75● Dar um tempo?

300 40 3
                                    

E se eu me afastasse e quando voltasse você não estivesse mais ali? Alguém pode lidar com uma ausência tão grande?

Rafael

O mais inacreditável de toda essa situação, era o quanto todos que me cercavam achavam que eu devia segui com minha vida, era como se fossem grilhões em mim, como se não houvesse mais pelo que lutar e eu devesse desistir. Mas o que eles não viam era o que eu sentia, o tamanho da saudade, persistência e amor que não me deixavam desistir. Como eu poderia seguir minha vida, se minha vida era a Luiza?

Toquei alguns últimos acordes no Jerry enquanto olhava pela janela, o dia estava quente, sufocante e opressivo. Todos os dias pareciam iguais e intediantes. Meu pai que estranhamente tinha ido me ver tocar, apenas bateu algumas palmas tentando me mostrar que tinha apreciado a música, e eu como resposta apenas deixei o Jerry de lado e sorri fraco:

- Nunca te vi tocando assim.

- Nunca tive motivos para tocar assim.

Ele entendeu o que eu quis dizer, tanto que apenas concordou e tamborilou os dedos na perna, sem saber o que falar. Os dias eram complicados, todos estavam fartos de me ver pelos cantos e de eu ainda viver enfornado no hospital, mas de nada adiantava tentarem me impedir, meu pai entretanto vinha sendo solícito e distrativo, ele falava na maioria das vezes sobre coisas boas, e não tentava criar uma perspectiva diferente da vida para mim, ao contrário, ele infatizava que a Lu e eu ainda teríamos chances, diferente da minha mãe que vivia tentando me convencer a dar um tempo de toda aquela situação:

- Todos temos momentos de fraqueza, e parece estranho, mas são nesses momentos que nossos dons são apurados. - ele me encarou cheio de um sentimentalismo estranho e comovente, seus olhos brilhavam feitos duas bolinhas de gude - o meu foi quando você nasceu... E quando eu achei que fosse te perder.

Fiquei o encarando sem saber o que dizer, nunca tinha parado para realmente pensar em como meus pais tinham lidado com a minha doença. Eu os imaginava ao meu lado, mas não tinha ideia da dimensão daquilo:

- Você entende? Eu achei mesmo que fosse te perder - enfatizou as palavras - mas não te perdi, assim como você também não vai perder a Luiza. Deus sabe o que faz, e ele com certeza não separaria vocês.

Nesse ponto eu já estava estranhamente quieto e pensativo novamente, parecia ilusório mas eu também acreditava que ela ficaria ao meu lado. Luiza sempre foi persistente de mais para desistir:

- Sei que ta irritado com a sua mãe - meu pai assumiu o tom conciliador - mas ela não faz por mal. Débora ama a Luiza como se fosse uma filha, porém você é o filho dela, e ela chegou ao ponto de pensar que você seria impedido de viver seus sonhos. Agora sua mãe só quer garantir que você viva, ela não quer te afastar da Luiza, ela ao menos entende que pode estar fazendo isso.

Ponderei por um instante a informação, aquilo realmente fazia sentido. Minha mãe sempre foi impulsiva, e não media limites quando se tratava de proteger alguém que amava. Talvez eu tivesse herdado boa parte da sua super proteção, e ironicamente me orgulhava disso, exagero as vezes era bom:

- Com licença - Ícaro abriu a porta e sorriu ao nos ver, mal sabia que estava nos interrompendo - Hora de ir para o Golden, Rafa.

- To indo.

Peguei o Jerry e encarei meu pai que parecia esperar por alguma resposta, ele também andava muito preocupado comigo:

- Juro que não a culpo por tentar me proteger- falei sincero e ele sorriu satisfeito - sei exatamente como é querer bem alguém que amamos.

- Sei que sabe.

- Até mais tarde pai.

Sai e o deixei sozinho em meu quarto, Ícaro estava esperando na sala e logo que me viu envolveu meus ombros em um abraço amigável, ele andava muito feliz desde que tinha pedido a Yasmin em casamento:

EternoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora