envelope.
- Não sabia que estava andando armada por aí.
- Eu estava indo encontrar uma mulher que estava com medo, não com minha ex-mulher que não tem medo de nada.
- Não somos ex-esposas, continuamos casadas.
- O que você quer comigo? Você quem inventou esse negócio?
- Tive ajuda do Fernando, mas não fique brava com ele, foi por uma boa causa.
- E o que é a boa causa?
- Trouxe nosso divórcio.
- Boa causa? Se apaixonou rápido pela outra.
- Quero conversar contigo sobre isso.
- Não tem conversa, se tiver algo a ver com os meninos tudo bem, de resto não tem.
Caminhei até a cama, retirei meus sapatos e sentei.
- Descobri algumas coisas sobre a Maya.
- Não me importo.
- Ela está conversando com Diane, por isso que não adianta conversar com a delegada, pois tudo é acobertado. Conversei com Nero e ele está junto comigo, contei do divórcio, ele achou estranho, mas não comentou nada.
Permaneci calada, mas o fato da Diane estar conversando com Maya me deixou surpresa, ou não.
- Depois disso eu resolvi fazer o divórcio. A Maya se formou em Direito, mas é burra para muitas coisas, então eu criei um contrato de divórcio, mas não vamos nos divorciar, é falso e fala monte de coisa aleatória. Nós vamos assinar e vou pedir que ela assine um de casamento, mas esse vai ser um que terá cláusulas que ela afirma tudo o que está fazendo com a gente.
- Com você, comigo está tudo normal. - Falei e ela revirou os olhos.
- Depois vou repassar para o Nero e tudo será resolvido. Eu trouxe os papéis e você pode ler tudo o que coloquei.
Ela pegou o envelope amarelo e me entregou vários papéis grampeados. Peguei receosa e folheei, eu sequer li uma frase, pois não queria fazer parte daquela merda toda. Devolvi a papelada pra ela.
- Não vou participar disso, Luísa.
- A única forma dela acreditar em mim é com essa papel assinado.
Levantei da cama, retirei o relógio do pulso, pois estava apertando, e o coloquei sobre o criado-mudo. Ela me acompanhou com os olhos por todo o quarto, enquanto eu caminhava. Entrei no banheiro e verifiquei uma jacuzzi com alguns produtos. Liguei a torneira para encher e após uns minutos, desliguei, coloquei alguns produtos e voltei para o quarto.
Luísa estava sentada na ponta da cama, encarando a TV. Ela me olhou quando comecei a retirar a blusa social e a calça jeans.
- O que está fazendo?
- Você pegou o quarto com a nossa conta, então vou aproveitar, já estamos pagando tudo mesmo. - Coloquei a roupa sobre a mesa e retornei para o banheiro só com a lingerie.
Retirei o conjunto ao lado da jacuzzi, ficando nau, e entrei. Sentei em um canto e tentei relaxar por apenas alguns minutos. Um tempo depois escutei um barulho e quando abri os olhos Luísa estava entrando, também nua, na banheira.
- Conta conjunta, vou aproveitar da mesma forma. - Disse firme e sentou à minha frente.
Ficamos nos encarando por alguns segundos, até que fechei meus olhos e tentei relaxar mais uma vez.
- Queria ficar com as crianças alguns dias da semana, é possível?
- Sim, depois dividimos isso.
- Por quê tudo depois?
- Estou tentando relaxar e esquecer da minha vida por uns vinte minutos.
Ela suspirou e se calou. Quando abri os olhos, ela estava de olhos fechados, com a cabeça para trás encostada na borda da banheira. Seus seios estavam cobertos pela linha da água e espuma, iguais aos meus.
Notei que estava com algumas olheiras, provavelmente não estava dormindo, e seus ossos estavam à mostra, sua magreza estava bem notória. Senti meu coração apertar ao vê-la daquele jeito. Eu notei quando a encarei no quarto, mas não comentei e estava irritada demais para comentar qualquer outra coisa.
Me aproximei dela e passei os dedos em seus ombros, principalmente onde seu osso estava mais à mostra. Ela abriu os olhos devagar, mas logo voltou a fechar quando me viu lhe tocando.
- Por quê você está mais magra? - Minha voz saiu embargada, falhada.
- Estou me alimentando à base de comida de aplicativo e cerveja.
- Por quê?
- Odeio a casa da Maya e eu quero sair de lá o mais rápido possível.
- Amor, você é delegada, não deveria estar no meio disso tudo, tem tantas outras formas de resolver.
- Repete. - Ela abriu os olhos mais uma vez.
- Você é delegada e...
- A primeira palavra.
Seu olhar encontrou o meu e ficamos nos encarando por alguns segundos. Ela segurou minha cintura e me puxou para cima de seu colo. Nosso corpo molhado chocou-se contra o outro e gemi baixo com o impacto.
- Luísa...
Ela abriu mais os olhos e notei que haviam lágrimas em seus olhos, provavelmente prestes a chorar.
- Por quê está chorando? - Perguntei baixo.
- Tenho saudade de nós. Estou sendo tão burra e...
Segurei seu rosto, forçando que me olhasse.
