Ana:
- Maya!? Não acredito! - Nos abraçamos. - O que faz aqui no Brasil?
- Vim resolver umas coisas da minha família, um tio faleceu e deixou parte da herança em testamento para mim. Ah, fiquei sabendo de uma seleção de professores daqui, me inscrevi e estou aguardando o resultado.
- Sim, a minha noiva também está inscrita na seleção. - Respondi e tomei um gole do meu suco. - Você está casada com a francesa?
- Sim, ela está lá com as crianças, estamos analisando como seria uma tentativa de morar aqui no Brasil, a herança ajudou muito, mas preciso saber da seleção.
- Entendi... Eu preciso ir, tenho que dar aula. - Falei enquanto sentia meu celular vibrar no bolso da calça.
- Me dê seu número, vamos marcar alguma coisa, o que acha? Pelos velhos tempos na Espanha. - Ela sorriu.
- Hum, pode ser. - Digitei meu número em seu celular e salvei o contato. - Foi ótimo te rever, Maya.
- Igualmente, Aninha. - Ela beijou meu rosto e saiu.
Retornei para o bloco terminando meu suco e fui direto para a sala. Quando ia iniciar a aula, peguei o celular no bolso para colocar sob a mesa e vi a mensagem de Luísa perguntando se eu queria ir almoçar com ela.
Respondi rapidamente que sim e comecei a segunda aula. Após terminar, tirei as dúvidas e desci a rampa, indo direto ao estacionamento. Dirigi até o escritório e quanto estava próximo, mandei mensagem avisando que estava chegando.
Luísa entrou no carro e me deu um selinho rápido.
- Hum, que felicidade é essa?!
- Uma audiência foi marcada, vou advogar pela primeira vez perante o juiz! - Falou rindo. - Estou nervosa!
- Calma, amor, quando é a audiência?
- Já na próxima semana, estou ansiosa.
- Relaxe, você vai conseguir. - Beijei sua mão e continuei a dirigir.
Chegamos no meu restaurante favorito e sentamos em uma mesa ao centro. Fizemos os pedidos e Luísa puxou o celular, tirando uma foto minha.
- Ai garota, estou horrorosa! - Reclamei prendendo o cabelo em um coque japonês, estilo Tiago Iorc.
- Você é linda! - Ela levantou a taça e sorriu. - Hoje é nosso aniversário de namoro.
- Que?! - Arregalei os olhos enquanto brindava com ela. - Eu esqueci!
- Ana, não acredito! - Ela cerrou os olhos e fez bico. - Tudo bem, eu não faço ideia de quanto tempo estamos juntas, mas ficamos a primeira vez no dia 20, sendo assim todo dia 20 é nosso dia!
- Amor, mil desculpas, mas com as coisas da faculdade e do casamento, estou ficando atarefada.
- Casamento?! Sério?
- Pensei que eu fosse pegar pouca coisa, mas realmente tudo dá trabalho. Aliás, precisamos saber o destino da nossa lua-de-mel.
- Primeiro vou decidir nosso destino, né? A pessoa que esqueceu o dia 20?! - Ela disse estalando a língua e olhando para o outro lado.
- Ei, você é a pessoa que eu mais amo, nós temos todos os dias juntos. Eu sei que dia 20 é o nosso dia, mas mil perdões por esquecer. - Segurei sua mão e pisquei. - Além do mais o dia não terminou, ainda temos a tarde e a noite para comemorar.
- Preciso voltar ao escritório.
- E eu a faculdade, inclusive tenho aulas à noite. Que droga!
O garçom serviu nosso jantar e saiu. Começamos a comer em silêncio.
- Acho que vou entrar hoje na academia. - Luísa comentou enquanto separava alguns passas da comida.
- Hum, posso passar pra te buscar? Que horas acha que termina?
- Vou pegar carona com a Paloma, ela está de carro novo e quer dirigir para todo canto. - Assenti devagar.
Fiquei calada, pagamos a conta e retornamos ao carro.
- Ei, quando tiver saindo do escritório me diz. - Pedi e ela assentiu antes de descer.
Suspirei e fui para casa. Maria estava lavando roupas quando entrei, fui direto ao quarto, troquei de roupa e fui ao escritório trabalhar. Ao fim da tarde, voltei a colocar a roupa, peguei minhas roupas e aproveitei para deixar Maria no terminal de ônibus, metade do caminho para a casa dela.
Cheguei na universidade e mandei mensagem ao meu monitor, pedindo ajuda imediata. Logo ele surgiu na minha sala do tutorial acadêmico.
- Oi, professora.
