Nove Meses Para Sempre

Por Ami_ideas

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[Série Amor Fora de Época] Eleanor tinha apenas nove meses para se manter longe da sociedade que a acusaria d... Mais

Sinopse + Casting
Prólogo
I - Uma Dama Inesperada
I.I - O Primeiro Mês
I.II - Um Homem Difícil
I.III - Além do Castelo
I.IV - Um Toque de Gentileza
II. O Segundo Mês
II.I - Uma Lady A Frente do Tempo
II.II - Uma Tarde Agradável
II.III - Um Lord Displicente
II.IV - Alvorecer
II.V - Uma Prosa À Dois
III - O Terceiro Mês
III.I - Alhos e Bugalhos
III.II - Afronta Às Gotshalg
III.III - O Passado da Condessa
III.IV - Improváveis Acontecimentos
III.V - Uma Promessa
IV - O Quarto Mês
IV.I - O Tempo
IV.II - Logros Incontornáveis
IV.III - A Hora da Reflexão
IV.IV - A Resposta Por Dentro
V - O Quinto Mês
V.I - O Piso Proibido
V.II - Um Baile (Des) Encantado
V.III - Uma Noite Mágica
V.IV - Amor (Em Guerra)
VI - O Sexto Mês
VI.I - A Epidemia
VI.II - Dias Difíceis
VI.III - A Condessa de Champnou
VII - O Sétimo Mês
VII.I - Indelével
VII.II - Elipse
VII.III - Duas Cartas
VII.IV - A Intrusa
VII.V - Duas Condessas
VIII - O Oitavo Mês
VIII.I - A Sala das Rosas
VIII.II - Sinestesia
VIII.II - Sobrevivência
VIII.III - Desaire
VIII.IV - Retratação

VI.IV - A Redenção das Sogras

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Por Ami_ideas

- Para existir uma exímia admiração é preciso mostrar o avesso de nossas almas. Não há nenhuma outra razão para sermos donos de tamanha distinção se falsearmos aquilo que somos apenas para satisfazer as massas. Não seremos apreciados por todos, mas aqueles que se dignarem a tal acto, devem se vergar ao menos plausível de nosso âmago para que o brilho seja apenas um resultado de tamanha estupefacção.

_____________________◊◊______________________

            

               Os olhos verdes a analisaram com muita calma – de baixo para cima – num silêncio fulcral. A sala de estar era alegre, com paredes claras que eram auxiliadas pela luz que entrava pelas janelas grandes com os cortinados cremes abertos. Tudo ali possuía tons claros, desde as mobílias às tapeçarias, salve a senhora mais velha que se encontrava sentada na poltrona trajada de um vestido preto cheio de rendas na bainha, nos pulsos e na gola alta. Os quadros pendurados representavam as várias fases de reis antigos e ilustrações religiosas, assim como as pequenas esculturas de Santos. Uma criada estava parada ao lado da senhora sentada – cujos fios brancos estavam presos por um pequeno gancho de brilhantes – e estava de dedos entrelaçados enquanto tentava disfarçar a emoção que sentia em completo contraste com aquela a quem servia há anos.

— Devo confessar que não contava com nenhum visitante. — Finalmente se dignou a falar, após pousar a xícara de porcelana por cima da mesa de madeira muito bem organizada cujos guardanapos pareciam ter sido dobrados numa fábrica.

— Senhora minha mãe...

— Pois perdoe tamanho atrevimento. — Neide cortou John e aquilo não passou despercebido aos olhos da mulher que apenas pestanejou ao de leve, mostrando exatamente de quem o filho tinha herdado os longos cílios. — É certo que John terá insistido, mas não deverei dedicar a culpa como unilateral, tendo em conta que rapidamente concordei. Teria sido de bom-tom um aviso prévio.

— Pois teria. — Lady Rinley concordou. — Gosto de estar preparada para o que seja, no entanto não irei ignorar que esta também é a casa do meu filho. Quem quer que traga para cá, será de igual modo muito bem-vindo.

— Não esperaria nada menos. — A brasileira respondeu e analisou com atenção a expressão no rosto das duas mulheres que a encararam com perplexidade. — E é claro que me encontro agradecida pela vossa recepção, embora acredite que não seria nada menos que uma obrigação de qualquer anfitrião.

