Teoria da Sincronicidade [CON...

Door _LuisaSV

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Jackie Rivera está no último ano do ensino médio e isso significa que é o último ano para conseguir alcançar... Meer

Sincronicidade
St. Martin
Dedicatória
Epígrafe
0. Prólogo
1. Sanders
2. Trio Infernal
3. Águas Turbulentas
4. Desavenças
5. Sexta Feira
6. Órbitas Enigmáticas
7. Benjamin Rivera
8. Vestido Dourado
9. Olho Roxo
10. Capitão
11. Ryan Willians
12. Gwen e Ben
13. Fim de Festa
14. Macbeth
15. Doces e Travessuras
16. Me Beije
17. Peixinha
19. Vinte e Oito Segundos
20. Bella Notte
21. Mar em Lágrimas
22. Polaroid
23. Festa do Pijama I
24. Festa do Pijama II
25. Coração e o Corvo
26. Jaqueta Vermelha
27. Alyssa
28. Perdão
29. Banheiro Interditado
30. Doces Lembranças
31. Cúmplice
32. Sábado Decisivo
33. Baile de Inverno
34. Últimos Suspiros
35. Pernas Bambas
36. Carta de Coragem
37. Jackie Rivera
38. Epílogo
Leitores
EXTRA

18. The Cure

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Door _LuisaSV


Infelizmente, acordo do meu sono quase profundo quando eu bato a cabeça no vidro do carro pela terceira vez. Depois disso, eu desisto de tentar recuperar o meu atraso dos dias que não consegui dormir direito.

– Jackie, você tem dormindo direito? – minha vó pergunta ao meu lado após me ouvir bocejar e espreguiçar todo o corpo.

– Estou com um pouco de insônia, só isso. – minto com um sorriso e pego a minha vitamina na minha bolsa.

Meu dia sempre começava com a buzina irritante e insistente de Noah, fofocas sendo colocadas em dia, conversas divertidas e cheias de palavrões, mas não hoje. Tinha se passado alguns dias após o acontecimento da festa, em plena quinta feira e eu precisava pedir para minha avó me levar a escola porque eu e meu melhor amigo não estávamos nos falando.

Minha avó tinha percebido isso e, além disso, também descobre que eu ando dormindo mal. Talvez meu sono não esteja em dia por causa dos meus horários que eu tinha mudado desde semana retrasada, tenho caminhado com mais frequência, comecei com algumas aulas de treinamento físico pela internet e natação todos os dias para acabar com todas as minhas forças nadando.

Só sobrava tempo para os estudos a noite e como eu sou extremamente teimosa, eu me impedia de dormir enquanto não terminasse de revisar tudo que eu tinha programado no dia.

– Você e Noah brigaram? – minha avó me aborda sendo curta e direta.

– Talvez... Quando começou a levantar as suas suspeitas? – a desafio, seus cachos brancos sacudindo enquanto ela ri da minha pergunta.

– Domingo – ela responde e olho para ela, com os olhos arregalados – você e eu conversamos muito, Jackie e um dos seus assuntos preferidos, é sobre Noah, pequenos momentos entre os dois que parecem preencher você, que faz você sorrir todos os dias e domingo, depois do seu colega ir embora de casa, eu esperava que me contasse alguma coisa que Noah fez ou falou que a fez rir, alguma coisa da festa, mas não aconteceu nada... E foi isso que me fez suspeitar que tinha sido algo com ele.

– Você é boa – aponto para ela que sorri orgulhosa – nós brigamos na festa, eu... Meio que estou errada.

– Meio?

Eu conto toda a história da minha avó durante o percurso até a escola, ela fica um pouco surpresa com os eventos da festa e quando termino, sem falar da parte do carro com Tyler, ela está ainda meio espantada.

– Talvez eu esteja bem errada – continuo a falar e cruzo os braços em frente ao peito – eu mandei várias mensagens para ele, mas nenhuma resposta... Eu o vejo no refeitório com o clube do teatro, rindo, se divertindo enquanto eu tenho que ficar em um canto emburrada com os atletas. Eu não sei o que fazer, ele não vai me desculpar, ele odeia mentiras e eu fiz exatamente o que ele mais odeia.

– Ele também não foi o mais gentil com você – minha avó aconselha e fica pensativa por um tempo – os dois estão errados, mas isso me fez lembrar uma vez que vocês brigaram, quando ainda eram pequenos, porque você contou ao menino que Noah gostava sobre a paixão secreta que nutria por ele, sem a permissão dele.

– Eu tinha treze anos e não sabia dessa regra, só tentei ajudar eles... Mas deu um pouco errado, uma criança chocada, Noah revoltado comigo e até hoje agradeço o garoto não ter contado nada para as professoras, por ter guardado em segredo, caso contrário... – comento ainda arrependida por tê-lo feito, se os pais de Noah descobrissem sobre a orientação sexual do filho com certeza não estaríamos juntos na mesma escola, como hoje – Eu sou terrível.

– Eu entendo porque ele está chateado, mas não é só por isso – minha vó explica – quando fomos levar você a festa do aniversário do seu namorado, eu e Noah conversamos muito no caminho para a casa dele, já que eu o deixaria lá. Deu pra perceber que Noah não se conecta com a família de jeito nenhum e nem é pelo fato dele gostar de garotos, mas porque são extremamente diferentes... E você, Jackie, é como se fosse a família para ele, a única pessoa que ele confia e colocaria a mão no fogo. Noah é um garoto muito fechado em relação aos seus próprios sentimentos, até você aparecer e ele se abrir de verdade, despejar todas as cores e ser ele mesmo, como deve ser, sem pudores ou restrições. Você é como o sol, o centro de tudo e a coisa mais importante para ele.