- Você não é burra, é apenas teimosa, cabeça dura e não me escuta quando sei o que é melhor pra nós. Nem parece que é delegada e professora, parece aquela menina boba que me apaixonei quando tinha 20 e poucos anos e era apenas minha aluna na universidade. Olha quem você é hoje, Luísa!
Ela deixou as lágrimas caírem, tentei enxuga-las, mas minhas mãos molhadas faziam com que seu rosto ficasse molhado. Saí de seu colo e a puxei para o meu. Ela sentou de lado e eu segurei sua cintura, enquanto ela tentava parar de chorar.
- Você é uma pessoa forte e é por isso e outros motivos que eu estou casada com você.
- Casada até assinar o divórcio. - Ela suspirou e tentou sair do meu colo, mas não permiti. - Você vai querer assinar um de verdade.
- Quem disse? - Sorri de lado. - Achei seu plano bem ruim, mas podemos tentar.
- Sério?
Ela abriu um sorriso e lhe puxei, beijando sua boca de uma vez. Ela enfiou a língua rapidamente, travando uma guerra com a minha, enquanto eu apertava sua cintura e ela meu seio.
- Ok, vamos com calma. - Pedi segurando sua mão.
- Ai, Ana, parece que nunca transamos, né?
- Numa jacuzzi não, prefiro a cama. - Sorri e ela me deu um selinho. - Agora falando sério, você acha que seu plano vai dar certo?
- Espero que sim.
- Hum, sabe o dia da nossa briga, que você falou do divórcio? - Ela assentiu. - Fui na delegacia depois de você, o Nero me ligou.
- E aí?
Contei tudo o que falei na delegacia e ela escutou atenciosa.
- Você acha que ele está envolvido com algo? - Questionou.
- Acredito que não, e você?
- Nero é mais profissional que Diane, acredito que ele esteja realmente nos ajudando. Agora todo cuidado é pouco com qualquer outra pessoa que não seja nós duas.
- E pra onde você vai depois que sairmos daqui? Voltar pra casa daquela mulher?
- Preciso continuar bancando a doida que entrou na armadilha ridícula dela.
- Amor, por quê não fica aqui?
- Gosto quando me chama de amor. - Ela segurou meu rosto e me deu um selinho demorado. - Consigo me cuidar.
- Consegue não, olha como está magra e com olheiras! Outra coisa, por mim já teria matado aquela mulher.
- "Delegada mata ex-namorada de sua esposa", seria um ótimo título de matéria de jornal, não acha? Provavelmente vou até sair em jornais americanos.
- Ficaríamos famosas internacionalmente. Gostei da ideia. - Falei rindo e ela me deu um tapa.
- Aliás, fiquei surpresa com você carregando aquela arma pra cima e pra baixo. Teve sorte da polícia não ver isso, sou eu que tenho posse e porte.
- Precisei proteger os meninos e me proteger de qualquer pessoa na rua, e eu não saio com ela todos os dias, eu só trouxe hoje com medo da pessoa que eu iria encontrar.
- Não desconfiou que seria eu?
- Desconfiei quando a recepcionista disse que era uma mulher bem aparentada, então eu fiquei meio receosa de subir e te encontrar, mas depois que ela me contou que era alta, bonita e gostosa, eu vi que não era você e decidi subir.
- Cale a boca, Ana. - Ela me deu um beliscão no braço e um beijo longo em seguida. - Vamos pra cama.
- Faz quanto tempo que não transa? Que fogo, meu Deus!
- Última vez que transei foi hoje cedo com a Maya.
- Meu amor, é mais fácil eu transar com o corno do Fernando, do que você beijar a Maya, você tem ódio mortal dela desde quando descobriu meu antigo namoro com ela. E outra coisa, vou dar uns tapas em Fernando.
- Ele só quis ajudar.
- Claro, me mandando te encontrar.
- Até parece que não gostou... - Ela beijou meu pescoço. - Eu faria tudo de novo. Nunca imaginei que você ficaria assim comigo numa banheira de um hotel depois de toda a semana conturbada.
- Obrigada pelo sanduíche do final de semana, eu estava morrendo de fome.
- Achei que tivesse dito pra jogar no lixo.
- Quem te contou isso? Olha, a Cecília é fofoqueira de mão cheia, viu?
- Foi sua irmã Raquel. - Ela sorriu e eu revirei os olhos.
- Duas cobras. Não ande com elas, Luísa.
Ela riu e nos beijamos mais uma vez. Decidimos sair da banheiro, nos enxugamos em toalhas e me enrolei em um roupão branco, enquanto ela saía totalmente nua me puxando para a cama.
- Eu deveria fazer greve de sexo pra você, sabia? - Falei sendo jogada na cama e ela subindo em mim.
- Você não aguentaria uma semana.
Ela beijou meu pescoço e mordeu meu ouvido, enquanto com uma mão desatava o nó do meu roupão.
O meu celular começou a tocar na mesa e ela suspirou.
- Deixa tocar, amor.
- Pode ser algo com as crianças.
Ela suspirou mais uma vez e se jogou para o lado. Me levantei e peguei o celular. Era um número desconhecido.
- Alô?
- Oi, dona Ana. Aqui é o delegado Nero.
- Oi, Nero.
Luísa deu um pulo da cama e puxou meu celular, colocando-o no viva-voz.
- Preciso que venha na delegacia, prendemos três suspeitos e eles estão relevando algumas coisas.