— Como deve imaginar, senhora minha mãe, esta não seria uma simples visita. — John não tinha muita paciência para conversações e preferia ir direto ao ponto. Tanto que pousou a mão firme por cima do ombro da mulher que fazia seu peito acelerar o movimento de sobe e desce.

— Terei chegado a esta conclusão. — A mãe tinha um pequeno queixo redondo que estremeceu ao de leve, mas o rosto enrugado continuou impávido e o aperto dos lábios rosados demonstrava o esforço que fazia para tentar sorrir. — Não gosta do chá?

Neide percebeu que a pergunta lhe tinha sido dirigida porque ainda segurava a xícara em suas mãos. Tinha perdido tanto tempo a analisar tudo ao seu redor, principalmente por sentir que, ao contrário do que esperava, aquele lugar transmitia uma paz incrível. A última vez que havia experimentado tal sensação, tinha sido com seu irmão Sales na fazenda onde moravam no Brasil.

— Pode ter a certeza de que se não tivesse do meu agrado, expressaria — respondeu e encontrou os olhos castanhos da criada de queixo quadrado que indicou que além de governanta, provavelmente seria a responsável pela cozinha.

— Frontal. — Lady Rinley entrelaçou os dedos, exibindo apenas uma joia no dedo anelar com uma grande pedra verde cujo reflexo parecia alternar a tonalidade de acordo com a luz que recebia.

— Senhora minha mãe. — John estava impaciente e de cenho unido. O traje militar acompanhado do semblante lhe dava um ar naturalmente autoritário, mesmo sendo o mais novo naquela sala. — Devo me apresentar ao exército em alguns dias, como muito bem sabe, pelo que precisarei de vossa bênção quanto a minha união com a Neide.

A brasileira levantou a cabeça num ápice para encontrar o rosto do jovem Capitão e sem querer entornou a xícara sobre o belo vestido azul-escuro. Levantou-se no mesmo instante.

— Há-de de me desculpar por tamanho desastre — pediu e começou a limpar com o guardanapo que a criada prontamente a entregou. — Agradecida...

— Senhora Ferney. — A mulher alta respondeu enquanto ajudava a minimizar o ocorrido numa rapidez invejável. — Aposto que um licor viria em melhor grado.

— Certamente.

A sala ficou em silêncio e a senhora Ferney arregalou os olhos, as bochechas pintaram de encarnado e se afastou com um sorriso amarelo até parar novamente ao lado da poltrona.

— Terá sido uma brincadeira de mau gosto de minha parte. — A governanta se desculpou e baixou os olhos, mas John se mostrou irritado no mesmo instante e caminhou em passos pesados como se as botas pudessem esmagar o chão, até alcançar um dos armários de onde tirou uma garrafa e serviu num pequeno copo de vidro.

— Sei que deveria recusar para que tenha uma boa impressão de minha parte, Lady Rinley, mas há-de compreender que serei tudo, menos falsa. — Neide recebeu o pequeno copo e bebeu um gole curto. — Agradecida, John.

Outro silêncio invadiu o espaço e apenas se escutou o chilrear de alguns pássaros lá no vasto jardim que ficava na parte frontal da belíssima mansão. Lady Rinley foi a primeira a falar depois de refletir por uns instantes.

— Se alguma coisa, o meu estimado filho há-de ter aprendido comigo, é que não se deve enrolar os momentos desta vida como um novelo de lã. John foi criado com princípios básicos, na maioria das vezes, rígidos, devo admitir, mas sempre com a maior educação. Não se faria a qualquer dama sem que tivesse as mais bem quistas intenções. — Pigarreou um pouco e balançou a cabeça. — Estará óbvio para todos, que Lady Amâncio é uma mulher madura, com poucos anos à frente e, que, pelo que posso constatar fala por si própria. Seria esperado que algum familiar se fizesse presente.

— Sou órfã.

— Lamento. — Lady Rinley deixou uma prece baixa. — Se fará parte de nossa família, presumo que deixará de se sentir de tal forma. Não entenda a minha pessoa como compreensiva, porque de momento não o sou de todo, mas sei que nada do que possa dizer fará com que meu filho mude os anseios, pelo que não é necessário perder tempo com contra argumentos.