Minha garganta se fecha, lentamente, até eu ter dificuldades de respirar e precisar abrir a boca para capturar o oxigênio. Ouvindo outra pessoa falar assim de Noah, doía por conta de tudo que aconteceu.

– Eu errei feio. – declaro por fim, cabisbaixa.

– As pessoas erram, Jackie – minha vó responde – até mesmo você, até mesmo Noah.

– Eu sei, mas não devia, não com o Noah, ele é meu melhor amigo!

– Bom, Jackie, você não sabe se ele vai perdoar você, se não tentar pedir perdão, Jackie – minha vó arruma minha franja – até você pode errar de vez em quando, Jackie, é normal, aceite isso. Está na hora de você aprender e ser corajosa.

– Eu sou corajosa!

– Só com a natação – ela aperta a minha bochecha – com o resto das coisas, você tem a tendência de fugir, ficar calada e sorrir como se nada tivesse acontecido.

Fico paralisada.

– Essa doeu – digo colocando a mão no coração – o que eu devo fazer?

– Procura-lo e pedir para conversarem – ela continua – você não tentou isso, não é mesmo?

– Como você sabe? Tem alguma bola de cristal escondida?

– Você é igualzinha à sua mãe, Jackie! – ela suspira – Vocês duas e o medo de enfrentar de frente o problema, preferindo ignora-los e fingir sorrisos. Por isso que vocês duas sempre preferem pedir desculpas só por mensagens achando que vai resolver tudo, aceitam qualquer desculpa para tudo voltar ao normal! As pessoas precisam de contato, Jackie, mais humanidade e menos tecnologia.

Dou uma risada amarga.

– Você podia falar isso para os meus pais – resmungo – talvez eles lembrem que tem uma filha e tentem uma chamada de vídeo pelo menos uma vez ao mês, que eu tenho certeza que é o máximo que conseguem fazer.

Minha vó para o fusca de repente e vejo que estou de frente ao colégio. Fico encarando a grande estrutura do St. Martin, querendo fazer exatamente o que minha vó disse: fugir, tentar resolver os problemas por mensagens, me escondendo atrás de sorrisos e aceitando qualquer coisa.

– Sobre seus pais, Jackie... – minha vó suspira, tira os óculos de graus e esfrega os olhos verdes rapidamente, um gesto de uma mulher cansada – Eu não sei mais o que dizer para eles, sei que eles fazem coisas grandiosas para a humanidade, mas esquecem de algo importante: você.

– Está tudo bem, vó – sorrio e abro a porta do fusca, pronta para sair e enfrentar mais um dia sem Noah Harris – eu já me acostumei com isso, só estou enchendo o saco, eu tenho o direito.

– E esse é o meu medo, Jackie, por eles, que um dia você se desprenda totalmente dos seus pais, financeiramente, afetivamente, se afaste e crie sua própria família... E eles percebam a filha maravilhosa que perderam, que é um caminho sem volta – minha vó me encara com um sorriso – eu amo você, Jackie.

– Eu também te amo, vó – digo apontando o dedão para cima, um "joinha" para deixa-la tranquila.

– E vá enfrentar o Noah, não vá perder uma amizade tão bonita como a de vocês por causa de uma coisa pequena – ela me dá uma piscadela – boa sorte.

Aceno para a minha vó e vejo ela e o fusca saírem do meu campo de visão. Como eu gostaria de sair correndo atrás da senhora Gwendoline, me enfiar dentro do seu carro e implorar para voltarmos para casa só para não ter que fazer isso.

O problema é que eu não posso fugir disso para sempre, eu ia ter que confronta-lo, uma hora ou outra.

A primeira coisa que eu fiz antes de entrar no St. Martin foi verificar se o carro de Noah estava no estacionamento. Assim que reconheci o Civic preto do meu amigo, entro na escola correndo e saio procurando ele por todos os cantos.

Depois de algumas buscas em todo perímetro daquela escola, encontro a sua cabeleira loira após alguns minutos desnorteada atrás dele.

– Noah? – digo alto o suficiente para ser ouvida por todas as pessoas no corredor.

Noah olha para trás e me encara, pasmo. Quando nossos olhos se cruzam, eu simplesmente saio correndo atrás dele. Pensei que conseguiria falar com ele, mas o maldito saiu correndo também. Eu o segui, sabendo que iria alcança-lo porque eu era a atleta da nossa dupla.

Quando estou prestes a alcança-lo, eu paro de imediato quando fico frente a frente com o banheiro masculino.

– Espertinho. – suspiro cansada

Ele tinha entrado e não sairia tão cedo.

Meu celular começa a vibrar. Uma mensagem de Vanessa. Olho para os lados e digito os números para fazer uma ligação.

– Eu vi você perseguindo o Noah? – Ryan diz assim que atende a minha ligação, viro para trás e a alguns metros de distância, eu o encontro encostado no próprio armário, fingindo que estava pegando alguns livros.

Ele seria um péssimo ator, principalmente por me olhar diretamente, mesmo fingindo que não era comigo.

– Ele está me ignorando – respondo para Ryan e fico encostada perto da porta do banheiro... Se Noah queria brincar disso, iriamos brincar – não respondeu minhas mensagens e agora que tomo coragem para falar com ele ao vivo, ele foge.

Dou uma espiada e vejo Ryan olhar para o teto com os olhos fechados, provavelmente se culpando.

– Me desculpa, Jackie. – Ryan diz logo em seguida – Eu não queria que isso acontecesse, é tudo culpa minha. Tentei falar com ele ontem, mas fui ignorado... Ele estava tão bravo, falou que se eu parecesse na frente dele mais uma vez, iria contar para todo mundo sobre sábado depois de furar os meus olhos.

