Somos só você, eu e todo o amor que jamais conseguiremos superar.
☆
Luiza
Parecia que havia algo sugando minha alma, alguma força misteriosa me puxando para um lugar frio, com luzes fortes e pessoas que falavam sem parar.
Sentia alguém me tocar, mãos protetoras segurarem as minhas, era impossível respirar, impossível entender o que era aquilo. Sentia meu corpo doer muito, tentava abrir os olhos mas não conseguia, a única imagem na minha mente era o Rafael me olhando enquanto eu lutava para sair daquele carro. Não me lembrava de mais nada, só conseguia sentir medo, dor e agonia:
- Ela apertou minha mão! Isso deve significar algo. - uma voz alta fazia minha cabeça doer, eu conhecia aquela voz, aquele desespero e autoridade - Faz alguma coisa!
- Calma senhora, não é tão simples assim. Já fizemos mais testes de estímulos, e com certeza esse é um bom sinal, mas isso não quer dizer que ela necessariamente irá acordar.
- O que? Não. - falou inconformada - isso precisa significar mais...
- Sinto muito. - a mulher mantinha a voz calma, enquanto eu lutava tentando conciliar tudo,, as palavras soavam tao próximas, mas eu me sentia longe.- ela precisa de tempo.
- Ela já teve muito tempo! - Marcela falou com a voz embargada pelo choro.
Ninguém mais disse nada, o lugar ficou em total silencio, a não ser pelos toques constantes parecidos com bipes. Eu estava cansada de ficar sozinha, com medo do vazio, sentindo necessidade de algo real, algo que eu pudesse tocar. Queria respostas, queria minha vida de volta, queria voltar para casa e ter sentimentos. Queria que alguém me notasse naquela escuridão, queria sentir meu corpo se inflamar naquela luz tão convidativa:
- Sei que precisa de tempo Lu - minha irmã sussurrou com a voz abafada pelo choro - tentamos entender isso mas está difícil. Ninguém mais é o mesmo desde que tudo aconteceu. Mamãe e papai estão tentando se fingir de fortes, mas esta claro que estão desmoronando. Nosso sobrinho nasceu e Léo e Isa estão filmando cada momento do bebê para que você possa ver depois... Todos estão tentando ser pacientes, mas não sabe o quanto dói esperar, o quanto dói não saber o que vem a seguir- ela parou um pouco soluçando e suspirou tentando se recompor - Eu to com medo Lu, com medo de te perder. Com medo de nunca mais ver seu sorriso, de nunca mais poder conversar com você... Com medo principalmente de que voce não possa ter a chance de alcançar seus sonhos.
Eu andei, precisava alcançar alguém. Deixei meu corpo se fundir a aquela forte luz enquanto lutava para me manter forte. Por que era tão difícil de respirar? Meus olhos pareciam colados mas eu conseguia sentir e ouvir tudo, queria abraçar minha irmã e dizer que tudo ficaria bem, queria entender porque todos choravam por mim:
- Eu não vou sair daqui ok? Ninguém vai te deixar sozinha.
Então por que eu me sentia sozinha? Por que ninguém me ajudava a encarar o que era real? Gritei tentando achar alguém, alguém que pudesse me ajudar, mas não havia ninguém. Comecei a chorar, desesperada, procurando em meio aquela luz alguma brecha, alguma saída, porém eu estava presa, enclausurada com meus maiores medos.
Me sentei no chão e fechei os olhos tentando acalmar meus pensamentos, achar alguma forma de fugir, meus soluços aos poucos sessaram, enquanto entendia que talvez não houvesse nunca uma saída, talvez eu jamais pudesse ver minha família novamente, talvez eu ficasse eternamente presa revivendo o acidente, talvez eu nunca mais tivesse a chance de dizer ao Rafa que o amava...
Sequei minhas lágrimas e abri meus olhos, esperando a luz forte, mas tudo o que vi foi minha irmã chorando debruçada sobre mim. Havia algo na minha gargana que me impedia de respirar direito, dor constante na cabeça e um incômodo no corpo inteiro. Tentei falar mas não consegui, então como uma forma de ser notada apertei a mão da minha irmã, um toque sutil de mais para ser percebido, mas pareceu ser o suficiente, pois logo Marcela me olhou em prantos, e pareceu demorar um minuto para perceber que meus olhos estavam realmente abertos.
Ela levou suas mãos trêmulas a boca desacreditada, inrronpendo em lágrimas antes de tentar inutilmente dizer algo. Tocou meu rosto rapidamente e logo saiu em disparada do quarto pedindo ajuda de alguém.
Aquele dia foi turbulento, quando finalmente ela entendeu que aquilo era real, ligou para Deus e o mundo. Fizeram vários exames em mim enquanto tentavam conversar e comigo e me contar coisas simples. Me disseram que era uma sexta feira, e que eu havia passado mais de três meses em coma. Aos poucos minha mente ia se adaptando a boca nova realidad, também ia me lembrando dos meus motivos para estar ali, do acidente, e principalmente do Rafa.