— Poderia imaginar, pois quando conheci o vosso filho pude escutar exatamente o traçado de uma mulher que consideraria ideal, mas devo adiantar a vossa pessoa que não só cuido de meus próprios negócios, como sou separada e muito pouco saberia bordar, tocar ou cozinhar. — Neide adiantou o assunto e prendeu um sorriso quando viu a criada a fazer um sinal da cruz com rapidez para disfarçar a risada que a acometeu.

A mãe de John engoliu em seco e olhou para o filho que a fitava com calma.

— Filhos?

— Nenhum. Ainda prefiro as crianças de outrem.

Lord Rinley sabia que seria necessário deixar que ambas digladiassem, mas podia ler o desapontamento no rosto de sua mãe e mesmo a saber que seria de tal forma, parecia um pouco mais doloroso do que esperava.

— A Neide é muito mais que o comum. Não borda, mas ajuda os pobres. Não cozinha, mas é justa com todos e ensina crianças a ler e escrever. Não toca nenhum instrumento musical, mas o som do vosso sorriso toca muitas almas. Não é nada do que um dia poderíamos esperar, mas é tudo o que mais necessito. — As palavras adocicadas destoavam do tom rude e seco, não havia suavidade nenhuma nos orbes verdes e frios.

— É certo que jamais poderiam esperar uma pessoa como a minha. Até porque serei única — redarguiu e percebeu o espanto indignado no olhar da mãe do Capitão.

— Apesar de acreditar serem qualidades indispensáveis, nada disto me importa até porque ambos têm posses para comprar o que seja. E faz tempo que deixei de esperar muito de quem quer que seja, sequer pressuponho ou deduzo, de tal modo evito decepções — afirmou. — Ao menos posso sossegar por avistar a vossa cruz no pescoço de Lady Amâncio?

O Capitão trincou os dentes e ergueu o queixo.

— Oh! — Neide apoiou a mão no peito. — Não sigo religião alguma.

A mãe de John ficou estática alguns momentos e não disfarçou o choque em seu semblante.

— Poderei questionar como pretendem realizar a cerimónia do vosso matrimónio? — Não deixou de questionar.

— Pelo civil. — John não parecia satisfeito de todo. A mãe coçou o queixo e empalideceu.

— Há-de desculpar tamanho atrevimento, mas é de meu interesse descobrir se amai o meu filho? — Ela indagou.

— Bom... — Lady Amâncio pareceu hesitar. — Amor seria uma palavra muito forte, mas compreenda que até então terá sido algo desconhecido para a minha pessoa em relação a um homem que ultrapassa o fraternal. A ter certeza de que nunca senti nada igual, poderei permitir afirmar que o seja.

Lord Rinley tentou não se mostrar afetado ante aquelas palavras, mas o rosto ruborizou por completo, ainda mais quando a senhora Ferney lhe sorriu.

— Poderia dizer que devo me contentar com isto, mas não cabe a minha pessoa. — Lady Rinley parecia ter engolido a xícara, pois a garganta se mostrava de alguma forma encalacrada. — Se vos terei feito tal pergunta, é porque decerto a vossa perspicácia já teria entendido que a nossa família é deveras religiosa. Para John abdicar de contrair matrimónio na igreja, por respeito a vós, fica claro o sentimento que o compõe. E a Lady Amâncio, estaria de igual modo capacitada de abdicar de vossas convicções em detrimento de quem ama?

Neide não queria, mas os olhos castanhos-claros brilharam diante daquela mulher de ar antipático. Em nenhum momento se tinha mostrado afetuosa, mas tampouco vil. Era apenas evoluída o suficiente para colocar suas observações sem guerrear com golpes baixos.

— Ninguém nos terá proibido de realizar das duas formas — concluiu, e o suspiro que o futuro marido exalou, a fez pestanejar porque não tinham ainda realmente debatido sobre aquilo. Percebeu que ele tinha colocado as suas crenças em segundo plano apenas para não obrigá-la a ultrapassar as dela. Sentiu orgulho.

— Quero que fique com isto. — Lady Rinley puxou o anel com a joia verde e brilhante do seu dedo. — O avô de John teria dado para a avó como prova de amor.

— Não poderia aceitar. — A brasileira meneou a cabeça.