– É a cara dele falar esse tipo de coisa. – respondo rindo, mas logo minha felicidade desaparece.

Eu estava com saudade do meu melhor amigo, arrependida por ter falado aquelas porcarias para ele. Noah e Jackie contra o mundo inteiro, inseparáveis. Apesar de ter planejado toda a minha vida, eu não tinha certeza se conseguiria, nada era concreto, exceto a natação e minha amizade com Noah Harris.

– Queria ajudar você nisso, mas... – Ryan suspira – Eu não estou em posição de fazer alguma coisa, ele me odeia.

– Me odeia ainda mais por mentir para ele e ter falado algumas merdas pesadas.– massageio a testa arrependida, o sinal toca e eu amaldiçoo o St. Martin inteiro por me obrigar a sair do meu posto, Noah me conhecia o suficiente para saber que eu não me atrasaria para nenhuma aula – Eu tenho que ir.

– Tudo bem, se eu puder ajudar com alguma coisa, não hesite em pedir.

– Tudo bem, obrigada – digo olhando uma última vez para o banheiro masculino, quase pensando em pedir para Ryan tira-lo de lá a força, mas ignoro a ideia – e boa sorte para mim, porque vou precisar, como nunca.

Minha ansiedade acabou afetando na minha concentração nas aulas. Eu bolava planos para me encontrar com Noah, deixa-lo sem saída a não ser me ouvir. Meu dedão ficou todo roído por causa disso e minhas notas iriam despencar se eu não resolvesse isso logo e prestasse atenção nas aulas.

Na hora do intervalo, quando saio da aula de álgebra eu dou de cara com Tyler. Se eu estivesse um pouco mais distraída ia acabar trombando nele bem feio. Ele está com um grande sorriso no rosto. Eu até estaria feliz por ser o motivo de tanto bom humor, mas não estava com cabeça para isso.

– Tyler – suspiro desejando por um segundo que ele fosse Noah – estava me esperando.

– Talvez – ele está com ambas as mãos para trás do corpo, tento dar a volta para tentar ver o que ele escondia por trás do corpo, mas ele consegue me impedir se virando para o outro lado.

– O que você tem ai? – ele dá uma risada com a minha curiosidade – Vamos, Tyler, você sabe que eu odeio surpresas.

– Odeia, mas vai amar isso daqui... – ele me entrega um pacote e eu fico boquiaberta quando vejo a sigla do McDonalds na sacola parda – Milk-shake grande de chocolate, cheddar extra e duas batatas.

Agarro o pacote e o abraço como se fosse a coisa mais preciosa do mundo. Ele descreveu exatamente o meu pedido favorito, que sempre faço a ponto dos funcionários que me conhecem já saberem o que eu vou pedir antes mesmo que eu abra a boca.

– Para mim? – digo ainda desacreditada, ele acena positivo enquanto deixa o braço descansar em meus ombros e me levar em direção ao refeitório – Onde encontrou tempo para comprar?

– Vamos dizer que peguei detenção de novo por ter me atrasado para comprar isso pra você. – ele tosse e endireita o corpo – É um dos jeitos de dizer que eu sinto muito de novo por causa da festa, por ter sido agressivo.

Tyler e eu estávamos falando bem pouco após sábado, mas agora ele tinha arranjado um jeito de me conquistar.

– Está me comprando? – arqueio a sobrancelha.

– Comprar é uma palavra muito forte. – ele tenta se defender e mexe nos fios claros que estavam penteados para trás.

– Mas é a palavra ideal para esse momento – rio conseguindo pegar algumas batatas.

– Aliás, eu estou ficando com uma fama de alcoólatra bizarra pelo St. Martin depois da festa de sábado, estava falando com Sierra e Logan e eles concordaram quando perguntei se fico agressivo quando bebo demais, os momentos que sempre acontece em nossas brigas, então vou dar uma parada para... Não sair do controle. Infelizmente não posso abrir mão de maconha, uma droga de cada vez.

Paro de comer de imediato para poder observar Tyler, abismada, esperando ele rir e dizer que era piada. Pela sua seriedade, não estava brincando.

– Tudo bem, gostei de ouvir isso, não vou negar – sorrio satisfeita com suas palavras.

– E Noah?

– Sem respostas – suspiro cansada – ele está me ignorando.

– É, eu percebi ontem enquanto você encarava a mesa do clube do teatro como se estivesse prestes a chorar – ele constata meio sem graça e franze o cenho – eu só queria saber qual foi o motivo da briga.

– É um segredo dele, Tyler – minto descaradamente, me odiando muito por ter que recorrer a histórias falsas a contar para ele sobre Ryan, que me pediu segredo – mas uma coisa é certa: eu estou errada, nós dois erramos.

– Eu queria poder ajudar você nisso, ter alguma experiência para guiar você, mas eu, Logan e Sierra nunca tivemos uma briga realmente feia – Tyler comenta – já tivemos algum desentendimento, uma vez que eu fui embora de uma festa e deixei Logan para trás, o macarrão que caiu no vestido branco de Sierra e eu e Logan rimos por acidente... Ou também a vez que Logan atrasou e perdemos o ônibus para uma excursão, teve outras coisas, mas nunca foi algo tão sério assim.

– Não foi algo... Pequeno desse jeito que dá para esquecer e lembrar depois com boas risadas – suspiro terminando de comer o primeiro pacote de batas, ofereço uma para Tyler, mas ele nega – ele disse coisas de mim e eu fiz o mesmo com ele.

