Rosa Negra - A Ordem da Rosa

By ThalitaNaine

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Histórias de amor, guerras e ódio foram sendo esquecidas e mudadas ao longo dos anos, entretanto, um assassin... More

Recados
Personagens
Capas
Prêmios
Mapa
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Capítulo 47
Capítulo 48
Capítulo 49
Capítulo 50
Capítulo 51
Capítulo 52
Capítulo 53
Capítulo 54
Capítulo 55
Capítulo 56
Capítulo 57
Capítulo 58
Capítulo 59
Capítulo 60
Capítulo 61
Capítulo 62
Agradecimentos
Playlist - BÔNUS

Capítulo 15

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By ThalitaNaine

Acho que não dormia tão bem a dias, acordei na mesma tenda deitada no sofá coberta com uma manta bege, em cima da mesa ao meu lado, um incenso queimava exalando uma pequena fumaça.

A claridade estava entrando pelas abas da tenda, resolvo me sentar e reparo que a dormência do veneno não está mais no meu corpo, testo todos os músculos e então dou um sorriso tímido.

Jogando a manta de lado, calço minhas botas e então analiso a bandagem que está em meu braço, um cataplasma enrolado num pano branco foi amarrado a ele, diga-se de passagem, fez maravilhas pois não sinto mais quase dor.

Consigo identificar algumas ervas usadas pelo cheiro como milefólio, sálvia, calêndula e mel, pelo menos sei que essas pessoas não estão querendo me matar, por enquanto.

Analiso todos os detalhes da tenda e me dou por vencida que ali não tem nada de útil para mim, nenhuma informação sobre quem são essas pessoas ou alguma arma que eu possa usar para me defender, só me resta ir para o lado de fora e ver o que me espera.

Do lado de fora da tenda me deparo com uma confusão de coisas, várias tendas como a que eu estava se encontram montadas por toda a parte, no centro se tem algumas barracas cobertas com panos de diferentes cores, com tudo que se imagina para comprar, esse acampamento esta montado em alguma terra que não é o deserto mas faz muito calor.

Um homem tenta a todo custo levar os camelos para uma espécie de cercado, pessoas passam por mim sem nem perceber, vestindo roupas em tons claros parecidas com a da jovem, conforme vou andando acampamento a dentro a multidão fica cada vez maior, eles falam uma língua que eu nunca escutei e não entendo nada.

Me aproximo de uma das tendas de comércio, um homem moreno, com barba grossa e chapéu vermelho vem me atender, tento pedir informações sobre onde estou e quem são eles, mas o homem não me entende.

Onde eu vim me meter, essas pessoas não parecem más mas preciso voltar para o reino de Dakar, e não quero coloca-las em perigo por causa do Raruk, volto a falar com o mercador, já que ele não consegue me ajudar talvez saiba onde está a jovem da noite anterior.

Tento descrever a jovem pois estou tentando lembrar o nome dela, minha mímica falha terrivelmente então arrisco dizer, Kuasa, o homem rir e me corrige falando Kuana, ele aponta para um corredor entre duas tendas do outro lado do mercado improvisado.

Não preciso andar muito para ver a jovem sentada ao lado de três senhoras que estão trançando cestos de palha, a jovem ao me ver abre um sorriso e acena com a mão para eu me aproximar.

Kuana fala alguma coisa para as senhoras e indica para eu caminhar com ela, hoje ela esta vestindo um vestido rosa claro longo com mangas e o manto vermelho da noite anterior.

Andamos pelo acampamento em silêncio, todos em nosso caminho acenam para ela, crianças vem abraça-la e Kuana sempre os recebe com sorrisos e simpatia.

Quase no final do acampamento ela para em frente a uma tenda pequena com aparência gasta, ela faz sinal para eu segui-la e então entra na tenda, observo a tenda por um minuto respiro fundo e entro.

O interior dessa tenda é bem mais simples do que a que eu estava, a tapetes escuros forrando o chão, alguns lampiões espalhados pela tenda, uma cama no canto direito que está desarrumada, e então no centro me encarando junto de Kuana está um jovem apoiado na mesa.

Me demoro a entrar mais na tenda, a cena me pegou de surpresa, o jovem vestia uma calça branca com uma faixa vermelha na cintura e um colete branco, que deixava a mostra seu abdômen absurdamente definido. Ele tinha argolas douradas nos braços, e que braços, sua pele morena de sol ressaltava ainda mais sua beleza com as roupas claras.

Ele me encarava com aqueles olhos castanhos penetrantes e com uma sobrancelha levantada, seu cabelo preto estava preso em um coque. Kuana limpou a garganta chamando minha atenção, o que me fez corar instantaneamente, olhei dela para ele com uma cara de interrogação, afinal ela não falava a minha língua.

Kuana fez as breves apresentações, disse o meu nome ao rapaz e ao apontar para ele falou Raoni, fiz um breve aceno de cabeça confirmando que entendi. O jovem me analisou por alguns minutos e então para minha surpresa, ele perguntou na minha língua com um sotaque forte de onde eu vinha.

- Você fala minha língua!