— É de família. Acredite que não foi dado a minha pessoa com o maior dos sentimentos, nada mais seria justo que John continue aquilo que o avô paterno teria um dia começado. — Insistiu com um olhar ainda distante, mas os lábios estreitos demonstravam o vislumbre de um futuro sorriso.

John apertou o ombro dela, sem esconder o orgulho por presenciar aquele momento, mas percebeu que a amada hesitou antes de colocar a joia rara em seu dedo.

— Por que teria aceitado receber este anel quando sabia que estava desprovido de sentimentos profundos? — Não conseguiu evitar perguntar e percebeu que tinha cruzado um limite quando a mulher a sua frente se recostou melhor na cadeira e a senhora Ferney arregalou os olhos.

— Nem todos possuímos as mesmas características que a vossa pessoa, Lady Amâncio. Algumas de nós nasceram para obedecer os princípios aos quais foram impostas. Acredito que tenha a noção disso. — Foi vaga na resposta, mostrando que não estava disposta a ir mais a fundo.

— Foi por esta mesma razão que renegou Eleanor? — Neide ainda segurava o anel no meio de suas mãos e não se moveu quando sentiu toda a tensão crescente na sala que mentalmente passou a chamar de "mágica" pelas sensações especiais que a transmitiam.

A senhora Ferney estava visivelmente constrangida quando pediu licença e se retirou no mesmo momento com a desculpa de recolher a loiça que estava por cima da mesa de madeira.

— Mãe...

— Sirva-nos mais licor, John, por favor. — Lady Rinley pediu, sem nenhuma aspereza.

— Mas a senhora minha mãe não bebe! — Ele exclamou, encruado.

— Há muitas coisas pelas quais julguei nunca fazer, mas vide onde nos encontramos de momento — observou. O filho acenou em respeito e se afastou mais uma vez em direção ao armário.

Neide sorveu o que restava do pequeno copo.

— Há-de convir, Lady Amâncio, que a minha pessoa não tinha nenhuma obrigação de renegar ou não, a filha bastarda do senhor meu marido.

— Eleanor é o nome.

— Que seja — concordou e soltou um suspiro. — Não posso comentar sobre o vosso outro casamento, mas como mulher deve ao menos ter a consciência de que amar sem ser retribuída é uma dor profunda. A maior das minhas boas vontades não conseguiria conviver com o fruto de um amor que nunca por mim foi experimentado. Antes egoísta do que hipócrita, nunca terei julgado a minha pessoa perfeita e esta é uma de minhas falhas.

— Longe de mim julgar a vossa pessoa — disse e agradeceu quando John encheu o seu copo. Aguardou que servisse a mãe que também agradeceu. — Mas a Eleanor não teria culpa alguma.

— Nem eu.

As duas concordaram com a cabeça e bebericaram um pouco do licor, só então a brasileira colocou o anel em seu dedo e soltou um suspiro. Tinha pensado que talvez fosse ser uma conversa bastante horripilante e, não podia negar o quanto estava enganada.

— É de meu maior agrado vir a fazer parte desta família, no entanto, agradecia que para tal inserção, eliminássemos todas as formalidades. Gostaria que me tratasse por Neide.

— Como quiser. Não é algo que me cause maiores transtornos. — A senhora pousou e olhou para o filho. — Poliana.

— Teria o atrevimento de chamar a vossa pessoa de Polly, mas tenho certeza de que ainda não seja a altura. — Neide comentou e os lábios se encurvaram.

— Exacto! — Quando Lady Rinley se levantou, a brasileira fez o mesmo de imediato e os três ficaram em pé. — Creio que estejam exaustos.

— Deveras. — John parecia aliviado. — Tivemos que tratar dos remédios para enviar antes de finalmente nos encontrarmos aqui descansados.

— Vou mandar preparar os vossos aposentos. Em separado, pois não permitirei perversões por baixo do meu teto, pelo menos não enquanto não tiverem contraído matrimónio. — Poliana foi esclarecedora e lhes concedeu uma vénia.

— Estou estafada. — Neide retribuiu a mesura.