– Fale com ele. – Tyler propôs.

– É o que eu estou tentando... Ou pelo menos acho que estou tentando.

No refeitório me sento novamente com os jogadores do Red Falcon. Enquanto comia o meu cheddar duplo, eu pensava em várias maneiras de pedir desculpa para Noah, apesar do dia estar deprimente, estar comendo fez com que eu sentisse um pouco melhor.

Meu namorado me trouxe esse lanche, graças a ele, eu estou me sentindo melhor e mais feliz.

Tyler e eu estávamos bem, de certa forma, eu o havia perdoado tão facilmente por ter gritado comigo na festa daquela maneira, pelas suas ações, jogando meu copo no chão com violência, porque me culpava constantemente por estar pensando... Na pessoa errada.

Lá vamos nós de novo, pensamentos errados.

– Eu tenho que parar com isso. – digo segurando meu rosto com as duas mãos – Foco, Jackie, esquece isso.

– Esquecer o que?

A voz do culpado pela minha falta de concentração surge de repente.

Meu próprio corpo reconhece a voz e reage de imediato, tremendo sem a minha autorização. Logan tinha se sentado ao meu lado, minha pele esquenta e eu desejo apenas a morte. Sierra aparece de repente, ficando a nossa frente, ocupada demais em seu celular para prestar atenção em nós.

– O trabalho de química – Tyler, ao meu lado, se vira para Logan e entrega o pen drive para ele – minha parte está feita.

– Eu realmente espero que ela esteja feita, Tyler – Logan responde debochado – é trabalho em grupo, sabe? A não ser que queira me pagar para deixa-lo perfeito.

– Não me tente, Sanders – Tyler diz brincalhão e infelizmente é obrigado a voltar para a conversa quando um dos garotos começa a falar dos jogos que se aproximavam, a tensão no ar e a pressão do treinador.

Péssima hora para o Tyler conversar com os amigos, principalmente com Logan ao meu lado.

– E então? – Logan levanta as sobrancelhas para mim, perto demais para o meu gosto – O que você quer esquecer?

Você.

Abaixo minha cabeça lentamente até a mesa, deixando a testa grudada na superfície lisa e com os braços ao meu redor para impedir que qualquer pessoa veja o meu rosto vermelho tomate.

Eu não acredito que eu tinha pensado nele.

Principalmente agora! Eu estava saindo do controle!

– Ela e o amiguinho brigaram – ouço a voz da Sierra no meio da minha meditação de desintoxicação de pensamentos errados – o Nick.

– É Noah. – corrijo sem tirar a minha cara da mesa.

– Tanto faz – Sierra rebate suspirando impacientemente – só peça desculpas logo, eu não aguento ver você com essa áurea triste e sem graça, mais do que o usual.

– O que? – levanto a cara abismada com a sinceridade brutal e ácida de Sierra.

Sierra está com um sorriso irritante nos lábios, talvez mais azeda que as outras vezes... Isso me faz pensar na teoria de Noah que Sierra gosta do meu namorado, se são melhores amigos e se Tyler contou a ela sobre o que aconteceu em seu carro... Fazia até sentindo estar mais debochada que o normal hoje.

Eu até me sinto mal por isso, talvez porque no seu lugar eu estaria da mesma forma: com ciúmes.

Ou eu estou delirando, nunca se sabe.

– O que aconteceu de tão ruim assim entre vocês? – Sierra continua com seu humor irritante – Dramático do jeito que ele é, tenho certeza que foi por causa de alguma coisa inútil.

– Não foi inútil. – Tyler se pronuncia para me defender.

– Foi por causa do que, então? – Sierra me encara atrás de alguma resposta mais concreta do que as minhas lamentações – Se quer desculpas dele, boa sorte, com certeza vai precisar se ajoelhar para conseguir, Noah tem cara de ser exigente, pobrezinho.

– Não fala assim dele, droga. – disparo brava com Sierra que sorri ainda mais quando vê que conseguiu me provocar.

– Ele está ignorando ela, Sierra – Tyler diz e percebo que ele está irritado com a amiga, vejo as veias do seu pescoço saltarem por causa disso – algo que você faz também, com mais frequência que o necessário, por coisas bem menores e fúteis.

As palavras de Tyler atingem Sierra de uma forma que eu nunca tinha visto antes. Acho que nunca vi Sierra surpresa e pasma como vejo agora, os olhos dela brilham em fúria por causa do comentário.

– Quer falar sobre isso, Tyler? – a garota devolve com o tom de voz bastante agressivo.

– Noah gosta de filmes, musicais, não é? – Logan interrompe aquela discussão, Tyler encara o amigo com uma interrogação enorme no rosto – Se quer chamar atenção dele, faça algo grande.

– Tipo o que? – Tyler ri da proposta de Logan – Como uma declaração de amor desses filmes de comédias românticas?

– Eu não falei declaração de amor, mas algo para chamar atenção – Logan defende seu ponto de vista.

– Para alguém que odeia romances, você está muito romântico, Logan – Tyler dá uma risadinha – Está apaixonado? E tem haver com uma certa garota chamada Carla?

– Cala essa boca, Tyler – Logan responde e começa a acertar o meu lixo em Tyler.

Os dois começam a debater sobre o assunto, entre risadas e brigas encenadas de dois amigos infantis, um jogando lixo no outro. A cena faz meu coração apertar ainda mais. Eu queria estar como eles, eu e Noah se provocando entre sorrisos e risadas.

Penso um pouco mais sobre o que Logan e Tyler tinha dito sobre algo grande, sobre comédias românticas. Algo épico, algo que Noah sempre me diz é que ele quer deixar sua marca no mundo, fazer algo de incrível.