- Querido, precisarei de você nesses dois horários. Aplique esse trabalho para as turmas, tenho compromisso sério e não vou poder ficar. Mil desculpas por ser tão em cima da hora.
- Tudo bem, estou sem aulas.
Entreguei o material a ele e o dispensei. Fiquei ainda um tempo no tutorial, até que Luísa mandou mensagem avisando que estava indo para a academia com Paloma. Um tempo depois, saí do trabalho, passei em um restaurante e comprei sushi, retornei para casa e ajeitei a mesa de centro da sala para comermos.
Tomei um banho, coloquei uma lingerie provocativa e um camisetão por cima, fingindo costume de estar com blusa masculina e velha em casa. Fiquei mexendo no celular jogada no sofá a esperando. A porta abriu e quando olhei, ela entrou com uma toalhinha na mão e roupa de academia.
- Hum, parece gente indo malhar. - Comentei e ela franziu a testa enquanto trancada a porta.
- O que faz em casa? Pensei que fosse dar aula.
- Você tem dez minutos para tomar banho enquanto eu ajeito tudo, você demorou muito.
- Já volto. - Ela piscou e correu ao quarto.
Terminei de ajeitar o que faltava e ela retornou do quarto com um pijama de porquinhos.
- Advogada, né? - Falei e ela riu. - Vem, estou morrendo de fome.
- Malhei à toa? - Perguntou sentando ao meu lado.
- Você não precisa malhar. - Ela me encarou e apontou o buchinho. - Eu gosto da sua barriga de cerveja, chopp e sanduíche.
- Ai, não fale isso. - Ela bateu em minha coxa.
Ficamos comendo sushi enquanto conversávamos sobre nosso dia e um pouco de histórias da época de criança. Quando terminamos, a puxei para um selinho.
- Amor, preciso te contar quem eu vi hoje. - Eu disse antes que ela descobrisse.
- Quem?
- A Maya. - Ela franziu a testa, confusa. - A mulher com quem eu morei na Espanha.
- E com quem você transou e teve um relacionamento não oficial, pois não foi nomeado de namoro. - Ela disse como se estivesse ensaiado o dia inteiro. - Eu sei, ela está aqui na cidade.
- Como sabe?
- Ela visualizou todos os meus stories de hoje, inclusive o seu no restaurante mais cedo.
- Seu perfil está aberto? - Ela assentiu.
- Só achei estranho e abri o perfil. Vi que morava na França, tem uma mulher linda e dois filhos, acho que é um casal e a última foto era aqui no Brasil com a família, mas sem os filhos e a esposa. - Luísa virou o copo de suco e me encarou. - Ela voltou de vez?
- Não, veio visitar a família e resolver algumas coisas.
- E o que ela estava fazendo na universidade? Ela estava lá ou vocês se viram em outro canto?
- Ela foi lá, mas eu só a vi na lanchonete, eu fui comprar comida e a encontrei, na verdade ela me encontrou. Conversamos o mais breve, trocamos o número e eu voltei ao trabalho.
- E como ela soube de mim?
- Eu mencionei que estava noiva e ela deve ter ido fuçar minhas coisas e te encontrou. - Luísa franziu a testa e fez uma careta. - Por favor, não banque a ciumenta.
- Tenho motivos?
- Não, e nem quero que arranje. - Terminei meu suco e a puxei para colar nossos corpos, puxando ao meu colo.
- Espero que eu não veja algo para arranjar motivos. - Comentou séria.
Puxei seu rosto e beijei seus lábios devagar, sentindo o sabor do suco que ainda estava ali. As mãos de Luísa apertaram minha cintura, puxando minha blusa um pouco para cima.
- Está de cinta-liga? - Perguntou entre o beijo enquanto tateava minha coxa e puxava a cinta, soltando-a contra minha pele.
- Não gosta? - Perguntei segurando seu rosto contra o meu.
- Quando ela está atrapalhando meu caminho ao seu corpo não. - Ela sorriu e me empurrou para o tapete, ficando por cima. - Depois terminamos nossa DR.
- E aquilo era DR?
- Eu falei depois... - Ela me deu um selinho e puxou minha blusa para cima, retirando-a. - Era isso que escondia por debaixo da roupa?
- Uma lingerie? Sim.
- E um buchinho de cerveja e pizza. - Ela comentou enquanto beijava meus seios. Belisquei seu braço e ela mordeu meu mamilo, me fazendo gemer. - Sou eu quem mando.
- Desde quando?
- Desde quando esqueceu nosso aniversário de namoro. - Ela revirou os olhos e voltou a brincar com meus seios.