— Deverás fazer uma visita de cortesia a Lord Parker, neste momento há que esquecer as desavenças. De algum modo, foram eles que cuidaram de vossa estimada irmã. — A mãe ditou. — Como bem hás de verificar... Neide, existem certos sentimentos que são naturais sem a necessidade de os forjar. John sempre amou Eleanor.

— Ela é a pessoa mais amável que tive o prazer de conhecer, Poliana.

— Acredito que sim. — Ela estendeu a mão para o filho que prontamente se aproximou para a beijar. — Tendes a minha bênção.

Eleanor já tinha se lavado, trocado de roupa e se alimentado – tudo às pressas – e agora estava diante do quarto onde tinha ficado quando chegara no castelo. A bandeja com comida intocada e agora rançosa ainda estava por cima do criado mudo, um de seus casacos por cima da cama e as cortinas se encontravam ligeiramente abertas. Seus olhos grandes analisavam tudo com atenção, pois acabava de matar a esperança que ainda insistia em permanecer como uma negação. Olhou para cima, a fim de avistar Camden que a tinha acompanhado até ali.

— Precisarei ir para Londres — decidiu com um aperto que a esmagava com tanta força e a impedia de respirar com facilidade.

No. — Ele negou prontamente. — Não estais em devida condição de prosseguir viagem. Prometo que depois que vos recuperares do parto, irei acompanhar a vossa pessoa até lá.

— Como irei conviver com tamanha dor? — Os olhos dela voltaram a ficar molhados e respirou com amargor.

— Sobreviverás. Believe me — pediu que acreditasse nele e apoiou uma mão por cima do ombro dela. — Irei fazer de tudo para que vossa dor minimize até então.

— Eu confio cegamente na vossa palavra. — Eleanor se voltou de frente para ele e mergulhou dentro dos olhos cinzentos.

— Isto pode ser perigo, my love — brincou com um sorriso suave. — É sempre bom manter a mente alerta nestes casos.

— O amor pode ser tal como uma ampulheta, senhor meu marido, porque enquanto o coração enche, a mente se esvazia.

— Inspirador. — Segurou na mão dela e a levou para fora dali, entrelaçando os dedos nos seus. — Pedi que chamassem o padre para realizar uma oração em nome da senhora Parker.

— Muito me confortarás o coração de tal modo.

— Ainda há mais.

Eleanor caminhava ao seu lado pelo corredor, podia sentir um misto de alegria por vê-lo recuperado ao mesmo tempo que a dor pela morte de Catherine a consumia. Tal como um arvoredo com suas ramificações, cada uma a pender para um lado. O cheiro do marido amortizava as sensações que a corrompiam quase como morfina.

— E poderei saber de que se tratará?

— Tenho um presente para a vossa pessoa. — Camden disse enquanto procurava roubar um sorriso que fosse dos lábios que amava. — Comprei-o há algum tempo, não hás-de pensar que é forma de agradecimento por tudo o que fizestes aqui neste castelo aquando da epidemia.

— Não fiz mais do que um ser humano que se preze, faria.

— A senhora minha mãe deveria estar a escutar tais palavras. Morreria para ver o que diria right now. — Não deixou de tirar proveito mesmo que a calmaria de sempre não revelasse muito.

— Não é com alegria que me lembro que a senhora minha sogra ainda cá se encontra. — Eleanor não conseguiu esconder o desconforto. — Peço perdão.

— Jamais deverá desculpar-vos por ser sincera, principalmente diante de mim, please. Julguei que já tivéssemos ultrapassado esta parte. — O Conde lhe deixou um olhar apaixonado.

— E quanto ao presente?

— Há-de lembrar quando o vosso irmão, Lord Rinley, se fez presente neste castelo para vos ofertar um dote pela primeira vez? Penso que terá mencionado que não conseguiu reaver a propriedade onde cresceste com Lady Parker.

A Condessa sentiu um solavanco e parou de andar. Os dois estavam muito próximos da porta que os levaria a sala principal, mas o rosto dela pareceu ficar mais do que estupefacto. Arregalou os olhos.

— Eu comprei a propriedade.

— Não posso crer.

— E esta vos pertence. Nada mais no mundo me apraz do que devolver a vossa pessoa as lembranças de uma infância. — Camden segurou o rosto redondo e os olhos a desenharam com um desejo incontrolável. — Understand me; Não é nossa. É apenas vossa e em breve a poderá visitar.