Ele fez um leve aceno de cabeça e ficou me olhando, como se esperasse a minha resposta a sua pergunta.

- Eu sou Lia, morava em Polinys mas estou a caminho da cidade de Dakar, onde eu estou?

- Porque você quer ir a Dakar?

- Tenho assuntos para resolver lá.

- Quais assuntos?

- Pessoais que não te interessam, agora onde eu estou, sou uma prisioneira de vocês?

O jovem arregalou os olhos de surpresa com a minha resposta e falou com Kuana, o que só me deixou irritada, pois ele estava ignorando as minhas perguntas. Quando os dois terminaram a sua breve conversa, ele resolveu finalmente me dar alguma atenção.

- Você está em nosso acampamento, estamos indo para a nossa cidade, Matmata, e quanto a ser prisioneira isso ainda não foi decidido.

- Decidido por quem?

- Por mim é claro – falou o jovem com um pequeno sorriso nos lábios - agora me fale como você foi parar no deserto do esquecimento e ficou nas condições que te encontramos?

Eu o fuzilei com os olhos, respirei fundo e então contei resumidamente que estava sendo perseguida por um Raruk, que esse monstro tinha matado a minha mãe, que estava atrás de mim e que em uma das minhas fugas fui parar no meio do deserto.

Lhes contei que tinha sido ele a fazer o talho em meu braço, e por causa do veneno fiquei do jeito que eles me encontraram. Raoni escutava tudo pacientemente, analisando cada palavra que eu dizia, Kuana estava sentada na cadeira de madeira observando o diálogo entre nós dois com uma expressão de muito interesse.

Quando terminei de falar o jovem se dirigiu até a cama, abriu um baú que estava coberto por um pano vermelho e de lá de dentro tirou o meu manto, olhei arregalada para ele, como eu esqueci que estava sem o manto da minha mãe.

Raoni voltou para perto da mesa e então apoiou meu manto nela se colocando entre nós, mas o que diabos eles implicam tanto com o manto da minha mãe, ele não é valioso, porque não querem me devolver.

- Como você arrumou esse manto?

- Ele é meu e vocês não tem o direito de pega-lo, me devolvam agora!

- Não vamos lhe devolver uma coisa que não pertença a você.

- O que?

- Aonde você arrumou esse manto?

- Ele é meu, eu já disse, agora me devolva.

- Vou perguntar pela última vez como você arrumou esse manto? E pense bem na sua resposta, pois ela vai definir o que você vai ser para nós.

O encarei cheia de raiva, meu rosto estava queimando, eles não tinham o direito de tirar a única lembrança que eu tinha da minha mãe, Raoni e Kuana me encaravam sérios, a curiosidade deles se transformou em outra coisa, suspeita.

Eu não confio nessas pessoas para falar tudo, e dizer que é da minha mãe só vai gerar mais perguntas, mas não tenho escolha, respiro fundo para me acalmar.

- Era da minha mãe, quando ela morreu passou para mim.

- Não minta garota, seu destino depende da sua resposta.

- Não estou mentindo! Minha mãe foi brutalmente assassinada, eu tive que fugir as presas da minha aldeia, sem nem conseguir participar da cerimonia de cremação! Estou andando meses sem saber para onde eu vou para conseguir ficar segura desse monstro, já perdi muitas pessoas nessa jornada, já passei por coisas que você nem sonha, então não me venha dizer que EU ESTOU MENTINDO! Agora me devolva o meu manto!

Eu não reparei que estava gritando até terminar de falar, minha respiração estava pesada e meu coração acelerado, aquele garoto tinha conseguido me tirar do sério.

Ele e Kuana cochichavam alguma coisa, os dois estavam na defensiva, principalmente depois desse meu pequeno ataque, resolvi esperar eles falarem comigo, afinal de contas, gritar não estava adiantando nada.

Os dois pareciam que estavam discordando sobre o que falavam, Kuana apontava para mim diversas vezes e ele balançava a cabeça em não, depois de um tempo Raoni finalmente resolveu falar comigo.

- Muito bem Lia de Polinys, você está com o povo Mantmata agora, você será a nossa convidada, entretanto, você andará comigo pelo acampamento, já que sou um dos poucos que fala a sua língua. Vou lhe devolver o seu manto, mas você está proibida de usa-lo enquanto estiver conosco.

- Porque não posso usa-lo e porque tenho que ficar com vocês e não posso ir embora.

- Você até pode ir embora, mas não vai sobreviver um dia sem um guia, você está do outro lado do deserto do esquecimento, você está nas terras bárbaras, e como não temos nenhum guia para te levar de volta no momento, sua opção mais sensata é ir conosco até nossa cidade, e assim que alguém tiver disponível te levamos de volta.

- E porque tenho que ter você como babá?

- Porque eu não confio em você, e mais uma coisa, todos ajudam no acampamento, com você não será diferente.

- E porque não posso usar o meu manto?

- Kuana irá te explicar em algum momento.

- Mas ela não fala a minha língua.

- Ela no caso eu, falo muito bem sua língua.

- Mas por que diabos então me deixou achando que não?

