Juliana
— Eu te fiz uma pergunta Juliana. Que história é essa de filho? — Lipe vira-me bruscamente e uma lágrima escorre em meu rosto. Abaixo a cabeça. A vergonha me consome — Olha para mim pelo amor de Deus!
— Calma, Juliana vai te explicar tudo. — Lu, tenta acalmá-lo, mas, sua respiração pesada me revela o tamanho da sua fúria.
— Lu eu quero ficar sozinho com ela, por favor.
Luciana passa por mim e me dá um abraço. A minha vontade é de agarrá-la e não soltá-la mais. Ela se afasta lentamente e eu levanto meus olhos para encarar Lipe.
— Onde está a criança? Por que nunca fiquei sabendo dela? DIZ ALGUMA COISA!! — O grito de Lipe faz-me encolher.
O meu choro desesperado não alivia o olhar frio que ele direciona para mim.
— Yago. O nome dele é Yago. — Digo aos prantos. — Eu descobri que estava grávida quando você desapareceu. Me senti abandonada e com muito medo.
— Medo?
— Sim. Medo Lipe. — Conhece minha história. Eu não queria correr o risco de perder meu filho da maneira que meus pais perderam. Eu não tinha condições nenhuma de criar um filho, se ao menos vo...
— Não termina essa frase. Não venha colocar a culpa de suas burradas em mim. Nada Justifica o que você fez! Aliás, o que você fez? Deu ele para alguém? Onde ele está? Como nunca vi você grávida? — Perguntava ofegante.
— Deixei-o em um orfanato — Dizer isso me arrancava pedaço. Sangrava cada vez que eu dizia. A culpa me consumia.
Lipe sorri ironicamente.
— Orfanato? Não aprendeu com a vida? Quem te deu o direito de esconder isso de mim?
— Você não foi homem para ficar comigo, também não servia para ser pai do meu filho. ME ABANDONOU. NÃO FARIA DIFERENTE COM ELE! — Grito.
— Uma coisa não tem nada haver com outra. É do meu filho que estamos falando caramba! Um filho. Você não me disse onde ele está. Eu quero saber de tudo.
— Não posso dizer ainda! Tem muita coisa envolvida. Outras pessoas! Não posso sair destruindo tudo.
— Você já fez isso juliana! Destruiu tudo! — ele anda de um lado para o outro e eu continuo chorando. Apesar de achar que ele não tem direito de me tratar dessa forma, não consigo ter uma reação diferente, além das lágrimas.
— Por favor — o pedido sai em forma de súplica. — Eu preciso conversar com Hugo primeiro. Ele é o pai adotivo de Yago. Meu namorado e eu o amo.
Seus olhos fixam nos meus e ele parece não acreditar no que ouve.
— O ama? Ama? Seu namorado é pai adotivo do meu filho? — Ele ri descontrolado. — Diz que isso não é verdade pelo amor de Deus!
Assinto.
— Preciso contar tudo para ele. Depois que tudo se acalmar você vai conhecê-lo.
Ele encara o teto como se tivesse organizando e assimilando tudo.
— Te dou uma semana. Uma semana para resolver a sua vida com o seu namorado. Depois quero conhecer meu filho.
Ouço a porta bater e me encolho. Agacho procurando o ar que parece ter me abandonado. Me entrego de vez e deito-me no chão. Luciana entra correndo e me tira do lugar que eu não queria sair mais. O chão frio e duro. Porque era neste lugar que eu merecia ficar.
Hugo
Meus pais sempre ensinaram a mim e ao Álvaro, que família é o centro de tudo. A base. O pilar de sustentação. Sempre fizemos questão de nos reunirmos, seja qual fosse o motivo, felizes ou momentos difíceis.
Tenho passado isso para Yago. O momento de sentarmos a mesa para as refeições sempre foi primordial em casa.
— Pai cadê sua namorada? — Yago questiona provavelmente por estar sentindo a falta dela tanto quanto eu.
Sorri.
— Foi até a casa de uns amigos Filho!
— E porque não fomos pai?
— Porque você ainda está se recuperando da bronquite filhão! Febre lembra? Achei melhor ficarmos em casa para você descansar.
Ele não estava satisfeito com a ausência de Juliana, e nem eu. Nos surpreendemos com o toque da campainha.
Marina veio da cozinha e foi em direção a porta.
— Cadê meu neto querido? — A voz da minha mãe faz Yago correr em sua direção.