Eleanor piscou numa tentativa falha de segurar as lágrimas que caíram. Aquele lugar era a sua melhor definição de casa da qual poderia se lembrar até então, pois todo um conjunto de memórias formadas começava ali. O abraçou num ímpeto, sentia o coração a bater na própria boca e ainda estava incrédula enquanto o apertava contra si.

— O quanto vos poderei amar ainda mais? — Indagou, trémula. — Será possível ser dona de tamanha sorte por vos ter ao meu lado?

— Eu regozijo de maior felicidade, my love. — Camden se afastou o suficiente para poder beijar os lábios carnudos e não segurou um gemido.

— Como poderia vos agradecer? Eu...

You are my wife! — Asseverou. — E tudo em minha pessoa a vós pertence. Sem querer soar repetitivo, of course. No entanto, devo sugerir que me mostre a mesma empolgação mais tarde em nossos aposentos.

— Valha-me Deus, Camden! — Eleanor cobriu a boca com a mão e fingiu esquivar os beijos furtivos.

— Hmmm... — murmurou com os lábios próximos aos dela, ignorando que estavam num corredor movimentado do castelo. — Outra coisa...

— Mais?

— Tudo para vos fazer feliz. — Sorriu, a exibir os dentes brancos que causavam um tremor no epicentro dela. — O terceiro andar.

Eleanor franziu. Ainda se ressentia ao lembrar do quarto dedicado a falecida Condessa. Escondeu os lábios dentro da boca.

— Mandei remover tudo o que se encontrava lá e em breve estará vazio. Deixarei ao vosso critério para o que acreditares que seja melhor. Contudo, não hás-de levar a mal a minha sugestão, my darling, mas considerando o facto de que é um dos melhores aposentos deste castelo, não só pela vista incrível como por absorver muito bem os raios do sol...

— Poderia ser o quarto do meu filho?

— Julguei que poderia ser o quarto do nosso filho — corrigiu. — Se assim vos convier.

— Ohh, Camden! — Foi ela quem se jogou nos braços dele desta vez e enroscou os braços ao redor do pescoço másculo, obrigando-se a ficar na ponta dos pés. O beijou com fulgor, sem esconder todo o calor que a devorava em línguas de chamas vorazes.

— Esta noite serás minha, Eleanor... — O Conde sussurrou a meio do beijo nada pudico. — Nem que caiam mil trovões. I swear — jurou.

— E eu quero pertencer-vos, mais do que já pertenço — respondeu, ofegante, de olhos fechados e a permitir ser devorada enquanto esquecia do resto do mundo. Seu coração batia pujante, os joelhos tremiam e o corpo efervescia como nunca antes. — Eu vos amo tanto...

I love you. — Camden enterrou os dedos por cima do tecido que cobria as costas esguias e soltou um gemido rouco, sem deixar de sentir uma vontade única de a possuir ali mesmo naquele instante.

Passos ecoaram contra o chão de pedra, e os dois se afastaram prontamente, quase a tempo de ver Anghela e Noemy que cruzavam o corredor vindo da ala oeste. As duas trajavam vestidos discretos de tons menos claros e bonitos. Os cabelos presos e joias pouco exuberantes.

— Miladies. — Eleanor foi a primeira a fazer uma reverência – envergonhada – seguida de Camden que apesar do cabelo loiro estar fora do lugar, se manteve sempre sério.

— Condessa. — A mãe dele a saudou, mas Eleanor não soube decifrar se continha certa ironia ou não e apenas sorriu ao receber o abraço que Noemy lhe ofertou com todo carinho.

— Estou deveras agradecida — disse com veracidade e acarinhou a barriga saliente. — Folgo em ver-vos bem e lamento pelo ocorrido com a Lady Parker.

— Não tem de quê. — A Condessa se sentiu feliz com o gesto tão amável, não fosse o olhar ainda assertivo que a mãe do marido a dirigia. — Nada mais me apraz neste mundo do que a saúde desta família.

— Da nossa família, sweetheart. Our family — frisou e se aproximou para a abraçar. Noemy também estava mais perto deles, então todos olharam para Anghela ainda distante.