E eu sabia exatamente o que fazer, algo que seria a cara do Noah.

Confiro o horário em meu celular e vejo que eu tinha exatamente vinte minutos para fazer tudo acontecer, depois disso, o sinal iria soar e eu só teria uma outra chance no dia seguinte. A tentação de deixar para outra hora é grande, mas afasto esse pensamento e mando uma mensagem para Ryan com o seu codinome, Vanessa. Ele responde instantaneamente.

Incerta sobre o que eu faria, eu digito:

Preciso da sua ajuda, urgentemente. Acho que sei como fazer Noah me desculpar.

***

Eu estava cometendo um tremendo erro, mal acreditava que a ideia pertencia a mim.

– Isso é uma péssima ideia. – murmurei comigo mesma sentindo meus olhos lacrimejarem por causa do glitter.

– Ainda pode desistir... – Madison diz meio hesitante ao meu lado, me ajudando a me arrumar – Mesmo eu querendo muito ver isso.

Eu tinha poucos minutos até o sinal tocar anunciando o fim do almoço. Entretanto, com ajuda do grupo do teatro e Ryan, eu ia conseguir, só me faltava um pouco de coragem.

As portas para a saída estavam trancadas. Todo mundo estranhou, até uma música começar a tocar por todo o refeitório.

A música tinha sido um arranjo feito por Ryan que transmitia a voz da Lady Gaga por todos as caixas de sons que só serviam para anúncios entediantes e controle do sinal no St. Martin. Como ele consegui se infiltrar nisso, era um mistério para mim.

Assim que a música The Cure, da Lady Gaga, começou a tocar eu surjo na entrada do refeitório. Eu estava com as fantasias do grupo do teatro, levei cerca de dez minutos para me trocar, agora estava com uma roupa toda branca estilo discoteca, com direito a calça boca de sino bem espalhafatosa, meu sutiã de renda preto, bem escondido pelo blazer. Glitter por toda a minha cara bem escondida, graças aos óculos escuros que consegui com um calouro para ignorar todos os rostos surpresos.

Assim que eu surjo na entrada, todos me encaram enquanto eu dublava a Lady Gaga com um microfone que não funcionava. A vergonha me consumia por inteira, pensei que seria capaz de morrer de infarto com tanto desespero que seria transformado em batimentos cardíacos mais acelerados.

Todos me deram espaço para continuar andando, completamente descalça e quando cheguei à mesa do grupo do teatro, Noah estava boquiaberto.

So baby tell me yes and i'll give you everything... – continuo com a interpretação e subo em cima da mesa do grupo do teatro – I will be right by your side!

Tiro um pouco de glitter rosa de dentro do meu blazer branco e jogo ao arredor de Noah.

If I can't find the cure, I'll fix you with my love! – aponto para ele e a outra mão fica pousada em meu coração – No matter what you know, I'll fix you with my love!

Rodopio e caio de joelhos na mesa para ser mais dramática. Arrasto-me pela superfície enquanto eu continuava a cantar, fazendo a minha melhor performance de Lip Sync.

And if you say you're okay, I'm gonna heal you anyway! – levanto, ainda em cima da mesa e atinjo o ápice da empolgação da música durante a minha performance – Promise I'll always be there, promise I'll be the cure!

Aquela música foi a favorita de Noah por três meses seguidos, da sua cantora favorita. Lembro que na época ele até fez uma coreografia para a música e eu fui obrigada a aprender junto para que ele pudesse aperfeiçoar ao me ver dançar.

Eram movimentos de dança contemporânea e outros passos agitados que puxava para o pop. Além disso, eu estava imitando o seu programa favorito: RuPaul Drag Race, drag queens com roupas fantásticas que combinavam perfeitamente com suas performances de músicas famosas. Vi duas temporadas inteiras com Noah, então eu tinha aprendido alguma coisa sobre. Só não tinha conseguido uma maquiagem para entrar na personagem, nem uma peruca bonita no grupo do teatro, então só baguncei meu cabelo e me vesti o melhor possível.

Quando cheguei no refrão pela segunda vez, Noah tinha tampado a boca com uma das mãos, mas eu sabia que ele sorria e aquilo fez com que eu me animasse e continuasse.

– O que está acontecendo aqui? – ouço um grito dos professores – Jackie Rivera!

Não penso duas vezes.

Saio de cima da mesa e saio correndo entre os alunos, quando estou prestes a chegar na porta da saída, dou de cara com um professor que surgiu do nada, com os braços cruzados e uma expressão nada amigável.

Pelo menos eu tentei.

Eu esperava um final feliz para todos os acontecimentos. Noah iria adorar a surpresa, iria me abraçar, voltaríamos a ser melhores amigos e depois tudo voltaria a normalidade. Entretanto, o resultado foi pior do que o esperado.

Fui direto para a sala do diretor pela primeira vez na vida, detenção por três semanas depois da aula. Tentei chorar e explicar toda a situação, mas gastei minha saliva e lágrimas atoa, fui mandada a ponta pés para fora da sala com a minha advertência e obrigada a trocar as minhas roupas.

Depois da aula, fui para a sala de que seria a detenção e Tyler estava lá. Ele sorria debilmente, vendo a namorada sair da linha pela primeira vez na vida. Fiz questão de sentar à sua frente, de costas a ele, para não ter que ter que ficar vendo seu sorriso debochado e tentar me mostrar uma excelente aluna para o professor responsável pela sala.

Quem sabe eu fosse liberada antes por bom comportamento.