Nos dois dias que se seguiram eu consegui me adaptar melhor, consegui voltar a falar, de vagar, mas era melhor do que não conseguir dizer nada. Uma fisioterapeuta tentava me ajudar a reaprender a andar e me mover, três meses tinham causado danos no meu corpo, o que não era impossível de concertar, mas levaria tempo.
Quando meus pais e Marcela conseguiram entender o que eu dizia, comecei a fazer perguntas que eles obviamente não queriam responder. Onde o Rafa está? Porque ele não veio me ver? Ele está vivo? Ele está me evitando?
Mas tudo o que respondiam era que ele estava bem, e que eu não precisava me preocupar com isso, o que obviamente só me deixava mais agoniada, eu não l me contentaria com falsas justificativas, precisava de uma resposta sincera.
Nesse meio tempo percebi que tinha perdido muita coisa, meu sobrinho havia nascido e Ick iria se casar. Estava tudo confuso de mais, como se eu estivesse regressado a uma vida que não era mais minha.
Todos me paparicavam, faziam de tudo por mim, menos o que eu realmente queria. Foi então na noite de Domingo que decidi, ou eles me contariam a verdade sobre o Rafa, ou eu não comeria mais nada.
Rafael
Queria acreditar, a esperança exalava pelos meus poros, estava tentado a cair de joelhos e implorar para que nada daquilo fosse real. Queria esquecer a cara de choro de todos que estavam na sala de espera, queria ter certeza que nada de ruim havia acontecido com a Lu, mas sempre que eu tentava, logo desacreditava. No fundo, meu coração há muito tempo já sabia, eu havia a perdido.
Já havia corrido muitas vezes tentando alcança-la, ela sempre escapava de mim, porém daquela vez parecia que o tempo era mais escasso do que devia, eu não teria a chance de a encontrar perto de um carro e tentar a fazer mudar de ideia, tudo já estava acabado, eu sabia daquilo, sentia aquilo mais forte fo querqualquer certeza que tive. Era difícil se manter forte, enquanto avançava pelos corredores do hospital tentando não desmoronar.
Vi de relance pessoas assustadas pela minha atitude, alguns funcionários tentaram me parar mas nada funcionava, nada me impediria de chegar até la.
As palavras do sonho ainda ecoavam na minha mente, como um lembrete que eu não devia ter me afastado, devia ter ficado todo o tempo possível ali, segurado a mão dela e a encorajado a continuar. Ela tinha me dito que não conseguiria mais continuar, mas por que? Por que Luiza estava desistindo? Ela era a garota mais forte que conhecia, a única garota que tinha coragem e força suficiente para lutar por tudo o que queria, então por que ela não ficou bem? Por que não lutou mais?
Minha garganta doia, eu estava levemente tonto quando alcancei a porta de seu quarto, meu corpo inteiro se arrepiou causando leves tremores, talvez eu nunca tivezse coragem de abrir aquela porta, talvez eu preferisse ficar no escuro e a guardar em meu coração, acreditar até não poder mais que nada daquilo era real.
Tentei me controlar, respirei fundo, sequei as lágrimas e passei a mão no rosto tentando acordar, queria me livrar daquele pesadelo. Queria acreditar que ficaria bem, mas onde estava o lado bom em dizer adeus? Era para eu ter morrido, ela jamais deveria estar ali. Se eu não tivesse mentido, se eu não tivesse escondido por tanto tempo toda a verdade... No fim a culpa sempre seria minha, e eu jamais me perdoaria.
Minha mente estava barulhenta de mais para entender o que as pessoas dentro daquele quarto diziam, olhei para o lado e vi que Léo, Ícaro e minha mãe estavam perto de me alcançar, e então entendi que não podia mais esperar. Não queria encarar o rosto deles novamente e ver o luto estampado neles. Segurei a maçaneta e a girei, forcei a porta a se abrir enquanto engolia o choro. Quando eu perdia o controle eles costumavam me sedar, não queria que aquilo acontecesse novamente, por isso tentei me controlar, esperando ver Luiza deitada naquela maca sem vida, exatamente quieta e linda como quando havia a deixado, mas não foi isso que vi e nem ouvi.
Os pais dela estavam em frente ao seu leito falando sem parar, Marcela parecia irritada com alguma coisa enquanto segurava um prato dee comida e uma colher. Ninguém me notou, fiquei parado sem me lembrar como respirar enquanto assistia a cena a minha frente:
- Quantas vezes vou ter que repehtir que ele está bem? - Marcela só faltava gritar, ela estava realmente no limite - O Rafa não morreu ok? Ela tá vivo, e você também, então por favor para de fazer birra como se fosse uma criança e como logo!
- Marcela! - a mãe dela a repreendeu - sua irmã acabou de acordar, pelo amor de Deus!
- Ela tá o dia inteiro sem comer, nãovpode continuar assim - seu pai a defendeu.