— Procuro por Lídia, terá desaparecido esta manhã ainda muito cedo. — Lady Byron-White estava de queixo erguido e nem um pouco impressionada. — Há muito por organizar, é de meu maior interesse regressar para Londres o quanto antes e levarei as meninas.

Camden estreitou os olhos que se mostraram em tempestade e trincou o maxilar, ameaçando perder a calma que sempre tinha. Não foi difícil enxergar a batalha que a sua mulher travava para poder disfarçar a decepção e muito antes que pudesse abrir a boca, Louise entrou para o corredor disparada e se estacou – surpresa – por encontrá-los ali.

— Vossa Senhoria. Vossa Graça. Miladies. — Fez uma vénia para cada um, mas mal conseguia controlar a própria respiração. A touca cobria bem os cabelos, mas os olhos tinham milhares de informações.

— Haverá algum problema? — O Conde voltou a vestir o semblante ilegível e se aproximou da camareira que logo tratou de baixar os olhos.

— Os serviçais e os habitantes da vila se encontram no pátio do castelo — contou, afoita.

Why?

— Eu não tenho a noção, Vossa Senhoria. — Tentava se recompor, em vão.

Camden ficou alguns segundos pensativo, mas não demorou a retribuir a mesura e caminhar cheio de pressa para fora dali. Eleanor foi logo em seguida, curiosa, e Noemy esperou pela mãe antes de também irem na mesma direção. Havia uma certa preocupação em todas expressões, ainda mais porque Louise roía as unhas pelo percurso. Atravessaram a sala principal, depois o hall e o Conde foi o primeiro a abrir a portas do castelo.

Lá fora uma multidão de pessoas estavam no pátio frontal, desde conhecidos a rostos que não tinham ficado na memória deles. Camden parou, curioso, e observou a expressão das três mulheres que se aproximaram e avistaram Lídia na linha de frente ao lado de Gideon e toda a plebe. O sol lá em cima parecia cooperar, pois brilhava numa estranha intensidade iluminando o céu azul límpido.

— O que...? — Eleanor não completou porque primeiro viu as reverências que foram dirigidas na direção deles. Estava confusa, mas quando um dos homens deu um passo em frente e se agachou apoiando um joelho ao chão, seus lábios se entre abriram.

— Vossa Graça. — Ele disse e baixou a cabeça em respeito. Logo depois, um por um começou a fazer o mesmo.

— Vossa Graça.

— Vossa Graça...

— Vossa Graça...

Camden deixou escapar uma risada mais do que alegre, mas ela estava de cenho unido enquanto via a multidão que se agachava para a reverenciar em completo júbilo. Viu Magdalena, Severine, Batilde, Gideon e até Lídia que fizeram o mesmo enquanto mencionavam o seu título.

— Vossa Graça. — Noemy estava emocionada quando repetiu o gesto de se apoiar num joelho.

— Não... — Eleanor levou a mão ao peito quando o Conde se dobrou em frente dela diante de toda gente.

— Vossa Graça. — A voz branda e cheia de orgulho repetiu antes de baixar a cabeça na sua direção.

A Condessa gargalhou, mas de incredulidade, e cobriu a boca com as duas mãos, ainda atónita, seus olhos se inundaram, mas não transbordaram de imediato porque após rodopiar na ponta dos calcanhares pela homenagem que jamais esperou alguma vez receber, deu de caras com Anghela que a fitava atentamente.

Engoliu em seco e o tempo pareceu parar enquanto as duas se encaravam sem pestanejar, só então, a mãe do Conde lhe fez uma mesura e finalmente se rendeu até ao chão em toda sua elegância intransponível.

Vossa Graça.

Boa Noite/Tarde Miladies.

Long time no see, right? Quem me segue aqui no wattpad, sabe a razão porque eu deixei no meu mural. Quem ainda não me segue, é melhor começar, assim não ficam por fora dos meus avisos. Infelizmente eu estou sem computador e não tenho muito por onde inventar para postar.

Ignorem a correcção, postei correndo. laptop alheio!

Okay. Vou tentar voltar o quanto antes. Espero que tenham gostado do capítulo. Não se esqueçam de comentar, votar e partilhar. Isso ajuda muito mais do que ficar pedindo capítulo, viu?

Beijos de Neve.

P.S - Calcinhas na mão para o próximo capítulo!

Continuar a ler

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