— Vovó!
Meu pai, minha mãe e Álvaro?
— Que surpresa! Aconteceu alguma coisa?— Fico curioso com a visita repentina.
— Soubemos que meu neto não estava muito bem e viemos visita-lo. — Meu pai o pega do colo da minha mãe.
— Fiquei muito feliz vovô!
— Eu sei meu neto!
Procuro por Álvaro e o encontro já sentado á mesa comendo tudo que tem direito.
— O que? — ele pergunta depois que percebe todos os olhares voltados para ele. — estou com fome.
Logo estávamos todos ao redor da mesa desfrutando de um belo café da manha! Para mim ainda faltava um pedaço de mim ali!
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Álvaro e eu estávamos sentados na varanda.
— Fazia tempo neh? —Meu irmão me sonda querendo entender do que eu estou falando.
— O quê?
— Fazia tempo que não sentávamos os dois assim! Como irmãos sabe! Não como sócios. Sinto sua falta!
Álvaro olha para o lado e sorri.
— Também sinto sua falta. Você sabe, temos uma vida muito diferente. Você é muito família e eu o admiro por isso. Já eu, bom... Eu gosto de sair, beber finais de semana inteiros, mulheres, aquelas coisas.
— Eu sei. Mas não trocaria minha vida por nada. Amo minha casa, tenho um filho lindo que me orgulha e agora uma namorada! Uma mulher linda!
Álvaro se encosta na cadeira. Sua cabeça inclinada para cima.
— Namorada... — Ele repete devagar — Como vocês estão? — Ele não esconde a curiosidade.
— Felizes? Estamos bem.
— Você disse que a ama!
— Disse.
— Então se eu te contasse algo você não piraria não é mesmo?
— Sou maduro! — Digo em tom divertido.
— Estou falando sério. — seu rosto realmente mostrou seriedade.
— Fale logo de uma vez ! — peço ansioso.
Meu irmão se ajeita na cadeira. Eu permaneço relaxado.
— O que me diria se eu dissesse que conheço Juliana, ou melhor, eu já a conhecia?
Franzo a testa.
— Diria que isso é normal. Só não é normal eu está sabendo disso agora!
— Hugo preste atenção! Eu a conheci á uns anos atrás. Na época ela estava diferente, cabelo curto e óculos. Quando a vi na minha mãe tive a impressão de que a conhecia. E eu não estava errado. Ela não comentou nada com você? Ou não disse que teve a mesma impressão?
— Não. — Ajeito –me na cadeira sentindo-me desconfortável.— Mas como a conheceu?
— Ela trabalhou na Ferraz! Era estagiária, se não me engano. Fazia uma pós na época. A encontrei umas três ou quatro vezes. Tenho certeza que é ela.
— Trabalharam juntos?
— Não.
Álvaro me contou que a viu todas as vezes no horário do almoço, e quem em uma das vezes ela não se sentia muito bem.. e que apesar das conversas não serem por muito tempo ficou gravado em sua mente. Pergunto-me porque ela não comentou nada comigo sobre isso. Ou será que ela não se lembra de Álvaro?
— E tem mais uma coisa Hugo.
— O que?
— Ela estava grávida. Disso eu tenho certeza absoluta. A última vez que a vi conversamos um pouco e segundo ela estava no sexto mês de gravidez. Não vou negar que me interessei demais nela, mas estava de viagem marcada. Demorei mais tempo na viagem do que o programado, voltei uns dois meses depois e não a encontrei mais.
— Grávida? Ela nunca me disse nada nem parecido com isso. — Por um instante sinto minhas mãos suarem.
Percebi que eu não sabia tanta coisa de Juliana. Sabia que ela tinha crescido em um orfanato e que tinha se formado com méritos e que tinha mesmo ganhado estágio em uma empresa renomada, mas nunca me disse qual. Senti um frio na barriga com toda aquela informação.
— Olha! Não quero estragar sua felicidade e nem plantar nada em seu relacionamento. Talvez isso não quer dizer nada. Nunca se sabe o que as pessoas passam. É um passado. O que importa é o agora!
— Sim. Você tem razão. O que importa é o agora. — concordei.
A verdade é que concordei com Álvaro, mas por dentro me sentia incomodado e curioso.
Qual motivo levaria Juliana esconder algo tão importante de mim? Uma gravidez? Um possível filho?
Não sei como, mas teria que ter uma conversa urgente com minha namorada.