- Eu não sabia quem você era, e de toda a forma Raoni é mais fluente do que eu.

Antes que eu pudesse argumentar, Kuana saiu comigo da tenda me guiando em direção ao centro do acampamento, estava extremamente irritada para conversar sobre qualquer coisa que fosse.

Paramos em frente a uma tenda alta com o teto em formato de cone, era maior do que a maioria das tendas, Kuana mandou eu entrar, a parte de dentro era tão diferente quanto a de fora.

No centro da tenda tinha uma fogueira apagada feita num circulo de pedras, os tapetes que forravam o chão eram de um azul quase branco, a decoração da tenda era toda feita em tons de azul e lilás.

Kuana me levou até o fundo da tenda onde tinha duas camas, cada uma com uma mesa ao seu lado, uma estava cheia de livros e a outra não tinha nada, a jovem me disse que ali era a tenda dela e que eu iria dividi-la com ela, indicou para eu guardar as minhas coisas num pequeno cesto que tinha ao pé da cama.

Conforme fui arrumando o pouco que eu tinha, inclusive o manto que Kuana ficou me encarando até eu guardar, comecei a observar a tenda, as camas eram separadas por um véu azul escuro do resto da tenda, que no momento estava aberto e preso com cordas.

Na parte da frente se encontrava uma mesa grande de madeira cheia de papéis e livros, uma outra mesa menor com alguns vidros e ervas, almofadas grandes espalhadas por toda a parte, lampiões pendurados em formato de pirâmide e dois baús que ficavam perto da mesa pequena, fiquei imaginando o que teria ali dentro, talvez armas.

Eu preciso urgentemente aprender a lutar, se não vou ficar em desvantagem nessas situações, talvez consiga aprender alguma coisa com eles, Raoni daria um ótimo professor mal-humorado.

Estava sorrindo enquanto arrumava o pequeno cesto, imaginando aquele homem lindo tendo que dar aula de luta para mim, imagino quantas vezes ele perderia a paciência, seria bom fazer um teste qualquer dia só para me distrair.

- Do que está rindo?

- Nada, só pensando alto. Mas já que você resolveu falar comigo, da para me falar qual o problema deu usar o meu manto?

- Agora não, eu ainda preciso juntar algumas informações antes de conversarmos, e ainda não sei se confio totalmente em você para contar esse segredo.

- Ótimo, agora dependo da sua boa vontade de resolver quando me contar as coisas, como já não bastasse eu ter um cão de guarda vinte e quatro horas.

Kuana que estava sentada em sua cama me observando arrumar as coisas, caiu na gargalhada com meu comentário, que chegou a até chorar.

- Essa é uma boa imagem do meu irmão, só não o chame assim na frente dele.

- Aquele grosso é seu irmão?

- Sim, e o homem que você conheceu no primeiro dia é nosso pai.

- Então quer dizer que vocês dois são os filhos do chefe. Hum... da tribo?

- Não chamamos de tribo, mas sim, somos, Raoni é o líder de nosso exército e nosso melhor guerreiro e eu sou uma espécie de hãn, como vocês chamam, acho que xamã.

- Foi você que tratou do meu braço, boa escolha de ervas e o mel foi um excelente ingrediente para ajudar na cicatrização, sem falar que disfarça o cheiro forte das ervas.

- Você conhece as ervas? Era uma curandeira?

- Eu conheço algumas, ajudava minha mãe na cabana de nosso vilarejo, aprendi com ela, mas nunca fui uma curandeira.

Kuana ficou em silêncio e pensativa, ela estava encarando o teto de véus em diferentes tons de azul como se visse algo além deles, algo que só ela via.

Me deitei na cama, estava cansada e meu braço voltou a doer, coloquei a mão para ver como estava o cataplasma e gemi quando senti o tecido desgrudando da pele.

- Já está na hora de trocar, deixa que eu faço isso, só vou preparar o cataplasma e já trago para você

Fiquei deitada na cama pensando em tudo que eu tinha passado, e como seria os próximos dias com pessoas que não falavam a minha língua, com exceção dos irmãos e um deles aparentemente me odiava. Não demorou muito e Kuana voltou com o cataplasma, um tecido limpo e uma bacia de água para limpar o corte.

Conforme ela retirava a bandagem parecia que estava descolando um pedaço da minha pele, meu braço começou a latejar, quando Kuana jogou água no corte, ardeu e muito.

O corte era mais fundo do que eu me lembrava e não estava com uma aparência bonita, mas o trabalho que ela fez ajudou na cicatrização e a não infeccionar, depois que ela terminou de colocar o novo curativo, a dor foi aliviando aos poucos.

Não tinha percebido que já era noite, o dia passou muito rápido, um menino trouxe um ensopado para nós duas de legumes e algum animal que prefiro não saber qual era, comemos em silêncio. Quando terminamos, Kuana recolheu minha tigela e se dirigiu a saída da tenda, mas antes de sair se virou para mim com um sorriso.

- Hoje você precisa descansar, amanhã você começa a ajudar. Se quiser pode me ajudar com as ervas e os doentes, uma ajuda seria bem-vinda. 

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