Luísa:
Mais uma vez ela subia a rampa do bloco do curso de Direito e eu só podia suspirar. Sua calça social justa da cor grafite marcava as coxas e o bumbum, a blusa social de botões da cor preta e os saltos baixos também negros, faziam com que todos a olhassem quando passasse.
- Limpa a baba, viu, linda?! - Bia falou ao meu lado.
- Cala a boca, Bia! Você é outra sapatão que é louca pela Ana. - Revirei os olhos e lhe encarei. - Vamos beber esse final de semana?
- Layssa está atrás de uns ingressos de alguma festa pra gente. - Paloma se aproximou informando. - Não sei qual, mas open bar.
- Já gostei. Preciso esquecer vocês sabem quem.
- Não se preocupe, qualquer coisa a gente se pega. - Bia disse piscando.
- Ei, pode parar de dar em cima da minha mulher, certo?! - Layssa chegou me abraçando por trás e beijando meu rosto.
- Eita! Oi, meninas. - Ana surgiu passando ao nosso lado para ir a sua sala.
Ela piscou e riu para mim e Layssa, mas continuou andando.
- Vocês viram isso?! - Layssa disse me soltando. - Caralho, que mulher da porra!
- Fala mais alto, né, linda? - Bia disse rindo.
Fomos para nossa aula que, infelizmente, não era com Ana.
***
No sábado, Layssa avisou que conseguiu quatro ingressos para um open bar na praia. Iria ter DJ, cantores famosos e bebida liberada, já que os ingressos eram poucos e bem caros.
À noite, coloquei um vestido preto justo, que ficava no meio das coxas, um tênis branco e maquiagem. Arrumei o cabelo, peguei uma cerveja na geladeira e chamei o Uber. As meninas estavam me esperando em um bar próximo ao show.
- Cheguei! - Abracei cada uma. - Vamos?
- Calma, preciso pagar a conta. - Layssa disse, mas um homem se aproximou da mesa.
- Pode deixar, eu pago a conta de vocês. - Ele sorriu maliciosamente e senti nojo.
- Não precisa. - Paloma disse puxando Layssa, mas ela se soltou.
- Que isso? Deixa ele pagar... - Layssa se aproximou do velho e falou. - Deu uns 30 reais, viu?
Layssa saiu rebolando, segurou a mão de Bia e saiu puxando.
- Ei, seu telefone! - Ele gritou.
- Respeita a mulher dela, cara! - Bia gritou. Paloma e eu nos apressamos.
- Você é louca? - Perguntei.
- Pelo menos temos 30 conto pra beber depois do show.
Entramos na festa e já pegamos bebida. Um DJ animava a festa com músicas pop. Estava um pouco cheio, mas não passava de quinhentas pessoas. Por ser open e em praia reservada, não iria lotar mais que aquilo.
Ficamos rodando e dançando. Alguns homens se aproximavam, mas nenhuma de nós gostamos deles.
Layssa estava mais bêbada do que todas nós, depois vinha eu e Bia. Paloma não bebia, mas sempre nos acompanhava em festas, mas bebendo refrigerante e água.
- Caralho, olha quem está ali! - Bia gritou no meu ouvido. - A Cecília, professora de Civil!
- Eu vou lá. - Falei jogando a garrafa de cerveja no lixo e pegando outra, já que estávamos próximas ao bar. - E vocês?
- Ficarei aqui mesmo. - Layssa disse e Bia concordou.
Fui até Cecília, cutuquei seu ombro e ela sorriu ao me ver. Nos abraçamos e ela também estava bem bêbada.
- Você veio com seu marido? - Perguntei no seu ouvido, já que não vi nenhum homem ao seu lado.
- Estou divorciada! - Ela respondeu. - E você?
- Nunca casei. - Ela riu e se aproximou mais. - Quer buscar mais bebida?
- Pode ser, mas... - Ela segurou meu rosto e me beijou. Retribui imediatamente.
Ficamos nos beijando por um longo tempo, sua mão passeava pela minha cintura e as minhas estavam em seu pescoço. Quando nos separamos, Cecília encostou a testa na minha e fechou os olhos.
- Você está bem? - Perguntei e ela negou. - Vamos ao banheiro.
Puxei ela rapidamente até o banheiro da barraca de praia e ela vomitou toda a bebida da noite. Liguei para as meninas, mas nenhum celular estava funcionando. Cecília estava sentada na frente do aparelho sanitário, respirando fundo e com a boca vermelha. Pedi seu celular e tinha duas chamadas de um número desconhecido. Liguei de volta e escutei a voz feminina do outro lado, mas não reconheci a dona.
- Onde você está?! - Alguém gritou.
- No banheiro. Cecília passou mal e estou... - A ligação foi encerrada e revirei os olhos.
Sentei ao lado de Cecília e lavei a boca dela com uma garrafa de água que eu havia buscado antes de irmos ao banheiro. Ela estava com aparência melhor.