- Não vou comer enquanto não o ver - era um sussurro, impossível de ser entendido se não prestasse a atenção. Uma voz quase inaldivel, rouca, mas inteiramente dela. Eu conheceria aquela voz em qualquer lugar, entenderia aquela teimosia todos os dias, mas não sabia se estava delirando ou realmente a escutando - parem de tentar, isso não vai funcionar.
. ..
Haviam pessoas atrás de mim, cochichavam e falavam sobre mim enquanto eu os ignorava totalmente, vi Marcela colocar o prato de lado e seus pais se levantarem da cama. Eles se afastaram e abriram caminho para que eu a visse, eles também me viram e ficaram estáticos, enquanto toda dor, medo e agonia estouraram dentro de mim, meu coração se encolheu, comecei a chorar de alívio, porque la estava ela, sentada naquele maldito leito de hospital, com os cabelos soltos. Seus olhos azuis acinzentados estavam abertos, Luiza parecia pequena de mais em meio aquele monte de cobertores, mas seu olhar era impenetrável e decidido.
Todos ficaram em silêncio ao perceberem o que estava acontecendo, me segurei ao batente da porta soluçando de mais para controlar meu próprio corpo, e então ela me notou. Levantou o olhar lentamente e ficou estática ao me ver, tentou dizer algo mas não saiu nenhuma palavra. Eu queria a tocar, precisava a sentir e ter certeza que aquilo era real, a vi afastando com dificuldade os cobertores e tentando se levantar, enquanto seus pais tentaram a impedir e eu sem pensar corri disposto a a proteger, ela ainda não podia se levantar.
A alcancei antes deles, ignorei tudo o que acontecia a nossa volta, toquei sua cintura fina disposto a a manter parada, mas nenhum de nós dois estavamos forte o suficiente para deter um ao outro. Ela se forçou para a frente também chorando, inrrompendo em lágrimas desesperada, dizendo coisas desconexas e fingindo não ouvir todos que pediam para que ela se acalmasse.
Deixei que seus braços envolvessem meu pescoço, que seus dedos se entrelaçassem em meu cabelo de forma desesperada, deixei que suas lágrimas enxarcassem minha camiseta, e a mantive segura, a apertei com cuidado precisando a sentir, precisando ter certeza que aquilo era real, tentando discernir que tudo estava realmente bem, não havia mais pelo que temer. Segurei cuidadosamente seu rosto fino, admirei seus olhos cristalinos , seus lábios vermelhos e sem resistir ou pensar no que aquilo significava a beijei, um beijo terno e rápido, deixei que a sensação de seus lábios quentes invadissem minha alma, porque tinha aprendido a não esperar, nunca saberíamos se teríamos tempo suficiente:
- Eu pensei... Que tinha te perdido - ela falou com dificuldade, encostando sua testa na minha e respirando pesadamente.
- Eu também. - deslizei minha mão pelo seu cabelo, tentando a sentir de todas a formas possíveis. - Calma Lu, estou bem aqui- falei disposto a a acalmar, mas sem conseguir também me controlar.
- Eu sei - tocou meu rosto com sua mão que estava com o acesso para o soro.
- Não importa o que aconteça, eu sempre estarei aqui - sorri com meus lábios a centímetros do dela, era a primeira vez depois de muito tempo que eu realmente me sentia vivo, sentia que teria mais tempo para viver. Que minha vida estava completa.
Vi o exato momento em que uma lágrima rolou pelo seu rosto, seus olhos se levantaram e encararam os meus com tamanha intensidade que chegou a me arrepiar. Sua respiração quente roçou em meus lábios enquanto o silêncio guardava tudo o que queríamos dizer, ainda sentia o olhar de todos que estavam naquele quarto fixos em nós, mas não importava, aquele era o nosso momento, e ninguém estragaria.
Absorvi cada traço de seu rosto com medo de que ela avaporasse, ainda sentia meu coração acelerado, a adrenalina do dia todo acumulada. Não parei para pensar no que aquilo significava, e nem mesmo em como lidariamos com tudo dali para frente, naquele instante apenas fiz o que achava ser certo, a segurei com cuidado e a beijei, de vagar com medo de machuca-la, sentindo cada toque, cada borboleta no meu estomago, a sentindo e tendo a certeza que finalmente ficaríamos bem. Porque amar é necessitar do outro para respirar, é ser carente em meio a uma multidão em que ela não exista, é sonhar acordado, e é principalmente se sentir em casa, seguro nos braços da única pessoa que pode chamar se sua.
______________________________________
6 de 7
Boa tarde meus amores!!!
Luiza voltou! É claro que eu não a mataria, admito que pensei na possibilidade mas não tive coragem, da mesma forma que não tive coragem de fazer isso com o Rafa.
Comecei essa história pensando em matar o Rafa, mas ele me conquistou de uma forma que tornou impossível que eu prosseguisse com meus planos.
Como vai ser agora? Falta apenas mais um capítulo e o epílogo :( queria continuar com essa história eternamente.
Espero que tenham gostado do capítulo.
O último será postado quinta feira ♡
Me digam por favor o que esperam ver do último capítulo e do epílogo ok?
Beijos
Ate o próximo