O tempo passou mais rápido do que eu tinha imaginado, talvez porque metade do tempo, eu estava cochilando, lutando contra o sono e tentando sorrir para que o professor se simpatizasse com o meu sofrimento. Tyler me esperou sair da sala para poder me acompanhar, fiquei até grata.

Quando chego perto do meu namorado, outros alunos saíram da detenção e me encararam com risadinhas depois do show que eu dei no refeitório no horário de almoço.

– Quer que eu soque esses imbecis? – Tyler pergunta quando dois garotos que se afastam.

– Está tudo bem... Eu acho. – respondo, repensando na sua proposta.

– E não sei porque estão rindo, foi uma bela apresentação – ele comentou e acho que até que fiquei feliz em ouvir isso – exceto pelo sutiã a mostra.

– Tyler. – reviro os olhos com seu comentário.

– Aposto que ficaria da mesma forma se eu saísse desfilando sem camisa. – responde humorado e beija a ponta do meu nariz – Quando você fará uma apresentação dessas para mim? No dia dos namorados, talvez?

– Espere sentado porque é a primeira e última vez que faço esse tipo de coisa.

– Sabe do que eu estou me recordando agora? – Tyler se manifesta e eu continuo com a minha áurea de enterro com o dia horrível – Lembra que nós apostamos sobre você e detenção?

– O que exatamente?

– Eu apostei que você iria para a detenção em algum momento do ensino médio e você apostou que não – ele deu uma risada diabólica que me fez rir de nervoso, meu riso aumentou ainda mais quando ele me cutucou em lugares sensíveis – parece que temos um ganhador entre nós.

– Você é um idiota, sabia disso? – digo rindo e quando encaro meu namorado – O que você quer, campeão?

Ele dá um sorriso capcioso e passa a língua pelo lábio inferior de um jeito extremamente sexy que me faz lembrar de sábado, em seu carro.

– Com esse olhar, eu já posso prever o que é. – respondo por ele.

– Eu só estava brincado. – ele se defende e puxa o cós da minha calça para ficarmos mais próximo enquanto andamos em direção ao saída do St. Martin – Sobre isso, sei que vai parecer estranho mas não conversamos sobre... Aquilo que aconteceu no carro, na noite do Halloween.

Sinto um nó se formar na minha garganta.

– Não era o que eu tinha imaginado para a nossa primeira vez, dentro de um carro, no meio do nada. – ele bagunça o cabelo, meio envergonhado – Apesar disso, da situação toda, eu queria estar ali com você, sentir sua pele contra a minha, sua respiração em meu ouvido.

Fico vermelha da cabeça aos pés, sentindo um calor inexplicável em pleno outono.

– E espero que tenha sido uma primeira vez digna, tirando o fato de ter sido no banco de trás do meu carro. – responde debochado.

– Foi bom, não era o que eu tinha em mente, mas foi melhor do que eu tinha imaginado. – dou um sorriso pra ele.

– Podemos repetir a dose quando você quiser, só falar quando e aonde.

– E se eu não tiver um lugar...? – eu o provoco.

– Não é difícil encontrar um. – ele roda o dedo em pleno ar – St. Martin, por exemplo, é um lugar cheio de esconderijos para isso, posso levar você por um tour pelo colégio para poder conhece-los melhor.

– Prefiro a versão romântica do Tyler. – falo enquanto eu dou bofetadas em seu braço e ele ri.

– Eu posso ser qual versão você quiser. – Tyler declara de repente e me dá vários beijos nos lábios – É só você pedir.

Eu sorrio com o que Tyler tinha dito. Não era comum ver Tyler Cornell falar aquele tipo de coisa para uma garota, sua fama no passado prescindia o fato. Agora, ele estava completamente mudado, por minha causa. Seguro o rosto de Tyler e o beijo, grata por ele estar ali para mim.

Fico ainda mais convicta que Logan seria apenas uma lembrança ruim em minha mente e meu plano em junta-lo com Carla ainda não tinha acabado, só estava começando.

Solto-me de Tyler e quando me viro, vejo que Noah está a alguns metros de distância, escorado em um dos armários mexendo no celular, naquele corredor completamente abandonado. Sei que ele não tinha ensaios com o clube do teatro, teria que ter outra razão para ele ainda estar no colégio.

– Acho melhor deixar vocês a sós, para fazer as pazes – Tyler me dá um selinho e ajeita a mochila no ombro – até mais

– Até mais. – respondo com um sorriso pequeno.

Tyler passa por Noah, o cumprimenta com um sorriso e um soco de leve em seu braço. Noah faz o mesmo com meu namorado e balança a mão como se tivesse socado uma pedra. Dou um sorriso e me aproximo do meu melhor amigo.

– Oi. – digo engolindo em seco.

– Oi. – responde de volta – Como foi a detenção?

– Uma tortura.

– Posso imaginar.

– Nós podemos conversar? – indago, desesperada – Só um pouco e depois eu deixo você em paz.

Noah mexe no cabelo loiro e me responde ainda com o sorriso em seus lábios.

– Quer carona para o clube? Acho que está atrasada.

Aceno positivo e acompanho meu amigo até o seu carro.

– Obrigada por me esperar – digo a Noah após colocar o cinto de segurança, ainda me sentindo um pouco tímida perto dele.

– Depois do show que você deu no refeitório, acho que você merecia – ele diz bem humorado, as sardinhas dançam em seu rosto com a careta – mas só alguns minutos.

– Se eu não tivesse sido interrompida, teria ganhado mais?

– Claro, aqui avaliamos o tempo de acordo com o tempo de apresentação da performance.

