64● Cada palavra

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Se eu ao menos pudesse correr contra o tempo.

Rafael

Entrar no Golden me fez levar um susto. Nunca tinha o visto tão desorganizado depois de uma noite, e por um instante me questionei o porque de não ter aparecido ali na noite anterior, porém eu ao menos sabia o que tinha acontecido.

Andei de vagar pelo local me sentindo um intruso, não era mais bem vindo ali, mas era impossível sentir que parte essencial de mim ainda pertencia a aquele lugar.

Tinha voltado com a químico no dia anterior, e pela primeira vez me senti grato pela sonolência, pelo menos daquela forma não precisava passar o dia pensando na Luiza e eu toda a besteira que fiz. Me sentia confinado e sem forças para dizer mais nada, tinha ficado claro que a Lu estava bem sem mim .

Ao longe vi o Samu juntando alguns copos espalhados e questionei se devia me aproximar, mas no fim o bom senso me abandou e eu me vi indo na direção dele. Samuel me viu e sorriu fraco, mas não disse nada:

- Nato ta escravizado vocês agora? - tentei brincar mas não ouve resposta - oi Samu.

- Oi.- disse sem me olhar - ele não tá me escravizado, só me contratou.

- Tá brincando né? - desdenhei.

- Não. Acho que depois da despedida da Lu ele entendeu que não pode dar conta do Golden sozinho.

- Despedida da Lu? - senti o chão se abrir e rezei para que tivesse ouvido errado.

- É-  deu de ombros - ela vai embora hoje.

- Agora? - perguntei desesperado.

Samuel me olhou com pena, antes de encarar o relógio e balançar a cabeça positivamente :

- É.

Concluiu e todo o tempo pareceu parar. Não me lembro de ter começado a correr, mas eu corri como se minha vida dependesse daquilo. Atravessei sinais e senti meus pulmões queimarem quando o ar faltou. Não sabia exatamente o que pretendia dizer se conseguisse encontrar a Lu, mas sabia que precisava olhar para ela antes que fosse tarde de mais, sabia que talvez essa fosse a minha última chance de olhar em seus olhos e pedir desculpa, por mais que fosse bem provável que ela não me desculpasse.

Depois do que pareceu uma eternidade cheguei na rua da nossa casa, então eu a vi. Todo mundo deveria ter saído ou ido trabalhar, porque só o Dante estava ali. Ele fechou o porta malas e entrou no carro, enquanto Luiza se demorava encarando sua casa e mordendo os lábios, ela estava com medo de ir, eu a conhecia bem de mais para saber que Luiza não estava certa de que deveria ir embora. Ela queria fugir, de mim e de tudo o que causei.

- Lu! - minha voz quase não saiu -  Luiza!! - gritei novamente usando o ar que me restava.

Ela me ouviu, se virou de vagar e me encarou surpresa, Luiza não me queria ali. Pensei que ela sairia correndo, mas ficou me esperando pacientemente. Dei os últimos passos e me encostei no carro exausto, sem acreditar que rimha chegado a tempo, minha visão estava turva e eu não conseguia dizer nada, parecia que meu coração sairia pela boca:

- Eu preciso ir - falou mas não se moveu.

- Me dá um minuto - amaldiçoei meus

pulmões por não colaborarem - eu preciso falar com você. 

- Rafa eu... - Luiza começou a tentar se desvencilhar da situação, mas eu a cortei.

- Não! - a interrompia em pânico,  me indireitei e me obriguei a falar - Você precisa me ouvir, é a última vez que eu te peço isso Lu.

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