***
Luísa:
No dia seguinte, acordei dolorida por conta da noite. Tomei banho, coloquei um macacão longo laranja, uma rasteirinha brilhosa, peguei minha bolsa e deixei um bilhete no balcão para quando Ana acordasse. Desci para a garagem e fui trabalhar em meu carro.
Quando cheguei ao escritório, conversei um pouco com a estagiária e fomos colocar o serviço para andar. Durante um intervalo que tirei para tomar um ar, encomendei um buquê de rosas na floricultura ao lado do escritório, escrevi um recadinho e coloquei entre as rosas vermelhas, entreguei o endereço, paguei e retornei ao trabalho.
***
Ana:
Acordei com barulho na cozinha, então imaginei que fosse Maria. Levantei, fiz toda a higiene, coloquei uma calça jeans bem escura, uma blusa branca e um pequeno salto. Tomei um café que Maria havia feito e li o recado sobre o balcão da cozinha.
"Bom dia, meu amor. Tenha um ótimo dia. Amo você. L."
Guardei o recado na minha carteira e fui para o trabalho. Entrei na sala do tutorial e encontrei Cecília, ficamos conversando e trabalhando, atendendo alunos e resolvendo coisas da universidade.
Jeff, o secretário, me telefonou e disse que tinha uma visita para mim. Pedi que entrasse, imaginando que fosse Fernando, porém Maya entrou. Ela usava um vestido longo e preto, com flores bem coloridas na barra.
- Surpresa! - Ela disse fechando a porta.
- Oi, Maya! - Falei abraçando e Cecília me encarou de olhos arregalados. Ela se tocou quando falei o nome da mulher. - Como está?
- Estou ótima! Vim bater um papo, está muito ocupada?!
- Não, mas não posso sair daqui. - Falei tentando não me distanciar de alguém próximo e ir sozinha com ela. - Aliás, essa é Cecília, professora, uma grande amiga e namorada de Raquel, a minha irmã.
- Oi, prazer! Sou Maya, estudei com Ana na Espanha. - Cecília assentiu sorrindo.
Ficamos conversando sobre sua vida na França, ela contou o processo de adoção, do casamento e Cecí contou como foi sua relação inicial com Raquel. O telefone tocou mais uma vez e Jeff disse que era uma encomenda para mim.
Um rapaz jovem entrou carregando um buquê de rosas vermelhas e chamou pelo meu nome.
- Não creio... - Sussurrei e assinei o papel. - Obrigada, moço.
Coloquei as rosas sobre minha mesa e encarei aquele lindo buquê.
- Sua noiva é realmente romântica. - Cecí disse piscando para mim.
Olhei o bilhete que estava entre as rosas e nele havia escrito:
"Serei a pessoa menos romântica quando falar que estou dolorida e você sabe o motivo... Mas amo você, amei a surpresa ontem a noite. E se você esquecer nosso dia mais um vez, eu arranco a sua língua fora. L."
Em meio a sorrisos, mandei uma mensagem para ela pelo WhatsApp:
"Amo você e amei a surpresa. Estaremos para sempre juntas, conte comigo para tudo. Ah, não arranque minha língua fora, assim não terá quem te dê prazer. Se continuar dolorida, mais tarde faço a dor passar. Te amo xx"
Luísa respondeu com várias figurinhas engraçadas de corações e bloqueei o visor. Cecí e Maya estavam conversando sobre alguma coisa, então voltei a trabalhar ainda mais feliz por ter Lu em minha vida. Um tempo depois, Maya foi embora e ficamos mais à vontade.
- Ana, olha isso. - Cecí disse mandando um link por e-mail. - É o resultado da seleção, apenas algumas pessoas foram convocadas.
- Sério? Quem foi convocada para a área trabalhista?! - Perguntei ansiosa e já abri o documento.
Apenas três pessoas haviam sido selecionada para a área:
Antônio;
Luísa;
Maya;
- Meu Deus, a Lu precisa passar! - Falei para Cecí.
- Só tem uma vaga, Ana, ela tem que se preparar.
- Eu sei, mas são quatro fases, não?
- Nem lembro mais, vou procurar saber e te digo. - Cecí voltou a encarar a tela do computador.
Meu celular vibrou com duas mensagens, uma de Luísa e outra de Maya.
Luísa: "AMOR, EU FUI SELECIONADA PARA FAZER A PROVA DOS PROFESSORES!!!!!"
Maya: "Passei para a seleção! Se não torcer por mim, ficarei chateada! 🤣 Vamos sair antes disso, bebê."