O caminho até Spring Water foi um total silêncio, mas foi delicioso. A janela estava aberta e o vento frio atingia o meu rosto de forma suave, ele tinha colocado uma playlist mais animada, o volume abaixado. Noah cantarolava a música baixinho, batendo os dedos no volante para acompanhar o ritmo, como fazia quando me buscava em casa para irmos para a escola. O clima estava leve e completamente diferente da atmosfera tensa que se formou entre nós dois após a briga, o último dia em que estávamos frente a frente um do outro.

– Então...? – Noah se vira para mim com os olhos azuis divertidos – Estou escutando.

Minha vó tinha razão. Eu estou acostumada a fugir de confrontos, tinha medo de receber uma resposta negativa, de ver as coisas saírem dos meus planos, tanto que nesse momento, eu estava com medo de falar algo de errado e piorar ainda mais a situação.

Queria voltar no tempo e negar a sua carona, tudo para não ter que encara-lo.

– Me desculpa, Noah. – despejo minhas palavras, finalmente, sentindo meu corpo inteiro tremer – Me desculpe por não ter falado do Ryan para você, me desculpa por explodir e falar um bando de idiotices, eu não queria dizer aquilo. – engulo saliva, tentando achar mais palavras para poder me expressar, mas eu não era tão bom quanto ele nesse quesito – Você é o meu melhor amigo, é a pessoa mais incrível que eu conheci, você é inteligente, engraçado, bonito e carinhoso e eu...

Dou um sorriso para tentar amenizar o meu discurso. Noah continua sem expressão, não demonstrava nada enquanto dirigia, o desespero sobe até a minha bile e eu continuo a falar.

– Eu não sei o que seria de mim hoje sem você – digo sentindo meus olhos marejarem, enquanto falava, lembrava de cada momento meu e Noah, da nossa amizade, das nossas confusões e risadas – Eu não consigo imaginar a minha vida sem você, Noah, você é meu melhor amigo, você é minha família e eu preciso de você e eu faço qualquer coisa, qualquer coisa mesmo para você me perdoar por ter mentido, por ter falado aquelas coisas.

O carro de Noah para de repente, quando vejo, estamos bem na frente ao clube. Não sei se devo descer, se devo espera-lo a se manifestar. Essas incertezas me consomem, de uma forma muito perturbadora, porque eu odiava esse sentimento, essa ansiedade, de não saber o que fazer, como proceder com os desvios inesperados dos meus planos bem arquitetados. Quando coloco a mão perto da porta, ouço Noah desfivelar os cintos.

Olho para o meu melhor amigo e vejo que ele está virado na minha direção, com os olhos vermelhos. O azul mar dos seus olhos estavam transbordando e caindo em forma de lágrimas pelas suas bochechas.

– Você faz qualquer coisa? – ele desafia, fungando sem tentar impedir as lágrimas de caírem.

– Qualquer coisa! – concordo com a cabeça sentindo meu corpo amolecer ao vê-lo sorridente.

– Então se quer tanto meu perdão – ele diz jogando o cabelo para o lado, sem limpar os olhos sequer uma vez, uma vitória para mim, porque Noah Harris não era um garoto de chorar em frente a outras pessoas – eu preparei uma lista de músicas para as suas próximas performances no refeitório, porque eu realmente amei aquilo tudo.

Dou uma risada e ele me chama para um abraço. Deixo com que seus braços me apertem, vendo que eu tinha sentido falta dele, mesmo que por alguns dias.

– Pensei que nunca mais falaria comigo de novo – suspiro aliviada quando ele me solta – toda vez que eu via você com o clube do teatro, sempre estavam rindo e se divertindo.

– Eu sou um bom ator, eu sei... Só estava fingindo, porque no fundo, eu sentia falta de uma nadadora gulosa e irritante que alegrava os meus dias no inferno chamado St. Martin.

Sorrio para ele.

– Você não sabe o quão aliviada eu fico em ouvir isso.

– Eu sei, é o mesmo para mim – Noah continua – e eu devo me desculpar também pelo que eu disse sobre você.

– Tudo bem, é um pouco de verdade.

Ele dá uma risada.

– Eu fui grosseiro com você, errei também, sabia que devia um pedido de desculpas a você, só estava teimando e fingindo que eu estava certo por completo – diz por fim, as mãos de Noah vão até as minhas bochechas e começa a aperta-las – Nunca mais vai mentir para mim, combinado?

– Combinado. – aceno positivo – Sobre Ryan, Noah eu...

– Nada de Ryan. – ele me interrompe – Quero esquecer aquela festa, tudo bem? Foi um desastre.

– Tudo bem, mas só queria dizer que ele só estava tentando se aproximar, ele não queria brincar com você nem nada. – explico a ele, que me ouve atentamente – Ele é um cara legal, só pediu segredo porque ninguém sabe que ele gosta de... Garotos.

– Estamos no século vinte e um, é mesmo necessário tanto sigilo?

– Nem todos estão no século vinte e um ainda, Noah, você sabe disso. – respondo a ele – Só quero que tudo fique bem entre nós.

– E está. – Noah pega minha mão e a aperta – Eu não me importo com Ryan, o que me afetou foi você ter mentido para mim, porque você, Jackie Rivera, é a única pessoa nesse mundo que eu confiaria a minha vida, a única que eu confio completamente... Saber que você escondia tudo aquilo de mim foi meio chato e você sabe que eu odeio essa coisa de arranjar garotos para Noah Harris.

– Eu sei que foi. – sussurro lembrando da minha avó falando sobre Noah e o que eu era para ele, praticamente o seu tudo.

– Amanhã vamos voltar a sofrer na mesa dos atletas, dessa vez, juntos, combinado? Senti falta de poder alfinetar Sierra.