Duas mulheres entraram no banheiro chamando por ela. Abri a porta do individual e vi Ana com uma morena ao lado. Eu sabia que era aluna, mas não sabia que era sua namorada ou o que ela seja.
- Luísa?! Cadê a Cecília?
- Aqui. - Cecília levantou e apoiou-se em mim. - Eu vim vomitar, a Luísa me ajudou. Estou melhor. Preciso ir embora.
- A gente te leva. - A morena falou se aproximando, mas Cecília afastou-a com a mão.
- Eu vou com a Luísa.
Ana me encarou e nossos olhos se encontraram. Ela respirou fundo, olhou para Cecília e se aproximou. Dessa vez, a mulher ao meu lado não afastou.
- Sua boca está vermelha... - Ana sussurrou.
- Foi o beijo, né, Lu? - Cecília riu e me encarou. Eu estava branca ou vermelha, já que o olhar de Ana sobre mim era duro. - Vamos, vamos logo pra minha casa.
- Eu levo ela, não se preocupe. Vou pegar um táxi. - Disse segurando a mão de Cecília, já que ela conseguia andar sozinha.
Ana e a garota nos observaram sair, mas antes me virei.
- Ana, você pode me dar o endereço dela? Acho que nem ela lembra. - Pedi e ela assentiu.
- Vou mandar pro celular dela, você mostra ao taxista. - Assenti e sai.
Quando estávamos dentro do táxi, mandei mensagem para as meninas avisando que estava indo embora com Cecília e que explicaria depois.
Cecília estava calada, mas não parava de passar a mão em minha coxa. Segurei-a e sorrimos. Paguei o táxi e subimos no elevador até o décimo andar.
Cecília me levou até seu quarto, tirou sua roupa, ficando apenas de lingerie e deitou na cama.
- Vou dormir no sofá, certo? - Ela negou e me puxou pra deitar ao seu lado. - Cecília...
- Tudo bem, vamos só dormir.
Apaguei a luz do abajur e me ajeitei. Ela apagou em um minuto, já eu não conseguia esquecer seu beijo e nem o olhar duro de Ana ao Cecí dizer que sua boca vermelha era por conta do nosso beijo. Será que era ciúmes?
Mas e a morena ao lado dela? Era aluna! Será que ela estava pegando ou namorando aquela garota do outro horário?
Quase meia hora virando na cama, consegui dormir ao lado de Cecília.
***
Ana:
Acordei 9 horas da manhã com pesadelo. Não necessariamente pesadelo. Era Cecília beijando Luísa na festa de ontem. E realmente aconteceu.
Bruna estava deitada ao meu lado. Me sentei, segui para o banheiro, tomei um banho, escovei os dentes, prendi o franjão para cima como sempre faço e vesti a roupa da academia. Abri a porta e Bruna se mexeu na cama.
- Está indo pra onde?
- Academia. Se quiser café, você sabe mexer na máquina. Vou demorar, preciso resolver umas coisas.
Fechei a porta, peguei a chave do carro e saí antes que Bruna me alcançasse. Dirigi até a academia, comecei a fazer musculação, mas não conseguia esquecer a cena de ontem.
- Droga! - Fui fazer esteira, mas eu ia caindo duas vezes ao correr. Desliguei a máquina, encerrei a ficha e fui para o vestiário.
Tomei um banho, troquei a roupa, colocando um short jeans e uma camisa larga. Calcei os chinelos que havia trago na bolsa e fui para o carro.
Dirigi até a casa de Cecília. Parei em frente e fiquei encarando o seu andar da varanda. Será que Luísa estava dormindo com ela? Fechei o carro e fui até o porteiro.
- Oi, bom dia! Pode me informar se a Cecília está em casa?
- Ah, bom dia, dona Ana! - Minha sorte que o porteiro já me conhecia. - Ela está sim. Chegou de madrugada com uma garota jovem. Quer quer eu ligue?
- Não precisa! A garota ainda está aí?
- Eu acho que sim, viu? Não vi ela descer. A senhora quer subir? Parece nervosa.
- Você libera minha entrada? Cecília bebeu demais e eu quero saber se ela está bem.
- Nosso segredo, viu? Eu sei como ela está mal com esse divórcio, será melhor você com ela mesmo.
O porteiro conseguiu a chave extra que o zelador tinha e subi. Respirei fundo antes de entrar. Tranquei a porta quando entrei e estava tudo arrumado.
Fui até o quarto e abri devagar. As duas dormiam separadas, de costas para a outra. Fechei a porta, fui para a cozinha e liguei a máquina de café. O cheiro começou a impregnar o apartamento e escutei a porta do quarto abrir.
Luísa apareceu na cozinha com uma roupa de Cecília e com o rosto de sono e, obviamente, de ressaca.