– Combinado, senti falta de você alfinetar Sierra, é a melhor parte do meu dia. – sorrio após ouvi-lo rir – Acho melhor eu ir, antes que Barbs me estrangule.

– E eu preciso da minha amiga inteira amanhã no refeitório para a próxima apresentação. – ele dá uma risada e destranca o carro para mim.

Saio do carro com um sorriso gigante nos lábios, me despeço de Noah e entro saltitante no clube. Dou uma boa tarde para Chiara, quando vejo Logan de costas para mim, me apresso para não ter nenhum pensamento impróprio que o envolva.

Quando chego aos vestuários, tudo parece estar em perfeita harmonia. Eu e meu melhor amigo estávamos bem. Talvez não tenha sido uma briga que seria capaz de separar dois melhores amigos, mas foi uma quebra de confiança entre anos de amizade e recuperar aquilo fez meu peito ficar mais leve.

Ao trocar minhas roupas pelo maiô, vejo Bárbara entrar.

– Boa tarde, Bárbara! – digo, ajeito a alça maiô escuro e vejo que ela não sorri – Como você está?

– Bem. – ela diz se encostando nos armários – Vi você chegar, está atrasada e... Sorridente.

– Eu sei. – respondo dando risada – Eu estava na detenção, mas não se preocupe, estava lá por uma causa nobre, estava tentando pedir desculpas para Noah, você sabe que brigamos no sábado.

Bárbara não diz absolutamente nada e isso me deixa um pouco aterrorizada, ela só faz essa cara quando está prestes a dar uma notícia horrível. Estou acostumada em vê-la reclamando pelo meu atraso, cobrando pontualidade, tentando desviar das minhas gracinhas, nunca desse jeito. Ela deveria estar, nesse exato momento, falando sobre a detenção, furiosa, como uma verdadeira mãe decepcionada ao ver a filha ir para a primeira detenção na vida, sem aceitar qualquer justificativa.

Entretanto, ela não diz nada e isso me deixa aflita.

– Aconteceu alguma coisa? – me manifesto após um tempo, sentindo uma pontada de preocupação.

– Precisamos conversar sobre um assunto sério. – ela se senta num dos bancos esticados entre os armários.

Aquela frase acaba com toda a minha estabilidade psicológica que batalhei para ter, é o tipo de frase que seria capaz de destruir um dia feliz, ou quem sabe, a minha vida toda.

– Qual é o problema? – digo com um pouco de medo do que viria a seguir.

– O problema vem acontecendo faz algumas semanas, queria falar com você sobre – ela diz com voz baixa e um pouco dura – eu venho notado uma mudança durante os treinos, Jackie, você está exagerando, muito.

Um alívio percorre pelo meu corpo. É apenas isso. Não tem nada de aterrorizante, como o cancelamento da minha inscrição nas nacionais, eu tinha teorizado essa hipótese segundos atrás antes dela revelar o motivo da sua preocupação.

Bárbara gosta de um suspense, eu deveria avisa-la a não fazer isso mais comigo e evitar um ataque cardíaco em uma garota jovem e ansiosa.

– Lembra-se do que eu sempre digo? – ela continua a falar enquanto eu procuro os meus óculos de natação – Tudo é equilíbrio, Jackie, pouco treino não faz um atleta avançar e melhorar, mas muito treino é pior ainda, desgasta o corpo todo e perturba a mente, podendo até prejudicar a sua saúde.

– Eu sei, Bárbara. – digo dando nos ombros e querendo encerrar aquela conversa para poder começar o treino o quanto antes – Eu não estou exagerando.

Barbs treme e as rugas da sua testa franzem ainda mais, seus olhos são duas órbitas de pura raiva. É oficial, ela está furiosa agora.

– Semana passada eu vi você indo embora precisando de apoio da parede, eu vejo sua perna tremer antes de cair na água, quando falo com você, está se cobrando além do necessário. – seu tom de voz é áspero e acusatório, ela arqueia a sobrancelha, ainda mais estressada – Não fique se pressionando, Jackie, conversamos muito sobre isso, principalmente quando começou a nadar aqui, isso não faz bem a você. Sei que as qualificações das nacionais é algo real agora, não apenas um sonho e é um momento importante para você, sei que deve estar sentindo a pressão a cada dia, mas precisa relaxar, diminuir os treinos, descansar sempre que pode... Eu posso ajudar você com isso, mas precisa falar comigo, se abrir para que possa me ouvir de verdade e seguir os meus conselhos, caso contrário, se não me ouvir, será uma conversa jogada fora.

Levanto do banco e ajusto a touca em cima da minha cabeça, escondendo a franja insistente. Alongo os braços e respiro fundo. Bárbara é quem está exagerando, se preocupando demais comigo.

– Estou em semanas de provas, só isso – insisto com um sorriso nos lábios, para que ela não se preocupasse, eu tinha tudo sobre controle – está tudo bem, Barbs, não se preocupe.

– É... Queria eu não me preocupar tanto. – ela se levanta, pronta para voltar para as piscinas – Eu realmente espero muito que esteja tudo bem, Jackie.

Notas da Autora :

O capitulo demorou um pouco mas, para a nossa felicidade, saiu e com mais palavras do que eu havia imaginado, também para compensar essa pequena demora minha em postar. Espero que tenham gostado, principalmente a cena do refeitório que eu amei fazer *-*

Votem no capitulo se gostaram, por favorzinho, e comentem sobre o que estão achando, por favorzinho, ajuda demais a autora, principalmente nessa minha fase de bloqueio criativo hehe

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Acompanhem a trilha sonora de TdS : Spotify é só buscar por Tds, criada por Ella S. V. (facinho de achar)

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